quinta-feira, 19 de junho de 2014

Alunos evangélicos se recusam a fazer trabalho sobre a cultura afro-brasileira

Alunos evangélicos se recusam a fazer trabalho sobre a cultura afro-brasileira

Alunos se negaram a fazer projeto sobre cultura afro-brasileira, alegando 'princípios religiosos', afirmando que o trabalho faz apologia ao 'satanismo e ao homossexualismo'.

MARIA DERZI

O protesto de um grupo de 13 alunos evangélicos do ensino médio da escola estadual Senador João Bosco Ramos de Lima - na avenida Noel Nutels, Cidade Nova, Zona Norte -, que se recusaram a fazer um trabalho sobre a cultura afro-brasileira – gerou polêmica entre os grupos representativos étnicos culturais do Amazonas.

Os estudantes se negaram a defender o projeto interdisciplinar sobre a ‘Preservação da Identidade Étnico-Cultural brasileira’ por entenderem que o trabalho faz apologia ao “satanismo e ao homossexualismo”, proposta que contraria as crenças deles.

Por conta própria e orientados pelos pastores e pais, eles fizeram um projeto sobre as missões evangélicas na África, o que não foi aceito pela escola. Por conta disso, os alunos acamparam na frente da escola, protestando contra o trabalho sobre cultura afro-brasileira, atitude que foi considerada um ato de intolerância étnica e religiosa. “Eles também se recusaram a ler obras como O Guarany, Macunaíma, Casa Grande Senzala, dizendo que os livros falavam sobre homossexualismo”, disse o professor Raimundo Cardoso.

Para os alunos, a questão deve ser encarada pelo lado religioso. “O que tem de errado no projeto são as outras religiões, principalmente o Candomblé e o Espiritismo, e o homossexualismo, que está nas obras literárias. Nós fizemos um projeto baseado na Bíblia”, alegou uma das alunas.

Intolerância gera debate na escola

A polêmica entre os alunos evangélicos e a escola provocou a ida de representantes do Fórum Especial de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros do Amazonas, da Ordem dos Advogados do Brasil, secção do Amazonas, e do Ministério Público do Estado.

Para a representante do movimento de entidades de direitos humanos e do Fórum Especial de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros do Amazonas, Rosaly Pinheiro, a problemática ocorrida na escola reflete uma realidade de racismo e intolência à diversidade. “Nós temos dados de que 39% dos gestores e alunos das escolas são homofóbicos. Essa não pode ser encarada como uma oportunidade para se destacar um fato ruim, mas sim uma oportunidade de se discutir, de uma forma mais ampla essas questões com os alunos”, disse.

Para a representante do Ministério Público, Carmem Arruda, a situação também deve ser encarada como uma oportunidade de esclarecer a comunidade. “É uma chance de discutir a diversidade e uma oportunidade de construirmos uma conscientização junto não apenas aos alunos, mas sim às famílias que serão refletidas junto a comunidade”.

Representante do Fórum pela Diversidade da OAB/AM, Carla Santiago, ressaltou que o episódio não era para ser encarado como um ato que fere os direitos de negros, homossexuais, mas sim um momento de conscientizar os alunos sobre a etnodiversidade. A conversa entre os diversos segmentos envolvidos prometia uma nova rodada, mas até o fechamento desta edição estava mantida a posição da escola de cobrar o trabalho original passado aos alunos pelo professor de História.

Notícia publicada no Jornal A Crítica, em 10 de novembro de 2012.

Claudio Conti* comenta

De acordo com o O Evangelho Segundo o Espiritismo, as mazelas da humanidade são o orgulho e o egoísmo, portanto, todo comportamento inadequado deve ser avaliado segundo esta informação. A intolerância e o racismo, para citar alguns, podem ser consideradas como sendo formas de manifestação do orgulho.

A história do homem na Terra demonstra que somos guiados, na grande maioria das vezes, por ideias preconcebidas e que não sabemos nem como surgiu ou o porquê.

O autor Murray Stein, no livro O Mapa da Alma, onde apresenta resumidamente a psicologia junguiana, diz: "Nem tudo o que parece ser verdadeiro até para a consciência do mais sério e mais sincero investigador constitui necessariamente um conhecimento preciso. Muito do que passa por ser conhecimento entre os seres humanos é, na realidade, após inspeção mais rigorosa e mais crítica, mero preconceito ou crença baseada em distorção, prevenção, boato, especulação ou pura fantasia. As crenças passam por ser conhecimento e adere-se a elas como se fossem certezas dignas de crédito."

Esta é a forma como funcionamos com relação a ideias e conceitos que nos são apresentados desde a infância, considerando apenas a presente encarnação. Ao considerarmos outras encarnações, poderemos compreender as tendências nesta ou naquela direção que muitos apresentam.

Ao meu entendimento, grande dificuldade na situação apresentada pela notícia em análise e outras semelhantes está na não compreensão da perfeita distinção entre "aceitação" e "concordância". Devemos aceitar as escolhas alheias, mas não necessariamente precisamos concordar que sejam certas ou válidas para todos. Nesta abordagem, precisamos reconhecer que muitas das escolhas pessoais que fazemos também não são de concordância geral, mas que, de nossa parte, desejamos que sejam aceitas. Em outras palavras, não devemos ver o argueiro no olho do outro, pois certamente haverá uma trave no nosso, apesar de não o enxergarmos.

Este tipo de notícia deve servir para a nossa própria auto-avaliação como espíritas e divulgadores.

Pessoalmente, já ouvi diversas vezes companheiros de ideal exporem ideias do tipo: "Estamos na Universidade do Espírito, enquanto nossos irmãos desta ou daquela vertente religiosa ainda estão no caminho" ou "o Espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro das religiões", em grave demonstração de preconceito e superioridade.

Será que estas colocações servem para que outros aceitem as ideias espíritas com facilidade? Será que adeptos de outras vertentes de pensamento e/ou religiosas também não pensam o mesmo com relação às suas crenças? Mas o principal que devemos nos perguntar é: Estas colocações servem para alguma finalidade outra além de exacerbar o próprio orgulho e de outrem?

Tudo se resume em dois direcionamentos para a nossas vida: 1) Amar a Deus e; 2) Amar ao próximo como a si mesmo.

* Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com.

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