quinta-feira, 28 de abril de 2016

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970 - A016 – Cap. 4 – Estudando o hipnotismo (Primeira Parte)


Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A016 – Cap. 4 – Estudando o hipnotismo (Primeira Parte)

 

      Fôramos informados pelo irmão Saturnino de que, no processo de desobsessão, em que nos empenhávamos ao lado da família Soares, seria necessário colher me­lhores lições em torno do problema da hipnose espiri­tual praticada por Entidades Vingadoras da Erratici­dade, antes de tomarmos conhecimento detalhado das tarefas que se realizavam no Anfiteatro. Para tanto, re­ceberíamos, ao primeiro ensejo, a visita de sábio Men­sageiro Espiritual que viria aos nossos trabalhos e, uti­lizando-se da mediunidade do irmão Morais, dar-nos-ia elucidativa mensagem sobre a Hipnologia.
      Anunciada a noite dos trabalhos em que recebería­mos o abençoado Instrutor, preparamo-nos convenientemente e, chegado o momento, após a abertura dos tra­balhos, que foi procedida pelo irmão Petitinga, e as ins­truções normais, o médium, em transe sonambúlico, co­meçou a falar.
      Feitas as saudações iniciais e costumeiras, a Enti­dade, que irradiava bondade e simpatia, começou a ex­pressar-se com inesquecível inflexão de voz:
      — Irmãos na fé restaurada: «que Jesus, o Divino Benfeitor, nos abençoe e nos guarde, dando-nos a Sua paz e inspiração!
      «Desde tempos imemoriais que são conhecidas al­gumas das práticas do Hipnotismo moderno, que ocupava nas religiões dos povos da antiguidade oriental lu­gar de relevo, embora com nomenclatura diversa.
O Egito faraônico, através dos seus sacerdotes, que pesquisavam os mais variados fenômenos psíquicos com os recursos de que dispunham, dedicou diversos templos ao sono, nos quais se realizavam as experiên­cias hipnológicas de expressivos resultados. Os taumaturgos caldeus praticavam-no com finalidades terapêu­ticas, lobrigando respeitável soma de benefícios. E as diversas literaturas referentes à hipnologia conservam ainda hoje fragmentos históricos da sua viagem multis­secular através de civilizações incontáveis que ficaram no passado...
«Deve-se, porém, a Frederico Antônio Mesmer o grande impulso que o trouxe aos tempos modernos. To­davia, merece considerado que Paracelso, autor do con­ceito e teoria do fluído, anteriormente já se interessara por experiências magnéticas, que seriam posteriormente desdobradas por Mesmer. Considerava Mesmer o fluído como sendo o meio de uma influência mútua entre os corpos celestes, a terra e os astros», afirmando que esse fluído se encontra em toda a parte e enche todos os espaços vazios, possuindo a propriedade de «receber, pro­pagar e comunicar todas as impressões do movimento». E elucidava: «O corpo animal experimenta os efeitos desse agente: e é insinuando-se na substância dos ner­vos que ele os afeta imediatamente».
«Formado pela Universidade de Viena, o ilustre mé­dico defendeu a tese que intitulou: «Influência dos as­tros na cura das doenças», através da qual expunha a sua teoria do fluído, inspirada, sem dúvida, no tradicio­nal conceito do fluidismo universal.
«Fixado em tal opinião, concluía que as enfermida­des decorrem da ausência desse fluído no organismo, fluído que passa, então, a ser a alma da vida.
Utilizando-se de 27 proposições ou aforismos, esta­beleceu as bases do seu pensamento e transferiu-se de Viena para Paris, nos fins do século 18, dando início, conquanto o forte preconceito acadêmico então rei­nante, às suas práticas, que tinham de certo modo um caráter burlesco, tendo em vista a forma bizarra com que se apresentava, sem a preocupação de atender à seriedade de um labor de ordem científica.
Compreensivelmente, o aparato algo teatral conse­guia influenciar os pacientes que lhe buscavam o  auxílio ».
Fazendo uma pausa, como a coordenar historicamente os conceitos, prosseguiu, com expressiva ênfase:
—  “Avançando de surpresa a surpresa, nas expe­riências magnéticas ao lado de portadores de distúrbios nervosos, criou Mesmer a (tina das convulsões» (*), em redor da qual podiam ser atendidas simultâneamente até 130 pessoas.
Ali se reuniam paralíticos, nevropatas de classifi­cação complexa que, em contacto com o fluído magné­tico, eram acometidos de convulsões violentas das quais saíam com nervos relaxados, libertados das enfermida­des que os consumiam
 
Acatado por uns, perseguido por outros, Mesmer terminou por abandonar Paris e transferiu-se para Nurs­burg, no lago de Constança, algo combalido e despres­tigiado.
«As suas experiências, porém, chamaram a atenção de homens ilustres e interessados na busca de métodos capazes de diminuírem as aflições humanas. Entre esses, o Marquês De Puységur, (1) em 1787; enquanto mag­netizava um camponês de nome Vítor Race, foi surpreendido por estranha ocorrência: o paciente adormeceu e nesse estado apresentou admirável lucidez, sendo ca­paz de produzir eficiente diagnóstico a respeito de ma­les orgânicos que o afligiam e sugerir segura terapêu­tica. O sono era ameno, sem convulsão nem tormento, ensejando o início do período denominado então sonam­bulismo.
«O fato, digno de estudos, tornou-se de súbito ins­trumento de charlatanismo e foi denominado como ma­ravilhoso, dando margem a especulações naturalmente ridículas e indignas. Todavia, estava-se no caminho certo, apesar das veredas falsas.
A Academia, convocada a opinar através de inqué­ritos conduzidos com má fé, chegou à conclusão de que tudo não passava de burla, e cerrou, desde então, «olhos e ouvidos» aos aventureiros, relegando-os ao mais amplo desprezo.
Pesquisadores conscientes, no entanto, não desani­maram e, dentre esses, o Barão Du Potet e Carlos La­fontaine se fizeram os mais notórios pelos livros que es­creveram e os espetáculos públicos em que se apresen­taram, exibindo os resultados das suas investigações, em­bora não fossem realmente cientistas.
«No entanto, a descoberta de De Puységur veio influenciar poderosamente o sacerdote português José Custódio de Faria, nascido em Concolim de Bardez, na África Portuguesa e residente em Paris, que, graças ao seu notável trabalho, passou a ser chamado em França l’abbé de Faria, que conseguiu, com inauditos esforços, libertar-se de todas as práticas e formas até então vi­gentes, estabelecendo que o fenômeno procedia da su­gestão, dependendo, evidentemente, do paciente. Des­considerou as apresentações ridículas, sem conseguir, no entanto, despertar a atenção dos sábios e acadêmicos...
As experiências de De Puységur conduziram o fe­nômeno ao campo da transposição dos sentidos, visão a distância e através de corpos opacos, etc...
Todavia, ao cirurgião inglês James Braid se deve a introdução do termo hipnotismo em lugar de magne­tismo e novas conclusões surpreendentes no setor das pesquisas, tendo-se em vista ser ele espiritualista.
Assistia ele a uma sessão de Lafontaine, para ave­riguar o que havia de real no debatido problema da magnetização, quando se sentiu despertado para alguns dos fenômenos mais modestos, o que o levou a realizar, ele mesmo, incontáveis experiências, no decurso das quais, após conseguir o sono provocado em seus «sujets», de­parou com os estados de catalepsia e letargia, encon­trando novo campo para experimentações valiosas.
Estávamos fascinados. Era uma síntese histórica do Hipnotismo, então aplicado em nossos trabalhos espi­rituais, e que hoje tem amplo curso entre médicos e odontólogos, reflexologistas e psiquiatras, constituindo preciosa disciplina credora de estudos profundos e com­plexos.
O  Instrutor, após ligeira reflexão, deu curso à expo­sição fluente e clara:
—  “No ano de 1878, porém, o Professor João Martinho Charcot proferiu uma série de conferências no Hos­pital da Salpêtriére, modificando na Academia a reabi­litação do desdenhado Magnetismo, agora apresentado com nomenclatura diferente: Hipnotismo, expressão com­patível, sem dúvida, com as experiências em curso. To­davia, o eminente professor Charcot, lidando exclusivamente com histéricas internadas no Hospital da Salpêtriére, chegou à conclusão apressada de que o hipnotis­mo é uma nevropatia de caráter automatista, que se ma­nifesta no enfermo através de três fases distintas: ca­talepcia, letargia e sonambulismo, relegando o fenômeno hipnótico a um plano de descrédito e mesmo de abjeção.
Enquanto o Professor Charcot pontificava na Univer­sidade da Salpêtriére, acusado pelo Professor Pedro Janet de apenas ter hipnotizado sensitivas já condicionadas por estudantes que praticavam o sonambulismo na ausência do mestre, criando nas percipientes um estado de auto­matismo patológico lamentável (2), destaca-se na Es­cola de Nancy o Dr. Liébault, que desde 1860 aplicava os recursos hipnológicos diariamente em sua clínica, com resultados expressivos, discordando terminantemente da conceituàção histeropata dos mestres da Salpêtriére...
A Escola de Nancy reuniu homens notáveis, den­tre os quais o professor Bernheim, que fora atraído ao Hipnotismo, através de um seu cliente para o qual fa­lharam todos os recursos, e se curara com uma única sessão de hipnose na clínica do Dr. Liébault. (3)
A partir desse momento, ficaram definitivamente estabelecidas as duas correntes preponderantes na Hip­nologia: a de que o fenômeno hipnótico encontra melhor campo e é específico nos histéricos, e aquela que afirma o oposto, estabelecendo que as pessoas portadoras de cérebro normal, capazes de melhor concentrarem nas idéias que se lhes sugiram, são as realmente hipnotizá­veis. Correntes de pensamentos diversos, padronizadas segundo os múltiplos experimentadores, têm sido apre­sentadas, criando opiniões esdrúxulas e não poucas vezes ridículas.
A verdade, porém, é que as duas Escolas france­sas, a da Salpêtriére, na qual pontificavam os conceitos da histeropatia, e a de Nancy, afirmando a legitimidade da sugestão em todos os indivíduos, mereceram da pos­teridade estudos mais acentuados e melhor consideração, embora a grande maioria dos pesquisadores haja discor­dado de Charcot, Pedro Jauet, Babinski, seus mais ilus­tres representantes.
«O Professor Carlos Richet, a cujo trabalho tanto de­vem as ciências fisiológicas e psicológicas, o eminente catedrático da Universidade de Paris, realizou estudos sistematizados, expôs com lealdade os resultados obti­dos e conseguiu interessar os mais eminentes estudiosos do seu tempo, entre os quais o próprio Professor Charcot, que após as conclusões do mestre fisiologista resolveu estudar em profundidade o Hipnotismo»...
E dando diversa inflexão à voz, o Benfeitor, no qual se alinhavam conhecimentos valiosos e experiências de alto realce, aduziu:
«O que nos importa, entretanto, considerar, é o mecanismo como se efetuam as intervenções hipnológi­cas entre os indivíduos encarnados, e mais particularmente entre desencarnados e encarnados, nos processos dolorosamente obsessivos, tanto quanto na reciprocidade do intercâmbio entre os despidos da indumentária carnal.
«As ondas mentais exteriorizadas pelo cérebro man­têm firme intercâmbio em todos os quadrantes da Terra e fora dela. Pensamentos atuam sobre homens e mulhe­res desprevenidos e a sugestão campeia vitoriosa ali­ciando forças positivas ou negativas com as quais sintonizam, em lacerantes conúbios dos quais nascem pri­sões e surgem alvarás de liberdade, por onde transitam opiniões, aspirações, anseios...
«Merece relembrado o conceito do Nazareno: Onde estiver o tesouro aí o homem terá o coração», o que equivale dizer que cada ser respira o clima da provín­cia em que situa os valores que lhe servem de retentiva na retaguarda óu que se constituem asas de libertação para o futuro.
«Pensamento e vontade — eis as duas alavancas de propulsão ao infinito e, ao mesmo tempo, os dois elos de escravidão nos redutos infelizes e pestilenciais do «inferno» das paixões.
«Pensar e agir, identificando-se com os fatores da atenção, constituem a fórmula mágica do comportamento individual a princípio, e coletivo logo depois, em que, ora por instinto gregário, ora por afinidade psíquica, se reúnem os comensais desta, ou daquela idéia.
«Céu ou inferno, portanto, são dependências que construímos em nosso íntimo, vitalizadas pelas aspira­ções e mantidas a longo esforço pelas atitudes que im­primimos ao dia-a-dia da existência.
Por tais processos, províncias de angústia e re­giões de suplício, oásis de ventura e ilhas de esperança nascem no recôndito de cada mente e se multiplicam ao império de incontáveis vontades que se reúnem, em to­dos os departamentos do planeta. Inicialmente, o ho­mem se converte no anjo ou no demônio, que ele pró­prio elabora por força da idéia superior ou viciada em que se compras, sintonizando, por um processo natural de afinidades, com outras mentes encarnadas ou não, que vibram nas mesmas faixas-pensamento, produzindo processos de hipnose profunda que se despersonalizam e se nutrem, sustentados, reciprocamente, por forças vi­tais de fácil manipulação inconsciente, que gravitam em toda a parte.
Nesse sentido, convém considerar as lições supe­riores do Espiritismo, que oferece panorama de elevada estrutura mental e moral, facultando registos de idéias superiores capazes de manterem uma higiene psíquica libertadora de toda conexão com as Entidades infelizes do Mundo Espiritual Inferior ou com as vibrações que pairam na Terra mesma, e que procedem de vigorosas mentes ainda agrilhoadas, que se imantam umas às ou­tras, realizando intercâmbio danoso, de longo curso e de imprevisíveis consequências.
 
 
(*)   A “Tina das convulsões” ou baquet (em francês) se cons­tituia de ampla caixa de madeira com dimensões gigantes, de for­ma circular e entulhada de limalhas de ferro. Sobre as limalhas eram colocadas garrafas cheias de água adredemente magnetiza­das. Essas garrafas semelhavam-se a vasos comunicantes, por estarem interligadas e o líquido passar através de todas. Da tina, por aberturas assimétricas, saiam inúmeras barras delga­das e longas de ferro, móveis, que os pacientes aplicavam sobre os órgãos enfermos. Os pacientes formavam diversas fileiras em torno do baquet, de modo a poderem a um só e mesmo tempo be­neficiar-se dos resultados magnéticos. Além disso, deixavam-se atar à cintura por uma corda, uns aos outros, e se davam as mãos com a finalidade de formarem um anel de força, a fim de ampliarem a ação do fluído.
 
(1) O Marquês De Puységur, dominado por sentimentos humanitários, magnetizou uma árvore em sua propriedade de Busancy com o objetivo de auxiliar os pobres que, tocando no vetusto vegetal, se diziam melhorar através dos seus recursos benéficos. Mesmer, por sua vez, interessado igualmente na mais ampla difusão do magnetismo, bem como na coleta de resulta­dos espetaculosos, instruiu um seu empregado, tornando-o seu cooperador para atender à clientela em crescimento espantoso. Além do baquet que atendia a número coletivo, havia a aplicação do magnetIsmo individualmente, feito de maneira bastante gros­seira, mas, ainda assim, de resultados surpreendentes...
 
(2) Esse mesmo Professor Pierre Janet publicara, em 1889, um livro Intitulado “Automatismo psicológico”, através do qual, entre diversas conclusões, tenta desmoralizar os médiuns, si­tuando-os entre os histéricos, na condição de simples automa­tistas.
 
(3)   Allan Kardec, o eminente Codificador, acentuou que:
      “São extremamente variados os efeitos da ação fluídica sobre os doentes, de acordo com as circunstâncias. Algumas vezes é lenta e reclama tratamento prolongado, como no magnetismo ordinário; doutras vezes é rápida como uma corrente elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder que operam curas instantâneas nalguns doentes, por meio apenas da imposição das mãos, ou até exclusivamente por ato de vontade. Entre os dois pólos extremos dessa faculdade há infinitos matizes. Todas as curas desse gênero são variedades do magnetismo e só diferem pela intensidade e pela rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo: o fluído, a desempenhar o papel de agente terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à sua qualidade e a circuns­tâncias especiais”.

A Gênese, de Allan Kardec, 14ª edição — Capitulo XIV —Item 32 — FEB. — Nota, do Autor espiritual.

 

QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL

 

1.     O que é hipnotismo? Por que o mensageiro espiritual recomendava este estudo?
2.     Que tipo de contribuição trouxe Mesmer com os seus estudos?
3.     Quais as duas “alavancas” descritas pelo mentor espiritual que podem nos impulsionar ao progresso ou nos prejudicar? Como isto acontece?
4.     Ficou dúvidas?
  
Observação:
Hipnotismo: 1 Conjunto de fenômenos que constituem o sono causado artificialmente. 2 Sono sonambúlico provocado por esse processo.
Atualmente, utiliza-se o termo hipnose.
 

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