quinta-feira, 22 de setembro de 2016

'Tenho 31 anos, sou viciado em pornografia mas nunca fiz sexo'

'Tenho 31 anos, sou viciado em pornografia mas nunca fiz sexo'

Hannah Moore
BBC News
 
O britânico Jim é virgem, tem 31 anos e é viciado em pornografia. Enquanto tenta se livrar do vício, diz que a pornografia o impediu de "funcionar normalmente".
Ele relatou à BBC o efeito devastador do vício que o consome depois que passou a procurar material de sexo explícito online.
"Poucos sabem desse espaço privado oferecido pela internet", disse. "Você pode experimentar coisas com uma completa ausência de consequências".
Para muitos, pornografia faz parte de uma vida sexual saudável, mas, para aqueles como Jim (nome fictício), pode se tornar uma obsessão que destrói relacionamentos, amizades e atrapalha empregos.
"Quando era adolescente, nunca tive coragem de ir até uma banca e comprar uma cópia da FHM (revista masculina britânica que parou de circular em papel em 2015). Naquela época, procurar por imagens eróticas já me consumia havia muito tempo", contou.
Jim contou que, ao assistir a mulheres sendo tratadas de forma agressiva na tela, mudou o jeito que ele as tratava na vida real.
Por anos tem assimilado mensagens, por meio da pornografia, de que as mulheres são essencialmente objetos. "Elas são suas essencialmente para ser possuídas", disse.
"Eu acumulei uma enorme quantidade de ressentimento e raiva em relação a meninas. Havia algo dentro de mim que dizia que essas mulheres deveriam ficar comigo. Há um monte de irritação, pensamentos violentos e negativos", completou.

Virgem de 31 anos
Jim admite que nunca fez sexo com outra pessoa, mas diz já ter visto absolutamente todo tipo de ato sexual.
"Há 15 anos era assim: ou você tinha experiência sexual ou não tinha nenhuma. Hoje, há pessoas como eu, que nunca fez (sexo) mas já viu de tudo".
Ele disse que pessoas como ele carregam toda a expectativa de como o sexo deveria ser construído a partir da indústria pornográfica. "Não acho que isso tenha qualquer tipo de consequência saudável".
Pornografia, segundo Jim, consome tempo. "É muito fácil perder uma tarde para assistir pornografia e esticar por toda a noite. Se eu tinha chance, o céu era o limite", recorda.
Jim conta que, aos 20 e poucos, ficava até de madrugada assistindo a filmes pornô. Era comum acordar tarde para ir trabalhar. Ou chegava muito atrasado, ou ligava para o chefe dizendo que estava doente e faltaria ao trabalho.
"A pornografia começou a ter um impacto enorme na minha capacidade de ser produtivo no mundo".
Ele diz que não era um amigo confiável. Conta que perdeu uma amiga porque se esqueceu do aniversário dela por anos seguidos. "Ela me cortou da vida dela", lamentou.
"Eu acho que se você é um viciado, você é, de diferentes maneiras, tóxico", conclui.
Para Jim, se o vício é tudo o que importa, normalmente o viciado se torna insensível em relação aos sentimentos e necessidades das outras pessoas justamente por estar envolvido exclusivamente nas próprias necessidades.

Sentimento de culpa
Jim relata que, num primeiro momento, a pornografia lhe proporcionava um sentimento de bem-estar, mas que, em seguida, o fazia se sentir péssimo.
"Esse sentimento de culpa, vergonha e autoaversão realmente começa a te corroer por dentro. Cheguei a um ponto no qual estava realmente cansado disso tudo."
Jim procurou ajuda e passou a se tratar com uma terapeuta. Quando falou com a BBC, havia cinco meses que estava sem se masturbar ou assistir a filmes pornô. Ele acredita que só vai conseguir se relacionar com alguém quando excluir a pornografia da própria vida para todo e sempre.
"Eu nunca tive relações sexuais, uma parte de mim está feliz por isso porque há muitas ideias que agora estou tirando da minha mente".

Melhorando
Depois de perder o controle da própria vida por conta do vício em pornografia, Jim acredita que está melhorando.
"Minha vida agora é administrável. Posso lidar com isso. Eu sou capaz de trabalhar mais horas, de fazer outras coisas que eu realmente gosto. Eu comecei a ler".
Diz ser absurda a quantidade de tempo livre que tem agora.
"Eu quero um relacionamento saudável com outro ser humano real, e eu quero estar em um relacionamento com esse ser humano real, e não com uma ideia que eu tenho de como deve ser esse ser humano. Então é nisso que eu estou trabalhando."
 
Notícia publicada na BBC Brasil, em 26 de agosto de 2016.

Breno Henrique de Sousa* comenta
Erotização do Sexo
Os movimentos pela liberação sexual, ocorridos a partir da década de 1960, foram uma reação a séculos de repressão sexual, sobretudo pela repressão à sexualidade da mulher. Sexo sempre foi tabu e continua sendo; paradoxalmente, as reações de liberação levaram ao extremo da vulgaridade e banalização. O festival musical de Woodstock que aconteceu em 1969 nos Estados Unidos foi também símbolo da liberdade sexual e influenciou a juventude no mundo, formando uma geração que se libertaria das amarras moralistas que enclausuravam o sexo.
A repressão nunca foi um instrumento eficaz para educar o ser humano. Ela pode temporariamente conter e inibir o ser humano, mas nunca educá-lo e transformá-lo realmente. Ainda pior é o fato de que a repressão gera uma espécie de atração mórbida pelo objeto proibido. É da natureza humana projetar seus anseios e insatisfações em coisas inalcançáveis, é uma forma que o inconsciente encontra de sabotar a própria felicidade pondo-a em lugar indisponível e tirando a atenção das coisas que proporcionariam resultados perenes. Mas por que a mente nos engana? Simplesmente porque as atitudes que nos dão uma real satisfação e plenitude exigem de nós esforços que não estamos dispostos a pagar a curto prazo. Exigem o sacrifício do ego, dos nossos orgulhos e de nossas vaidades. É um processo doloroso. É mais fácil buscar um prazer imediato que disfarce nossa infelicidade. Prazeres fugazes oferecem resultado imediato, mas que se esvaem rapidamente sem deixar conteúdo nenhum. A reforma íntima traz resultados permanentes, mas os resultados demoram a vir. O ego é imediatista e não está disposto a se sacrificar.
A repressão sexual foi colocada como causa da infelicidade humana e se tornou, por isso, o objeto de sua cobiça. A repressão erotizou o sexo e o retirou de seu lugar de direito, fixando-o permanentemente na cabeça do homem. Todos só pensam em sexo, de tal maneira que Freud reconheceu a importância desse departamento como elemento central da psicologia humana. Chamou a energia sexual de libido e demonstrou como muitos dos nossos traumas e repressões estão relacionados com problemas em torno da sexualidade reprimida. Pensam em sexo aqueles que estão reprimidos porque não podem usá-lo, pois ainda existe a repressão sexual em nossos costumes e religiões; assim como pensa em sexo os que têm vida promíscua, porque chegam à exaustão, mas nunca à satisfação plena de seus anseios mais profundos. A repressão alimenta o erotismo e a pornografia, eles parecem inimigos, mas no fundo são do mesmo esquema. Sem a repressão as pessoas vivenciariam o sexo naturalmente, falariam sobre sexo naturalmente e não haveria espaço para o imaginário erótico e pervertido. Não confie em um moralista repressor, ele tem qualquer coisa de pervertido.
Quem ganha com esse jogo de repressão x liberação sexual? Ganham aqueles que aí descobriram um poderoso instrumento de adormecimento das consciências. Enquanto o ser humano consome sua energia e atenção desvirtuando as poderosas energias do sexo, ele permanece letárgico com relação ao seu despertar espiritual e consciência crítica. O sexo é o mais poderoso instrumento de manipulação usado pelo marketing do mercado consumidor. Pessoas ansiosas por sexo e inconscientes são consumidores perfeitos que podem ser facilmente ludibriados com a publicidade que abusa das imagens eróticas e apelativas, que anunciam de forma subliminar – e até explícita – que aquele produto é tão bom quanto sexo.
Na reportagem em destaque, fica explícito como essa forma de desequilíbrio torna-se tão viciante quanto o consumo de qualquer substância entorpecente, podendo provavelmente deixar no cérebro os mesmos condicionamentos viciosos daquelas substâncias. O vício, seja de qual natureza for, interfere negativamente na vida social, emocional e espiritual, gerando complexos problemas obsessivos. Nesses casos é preciso o acompanhamento de um terapeuta para tratar do problema como quem trata de qualquer outro vício, além de acompanhamento espiritual. Certamente, essas terapias tem enfoque ocupacional e não na simples repressão do impulso, ou seja, a pessoa é orientada a substituir seus interesses e ocupações por outras que lhe rendam prazer, trocando, de certa forma, um “mal por um bom vício”.
Os pais e as escolas devem urgentemente falar com seus filhos aberta e sinceramente sobre SEXO. Desmistificá-lo, deserotiza-lo, explicar que o sexo foi feito para o ser humano, mas o ser humano não foi feito apenas para o sexo. Revelar todo esse jogo de repressão e banalização. Não são os filtros de controle familiar que vão impedir seus filhos de verem imagens eróticas no computador. Eles verão e já estão vendo na escola, nos celulares, na TV aberta, em todas as partes. Não há como criar uma bolha para salvar os filhos da exposição erótica, o caminho é desmistificar o nu, despertar a reflexão crítica sobre as questões sexuais, dizer que sexo é bom e sagrado, tão bom e sagrado que é através dele que Deus possibilita a coisa mais sagrada que é a vida. Sexo é vida. Em toda a natureza existe o sexo como uma ação natural de manifestação da vida e por isso deve ser tratado como um departamento sagrado da existência humana, com respeito, dignidade e privacidade.
Tratar abertamente sobre sexo não significa abordar o assunto de maneira vulgar, expondo os filhos propositalmente a imagens eróticas. Existem pais que mostram aos seus filhos homens imagens eróticas com medo de que se tornem homossexuais; outros decidem iniciar a vida sexual de seus filhos homens levando-os a prostíbulos logo que atingem à puberdade. Atitudes irrefletidas que sempre levam à erotização ou mesmo geram traumas. O Espiritismo trata do assunto de maneira aberta e respeitosa, muitos livros e conferências no meio espírita abordam esse assunto de maneira lúcida e esclarecedora. Sobretudo os pais espíritas e evangelizadores devem munir-se desse conhecimento a fim de atender às demandas do mundo atual para que as próximas gerações não se encontrem reprimidas ou escravizadas por esse desequilíbrio.
 
* Breno Henrique de Sousa é paraibano, professor da Universidade Federal da Paraíba nas áreas de Ciências Agrárias e Meio Ambiente. Está no movimento Espírita desde 1994, sendo articulista e expositor. Atualmente faz parte da Federação Espírita Paraibana e atua em diversas instituições na sua região.

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