segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Simples anotações sobre propaganda marketing e família


Manoel Philomeno de Miranda, em Temas da Vida e da Morte, diz: “ Que o meio ambiente exerce efeitos e predisposições nos seres vivos. Embora o meio sócio cultural seja consequência da ação do homem, torna-se-lhe fator de vigorosos efeitos no comportamento, o que tem levado muitas pessoas a concluir que – o homem é produto do meio – salvo as inevitáveis exceções.”

O que seria meio ambiente: vamos colocar aqui, no contexto em estudo, como a esfera social ou profissional onde se vive ou trabalha; ambiente; círculo.

Sobre a influência do meio, Allan Kardec aborda a questão da influência do meio no capítulo XXI de “O Livro dos Médiuns”, não restringindo, no entanto, a influência energética do meio a quem possua capacidade ostensiva de percepção de mensagens de planos existenciais diferentes do em que se vive.  Assim, verificamos que em nossa casa, em nossos ambientes de trabalho, estudo ou lazer, somos sempre influenciados e influenciamos a atmosfera — e não estamos simplesmente à mercê de influências alheias à nossa vontade, mas sempre de acordo com o que pensamos, dizemos ou fazemos.

Em estudos mais acadêmicos coloca-se que o  meio ambiente faz parte da realidade de vida de todos os indivíduos, sendo influenciado pela cultura que impera em determinada localidade  e que esse processo cultural forma a identidade social do sujeito mediante à sociedade contemporânea, refletindo em suas ações e considerações; tendo por consequência, que cada indivíduo irá perceber e reagir diferentemente diante das ações realizadas sobre o meio.

 

As respostas ou manifestações são, portanto, resultados das percepções de cada indivíduo. Embora nem todas as manifestações psicológicas sejam evidentes, elas são constantes e afetam nossa conduta, na maioria das vezes, inconscientemente.

 

Kardec coloca (em O LM): “Assim, onde quer que haja uma reunião de homens, há igualmente em torno deles uma assembleia oculta, que simpatiza com suas qualidades ou com seus defeitos, feita abstração completa de toda ideia de evocação.” Assim, o que pensamos, dizemos e fazemos atrai nossas companhias, sejam elas visíveis ou não. O apóstolo Paulo já nos havia alertado a respeito em sua carta aos seus patrícios hebreus, nos convidando a nos manter no caminho do Bem: “Portanto também nós, visto que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, pondo de lado todo o impedimento, e o erro que se nos apega, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” (Paulo aos Hebreus 12:01)

 

Cuidemos, portanto, de nossos pensamentos, palavras e ações. Estes três determinarão que companhia teremos, as quais reforçarão nossas decisões sobre o que pensar, dizer e decidir.

 

A Mídia, propaganda e marketing influenciando nós e nossa família:

 

A intervenção da mídia verifica-se sob três aspectos: produção, recepção e difusão.

 

Isso explica:

 

  1. como produzir os conteúdos a serem transmitidos;  
  2. como recepcioná-los e engajá-los no dia-a-dia, para que se tenha uma internalização das mensagens;
  3. e como difundi-las abrangendo a massa populacional e por isso modificando a realidade, ou seja, a vida dos indivíduos.

 

Então se vê a forte influência da mídia como agente de socialização dentro de uma dada sociedade e a sua capacidade de interferir na relação entre o indivíduo e meio ambiente.

 

A influência da vida familiar é fato histórico e ainda atual. Ela configura em sua base descendentes, de mesma formação cultural e moral junto às suas relações, criando uma hierarquia com origens próprias.

 

Já a escola é considerada como um ambiente onde se ensina e se aprende, propondo mesclar as diversidades, valorizando a heterogeneidade.

 

“...Enfoques a partir dos textos de Joanna de Angelis. encontramos no título A Influência da Mídia: "o período infanto-juvenil, é decisivo na vida das pessoas. Por isso pais e professores estão querendo mais rigor para a programação televisiva e estão apontando filmes, novelas e programas que mais rejeitam pelo conteúdo pornográfico e apelativo, porque sabem que os ágeis meios de comunicação exercem intensa influência nos jovens. A televisão entra nos lares indiscriminadamente e exibe valores éticos e consumistas, nem sempre adequados à formação das identidades de seus filhos e/ou alunos. Por outro lado, os pais reconhecem que não são onipresentes. Não parece válido o argumento que diz que o aparelho possui um botão para desligar".

O cinema, a televisão, as revistas e os jornais veiculam informações de todos os tipos: ora fiéis e corretas, ora tendenciosas, preconceituosas, ambíguas e destorcidas.

O aparecimento de uma informação inadequada na televisão, numa tarde de domingo, no decorrer de um jogo de futebol importante ou durante um capítulo de novela, com alto índice de audiência, pode destruir o trabalho de muitos anos de investimentos e esforços de Instituições que mantêm programas dirigidos à educação e à saúde.

Os que assistem aos programas de entretenimento podem não ter a intenção de aprender, mas aprendem, e acabam sendo manipulados. É preciso desconfiar da televisão. Com a mídia muitos acabam se confundindo na distinção, por exemplo, entre amor e sexo.

A televisão tem assumido o papel de principal educador de crianças a adolescentes e isso aconteceu não por opção, mas por omissão dos segmentos responsáveis pela educação das novas gerações. Não há dúvida de que a TV é um educador eficaz e importante até porque muitos genitores e muitas escolas têm sido ineficazes.

Precisamos oferecer melhores alternativas. A participação efetiva dos pais nas vidas dos filhos é elemento de primordial importância na formação de suas personalidades, na formação de seu caráter.

Fatores biológicos ou psicológicos podem impulsionar os jovens para a beira do precipício, mas esses impulsos são liberados ou bloqueados através da influência social e o que dá legitimidade às interdições sociais são os laços afetivos familiares. Os jovens que apresentam vínculos familiares significativos respeitam os valores da família. À semelhança do que ocorre com a sexualidade, os jovens ao se sentirem órfãos de pais vivos, ansiosos, convivendo com inseguranças e sentimentos de rejeição, podem buscar a droga e o sexo como alívio dessas incertezas ou carências. O afeto recebido, principalmente no período infanto‑juvenil, é que os torna capazes de tolerar e se submeterem às normas sociais e familiares, controlando seus impulsos ao invés de por eles serem controlados.


 

 

Ninguém nasce consumista. O consumismo é uma ideologia, um hábito mental forjado que se tornou uma das características culturais mais marcantes da sociedade atual. Não importa o gênero, a faixa etária, a nacionalidade, a crença ou o poder aquisitivo. Hoje, todos que são impactados pelas mídias de massa são estimulados a consumir de modo inconsequente.

 

As crianças, que vivenciam uma fase de peculiar desenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis que os adultos, não ficam fora dessa lógica e infelizmente sofrem cada vez mais cedo com as graves consequências relacionadas aos excessos do consumismo: obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, estresse familiar, banalização da agressividade e violência, entre outras. Nesse sentido, o consumismo infantil é uma questão urgente, de extrema importância e interesse geral.

 

De pais e educadores a agentes do mercado global, todos voltam os olhares para a infância − os primeiros preocupados com o futuro das crianças, já os últimos fazem crer que estão preocupados apenas com a ganância de seus negócios. Para o mercado, antes de tudo, a criança é um consumidor em formação, consumidor de hoje e do amanhã, e uma poderosa influência nos processos de escolha de produtos ou serviços.

 

As crianças brasileiras influenciam 80% das decisões de compra de uma família (TNS/InterScience, outubro de 2003). Carros, roupas, alimentos, eletrodomésticos, quase tudo dentro de casa tem por trás o palpite de uma criança, salvo decisões relacionadas a planos de seguro, combustível e produtos de limpeza que têm pouca influência dos pequenos.

 

No Brasil, a publicidade na TV é a principal ferramenta do mercado para a persuasão do público infantil, que cada vez mais cedo é chamado a participar do universo adulto quando é diretamente exposto às complexidades das relações de consumo sem que esteja efetivamente preparado para isso.

 

As crianças são um alvo importante, não apenas porque escolhem o que seus pais compram e são tratadas como consumidores mirins, mas também porque impactadas desde muito jovens tendem a ser mais fiéis a marcas e ao próprio hábito consumista que lhes é praticamente imposto.

 

Nada, no meio publicitário, é deliberado sem um estudo detalhado. Em 2006, os investimentos publicitários destinados à categoria de produtos infantis foram de R$ 209 milhões(Ibope Monitor, 2005x2006, categorias infantis). No entanto, a publicidade não se dirige às crianças apenas para vender produtos infantis. Elas são assediadas pelo mercado como eficientes promotoras de vendas de produtos direcionados também aos adultos.

 

O Ibope Mídia, que anualmente divulga os dados de investimento publicitário no Brasil, constatou que foram movimentados cerca de R$ 112 bilhões em 2013 com publicidade. A televisão permanece a principal mídia utilizada pela publicidade, representando 70% do investimento. Ao cruzar essa informação com o fato de a criança brasileira passar em média cinco horas 22 minutos e 11 segundos por dia assistindo à programação televisiva (Painel Nacional de Televisores, Ibope 2012) é possível imaginar o impacto da publicidade na infância.

 

Apesar de toda essa força, a publicidade veiculada na televisão é apenas um dos fatores que contribuem para o consumismo infantil. A TNS, instituto de pesquisa que atua em mais de 70 países, divulgou dados em setembro de 2007 que evidenciaram outros fatores que influenciam as crianças brasileiras nas práticas de consumo. Elas sentem-se mais atraídas por produtos e serviços que sejam associados a personagens famosos, brindes, jogos e embalagens chamativas. A opinião dos amigos também foi identificada como uma forte influência.

 

No âmbito da alimentação, a publicidade é um fator que estimula a disseminação da maior epidemia infantil da história: a obesidade. A pesquisa Targeting Children With Treats (Alvejando crianças com guloseimas, em livre tradução do inglês) de 2013 aponta que as crianças que já têm sobrepeso aumentam em 134% o consumo de alimentos com altos teores de sódio, gorduras trans e saturadas e açúcar, quando expostas à publicidade destes produtos.

 

O consumismo está relacionado à ideia de devorar, destruir e extinguir. Se agora, tragédias naturais, como queimadas, furacões, inundações gigantescas, enchentes e períodos prolongados de seca, são muito mais comuns e frequentes, é porque a exploração irresponsável do meio ambiente prevaleceu ao longo de décadas.

 

Concentrar todos os esforços no consumo é contribuir, dia após dia, para o desequilíbrio global. O consumismo infantil, portanto, é um problema que não está ligado apenas à educação escolar e doméstica. Embora a questão seja tratada quase sempre como algo relacionado à esfera familiar, crianças que aprendem a consumir de forma inconsequente e desenvolvem critérios e valores distorcidos são de fato um problema de ordem ética, econômica e social.

 

O Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, combate qualquer tipo de comunicação mercadológica dirigida às crianças por entender que os danos causados pela lógica insustentável do consumo irracional podem ser minorados e evitados, se efetivamente a infância for preservada em sua essência como o tempo indispensável e fundamental para a formação da cidadania. Indivíduos conscientes e responsáveis são a base de uma sociedade mais justa e fraterna, que tenha a qualidade de vida não apenas como um conceito a ser perseguido, mas uma prática a ser vivida.

 

Entre 2010 e 2012, o projeto manteve um blog, com o objetivo de discutir os principais impactos do consumismo e da publicidade na formação da infância. Nele há diversos textos sobre cidadania e mobilização, comportamento, política e legislação, saúde e sustentabilidade.

 


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