terça-feira, 7 de abril de 2015

Revista Espírita: SOBRE A ARQUITETURA E A IMPRENSA, A PROPÓSITO DA COMUNICAÇÃO DE GUTTEMBERG


(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sr. A. Didier)

O Espírito Guttemberg definiu muito poeticamente os efeitos positivos e tão universalmente progressivos da imprensa e o futuro da eletricidade; entretanto, na qualidade de antigo construtor de castelos, torreões, aterros e catedrais, permito-me expor certas teorias sobre o caráter e o objetivo da arquitetura medieval.

Todos sabem, e agora ilustres professores de arqueologia hão ensinado, que a religião, a fé ingênua ergueram com o gênio do homem esses soberbos monumentos góticos,espalhados na superfície da Europa; e aqui, mais que nunca, a idéia expressa pelo Espírito Guttemberg, é cheia de elevação.

Contudo, julgamos por bem emitir a nossa opinião, não contra, mas a seu favor.

A idéia, essa luz da alma, centelha real que comunica a vontade e o movimento ao organismo humano, manifesta-se de diversas maneiras, quer pela arte, pela filosofia, etc. A arquitetura,essa arte elevada que, talvez, melhor exprima o natural e o gênio de um povo, foi consagrada, nas nações impressionáveis e crentes, ao culto de Deus e às cerimônias religiosas. A Idade Média, forte no feudalismo e na crença, teve a glória de fundar duas artes essencialmente diferentes em seu objetivo e sua consagração, mas que exprimem perfeitamente o estado de sua civilização: o castelo forte, habitado pelo senhor ou pelo rei; a abadia, o mosteiro e a igreja; numa palavra, a arte arquitetônica militar e a religiosa. Os romanos, essencialmente administradores, guerreiros, civilizadores, colonizadores universais, forçados que eram pela expansão de suas conquistas, jamais tiveram uma arquitetura inspirada por sua fé religiosa; só a avidez, o amor do ganho e do poder executivo, lhes fizeram construir esses formidáveis montes de pedra, símbolo de sua audácia e de sua capacidade intelectual. A poesia do Norte,contemplativa e nebulosa, aliada à suntuosidade da arte oriental, criou o gênero gótico, a princípio austero e pouco a pouco florido. Com efeito, vemos na arquitetura a realização das tendências religiosas e do despotismo feudal.

Essas ruínas famosas de tantas revoluções humanas,mais que o tempo, ainda se impõem por seu aspecto grandioso e formidável. Parece que o século que as viu erguer-se era duro,sombrio e inexorável, como elas; mas daí não se deve concluir que a descoberta da imprensa, à força de desenvolver o pensamento,tenha simplificado a arte da arquitetura. Não; a arte, que é uma parte da idéia, será sempre uma manifestação religiosa, política, militar, democrática ou principesca. A arte tem o seu papel, a imprensa o dela; sem ser exclusivamente especialista, não se deve confundir o objetivo de cada coisa; é preciso dizer apenas que não se devem misturar as diferentes faculdades e as diversas manifestações da idéia humana.

Robert de Luzarches

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