quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A vaca é sagrada na Índia, mas o país é o maior exportador de carne vermelha

A vaca é sagrada na Índia, mas o país é o maior exportador de carne vermelha

Segundo Departamento de Agricultura americano, país supera Brasil e Austrália graças ao abate de búfalos

por O Globo

RIO - O país onde a vaca é um animal sagrado exportou uma quantidade recorde de carne vermelha no ano passado. É isso mesmo. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a Índia foi o maior exportador de carne bovina em 2014, ampliando a vantagem sobre outros líderes do mercado, como Brasil e Austrália.

A liderança indiana, de acordo com o site CNN Money, se deve ao fato de o país exportar grandes quantidades de carne de búfalo, um membro da família bovina e que é classificado como carne bovina pelas autoridades americanas. O comércio de carne de búfalo tem crescido rapidamente e já rende mais à Índia do que a exportação de arroz basmati.

A carne de búfalo — uma alternativa mais dura e barata do que a de boi — geralmente vai parar em pratos da Ásia e do Oriente Médio, onde o aumento da renda elevou a demanda por proteína animal.

Mas o papel da Índia no comércio mundial de carne é diferente do cenário doméstico. No país, de maioria hindu, o vegetarianismo é generalizado. A vaca é um animal sagrado no hinduísmo, seguido por 80% dos 1,3 bilhão de indianos. Além disso, há restrições ao abate de gado na maioria dos estados. Os búfalos, porém, geralmente estão de fora das limitações.

Ainda segundo o site CNN Money, esse comércio, que anualmente gera US$ 4,8 bilhões em exportações, cresceu sem querer, já que os búfalos são necessários para abastecer a crescente indústria de laticínios do país. A carne do animal é barata no país. E o crescimento da exportação do produto disparou a uma taxa anual de 30% entre 2010 e 2013.

Os principais importadores da carne de búfalo da Índia são Vietnã, que fica com quase 40% da produção, Malásia, Egito e Arábia Saudita. A China é o principal consumidor e boa parte do produto entra no país pela fronteira vietnamita.

Notícia publicada no Jornal O Globo, em 8 de agosto de 2015.

Jorge Hessen* comenta

Um leitor e amigo sugeriu-me comentar sobre a alimentação carnívora. A princípio não ignoro que a ingestão de carne deriva dos nossos vícios milenários de nutrição. Afirma-se que a nossa atual constituição física ainda depende da alimentação carnívora para a manutenção da saúde e, por consequência, da vida, pois a carne é proteína e proteína é necessária para boa formação muscular, inclusive a cardíaca. Contudo, sei que as substâncias que o nosso corpo necessita também podem ser retirados dos vegetais.

Sobre nossas carências vitamínicas e nutritivas, André Luiz narra que “encarecíamos, com toda a responsabilidade da ciência, a necessidade de proteínas e gorduras diversas, mas esquecíamos de que a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os suprimentos proteicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte. Esquecíamo-nos de que o aumento de laticínios para enriquecimento da alimentação constitui elevada tarefa, porque tempos virão, para a Humanidade terrestre, em que o estábulo, como o Lar, será também sagrado.”(1)

É importante saber, a princípio, se a alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza? Os Benfeitores disseram a Kardec que em razão “da nossa constituição física, a carne nutre a carne, do contrário morremos. A lei de conservação nos prescreve, como um dever, que mantenhamos nossas forças e saúde, para cumprir a lei do trabalho. Temos que nos alimentar conforme exige a nossa organização fisiológica.”(2) Como vimos, o ser humano é onívoro(3) e inclui a necessidade de carne em sua alimentação. Foi o Criador que nos constituiu fisiologicamente necessitando de carne. O difícil é nos autoconvencer que não precisamos mais da carne.

Sem dúvida que a frase “a carne nutre a carne” justifica a alimentação carnívora sem remorsos. Porém, há os que defendem que podemos nos esforçar para diminuirmos a ingestão da carne paulatinamente. Para tais vegetarianos há indícios que a dieta carnívora potencializa o advento de inúmeras doenças que provavelmente têm menos expectativas de se alargarem em pessoas que fazem uso da dieta vegetariana, esse fato é um bom argumento para a abstenção, até porque, segundo sustentam, os Espíritos expõem que "permitido é ao homem alimentar-se de tudo o que lhe não prejudique a saúde”.(4) Os abstêmios da carne afirmam que há estudos sobre o risco cardiovascular em vegetarianos e onívoros. Constatou-se que a alimentação onívora, com excessos de proteínas e gorduras de origem animal, potencializa eventos cardiovasculares. Ao passo que as dietas na base de ovo, leite e vegetais ou só vegetais apresentaram menores riscos cardiovasculares.

Mas os cientistas alertaram que ainda é muito cedo para se estabelecer uma relação entre o consumo de carne vermelha e laticínios e o câncer de próstata, embora  disseram que as descobertas fornecem pistas para o estudo da ligação. Os abstêmios da carne afiançam que a adrenalina produzida no estresse da morte, as toxinas (lixo metabólico) e a ureia que circulavam no organismo quando o animal é morto se impregnam na carne. Fora os micro-organismos patogênicos: bactérias, vírus, protozoários  (nenhum boi ou porco faz check-up antes de morrer), lembrando que quase a metade da carne consumida no Brasil provém de abatedouros clandestinos, portanto as condições sanitárias são uma roleta-russa, porém com todas as balas no tambor.

Será que a prática do vegetarianismo é uma demonstração de evolução espiritual e ser onívoro é, por si só, um sinal de inferioridade? Respondo com Chico Xavier, que não dispensava um bife com arroz e feijão. Isso não é lenda, mas fato. Pela narrativa dos evangelistas, o próprio Cristo comia peixe. O Mestre nunca desaprovou alimento algum. Comumente recorria a figura do pastor e as ovelhas. Ora, indago, para que um pastor criava ovelhas? Seria só para adorno caseiro ou para engordá-las e em seguida abocanhá-las? Se tal situação fosse censurável perante a vida, o Galileu não usaria essa metáfora, pois o pastor seria pior que o lobo.

Sim, Jesus comia peixes, portanto comia carne (peixe não é alface), por isso Ele mesmo advertiu que o importante não é o que entra na boca do homem, mas o que sai dela. O que não significa aqui que a frase deva ser interpretada ao pé da letra e de modo extemporâneo para justificar o abuso da ingestão de carne, até porque o abuso é ilícito em tudo.

Apesar dos intransigentes e cansativos debates, não creio que comer carne possa acarretar expiações futuras. Contrariamente, a carne ainda serve de base alimentar para muita gente. E ainda mais porque a atual tecnologia tem produzido a carne em laboratório, isso sinaliza um futuro sem os matadouros que não serão mais necessários.

Sem adentrar no mérito sobre a decisão particular daqueles que não ingerem carne, recorro a Kardec quando inquiriu aos Espíritos se era importante abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação. Os Benfeitores explanaram que “era meritório se tal abstenção fosse em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, porém, só há mortificação, havendo privação séria e útil. Por isso é que qualificamos de hipócritas os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa.”(5)

A Doutrina Espírita não proíbe nada; orienta com o apelo que faz à razão. É uma questão de bom-senso! Se a “carne nutre a carne” nada me obriga a parar de comê-la? Até mesmo porque não são muitas as pessoas que se despojam de alguma coisa em benefício do próximo. Os motivos de alguns abstêmios da carne, raramente são convincentes; os discursos tangem para filosofias espiritualistas que não têm conexão com o Espiritismo.

Ressalte-se que os fariseus também não comiam a carne de porco e outros animais, que segundo eles eram impuras; também vestiam-se de branco e lavavam as mãos, mas não purificavam a alma. Eram sepulcros caiados por fora e por dentro eram cheios de podridão.

Em suma, como descreveria Herculano Pires (o metro que melhor mediu Kardec), espírita não faz “vestibular para santo”.

Referências bibliográficas:

(1) XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2007;

(2) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB. 2001, perg. 723;

(3) O termo onívoro vem do latim omnis, que significa todos, e por isso alguns dizem que os onívoros são aqueles capacitados para consumir qualquer tipo de alimento. Seguindo a definição de que onívoro é o ser que se alimenta de carnes e vegetais, podemos dizer que o ser humano é onívoro, embora o hábito de comer carne seja mais ligado a fatores culturais, uma vez que o aparelho digestivo humano se assemelha mais ao dos seres herbívoros;

(4) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB. 2001, perg. 722;

(5) Idem, perg. 724.

* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário