O amor que fica
Foi num hospital do câncer que a lição foi
dada. A menina tinha 11 anos e lutava, desde os 9, contra a insidiosa doença.
Nunca
fraquejou. Chorava, sim, mas não fraquejava. Tinha
medo em seus olhos, mas entregava o braço à enfermeira e com uma lágrima,
dizia:
Faça, tia, é preciso! E havia confiança e
determinação no gesto e na fala.
Um dia, quando o médico a foi visitar no quarto
do hospital, ela estava sozinha. Perguntou pela mãe. E ouviu a resposta que,
diz ele, até hoje guarda, com profunda emoção:
Tio, às vezes minha mãe sai do quarto para
chorar escondido nos corredores.
Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com
muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer.
Eu não nasci para esta vida!
Pensando no que a morte representa para crianças
que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes,
indagou o médico:
E o que a morte representa para você, minha
querida?
Olha, tio, quando a gente é pequena, às vezes,
vamos dormir na cama do nosso pai e, no outro dia, acordamos no nosso quarto,
em nossa própria cama, não é?
É isso mesmo, concordou ele, lembrando o que
fazia com suas filhas de 2 e 6 anos.
Vou explicar o que acontece, continuou ela.
Quando dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto.
Eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou
dormir e o Meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa dEle, na minha vida
verdadeira.
Que bela imagem! Que extraordinária lição desse
Espírito encerrado num corpo tão jovem e sofrido.
O médico estava boquiaberto, não sabia o que
dizer, ante tanta sabedoria.
Mas a menina não terminara ainda.
Minha mãe vai ficar com muitas saudades minhas,
emendou ela.
Com um travo na garganta, contendo uma lágrima
e um soluço, o médico perguntou:
E o que saudade significa para você, minha
querida?
Não sabe não, tio? Saudade é o amor que fica.
* * *
A menina já se foi, há longos anos. Ainda hoje,
quando o médico experimentado olha o céu e vê uma linda estrela, imagina ser
ela, a sua pequena paciente, na sua nova e fulgurante casa. A casa do Pai.
* * *
Toda vez que a morte vier com seus braços frios
e levar um dos nossos amores, pensemos que é o Pai que o envolve com ternura e
o está levando para Sua casa.
O Pai que, com carinho, o vem buscar para estar
com Ele, pois o ama muito.
E pensemos que logo mais poderemos ir também,
pois todos os que nos encontramos na Terra seremos levados pelo Pai ao mundo
espiritual.
Enquanto isso, cultivemos a doçura da saudade,
em nosso coração.
A saudade... O amor dos nossos amores que
ficou...
Redação do Momento Espírita, a partir de crônica que circula pela
internet, atribuída ao Dr. Rogério Brandão, médico oncologista clínico de
Recife, Pernambuco.
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