domingo, 8 de fevereiro de 2015

Revista Espírita: Almas afins

Julho de 1862, p. 298 
 
 
UNIÃO SIMPÁTICA DAS ALMAS


(Bordeaux, 15 de fevereiro de 1862 – Médium: Sra. H...)


P. – Já me dissestes várias vezes que nos reuniríamos para não mais nos separarmos. Como poderá dar-se isto? As reencarnações, mesmo as que se seguem às da Terra, nem sempre separam por um tempo mais ou menos longo?

Resp. – Eu to disse: Deus permite aos que se amam sinceramente e souberam sofrer com resignação para expiar suas faltas, reunir-se, a princípio no mundo dos Espíritos, onde progridem juntos, a fim de conseguirem encarnações nos mundos superiores. Podem, pois, se o pedirem com fervor, deixar os mundos espíritas na mesma época, reencarnar nos mesmos lugares e, por um encadeamento de circunstâncias previstas, reunir-se pelos laços que mais convierem aos seus corações.

Uns terão pedido para serem pai ou mãe de um Espírito que lhes era simpático e se sentirão felizes por o dirigirem no bom caminho, cercando-o dos ternos cuidados da família e da amizade. Outros terão pedido a graça de se unirem pelo matrimônio e verem escoar-se muitos anos de felicidade e de amor. Refiro-me ao casamento entendido no sentido da união íntima de dois seres que não querem separar-se mais. Entretanto, tal como é compreendido na Terra, o casamento não é conhecido nos mundos superiores. Nesses lugares de felicidade, de liberdade e de alegria, os laços são de flores e de amor; e não creias que, por isso, sejam menos duráveis. Só o coração fala e guia nessas uniões tão doces. Uniões livres e felizes, casamento de almas perante Deus, eis a lei do amor dos mundos superiores! E os seres privilegiados dessas regiões abençoadas, sentindo-se mais fortemente ligados por semelhantes sentimentos do que o são os homens da Terra, que muitas vezes desprezam os mais sagrados compromissos, não oferecem o deplorável espetáculo de uniões perturbadas incessantemente pela influência dos vícios, das paixões inferiores,da inconstância, da inveja, da injustiça, da aversão, de todas essas horríveis inclinações que conduzem ao mal, ao perjúrio e à violação dos mais solenes juramentos. Pois bem! esses casamentos abençoados por Deus, essas uniões tão afetuosas são a recompensa daqueles que, tendo-se amado profundamente no sofrimento, pedem ao Senhor, justo e bom, para continuarem a se amar em mundos superiores, sem, contudo, temerem uma próxima e dolorosa separação.

Que haverá nisso que não seja fácil de compreender e admitir? Deus, que ama a todos os seus filhos, não teria podido criar, para aqueles que se tivessem tornado dignos, uma felicidade tão perfeita quanto cruéis tinham sido as provas? Que poderia conceder de mais conforme ao sincero desejo de todo coração amoroso? De todas as recompensas prometidas aos homens, haverá algo semelhante a esse pensamento, a essa esperança, eu poderia dizer, a essa certeza: unir-se aos seres adorados para a eternidade?

Crê-me, filha querida, nossas secretas aspirações, essa necessidade misteriosa, mas irresistível de amar, de amar longamente, de amar sempre, não foi colocada por Deus nos nossos corações senão porque a promessa do futuro nos permitia essas doces esperanças. Deus não nos fará experimentar as dores da decepção. Nossos corações querem a felicidade e só palpitam pelas afeições puras. A recompensa só poderia ser a perfeita realização de nossos sonhos de amor. Do mesmo modo que, pobres Espíritos sofredores destinados à provação, foi-nos preciso pedir e, por vezes, até mesmo escolher as mais cruéis expiações, também escolhemos, como Espíritos felizes e regenerados, na nova vida destinada a nos depurar ainda mais, a soma de felicidades concedidas ao Espírito adiantado. Tens aí, filha bem-amada, uma exposição sumária das felicidades futuras. Muitas vezes teremos ocasião de voltar a esse agradável assunto. Deves compreender quanto a perspectiva desse futuro me torna feliz e quanto me é doce confiar-te as minhas esperanças!

P. – Nós nos reconhecemos nessas novas e felizes existências?
Resp. – Se não nos reconhecêssemos seria completa a felicidade? Sem dúvida seria felicidade, pois nesses mundos privilegiados todos os seres são destinados a ser felizes. Mas seria isto a perfeição da felicidade para os que, separados bruscamente na mais bela época da vida, pedem a Deus para se unirem em seu seio? Seria a realização de nossos sonhos e de nossas esperanças? Não; tu pensas como eu. Se um véu fosse lançado sobre o passado,não haveria a suprema felicidade, a inefável alegria de nos revermos depois das tristezas da ausência e da separação; não haveria, ou pelo menos ignoraríamos, essa antiguidade de afeição que mais ainda aperta os laços. Assim como em vossa Terra dois amigos de infância gostam de encontrar-se no mundo, na sociedade, e se buscam muito mais do que se suas relações apenas datassem de alguns dias, também os Espíritos que mereceram o inapreciável favor de se unirem nos mundos superiores são duplamente felizes e reconhecidos a Deus por esse novo encontro, que corresponde às suas mais caras aspirações.

Os mundos colocados acima da Terra na escala da perfeição são cumulados de todos os favores que possam contribuir para a perfeita felicidade dos seres que os habitam; o passado não lhes é oculto, porque a lembrança de seus antigos sofrimentos, de seus erros, resgatados à custa de muitos males, e a lembrança, ainda mais viva, de suas afeições sinceras, lhes faz achar mil vezes mais doce essa nova vida e os protegem contra faltas a que, talvez, pudessem ser arrastados por uns resquícios de fraqueza. Para os homens esses mundos são o paraíso terrestre,destinado a conduzi-los ao paraíso divino.

Observação – Enganar-nos-íamos redondamente quanto ao sentido desta comunicação se nela víssemos uma crítica às leis que regem o casamento e a sanção das uniões efêmeras extra-oficiais. No que respeita às leis, as únicas imutáveis são as leis divinas, ao passo que as leis humanas, devendo ser apropriadas aos costumes, aos usos, aos climas e ao grau de civilização, são essencialmente mutáveis; seria deplorável que assim não fosse, e que os povos do século dezenove estivessem presos às mesmas regras que regiam os nossos pais. Assim, se as leis mudaram deles até nós, como não chegamos à perfeição, deverão mudar de nós aos nossos descendentes. No momento em que é feita, toda lei tem a sua razão de ser e a sua utilidade; mas pode acontecer que, sendo boa hoje, não mais o seja amanhã. No estado dos nossos costumes,de nossas exigências sociais, o casamento necessita ser regulado pela lei, e a prova de que esta lei não é absoluta é que não é a mesma para todos os países civilizados. É, pois, permitido pensar que nos mundos superiores, onde não há os mesmos interesses materiais a salvaguardar, onde não existe o mal, isto é, onde os Espíritos maus são excluídos da encarnação, onde, conseguintemente, as uniões resultam da simpatia e não do cálculo, as condições devam ser diferentes. Mas aquilo que é bom para eles poderia ser muito mau para nós.

Além disso, é preciso levar em conta que os Espíritos se desmaterializam à medida que se elevam e se depuram. Só nas fileiras inferiores a encarnação é material. Para os Espíritos superiores não há mais encarnação material e, conseqüentemente, não há procriação, pois esta se dá pelo corpo e não pelo Espírito. Uma afeição pura é, pois, o único objetivo da união e, por isto, ao contrário do que ocorre na Terra, não necessita da sanção oficial.

UMA TELHA

(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sra. C.)

Passando pela rua e lhe caindo aos pés uma telha, diz um homem: “Que sorte! Um passo a mais e eu estaria morto.” Em geral é o único agradecimento que dirige a Deus. Entretanto esse mesmo homem, pouco tempo depois, adoece e morre na cama. Por que, então, foi preservado da telha, para, como todo o mundo,morrer alguns dias depois? Foi o acaso – dirá o incrédulo – como ele próprio disse: Que sorte! De que lhe adiantou escapar da morte no primeiro acidente, se sucumbiu ao segundo? Em todo o caso, se a sorte o favoreceu, o favor não durou muito.

A essa pergunta o espírita responde: A cada instante escapais de acidentes que, como se costuma dizer, vos deixam a um passo da morte. Não vedes nisso um aviso do céu para vos provar que vossa vida está por um fio, que jamais tendes certeza de viver amanhã e que, assim, deveis sempre estar preparados para partir? Mas, que fazeis, quando deveis empreender uma longa viagem? Fazei os vossos preparativos, arranjai os negócios, muni-vos de provisões e de coisas necessárias para o caminho; desembaraçai-vos de tudo quanto pudesse dificultar e retardar a marcha. Se conheceis o país para onde vos dirigis, se lá tendes amigos e conhecidos, partis sem receio, certos de serdes bem recebidos. Caso contrário,estudais o mapa da região e arranjais cartas de recomendação. Suponde que sejais obrigados a empreender essa viagem de um momento para outro, que não tendes tempo de fazer preparativos, ao passo que se estivésseis prevenidos com bastante antecedência,teríeis disposto todas as coisas para vosso conforto e vosso lazer.

Pois bem! todos os dias estais expostos a empreender a maior, a mais importante das viagens, aquela que deveis fazer inevitavelmente; e, no entanto, não pensais nisto mais do que se tivésseis de viver para sempre na Terra! Em sua bondade, Deus cuida de vós, advertindo-vos por numerosos acidentes, aos quais escapais, e não tendes para Ele senão esta expressão: Que sorte!

Espíritas! Sabeis que preparativos deveis fazer para essa grande viagem, que tem para vós conseqüências muito mais importantes do que todas as que empreendeis na Terra? Porque da maneira por que ela se realizar depende a vossa felicidade futura. O mapa que vos dará a conhecer o país onde ides entrar é a iniciação nos mistérios da vida futura. Por ela o país não será novidade para vós. Vossas provisões são as boas ações que tiverdes realizado e que vos servirão de passaporte e de cartas de recomendação. Quanto aos amigos que lá encontrareis, vós os conheceis. É dos maus sentimentos que vos devereis desembaraçar, pois infeliz é aquele a quem a morte surpreende com ódio no coração, como se fora alguém que caísse na água com uma pedra atada ao pescoço, sendo arrastado para as profundezas. Os negócios que deveis pôr em ordem são o perdão aos que vos ofenderam; os erros cometidos para com o próximo, que deveis ter pressa em reparar, a fim de conquistardes o perdão, porquanto os erros são dívidas, de que o perdão é a quitação. Apressai-vos, pois, que a hora da partida pode soar de um momento para outro e não vos dar tempo para a reflexão.

Em verdade vos digo: a telha que cai aos vossos pés é o sinal que vos adverte para estardes sempre prontos a partir ao primeiro chamamento, a fim de não serdes tomados de surpresa.

O Espírito de Verdade

CÉSAR, CLÓVIS E CARLOS MAGNO

(Sociedade Espírita de Paris, 24 de janeiro de 1862; assunto proposto. – Médium: Sr. A. Didier)

Esta não é apenas uma questão material, mas, também,muito espiritualista. Antes de abordar o ponto principal, um há, do qual falaremos em primeiro lugar. O que é a guerra? Para começar,respondemos que a guerra é permitida por Deus, pois que existe, existiu e existirá sempre. É erro na educação da inteligência não ver em César senão um conquistador, em Clóvis senão um bárbaro, em Carlos Magno senão um déspota, cujo sonho insensato queria fundar um imenso império. Ah! meu Deus! Como geralmente se diz, os conquistadores são os próprios joguetes de Deus. Como sua audácia, seu gênio os fez chegar ao primeiro posto, viram em torno de si não só homens armados, mas idéias, progressos, civilizações,que era necessário lançar às outras nações. Partiram, como César, para levar Roma a Lutécia; como Clóvis, para os germes de uma solidariedade monárquica; como Carlos Magno, para irradiar o facho do Cristianismo entre os povos cegos, nas nações já corrompidas pelas heresias dos primeiros tempos da Igreja. Ora, eis o que aconteceu: César, o mais egoísta desses três grandes gênios,faz servir a tática militar, a disciplina, a lei, numa palavra, para os trazer às Gálias; na retaguarda de seus exércitos seguia a idéia imortal, e as tribos, vencidas e indomáveis, sofriam o jugo de Roma, é certo, mas se transformavam em províncias romanas. A orgulhosa Marselha teria existido sem Roma? Lugdunum37 e tantas outras cidades célebres nos anais tornaram-se centros imensos,focos de luz para as ciências, as letras e as artes. César é, pois, um grande propagador, um desses homens universais, que se servem do homem para civilizar o homem, um desses homens que sacrificam homens em proveito da idéia.

O sonho de Clóvis foi estabelecer uma monarquia,bases, uma regra para o seu povo. Mas como a graça do Cristianismo não o iluminava ainda, foi propagador bárbaro. Devemos encará-lo na sua conversão: Imaginação ativa, febril,belicosa, viu na vitória sobre os visigodos uma prova da proteção de Deus; e, doravante, certo de estar sempre com Ele, deixou-se batizar. Eis que o batismo se propaga nas Gálias e o Cristianismo se expande cada vez mais. É o momento de dizer, com Corneille: Roma não era mais Roma. Os bárbaros invadiram o mundo romano.

Depois da pilhagem de todas as civilizações esboçadas pelos romanos, eis que um homem sonha espalhar pelo mundo, não mais os mistérios e o prestígio do Capitólio, mas as crenças formidáveis de Aix-la-Chapelle; eis um homem que está, ou se julga com Deus. Um culto odioso, rival do Cristianismo, ainda ocupa os bárbaros; Carlos Magno precipita-se sobre esses povos e Witikind, depois de lutas e de vitórias equilibradas, enfim se submete,recebendo o batismo humildemente.

37 N. do T.: Assim se chamava Lyon, terra natal de Allan Kardec,fundada pelos romanos em 43 a.C.

Eis aí, por certo, um quadro imenso, onde se desenrolam tantos fatos, tantos golpes da Providência, tantas quedas e tantas vitórias. Mas qual a conclusão? A idéia,universalizando-se, propagando-se cada vez mais, não se detendo nem nos desmembramentos das famílias, nem no desânimo dos povos, e tendo como objetivo, por toda parte, a implantação da cruz do Cristo em todos os pontos da Terra, não constitui um imenso fato espiritualista? É preciso, pois, considerar esses três homens como grandes propagadores que, por ambição ou por crença, avançaram a luz no Ocidente, enquanto o Oriente sucumbia na preguiça embriagadora e na inatividade. Ora, a Terra não é um mundo onde o progresso se faça rapidamente e por meio da persuasão e da mansuetude.

Não vos admireis, pois, que muitas vezes seja preciso tomar da espada, em vez da cruz.

Lamennais

P. – Dissestes que a guerra existirá sempre. Todavia,parece que o progresso moral, destruindo as suas causas, a fará
cessar.
Resp. – Ela existirá sempre, considerando-se que sempre haverá lutas; mas as lutas mudarão de forma. É verdade que o Espiritismo deve espalhar no mundo a paz e a fraternidade. Contudo, bem o sabeis, mesmo com o triunfo do bem sempre haverá luta. Evidentemente o Espiritismo fará compreender cada vez melhor a necessidade da paz; mas o mal vela sempre. Ainda será preciso lutar muito tempo na Terra pelo bem. Apenas as lutas se tornarão cada vez mais raras.

(MESMO ASSUNTO – MÉDIUM: SR. LEYMAR)

A influência dos homens de gênio sobre o futuro dos povos é incontestável. Nas mãos da Providência eles são instrumentos para acelerar as grandes reformas que, sem eles, só viriam depois de muito tempo. São eles que semeiam os germes das idéias novas. E, o mais das vezes, voltam alguns séculos mais tarde,sob outros nomes, para continuar ou completar a obra que começaram.

César, essa grande figura da Antiguidade, nos representa o gênio da guerra, a lei organizada. As paixões por ele levadas ao extremo abalaram profundamente a sociedade romana. Esta muda de face e na sua evolução tudo se transforma em seu redor. Os povos sentem mudar a sua antiga constituição; uma lei implacável, a da força, une o que não se devia separar, conforme a época em que vivia César. Sob sua mão triunfante as Gálias se transformam e, depois de dez anos de combates, constituem uma unidade poderosa. Mas dessa época data a decadência romana. Levada ao excesso, essa potência que fazia tremer o mundo cometia as faltas do poder extremo. Tudo quanto cresce além das proporções fixadas por Deus deve cair do mesmo modo. Esse grande império foi invadido por uma nuvem de povos saídos de regiões então desconhecidas. A fama tinha levado, com as armas de César, as idéias novas aos países do Norte, que se precipitaram sobre ele como uma torrente. Vede essas tribos bárbaras, lançandose rapaces sobre as províncias, onde o sol era melhor, o vinho tão doce, as mulheres tão belas. Atravessaram as Gálias, os Alpes, os Pirineus, para ir fundar suas colônias em toda parte e desagregar esse grande corpo chamado Império Romano. Só o gênio de César tinha bastado para levar sua nação à culminância do poder. Dele data a época da renovação, em que todos os povos se confundem,avançam uns sobre os outros, buscando outras coesões, outros elementos. E, no entanto, durante vários séculos, quanto ódio entre essas criaturas! quantos combates! quantos crimes! quanto sangue!

Barbaret

Com sua mão bárbara, Clóvis devia ser o ponto de partida de uma nova era para os povos. Obedecia ao costume e, para formar uma nação, não recuava diante de nenhum obstáculo. Ele a formava com o punhal e a astúcia. Criava um novo elemento adotando o batismo, iniciando seus rudes soldados numa nova crença. Entretanto, tudo foi à deriva depois dele, apesar da idéia,apesar do Cristianismo. Eram precisos Carlos Martel, Pepino e depois Carlos Magno.

Saudemos essa figura poderosa, essa natureza enérgica,qual novo César a reunir num feixe todos os povos dispersos, mudar as idéias e dar uma forma a esse caos. Carlos Magno é a grandeza na guerra, na fé, na política, na moralidade nascente, que devia fundir os povos e lhes dar a intuição da conservação, da unidade, da solidariedade. Dele remontam os grandes princípios que formaram a França, nossas leis e nossas ciências aplicadas. Transformador, ele era marcado pela Providência para ser o traço de união entre César e o futuro. Também o chamam o Grande porque, se empregou terríveis meios de execução, foi para dar uma forma e um pensamento único a essa reunião de povos bárbaros, que não podiam obedecer senão a quem fosse poderoso e forte.


Barbaret

Nota – Como esse nome era desconhecido, pediu-se ao Espírito que desse alguns esclarecimentos sobre a sua pessoa:

Eu vivia ao tempo de Henrique IV. Era muito humilde. Perdido nesta Paris onde tão bem se esquece aquele que se esconde e só busca o estudo, gostava de estar só, ler e comentar à minha maneira. Pobre, trabalhava, e o labor diário me dava essa alegria inefável que se chama liberdade. Copiava livros e fazia essas maravilhosas vinhetas, prodígios de paciência e de saber, que só davam pão e água à minha paciência. Mas eu estudava, amava meu país e buscava a verdade na Ciência. Ocupava-me de História e para a minha França bem-amada eu desejava a liberdade, a realização de todas as aspirações que sonhava na minha humildade. A partir de então estou num mundo melhor e Deus me recompensou a abnegação, dando-me essa tranqüilidade de Espírito, em que todas as obsessões do corpo estão ausentes, e sonho pela minha pátria, pelo mundo inteiro, pela nossa Terra, pelo amor e pela liberdade.

Venho muitas vezes para vos ver e ouvir. Gosto dos vossos trabalhos e deles participo com todo o meu ser. Desejo-vos perfeitos e satisfeitos no futuro. Que sejais felizes, como eu o desejo. Mas não o sereis completamente se não vos despojardes da roupa velha que há muito veste o mundo inteiro: refiro-me ao egoísmo. Estudai o passado, a história do vosso país e aprendereis mais com o sofrimento dos vossos irmãos que com qualquer outra ciência.

Viver é saber, é amar, é auxiliar-se mutuamente. Ide,pois, e fazei segundo o vosso Espírito. Deus está presente e vos vê e julga.

Barbaret

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