quarta-feira, 26 de abril de 2017

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A030 – Cap. 11 – As agressões– Terceira Parte


Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

 

A030 – Cap. 11 – As agressões– Terceira Parte

 

11 - As agressões

 
A noite estava muito calma e escasseava o movimento nas ruas. Raros veículos passavam ruidosamente e o céu se encontrava bordado de diamantes estelares.
Como sopravam ventos brandos que nos chegavam do mar a regular distância, resolvemos caminhar até o local da condução que nos separaria.
— Confesso — iniciei a conversação — que receei você fosse atingido por um golpe do nosso infeliz irmão. A ameaça acompanhada do gesto ousado e fratricida assustou-me...
Sorriso espontâneo aflorou no amigo dileto. Após reflexionar um pouco, esclareceu-me:
— Miranda, a serviço de Jesus nada devemos temer! É claro que nós não devemos expor à temeridade, criando situações embaraçosas e perfeitamente desnecessárias. Não ignoramos que nossos Irmãos Maiores nos esclareceram e advertiram quanto às agressões de que seríamos vítimas. Ora, convém considerar que tais arremetidas já estão em curso. Experimentamos, nós próprios, os sinais constrangedores de influenciações negativas, nos últimos dias, até que. a palavra sábia do nosso Instrutor nos alertasse para a questão. É natural, portanto, que esse estado de coisas fosse tomar corpo onde as possibilidades de êxito poderiam suceder melhor. Não que nos consideremos em condições superiores ao nosso próximo. Ocorre, no entanto, que na família Soares os membros que não privam dos ideais elevados da vida são muitos, a iniciar pelo genitor da casa, que, vinculado a cerebrações infelizes desde há muito, prefere a situação insana em que se demora à comunhão libertadora que lhe tem sido acenada inúmeras vezes. Não crê você que o problema de Mariana deveria chamar-lhe a atenção? O drama de Marta, a outra filha, inquieta, em conúbios de infelicidade mereciam exame? No entanto, o nosso Mateus, conturbado em si mesmo, é espírito portador de enfermidade íntima de longo curso, que caminhará demoradamente até encontrar o horizonte claro da renovação...
Silenciou por alguns momentos, e prosseguiu:
— O campo, portanto, na família, é excelente para agressões de baixo teor espiritual e vibratório. Vivendo o clima da jogatina, o nosso irmão foi vítima de Entidades infelizes que armaram a mão do seu opositor para lhe roubarem a vida.
Assim, atingiriam a família em libertação da obsessão cruel de que padecem muitos dos seus membros, provocariam escândalo e esmagariam de dor a senhora Rosa, verdadeiro anjo de renúncia em clima de belicosidades... Depois nos atingiriam, também, emocionalmente, prejudicando grandemente os labores dos nossos Benfeitores Espirituais. Ante o choque provocado pela cena, a menina Mariana entrou em sintonia com o sicário que a espreitava, esperando, e incorporou-a, inconsequente...
Dando maior ênfase ao ensinamento, continuou:
— Como você não ignora, tudo está previsto. Merece considerar que o problema da desobsessão tem longo curso, O simples afastamento da entidade perseguidora não é fator de paz naquele que se lhe vinculava. Em processos obsessivos quais o de Mariana, há sempre uma mediunidade latente que oferece recursos de sintonia psíquica entre perseguidor e perseguido. Com o afastamento do primeiro, as possibilidades medianímicas do segundo se dilatam, sendo necessário educar, disciplinar, instruir o médium para que este adquira os recursos que o capacitem à defesa própria, aos cuidados contra as ciladas bem urdidas de outros Espíritos infelizes ou levianos, enfim, que preparem o seareiro em potencial para o labor na gleba imensa do Cristo, na qual escasseiam, ainda agora, trabalhadores diligentes e devotados...
«Quanto à agressão de que parecia que eu seria a vítima, não vi razões para preocupar-me. Em tarefa do Cristo, conquanto as minhas imensas imperfeições, confio nEle...
«Além disso, quando estamos a serviço da verdade, geramos e emitimos vibrações que nos defendem de todo o mal.»
Chegáramos ao local de despedida. Apertamo-nos as mãos e separamo-nos.
No dia imediato, retornamos ao lar dos Soares, ànoite, e fomos informados de que o chefe da família estava com excelentes possibilidades de recuperação, embora Dona Rosa, acabrunhada, se referisse ao estado espiritual e moral do esposo como dos mais lastimáveis.
Dissera-lhe, ele, que logo recuperasse a saúde saberia desforçar-se do agressor. Pouco se lhe dava com o que ocorresse consigo mesmo, mas lavaria em sangue o seu nome, a sua honra... Retornara, pois, do Nosocômio, inquieta, aflita, confiando na Providência Divina que saberia encontrar solução justa para caso tão complexo. A veneranda senhora definhava, e seu rosto sulcado pela dor inspirava-nos profunda piedade fraternal. Carinhosamente estimulada por Petitinga, de suas mãos recebeu a transfusão de abundante energia refazente, pelo recurso do passe.
Não padeciam dúvidas de que, vendo fracassados os seus planos de desdita, eliminando a vida física do senhor Mateus, os facínoras espirituais estavam a atormentá- lo, gerando as raízes perigosas do ódio, em cujas malhas, imprevidente e leviano, se emaranhava. Perturbado, seria presa mais fácil ainda para uma tragédia imprevisível, após a recuperação da saúde.
No domingo imediato, quando da reunião pública de exposição doutrinária na União Espírita Baiana, verificamos mais uma vez as artimanhas de que se fazem objeto os Espíritos trevosos.
Petitinga assomara à tribuna doutrinária e pregava. A sua palavra harmoniosa vibrava em tons de consolo, reportando-se ao estudo de «O Evangelho segundo o Espiritismo», no Capítulo 10, Instruções dos Espíritos: PERDÃO DAS OFENSAS, a excelente mensagem de Simeão, ditada em Bordéus, em 1862.
O recinto estava saturado de emoções superiores e algumas pessoas tinham os olhos coroados de lágrimas. Num intervalo natural da explicação, conhecido senhor de respeitável família local, obsesso contumaz, adentrou-se pela sala pública da sessão e, com o semblante fortemente congesto, avançou na direção da tribuna, ruidosamente, e bradou, referindo-se a Petitinga:
— Hipócrita! Quem és para pregar? Imperfeito como tu, como te atreves a falar da verdade e ensinar pureza, possuindo largas faixas de desequilíbrio íntimo, que ocultas dos que te escutam? Dize!
Todos fomos dominados por estranho constrangimento e um silêncio tumular se abateu sobre o auditório.
Petitinga, empalidecendo, levantou os olhos claros e transparentes, fitou o arrogante obsessor que tomara a boca do atormentado cavalheiro, e respondeu, humilde:
— Tens toda a razão e eu o reconheço. O tema em pauta, hoje, que o caro irmão não ouviu, se refere exatamente ao «Perdão das ofensas»...
— Não te evadas covardemente — descarregou o infeliz opositor. — Refiro-me às condições morais de que se devem revestir os que ensinam o que chamas a verdade, e que te faltam... Desafio-te a que abandones a tribuna religiosa ou abandones a vida que levas...
O assombro colocava-nos em estupor. Indubitavelmente, a entidade loquaz e enferma desejava criar condições de suspeição quanto à conduta ilibada, transparente e nobre do Evangelizador, e o desafiava a um duelo verbal negativo e pernicioso. De fé inquebrantável, no entanto, e sereno, o lecionador da Doutrina Espírita, sem trair na voz as emoções que o visitavam, esclareceu, com tocante sentimento da mais pura humildade:
— Irmãos: o amigo espiritual tem toda a razão e não me posso furtar ao dever de necessários quão inadiáveis esclarecimentos. Ensinou o Mestre que nos confessássemos uns aos outros, prática essa vigente entre os primeiros cristãos e que o tempo esmaeceu e deturpou dolosamente. Nunca me atrevi, nunca experimentei coragem para dizer aos companheiros sobre as minhas próprias dificuldades.
Agora, utilizando-me do auxílio do irmão que me faculta ensejo, digo da luta intensa que travo nalma para servir melhor ao Senhor, tentando, cada dia, aprimorar-me intimamente, lapidando grossas arestas e duras angulações negativas da minha personalidade enferma. Depois de ter conhecido Jesus, minha alma luta denodadamente contra o passado sombrio, nem sempre logrando êxito na ferrenha batalha de superação dos velhos padrões de ociosidade e crime em que viveu, na imensa noite dos tempos. Abandonar, todavia, o arado, porque tenho as mãos impróprias, quando a erva má grassa e escasseiam obreiros, não o farei nunca!
«Elegi, desde há muito, a desencarnação no grabato da aflição superlativa e do abandono total; fiel, no entanto, à luta redentora que me facultava a Doutrina de Jesus, à partida para o Mundo da Consciência Livre, cercado de carinho e conforto, ternura e compreensão, longe, porém, do serviço libertador... Prefiro a condição de enfermo ajudando doentes, a ser ocioso buscando a saúde para poder ajudar com eficiência, enquanto se desgastam corpos e almas ao relento da indiferença de muitos, que as minhas mãos calejadas podem socorrer. Miserabilidade socorrendo misérias maiores, à posição falsa daquele que recebeu o talento e o sepultou, conforme nos fala a Parábola do Senhor. Embora imperfeito, deixo luzir minha alma quando contemplo a Grande Luz; vasilhame imundo, aromatizo-me ao leve rocio do perfume da fé; espírito infeliz, mas não infelicitador, banho-me na água lustral da esperança cristã... Perdoa-me, Senhor, na imperfeição em que me demoro e ajudame na redenção que persigo... »
O auditório, compungido e emocionado, atendido por vibrações superiores, chorava comovido, e lágrimas transparentes adornavam a face do servidor do Cristo, rutilando singularmente naquela manhã de sol.
Inesperadamente, o perturbador espiritual arrojou ao assoalho o seu instrumento, e, dominado por crua emotividade, bradou:
— Perdoa-me, tu! A tua humildade vence-me a braveza, velhinho bom! Deus, meu! Deus, meu! Blasfemo! O ódio gratuito cega-me. Perdoa-me, velhinho bom, e ajuda-me com a tua humildade a encontrar-me a mim mesmo. Infeliz que sou. Tudo mentira, mendacidade inditosa, a que me amarga os lábios. Ajuda-me, velhinho bom, na minha infelicidade...
Petitinga desceu os degraus da tribuna, aproximou-se do sofredor e, falando-lhe bondosamente, envolveu o médium com gesto de carinho, convidando-o a sentarse.
— Perdoe-nos o Senhor de nossas vidas! — Falou em discreto pranto.
E levantando a voz, rogou:
— Oremos todos a Jesus, pelo nosso irmão sofredor, por todos nós, os sofredores.
Raras vezes na vida física presenciara cena mais comovedora. Era como se o Mundo Excelso baixasse àTerra e os homens pudéssemos transitar no rumo daquele mundo onde reside a felicidade...
Retornando à calma, o médium, ignorando o que se passara, teve um gesto de espanto por encontrar-se ali. Esclarecido em poucas palavras pelo pregador, este retornou à tribuna, e como se nada houvera ocorrido deu curso à preleção.
À hora regulamentar, os trabalhos foram encerrados, enquanto a cidade, lá fora, cheia de sons e músicas do dia e da faina dos homens, se deixava inundar da luz do sol.

 
QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – De que modo os obsessores ainda estavam tentando prejudicar a família Soares e o grupo de trabalhas desobsessivos, através do Sr. Mateus?
 
2 – No final do texto, há uma interessante ação dos espíritos infelizes para desestimular os trabalhos de evangelização: um senhor, mediunizado por uma entidade infeliz, tenta desacreditar as palavras de Petitinga, acusando-o sem merecimentos para expor o Evangelho. E tal ação é bastante comum nos trabalhos espíritos, principalmente, no Culto do Evangelho no Lar, junto com a família do trabalhador, nas atividades fraternas do Centro, nas reuniões administrativas, etc, etc. Como Petitinga se comportou? Qual pode ser o interesse dos espíritos obsessores com tais ações?

 

Bom estudo a todos!!
Equipe Manoel Philomeno

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