Livro em
estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor:
Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco
A016 – Cap. 4 – Estudando o hipnotismo (Primeira Parte)
Fôramos informados pelo
irmão Saturnino de que, no processo de desobsessão, em que nos empenhávamos ao
lado da família Soares, seria necessário colher melhores lições em torno do
problema da hipnose espiritual praticada por Entidades Vingadoras da Erraticidade,
antes de tomarmos conhecimento detalhado das tarefas que se realizavam no
Anfiteatro. Para tanto, receberíamos, ao primeiro ensejo, a visita de sábio
Mensageiro Espiritual que viria aos nossos trabalhos e, utilizando-se da
mediunidade do irmão Morais, dar-nos-ia elucidativa mensagem sobre a
Hipnologia.
Anunciada a noite dos
trabalhos em que receberíamos o abençoado Instrutor, preparamo-nos
convenientemente e, chegado o momento, após a abertura dos trabalhos, que foi
procedida pelo irmão Petitinga, e as instruções normais, o médium, em transe
sonambúlico, começou a falar.
Feitas as saudações
iniciais e costumeiras, a Entidade, que irradiava bondade e simpatia, começou
a expressar-se com inesquecível inflexão de voz:
— Irmãos na fé restaurada:
«que Jesus, o Divino Benfeitor, nos abençoe e nos guarde, dando-nos a Sua paz e
inspiração!
«Desde tempos imemoriais
que são conhecidas algumas das práticas do Hipnotismo moderno, que ocupava nas
religiões dos povos da antiguidade oriental lugar de relevo, embora com
nomenclatura diversa.
“O Egito faraônico, através dos seus
sacerdotes, que pesquisavam os mais variados fenômenos psíquicos com os
recursos de que dispunham, dedicou diversos templos ao sono, nos quais se
realizavam as experiências hipnológicas de expressivos resultados. Os
taumaturgos caldeus praticavam-no com finalidades terapêuticas, lobrigando
respeitável soma de benefícios. E as diversas literaturas referentes à
hipnologia conservam ainda hoje fragmentos históricos da sua viagem multissecular
através de civilizações incontáveis que ficaram no passado...
«Deve-se, porém, a Frederico Antônio
Mesmer o grande impulso que o trouxe aos tempos modernos. Todavia, merece
considerado que Paracelso, autor do conceito e teoria do fluído, anteriormente
já se interessara por experiências magnéticas, que seriam posteriormente
desdobradas por Mesmer. Considerava Mesmer o fluído como sendo o meio de uma
influência mútua entre os corpos celestes, a terra e os astros», afirmando que
esse fluído se encontra em toda a parte e enche todos os espaços vazios,
possuindo a propriedade de «receber, propagar e comunicar todas as impressões
do movimento». E elucidava: «O corpo animal experimenta os efeitos desse
agente: e é insinuando-se na substância dos nervos que ele os afeta
imediatamente».
«Formado pela Universidade de Viena,
o ilustre médico defendeu a tese que intitulou: «Influência dos astros na
cura das doenças», através da qual expunha a sua teoria do fluído, inspirada,
sem dúvida, no tradicional conceito do fluidismo
universal.
«Fixado em tal opinião, concluía que
as enfermidades decorrem da ausência desse fluído no organismo, fluído que
passa, então, a ser a alma da vida.
“Utilizando-se de 27 proposições ou
aforismos, estabeleceu as bases do seu pensamento e transferiu-se de Viena
para Paris, nos fins do século 18, dando início, conquanto o forte preconceito
acadêmico então reinante, às suas práticas, que tinham de certo modo um
caráter burlesco, tendo em vista a forma bizarra com que se apresentava, sem a
preocupação de atender à seriedade de um labor de ordem científica.
“Compreensivelmente, o aparato algo
teatral conseguia influenciar os pacientes que lhe buscavam o auxílio ».
Fazendo uma pausa, como a coordenar
historicamente os conceitos, prosseguiu, com expressiva ênfase:
— “Avançando de surpresa a
surpresa, nas experiências magnéticas ao lado de portadores de distúrbios
nervosos, criou Mesmer a (tina das convulsões» (*), em redor da qual podiam ser
atendidas simultâneamente até 130 pessoas.
“Ali se reuniam paralíticos,
nevropatas de classificação complexa que, em contacto com o fluído magnético,
eram acometidos de convulsões violentas das quais saíam com nervos relaxados,
libertados das enfermidades que os consumiam
“Acatado por uns, perseguido por
outros, Mesmer terminou por abandonar Paris e transferiu-se para Nursburg, no
lago de Constança, algo combalido e desprestigiado.
«As suas experiências, porém,
chamaram a atenção de homens ilustres e interessados na busca de métodos
capazes de diminuírem as aflições humanas. Entre esses, o Marquês De Puységur,
(1) em 1787; enquanto magnetizava um camponês de nome Vítor Race, foi
surpreendido por estranha ocorrência: o paciente adormeceu e nesse estado
apresentou admirável lucidez, sendo capaz de produzir eficiente diagnóstico a
respeito de males orgânicos que o afligiam e sugerir segura terapêutica. O
sono era ameno, sem convulsão nem tormento, ensejando o início do período
denominado então sonambulismo.
«O fato, digno de estudos, tornou-se
de súbito instrumento de charlatanismo e foi denominado como maravilhoso, dando margem a especulações
naturalmente ridículas e indignas. Todavia, estava-se no caminho certo, apesar
das veredas falsas.
A Academia, convocada a opinar
através de inquéritos conduzidos com má fé, chegou à conclusão de que tudo não
passava de burla, e cerrou, desde então, «olhos e ouvidos» aos aventureiros, relegando-os ao mais amplo
desprezo.
“Pesquisadores conscientes, no
entanto, não desanimaram e, dentre esses, o Barão Du Potet e Carlos Lafontaine
se fizeram os mais notórios pelos livros que escreveram e os espetáculos
públicos em que se apresentaram, exibindo os resultados das suas
investigações, embora não fossem realmente cientistas.
«No entanto, a descoberta de De
Puységur veio influenciar poderosamente o sacerdote português José Custódio de
Faria, nascido em Concolim de Bardez, na África Portuguesa e residente em
Paris, que, graças ao seu notável trabalho, passou a ser chamado em França l’abbé de Faria, que conseguiu, com
inauditos esforços, libertar-se de todas as práticas e formas até então vigentes,
estabelecendo que o fenômeno procedia da sugestão, dependendo, evidentemente,
do paciente. Desconsiderou as apresentações ridículas, sem conseguir, no
entanto, despertar a atenção dos sábios e acadêmicos...
“As experiências de De Puységur
conduziram o fenômeno ao campo da transposição dos sentidos, visão a distância
e através de corpos opacos, etc...
“Todavia, ao cirurgião inglês James
Braid se deve a introdução do termo hipnotismo em lugar de magnetismo e novas
conclusões surpreendentes no setor das pesquisas, tendo-se em vista ser ele
espiritualista.
Assistia ele a uma sessão de
Lafontaine, para averiguar o que havia de real no debatido problema da
magnetização, quando se sentiu despertado para alguns dos fenômenos mais
modestos, o que o levou a realizar, ele mesmo, incontáveis experiências, no
decurso das quais, após conseguir o sono provocado em seus «sujets», deparou com os estados de catalepsia e letargia, encontrando
novo campo para experimentações valiosas.
Estávamos fascinados. Era uma
síntese histórica do Hipnotismo, então aplicado em nossos trabalhos espirituais,
e que hoje tem amplo curso entre médicos e odontólogos, reflexologistas e
psiquiatras, constituindo preciosa disciplina credora de estudos profundos e
complexos.
O Instrutor, após ligeira
reflexão, deu curso à exposição fluente e clara:
— “No ano de 1878, porém, o
Professor João Martinho Charcot proferiu uma série de conferências no Hospital
da Salpêtriére, modificando na Academia a reabilitação do desdenhado Magnetismo, agora apresentado com
nomenclatura diferente: Hipnotismo, expressão compatível, sem dúvida, com as
experiências em curso. Todavia, o eminente professor Charcot, lidando
exclusivamente com histéricas internadas
no Hospital da Salpêtriére, chegou à conclusão apressada de que o hipnotismo é
uma nevropatia de caráter automatista, que se manifesta no enfermo através de
três fases distintas: catalepcia, letargia e sonambulismo, relegando o
fenômeno hipnótico a um plano de descrédito e mesmo de abjeção.
“Enquanto o Professor Charcot
pontificava na Universidade da Salpêtriére, acusado pelo Professor Pedro Janet
de apenas ter hipnotizado sensitivas já
condicionadas por estudantes que praticavam o sonambulismo na ausência do
mestre, criando nas percipientes um
estado de automatismo patológico lamentável
(2), destaca-se na Escola de Nancy o Dr. Liébault, que desde 1860 aplicava os
recursos hipnológicos diariamente em sua clínica, com resultados expressivos,
discordando terminantemente da conceituàção histeropata dos mestres da
Salpêtriére...
A Escola de Nancy reuniu homens
notáveis, dentre os quais o professor Bernheim, que fora atraído ao
Hipnotismo, através de um seu cliente para o qual falharam todos os recursos,
e se curara com uma única sessão de hipnose na clínica do Dr. Liébault. (3)
A partir desse momento, ficaram
definitivamente estabelecidas as duas correntes preponderantes na Hipnologia:
a de que o fenômeno hipnótico encontra melhor campo e é específico nos histéricos, e aquela que afirma o
oposto, estabelecendo que as pessoas portadoras de cérebro normal, capazes de
melhor concentrarem nas idéias que se lhes sugiram, são as realmente hipnotizáveis.
Correntes de pensamentos diversos, padronizadas segundo os múltiplos
experimentadores, têm sido apresentadas, criando opiniões esdrúxulas e não
poucas vezes ridículas.
A verdade, porém, é que as duas
Escolas francesas, a da Salpêtriére, na qual pontificavam os conceitos da
histeropatia, e a de Nancy, afirmando a legitimidade da sugestão em todos os
indivíduos, mereceram da posteridade estudos mais acentuados e melhor
consideração, embora a grande maioria dos pesquisadores haja discordado de
Charcot, Pedro Jauet, Babinski, seus mais ilustres representantes.
«O Professor Carlos Richet, a cujo
trabalho tanto devem as ciências fisiológicas e psicológicas, o eminente
catedrático da Universidade de Paris, realizou estudos sistematizados, expôs
com lealdade os resultados obtidos e conseguiu interessar os mais eminentes
estudiosos do seu tempo, entre os quais o próprio Professor Charcot, que após
as conclusões do mestre fisiologista resolveu estudar em profundidade o
Hipnotismo»...
E dando diversa inflexão à voz, o
Benfeitor, no qual se alinhavam conhecimentos valiosos e experiências de alto
realce, aduziu:
— «O que nos importa, entretanto,
considerar, é o mecanismo como se efetuam as intervenções hipnológicas entre
os indivíduos encarnados, e mais particularmente entre desencarnados e
encarnados, nos processos dolorosamente obsessivos, tanto quanto na reciprocidade
do intercâmbio entre os despidos da indumentária carnal.
«As ondas mentais exteriorizadas
pelo cérebro mantêm firme intercâmbio em todos os quadrantes da Terra e fora
dela. Pensamentos atuam sobre homens e mulheres desprevenidos e a sugestão
campeia vitoriosa aliciando forças positivas ou negativas com as quais
sintonizam, em lacerantes conúbios dos quais nascem prisões e surgem alvarás
de liberdade, por onde transitam opiniões, aspirações, anseios...
«Merece relembrado o conceito do
Nazareno: Onde estiver o tesouro aí o homem terá o coração», o que equivale
dizer que cada ser respira o clima da província em que situa os valores que
lhe servem de retentiva na retaguarda óu que se constituem asas de libertação
para o futuro.
«Pensamento e vontade — eis as duas
alavancas de propulsão ao infinito e, ao mesmo tempo, os dois elos de
escravidão nos redutos infelizes e pestilenciais do «inferno» das paixões.
«Pensar e agir, identificando-se com
os fatores da atenção, constituem a fórmula mágica do comportamento individual
a princípio, e coletivo logo depois, em que, ora por instinto gregário, ora por
afinidade psíquica, se reúnem os comensais desta, ou daquela idéia.
«Céu ou inferno, portanto, são dependências que construímos em nosso
íntimo, vitalizadas pelas aspirações e mantidas a longo esforço pelas atitudes
que imprimimos ao dia-a-dia da existência.
“Por tais processos, províncias de
angústia e regiões de suplício, oásis de ventura e ilhas de esperança nascem
no recôndito de cada mente e se multiplicam ao império de incontáveis vontades
que se reúnem, em todos os departamentos do planeta. Inicialmente, o homem se
converte no anjo ou no demônio, que ele próprio elabora por
força da idéia superior ou viciada em que se compras, sintonizando, por um
processo natural de afinidades, com outras mentes encarnadas ou não, que vibram
nas mesmas faixas-pensamento, produzindo processos de hipnose profunda que se
despersonalizam e se nutrem, sustentados, reciprocamente, por forças vitais de
fácil manipulação inconsciente, que gravitam em toda a parte.
Nesse sentido, convém considerar as
lições superiores do Espiritismo, que oferece panorama de elevada estrutura
mental e moral, facultando registos de idéias superiores capazes de manterem
uma higiene psíquica libertadora de toda conexão com as Entidades infelizes do
Mundo Espiritual Inferior ou com as vibrações que pairam na Terra mesma, e que
procedem de vigorosas mentes ainda agrilhoadas, que se imantam umas às outras,
realizando intercâmbio danoso, de longo curso e de imprevisíveis consequências.
(*)
A “Tina das convulsões” ou baquet (em francês) se constituia de ampla caixa de
madeira com dimensões gigantes, de forma circular e entulhada de limalhas de
ferro. Sobre as limalhas eram colocadas garrafas cheias de água adredemente
magnetizadas. Essas garrafas semelhavam-se a vasos comunicantes, por estarem
interligadas e o líquido passar através de todas. Da tina, por aberturas
assimétricas, saiam inúmeras barras delgadas e longas de ferro, móveis, que os
pacientes aplicavam sobre os órgãos enfermos. Os pacientes formavam diversas
fileiras em torno do baquet, de modo a poderem a um só e mesmo tempo beneficiar-se
dos resultados magnéticos. Além disso, deixavam-se atar à cintura por uma
corda, uns aos outros, e se davam as mãos com a finalidade de formarem um anel
de força, a fim de ampliarem a ação do fluído.
(1) O
Marquês De Puységur, dominado por sentimentos humanitários, magnetizou uma
árvore em sua propriedade de Busancy com o objetivo de auxiliar os pobres que,
tocando no vetusto vegetal, se diziam melhorar através dos seus recursos
benéficos. Mesmer, por sua vez, interessado igualmente na mais ampla difusão do
magnetismo, bem como na coleta de resultados espetaculosos, instruiu um seu
empregado, tornando-o seu cooperador para atender à clientela em crescimento
espantoso. Além do baquet que atendia a número coletivo, havia a aplicação do
magnetIsmo individualmente, feito de maneira bastante grosseira, mas, ainda
assim, de resultados surpreendentes...
(2)
Esse mesmo Professor Pierre Janet publicara, em 1889, um livro Intitulado
“Automatismo psicológico”, através do qual, entre diversas conclusões, tenta
desmoralizar os médiuns, situando-os entre os histéricos, na condição de
simples automatistas.
(3) Allan Kardec, o eminente Codificador,
acentuou que:
“São extremamente variados os efeitos da ação fluídica
sobre os doentes, de acordo com as circunstâncias. Algumas vezes é lenta e
reclama tratamento prolongado, como no magnetismo ordinário; doutras vezes é
rápida como uma corrente elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder que operam
curas instantâneas nalguns doentes, por meio apenas da imposição das mãos, ou
até exclusivamente por ato de vontade. Entre os dois pólos extremos dessa
faculdade há infinitos matizes. Todas as curas desse gênero são variedades do
magnetismo e só diferem pela intensidade e pela rapidez da ação. O princípio é
sempre o mesmo: o fluído, a desempenhar o papel de agente terapêutico e cujo
efeito se acha subordinado à sua qualidade e a circunstâncias especiais”.
A
Gênese, de Allan Kardec, 14ª edição — Capitulo XIV —Item 32 — FEB. — Nota, do
Autor espiritual.
QUESTÕES PARA ESTUDO E
DIÁLOGO VIRTUAL
1.
O que é hipnotismo?
Por que o mensageiro espiritual recomendava este estudo?
2.
Que tipo de contribuição trouxe Mesmer com os seus
estudos?
3.
Quais as duas “alavancas” descritas pelo mentor
espiritual que podem nos impulsionar ao progresso ou nos prejudicar? Como isto
acontece?
4.
Ficou dúvidas?
Observação:
Hipnotismo: 1 Conjunto de fenômenos que constituem o
sono causado artificialmente. 2 Sono
sonambúlico provocado por esse processo.
Atualmente, utiliza-se o termo hipnose.
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