segunda-feira, 24 de março de 2014

Revista Espírita: Cura moral dos encarnados

Muitas vezes vêem-se Espíritos de natureza má ceder muito prontamente sob a influência da moralização e se melhorar. Pode-se agir do mesmo modo sobre os encarnados, mas com muito mais trabalho. Porque a educação moral dos Espíritos desencarnados é mais fácil que a dos encarnados?
Esta pergunta foi motivada pelo seguinte fato. Um jovem cego há doze anos tinha sido recolhido por um Espírito dedicado, que tinha empreendido curá-lo pelo magnetismo, pois os Espíritos haviam dito que era possível. Mas o jovem, em vez de se mostrar reconhecido pela bondade de que era objeto e sem a qual teria ficado sem asilo e sem pão, só teve ingratidão e mau procedimento e deu provas do pior caráter.
Consultado a respeito, respondeu o Espírito de São Luís:
"Esse jovem, como muitos outros, é punido por onde pecou e suporta a pena de sua má conduta. Sua enfermidade não é incurável, e uma magnetização espiritual, praticada com zelo, devotamento e perseverança, certamente terá êxito, ajudada por um tratamento médico destinado a corrigir seu sangue viciado. Já haveria uma sensível melhora em sua visão, que ainda não está completamente extinta, se os maus fluídos de que está cercado e saturado não opuseram um obstáculo à penetração dos bons fluídos que, de certo modo, são repelidos. No estado em que se encontra, a ação magnética será impotente enquanto, por sua vontade e sua melhora, não se desembaraçar desses fluidos perniciosos.
"É, pois, uma cura moral que se deve obter, antes de buscar a cura física. Um retorno sério sobre si-mesmo é a única coisa que pode tornar eficazes os cuidados de seu magnetizador, que os bons Espíritos procuram ajudar. Caso contrário, deve esperar-se que perca o pouco de luz que lhe resta e novas e muito terríveis provações que terá de sofrer.
"Agi, pois, sobre ele como fazeis com os maus Espíritos desencarnados, que quereis trazer ao bem. Ele não está sob uma obsessão: é sua natureza que é má e, além disso, perverteu-se no meio onde viveu. Os maus Espíritos que o assediam só são atraídos pela semelhante com o seu-próprio. À medida que se melhora, eles se afastarão. Só então a ação magnética terá todo o seu efeito. Dai-lhe conselhos; explicai-lhe sua posição; que várias pessoas sinceras se unam em pensamento para orar, a fim de atrair para ele influências salutares. Se ele as aproveitar não tardará a lhes experimentar os bons efeitos, porque será recompensado por um mais sensível na sua posição."
Esta instrução nos revela um fato importante, o obstáculo oposto pelo estado moral, em certos casos, à cura dos males físicos. A explicação acima é de uma lógica incontestável, mas não poderia ser compreendida pelos que apenas vêem em toda a parte a ação exclusiva da matéria. No caso de que se trata, a pura moral do paciente encontrou sérias dificuldades; foi o que motivou a pergunta acima, proposta na Sociedade Espírita do Paris.
Seis respostas foram obtidas, todas concordando perfeitamente entre si. Citaremos apenas duas, para evitar repetições inúteis. Escolhemos aquelas em que a questão é tratada com mais desenvolvimento.
"Como o Espírito desencarnado vê manifestamente o que se passa e os exemplos terríveis da vida, compreende tanto mais rapidamente o que o exortam a crer e a fazer. Por isso não é raro ver Espíritos desencarnados dissertar sabiamente sobre questões que, em vida, estavam longe de as comover. A adversidade amadurece o pensamento. Esta expressão é verdadeira sobretudo para as Espíritos desencarnados, que vêem de perto as conseqüências de sua vida passada.
A despreocupação e a idéia preconcebida, ao contrário, triunfam nos Espíritos encarnados; as seduções da vida e, até, os seus erros, dão-lhes uma misantropia ou uma indiferença completa pelos homens e pelas coisas divinas. A carne lhes faz esquecer o Espírito; uns fundamentalmente honestos, fazem o bem evitando o mal, por amor do bem, mas a vida de sua alma é quase nula; outros, ao contrário consideram a vida como uma comédia e esquecem seu papel de homens; outros, enfim, completamente embrutecidos e último degrau da espécie humana, nada vendo além, não pressentindo mesmo nada, entregam-se, como o animal, aos crimes bárbaros e esquecem sua origem. Assim, uns e outros, pela vida mesma, são arrastados, ao passo que os Espíritos desencarnados vêem, escutam e se arrependem com melhor vontade" - Lamennais (médium: Sr. A. Didier).
"Quantos problemas e questões a resolver antes que seja realizada a transformação humana conforme as idéias espíritas! A educação dos Espíritos e dos encarnados, do ponto de vista moral, está neste número. Os desencarnados estão desembaraçados da carne não mais lhe sofrem as condições inferiores, ao passo que os homens, encadeiados numa matéria imperiosa do ponto de vista pessoal, se deixam arrastar pelo estado das provas no qual estão metidos. É à diferença dessas diversas situações que se deve atribuir a dificuldade que os Espíritos iniciadores e os homens que têm essa missão experimentam para melhorar rapidamente e, por assim dizer, nalgumas semanas, aqueles homens que lhes são confiados. Ao contrário, os Espíritos aos quais a matéria não mais impõe as suas leis e não mais fornece os meios de satisfazer seus maus apetites, e que, por conseqüência, não tem mais desejos inconfessáveis, são mais aptos a aceitar os conselhos que lhes são dados. Talvez respondam com esta pergunta que tem a sua importância: Porque não escutam os conselhos de seus guias do espaço e esperam os ensinamentos dos homens? Porque é necessário que os dois mundos visível e invisível, reagem um sobre o outro e que a ação dos humanos seja útil aos que viveram, como a ação da maior parte destes é benéfica aos que vivem entre vós. E uma dupla corrente, uma dupla ação, igualmente satisfatória para esses dois mundos, que estão unidos por tantos laços. Eis o que julgo dever responder à pergunta feita por vosso presidente" - Erasto (médium: Sr. d'Ambel).

Estudo dirigido: O Evangelho Segundo o Espiritismo

Há muitas moradas na casa de meu Pai (Estudo 9 de 135)            
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EESE009b - Cap. III – Itens 1 a 5
Tema:  Diferentes estados da alma na erraticidade
           Diferentes categorias de mundos habitados
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A - Texto de Apoio:
        1. Não se turbe o vosso coração. - Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. - Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais. ( S. JOÃO, cap. XIV, vv. 1 a 3.)
        Diferentes estados da alma na erraticidade
        2. A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos.
        Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem referir-se ao estado venturoso ou desgraçado do Espírito na erraticidade. Conforme se ache este mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais, variarão ao infinito o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente, as percepções que tenha. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do Infinito; finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o guante dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem ama, frui as delícias de uma felicidade indizível.     Também nisso, portanto, há muitas moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.
        Diferentes categorias de mundos habitados
        3. Do ensino dado pelos Espíritos, resulta que muito diferentes umas das outras são as condições dos mundos, quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes. Entre eles há-os em que estes últimos são ainda inferiores aos da Terra, física e moralmente; outros, da mesma categoria que o nosso; e outros que lhe são mais ou menos superiores a todos os respeitos. Nos mundos inferiores, a existência é toda material, reinam soberanas as paixões, sendo quase nula a vida moral. A medida que esta se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos mundos mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda espiritual.
        4. Nos mundos intermédios, misturam-se o bem e o mal, predominando um ou outro, segundo o grau de adiantamento da maioria dos que os habitam. Embora se não possa fazer, dos diversos mundos, uma classificação absoluta, pode-se contudo, em virtude do estado em que se acham e da destinação que trazem, tomando por base os matizes mais salientes, dividi-los, de modo geral, como segue: mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e provas, onde domina o mal; mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem. A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias.
        5. Os Espíritos que encarnam em um mundo não se acham a ele presos indefinidamente, nem nele atravessam todas as fases do progresso que lhes cumpre realizar, para atingir a perfeição. Quando, em um mundo, eles alcançam o grau de adiantamento que esse mundo comporta, passam para outro mais adiantado, e assim por diante, até que cheguem ao estado de puros Espíritos. São outras tantas estações, em cada uma das quais se lhes deparam elementos de progresso apropriados ao adiantamento que já conquistaram. É-lhes uma recompensa ascenderem a um mundo de ordem mais elevada, como é um castigo o prolongarem a sua permanência em um mundo desgraçado, ou serem relegados para outro ainda mais infeliz do que aquele a que se vêem impedidos de voltar quando se obstinaram no mal.
   
        B - Questões para estudo e diálogo virtual:
        1 – O que define os diferentes estados da alma na erraticidade?
        2 – Faça uma descrição de cada uma das categorias dos mundos habitados.
        3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.