quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Luto: se despedir do corpo acelera processo de aceitação da morte

Luto: se despedir do corpo acelera processo de aceitação da morte

Por Carolina Garcia - iG São Paulo

Falta de informações sobre as vítimas do voo da Malásia gerou confusão e sofrimento aos familiares. Especialistas falam da importância de viver ritual de despedida

A confirmação da queda do voo MH370 da Malaysia Airlines, com 239 passageiros a bordo, no Oceano Índico, causou desespero e revoltou os familiares que, por 17 dias, alimentaram a esperança de que seus entes queridos pudessem estar vivos, vítimas de um suposto sequestro.

Perder uma pessoa amada é uma das experiências mais dolorosas que o ser humano pode sofrer. Mas, e quando a notícia da morte não vem acompanhada de um corpo? O colapso emocional e a incredulidade em volta da morte podem resultar um processo de luto turbulento e marcar uma família, com danos físicos e psicológicos. Não saber como o familiar enfrentou os últimos momentos de vida e ainda não ter acesso aos restos mortais podem gerar confusão e até a fantasia de que aquilo não aconteceu.

Para especialistas em luto, é fundamental viver o tradicional ritual com o velório, enterro ou cremação, ou seja, programar os eventos e ser capaz de se despedir. Nos casos em que isso não é possível, como em desaparecimentos ou mortes violentas, o sofrimento pode perdurar por décadas. Um exemplo disso é o drama vivido pelas famílias dos 457 mortos e desaparecidos políticos, segundo a Comissão Nacional da Verdade, no período da ditadura militar no Brasil.

“[Se não tem um corpo] as pessoas se mantêm em suspensão. Elas fazem as coisas, mas é muito difícil viver sem fechar a equação. Como criar essa conclusão sem o corpo?”, explicou ao Delas Maria Helena Pereira Franco, pesquisadora especialista em luto da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Na teoria, defendida por ela, o luto é uma reação natural e acontece quando o vínculo com aquilo que se ama é rompido. Não tem fases pré-estabelecidas e muito menos pode ser programado. Ela conta que cada um vive o processo de uma maneira diferente.

A intensidade da dor da perda, no entanto, depende, além do vínculo, de como ela ocorre. Quanto mais repentina e violenta, mais difícil vai ser a superação da morte.

“Se está lidando com uma pessoa doente, acompanhar e cuidar dela já é uma despedida. Na morte violenta e inesperada, você tem que colocar na cabeça que aquilo é definitivo”, explica Maria Helena.

Lugar para velar

Maarten Van Sluys, diretor-executivo da Associação de Familiares das Vítimas do Voo 447 (AFVV447), que caiu no Atlântico em 2009, viveu a dor de ser forçado a aceitar a morte da irmã mesmo sem evidências. O corpo da jornalista Adriana Francisca só foi resgatado sete dias após a confirmação do acidente, que deixou 228 mortos.

“Foi um período cruel. Me senti confortado de ter um lugar para velar a minha irmã. É importante ter um lugar para você fechar a memória”, conta.

Para ele, existe uma grande diferença no trauma entre os familiares que receberam o corpo e os que não conseguiram. Atualmente, 74 corpos permanecem no fundo do oceano e jamais foram recuperados - entre eles estão 23 brasileiros.

“Tem uma mãe em Belo Horizonte que até hoje espera o filho entrar pela porta da frente. Se você não tem o corpo fica a ideia ‘mas e se ele não embarcou?’. Querem o impossível e o improvável”.

Após quase cinco anos da tragédia, Sluys acredita que sua dor está “diluída”. Além dos membros da AFVV447, que foram fundamentais no seu processo de luto, ele mantém uma rede de contato com outros familiares de vítimas, como os do acidente da TAM de 2007, a Afavitam. Se envolver com outras causas faz parte do seu processo de luto.

“Se eu estivesse naquele avião, a Adriana nunca deixaria na esfera do luto e perda familiar. Desenvolvi isso em homenagem à ela. É assim que preservo a memória dela”.

Luto coletivo

Ao perder a filha Eliana em um acidente de carro, em 2000, a pedagoga Alice Davanço Quadrado, de 68 anos, viu que estava sozinha. Era a única pessoa em seu círculo social que passava por aquela situação. A saída foi buscar especialistas e colocar o luto no papel. O resultado foi o livro “O perfume de Eliana” (Ed. Libro). Após isso, Alice decidiu fundar a Associação Brasileira de Apoio ao Luto, a Casulo, e promover atividades em grupo para os que dividem a mesma dor.

“Naquele momento tão dolorido eu queria conversar com quem me entendesse, falar com os meus iguais e viver o luto coletivamente”, explica Alice. Segundo ela, não há limites para expressar os sentimentos durantes as reuniões, que une pais que perderam os filhos em circunstâncias diversas. Ali é permitido chorar, esbravejar e falar o que quiser.

“Você só enfrenta os próprios sentimentos quando quebra a cadeia do silêncio”. Negar o sofrimento pode estender o processo melancólico.

As profissionais explicam que não há um processo de cura, mas momentos de oscilação entre restauração e reestruturação, quando a pessoa encontra momentos de paz. Todos têm o direito de ficarem tristes e sem vontade de viver ou levantar da cama. Faz parte do processo, garante Maria Helena. Mas, muitas vezes, amigos podem cometer um erro e enquadrar o enlutado como depressivo.

“Luto não significa depressão, são situações diferentes. Ele precisa ser vivido com seus iguais e de um jeito positivo. A perda é eterna, mas pode ser vivida”.

Notícia publicada no Portal IG, em 26 de março de 2014.

Claudio Conti* comenta

Muito simplificadamente, podemos dizer que existem duas formas de abordagem para o direcionamento da própria vida: 1) privilegiar as questões do espírito ou; 2) privilegiar as questões materiais. Ambas podem ser empregadas em todos os aspectos da existência humana, inclusive com relação a própria desencarnação quanto a dos seres amados.

A encarnação atrela o espírito à matéria; em decorrência, sua visão fica limitada e as impressões mais ostensivas são aquelas relacionadas com os sentidos físicos, por serem mais pungentes. Todavia, também está sujeito a variada gama de impressões relacionadas as questões do espírito, ou melhor, que exercem influência espiritual diretamente, contudo, como é uma possibilidade não reconhecida por muitos, passam despercebidas ou não compreendidas.

As ocasiões em que nos deparamos com o fenômeno material da morte, evento em que o espírito encarnado se liberta da veste corporal, especialmente quando relacionados com amigos e familiares, são momentos de enfrentamento da realidade mortal do corpo em contraposição da realidade imortal do espírito.

Como todo enfrentamento daquilo que relegamos à obscuridade mental, a vivência da morte de entes queridos causa conflito e, por este motivo, demanda tempo para assimilação ou adequação mental que pode, via de regra, ocasionar o desenvolvimento de artifícios de fuga.

O espírito Joanna de Ângelis, sob a psicografia de Divaldo P. Franco, no livro O Ser Consciente, cap. 26, nos fala sobre os diversos mecanismos de fuga e diz: “Habituado ao não enfrentamento com o self, o ego camufla a sua resistência à aceitação da realidade profunda, elaborando mecanismos escapistas, de forma a preservar o seu domínio na pessoa. Desse modo, podemos enumerar alguns desses instrumentos do ego, para ocultar-lhe a realidade, facultando-lhe a fuga do enfrentamento com o eu profundo, tais como: compensação, deslocamento, projeção, introjeção e racionalização.”

Já no cap. 27, após apresentar cada um dos mecanismos de fuga, Joanna de Ângelis esclarece sobre o medo da morte. Após discorrer sobre o tema, diz: “Conforme o eu profundo considere a morte, povoando-a de incertezas, gênios do mal, regiões punitivas ou aniquilamento, dessa forma a enfrentará. O oposto igualmente se dá. Vestindo a morte de esperança de reencontros felizes, de aspirações enobrecidas, de agradável despertar, ocorrerá o milagre da vida.”

Podemos, portanto, terminar o comentário sobre a reportagem em análise com a seguinte afirmação de Joanna de Ângelis, ainda no mesmo capítulo mencionado no parágrafo anterior: “O medo da morte decorre da ignorância da realidade espiritual e do apego ao transitório físico". Este medo e apego fazem com que necessitemos de rituais de encerramento ou “fechar a equação”, como citado na reportagem, todavia, o único fechamento eficiente é o esclarecimento sobre a sua realidade, desenvolvendo, desta forma, a aceitação e a esperança com relação a própria morte e a de outrem.

* Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

terça-feira, 19 de agosto de 2014

SE TEU SONHO FOR MAIOR...

MSGREF19SE TEU SONHO FOR MAIOR...

    Que são nossos sonhos?
    Serão todos eles realmente possíveis?
    E se teu sonho for maior que tu, que tuas possibilidades, que tuas forças?
    Os compositores Ivan Lins e Leda Selma, trazem em uma de suas obras, uma mensagem belíssima dentro deste tema. Dizem assim:

“Se teu sonho for maior que ti;
Alonga tuas asas, esgarça os teus medos;
Amplia o teu mundo, dimensiona ao infinito;
E parte em busca da estrela.
Voa alto... Voa longe... Voa livre... Voa.”

    Quando desejamos algo com muita intensidade, e este anelo se transforma em imagem nos campos invisíveis de nossa alma;
    Quando esta visão nos inunda com um sentimento de alegria, leveza e esperança, estamos “sonhando”.
    Sonhar é o primeiro requisito para aqueles que desejam alçar vôos.
    Mas talvez, a palavra “sonho” ainda pareça um tanto subjetiva demais, etérea demais, distante da realidade e da racionalidade.
    Assim, podemos substituí-la por outra se preferirmos: “objetivo”, e aí teremos nas mãos a grande chave para o progresso humano, para os vôos mais altos.
    Sem traçar objetivos, o homem não alcança o progresso.
    A visão do porvir, do tempo sem fim e da perfeição como meta final, apresentam-se ainda muito distantes, assaz difíceis de serem visualizadas pela inteligência humana no grau em que está.
    Desta forma, faz-se necessário estabelecer metas mais próximas, mais possíveis de serem atingidas com os recursos que temos atualmente.
    É por esta razão que os sonhos, ou objetivos, são tão necessários em nossa existência.
    Uma alma sem sonhos dificilmente chegará a algum lugar na vida, pois nem sabe para onde ir, onde empregar seus esforços, sua dedicação...
    O sábio Sêneca afirmava com exatidão, que “nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir.”
    Joanna de Ângelis, Espírito, em sua obra intitulada “Autodescobrimento”, elucida:
“O homem e a mulher, conscientes das responsabilidades que lhe dizem respeito, estabelecem metas de realizações que passam a conquistar, a pouco e pouco, promovendo-se no processo da evolução.”
    Ela chega também a entrar em detalhes importantes neste estabelecimento de metas, complementando que “em razão disso, apresentam-se-lhes metas educacionais, familiares, sociais, econômicas, artísticas e espirituais.”
    Assim, podemos organizar nossas metas em áreas, facilitando-nos seu atingimento e monitoramento ao longo de nossa vida.
    Dependendo do momento e das circunstâncias, podemos nos concentrar mais nesta ou naquela área.
    Por exemplo, quando estamos iniciando uma vida a dois, estabelecendo as bases de uma nova família, é claro que as metas familiares devem falar mais alto e tomar nossa atenção especial.
    Muitas delas podem ser levadas em paralelo, e monitoradas da mesma forma, fazendo com que evoluamos, no processo de atingimento, a pouco e pouco.
    O Espírito precisa de metas. Precisa vislumbrar onde deseja chegar para poder saber como empregar melhor suas forças e seu tempo.
    Pensamento
    Toda ascensão exige esforço.
    Assim como toda mudança propõe ampliação ou renovação de paradigma, todo crescimento exige dedicação, empenho.
    As grandes conquistas da Humanidade firmaram-se mediante a superação dos paradigmas então vigentes, ficando, pelos valores de que se constituíram, com caráter propulsionador de progresso.
    Avançar sempre. Esmorecer jamais.
    Se teu sonho parecer maior que tu mesmo, amplia tuas asas, tuas habilidades, e abraça-o mesmo assim.

(Redação do Momento Espírita com base na música “Voa”, de Ivan Lins e Leda Selma e no cap. 6  do livro “Autodescobrimento”, de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.- www.momento.com.br)

domingo, 17 de agosto de 2014

Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas

R.E. , abril de 1864, p. 147 
 
Esta instrução é feita visando, sobretudo, pessoas que nenhuma noção possuem do Espiritismo, e às quais se quer dar uma idéia sucinta em poucas palavras. Nos grupos ou reuniões espíritas, onde se acham assistentes novatos, ela pode servir utilmente de preâmbulo às sessões, conforme as necessidades.

As pessoas estranhas ao Espiritismo, não compreendendo nem o seu objetivo nem os seus meios, quase sempre fazem dele uma idéia completamente falsa. O que lhes falta,sobretudo, é o conhecimento do princípio, a chave primeira do fenômeno; em falta disto, o que elas vêem e ouvem é sem proveito e sem interesse. É fato constatado pela experiência que a simples vista ou o relato dos fenômenos não basta para convencer. Aquele mesmo que testemunha fatos capazes de o confundir, fica mais admirado que convencido; quanto mais extraordinário lhe parece o efeito, tanto mais o suspeita. Um estudo prévio, sério, é o único meio de levar à convicção; muitas vezes mesmo isto basta para mudar inteiramente o curso das idéias. Em todo o caso, ele é indispensável para a inteligência dos mais simples fenômenos. Na falta de uma instrução completa, que não pode ser dada em algumas palavras, um resumo sucinto da lei que rege as manifestações bastará para fazer considerar a coisa sob sua verdadeira luz pelas pessoas ainda não iniciadas. É a primeira baliza que damos na breve instrução a seguir. Todavia, é necessária uma observação prévia.

Em geral os incrédulos são inclinados a suspeitar da boa-fé dos médiuns e supor o emprego de meios fraudulentos. Além de injuriosa em relação a certas pessoas, é preciso, antes de tudo, perguntar qual o interesse que estas poderiam ter em enganar e representar, ou fazer representar uma comédia. A melhor garantia de sinceridade está no desinteresse absoluto, pois onde nada há a ganhar, o charlatanismo não tem razão de ser. Quanto à realidade dos fenômenos, cada um pode constatá-la, se se colocar em condições favoráveis e se trouxer à observação dos fatos a paciência, a perseverança e a imparcialidade necessárias.

1 – O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais decorrentes dessas relações.

2 – Os Espíritos não são, como muitas vezes os imaginam, seres à parte na Criação; são as almas dos que viveram na Terra ou em outros mundos. As almas ou Espíritos são, pois,uma só e mesma coisa; donde se segue que quem quer que creia na existência da alma, por isso mesmo crê na dos Espíritos.

3 – Geralmente fazem uma idéia muito falsa do estado dos Espíritos; eles não são, como alguns pensam, seres vagos e indefinidos, nem chamas, como fogos-fátuos, nem fantasmas como nos contos de aparições. São seres semelhantes a nós, tendo um corpo como o nosso, mas fluídico e invisível em estado normal.

4 – Quando a alma está unida ao corpo durante a vida,tem um envoltório duplo: um pesado, grosseiro e destrutível, que é o corpo; outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito. O perispírito é o laço que une a alma ao corpo; é por seu intermédio que a alma faz o corpo agir e percebe as sensações experimentadas pelo corpo.

5 – A morte é apenas a destruição do envoltório grosseiro; a alma abandona esse envoltório como quem deixa uma roupa usada, ou como a borboleta, que deixa a sua crisálida. Mas conserva o seu corpo fluídico, ou perispírito.

A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; a alma e o perispírito, separados do corpo, constituem o ser chamado Espírito.

6 – A morte do corpo liberta o Espírito do envoltório que o prendia à Terra e o fazia sofrer; uma vez livre desse fardo, tem apenas o seu corpo etéreo, que lhe faculta percorrer o espaço e transpor distâncias com a rapidez do pensamento.

7 – O fluido que compõe o perispírito penetra todos os corpos e os atravessa, como a luz atravessa os corpos transparentes; nenhuma matéria lhe constitui obstáculo. É por isso que os Espíritos penetram em toda parte, nos lugares mais hermeticamente fechados. É uma idéia ridícula crer que entrem por uma pequena abertura,como o buraco de uma fechadura ou o tubo da chaminé.

8 – Os Espíritos povoam o espaço; constituem o mundo invisível que nos rodeia, em meio do qual vivemos, e com o qual estamos em contato incessante.

9 – Os Espíritos têm todas as percepções que tinham na Terra, mas em mais alto grau, porque suas faculdades não são amortecidas pela matéria; têm sensações que nos são desconhecidas; vêem e ouvem coisas que os nossos sentidos limitados não nos permitem ver nem ouvir. Para eles não há escuridão, salvo para aqueles cuja punição é ficarem temporariamente nas trevas. Todos os nossos pensamentos repercutem neles e aí lêem como num livro aberto, de sorte que aquilo que podemos ocultar a alguém, quando vivo, não o podemos mais, desde que ele é Espírito.

10 – Os Espíritos conservam as afeições sérias que tinham na Terra; sentem prazer em buscar os que os amaram, sobretudo quando atraídos pelo pensamento e pelos sentimentos afetuosos que lhes consagram, ao passo que são indiferentes para os que só lhes votam indiferença.

11 – Os Espíritos podem manifestar-se de muitas maneiras diferentes: pela visão, audição, tato, ruídos, movimentos de corpos, escrita, desenho, música, etc. Manifestam-se por meio de pessoas dotadas de uma aptidão especial para cada gênero de manifestação, e que se distinguem sob o nome de médiuns. É assim que se distinguem os médiuns videntes, falantes, audientes, sensitivos, de efeitos físicos, desenhistas, tiptologistas, escreventes,etc. Entre os médiuns escreventes há numerosas variedades, conforme a natureza das comunicações que são aptos a receber.

12 – Embora invisível para nós em estado normal, o perispírito não deixa de ser matéria etérea. Em certos casos o Espírito pode fazê-lo sofrer uma espécie de modificação molecular, que o torna visível e mesmo tangível; é assim que se produzem as aparições. Esse fenômeno não é mais extraordinário que o do vapor, invisível quando rarefeito, e que se torna visível quando condensado.

Os Espíritos que se tornam visíveis apresentam-se quase sempre sob a aparência que tinham em vida, o que permite sejam reconhecidos.

13 – É com o auxílio de seu perispírito que o Espírito agia sobre o seu corpo vivo; é ainda com esse mesmo fluido que se manifesta, agindo sobre a matéria inerte, produzindo ruídos, movimentos das mesas e outros objetos, que levanta, derruba ou transporta. Esse fenômeno nada tem de surpreendente se se considerar que, entre nós, os mais poderosos motores se acham nos fluidos mais rarefeitos e, mesmo, imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade.

É igualmente com o auxílio de seu perispírito que o Espírito faz que os médiuns escrevam, falem e desenhem. Não tendo corpo tangível para agir ostensivamente quando quer manifestar-se, serve-se do corpo do médium, de cujos órgãos se apodera, fazendo-os agir como se fosse seu próprio corpo, e isto pelo eflúvio fluídico, que sobre ele derrama.

14 – É pelo mesmo meio que o Espírito age sobre a mesa, quer para movê-la sem significação determinada, quer para fazê-la dar batidas inteligentes, indicando a letra do alfabeto,para formar palavras e frases, fenômeno designado sob o nome de tiptologia. Aí a mesa não passa de um instrumento, de que ele se serve, como do lápis para escrever. Dá-lhe uma vitalidade momentânea, pelo fluido com que a penetra, mas não se identifica com ela. As pessoas que, emocionadas, ao verem manifestar-se um ser que lhes é caro, beijam a mesa, cometem um ato ridículo,porque é absolutamente como se beijassem o bastão de que o amigo se serve para dar batidas. Acontece o mesmo com as que dirigem a palavra à mesa, como se o Espírito estivesse encerrado na madeira, ou como se esta se tivesse tornado Espírito.

Quando ocorrem comunicações por esse meio, é preciso imaginar o Espírito, não na mesa, mas ao lado, tal como em vida e como seria visto se, nesse momento, se tornasse visível. Dá-se o mesmo nas comunicações pela escrita; ver-se-ia o Espírito ao lado do médium, dirigindo-lhe a mão ou lhe transmitindo o pensamento por uma corrente fluídica.

Quando a mesa se afasta do solo e flutua no espaço sem ponto de apoio, o Espírito não a levanta pela força do braço, mas a envolve e a penetra de uma espécie de atmosfera fluídica, que neutraliza a ação da gravidade, como faz o ar com os balões e papagaios de papel. O fluido de que é penetrada lhe dá momentaneamente uma maior leveza específica. Quando cravada ao solo, está no caso da campânula pneumática, sob a qual se faz o vácuo. São apenas comparações, para mostrar a analogia dos efeitos, e não a similitude absoluta das causas.

Depois disto, compreende-se que ao Espírito não é mais difícil levantar uma pessoa do que erguer uma mesa, transportar um objeto de um a outro lugar ou atirá-lo em qualquer parte. Esses fenômenos são produzidos pela mesma lei. Quando a mesa persegue alguém, não é o Espírito que corre, pois pode ficar tranqüilamente no mesmo lugar, mas lhe dá o impulso por uma corrente fluídica, com o auxílio da qual a faz mover-se à vontade.

Quando as batidas são ouvidas na mesa ou alhures, o Espírito não bate com a mão, nem com um objeto qualquer; dirige um jato de fluido sobre o ponto de onde parte o ruído, produzindo o efeito de um choque elétrico. Modifica o ruído, como se pode modificar os sons produzidos pelo ar.

15 – Por estas poucas palavras pode ver-se que as manifestações espíritas, sejam de que natureza forem, nada têm de sobrenatural ou maravilhoso. São fenômenos que se produzem em virtude da lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, lei tão natural quanto as da eletricidade, da gravitação, etc. O Espiritismo é a ciência que nos dá a conhecer essa lei, como a mecânica nos dá a conhecer a lei do movimento e a óptica a da luz. Estando na Natureza, as manifestações espíritas se hão produzido em todas as épocas. O conhecimento da lei que as rege explica uma imensidão de problemas olhados como insolúveis. É a chave de uma porção de fenômenos explorados e amplificados pela superstição.

16 – Afastado completamente o maravilhoso, esses fenômenos nada mais têm que repugne à razão, porque vêm tomar lugar ao lado dos outros fenômenos naturais. Nos tempos de ignorância, todos os efeitos cujas causas não eram conhecidas eram reputados sobrenaturais. As descobertas da Ciência têm restringido sucessivamente o círculo do maravilhoso; o conhecimento dessa nova lei vem reduzi-lo a nada. Aqueles, pois, que acusam o Espiritismo de ressuscitar o maravilhoso, provam, por isto mesmo, que falam do que não conhecem.

17 – Uma idéia mais ou menos geral entre pessoas que não conhecem o Espiritismo é crer que os Espíritos, apenas porque estão desprendidos da matéria, devem saber tudo e possuir a soberana sabedoria. Isto é um erro grave. Deixando seu invólucro corporal, não se despojam imediatamente de suas imperfeições; só com o tempo se depuram e se melhoram.

Sendo os Espíritos as almas dos homens, como há homens de todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de malvadez, também os há entre os Espíritos. Existem os que são levianos e brincalhões; os que são mentirosos, velhacos, hipócritas, maus e vingativos; outros, ao contrário, possuem as mais sublimes virtudes e o saber em grau desconhecido na Terra. Essa diversidade na qualidade dos Espíritos é um dos pontos mais importantes a considerar, pois explica a natureza boa ou má das comunicações que se recebem. É preciso que nos empenhemos em as distinguir.

Disto resulta que não basta dirigir-se a um Espírito qualquer para obter uma resposta justa para cada pergunta, pois o Espírito responderá conforme o que sabe e, muitas vezes, dará apenas a sua opinião pessoal, que pode estar certa ou errada. Se for prudente, confessará sua ignorância sobre o que não sabe; se leviano ou mentiroso, responderá a tudo, sem se preocupar com a verdade; se orgulhoso, dará sua idéia como verdade absoluta. É por isto que São João, o Evangelista, diz: Não creiais em todo Espírito; antes, provai se os Espíritos são de Deus.6 A experiência prova a sabedoria deste conselho. Seria, pois, imprudência e leviandade aceitar sem controle tudo o que vem dos Espíritos. 6 N. do T.: Vide I João, 4:1. Os Espíritos só podem responder sobre o que sabem e,ainda, sobre o que lhes é permitido dizer, porquanto há coisas que não devem revelar, porque ainda não é dado ao homem tudo conhecer.

18 – Reconhece-se a qualidade dos Espíritos por sua linguagem. A dos Espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica, isenta de toda trivialidade, puerilidade ou contradição; transpira sabedoria, benevolência e modéstia; é concisa e sem palavras inúteis. A dos Espíritos inferiores,ignorantes ou orgulhosos é isenta dessas qualidades; o vazio das idéias aí é quase sempre compensado pela abundância de palavras.

19 – Outro ponto a considerar, igualmente essencial, é que os Espíritos são livres; comunicam-se quando querem e a quem lhes convém e, também, quando podem, pois têm as suas ocupações. Não estão às ordens e ao capricho de quem quer que seja, e a ninguém é dado fazê-los vir contra a sua vontade, nem a dizer o que querem calar. Daí por que ninguém pode afirmar que um Espírito qualquer virá a seu apelo em determinado momento,ou responderá a esta ou àquela pergunta. Dizer o contrário é provar absoluta ignorância dos princípios mais elementares do Espiritismo. Só o charlatanismo tem fontes infalíveis.

20 – Os Espíritos são atraídos pela simpatia, pela similitude dos gostos e dos caracteres, pela intenção que faz desejada a sua presença. Os Espíritos superiores não vão a reuniões fúteis, assim como um cientista da Terra não iria a uma assembléia de jovens estouvados. Diz o simples bom-senso que não pode ser de outro modo; ou, se por vezes aí vão, é para dar um conselho salutar, combater os vícios, tentar reconduzi-los ao bom caminho; se não são ouvidos, retiram-se. Seria fazer uma idéia completamente falsa pensar que Espíritos sérios se comprazem em responder a futilidades, a perguntas ociosas, que não provam afeição nem respeito por eles, nem sincero desejo de instruir-se e, ainda menos, que possam vir dar espetáculo para divertir curiosos. Se não o fizeram em vida, não o farão depois de mortos.

21 – Do que precede, resulta que toda reunião espírita,para ser proveitosa, deve, como primeira condição, ser séria e recolhida; que tudo aí deve passar-se respeitosamente, religiosamente e com dignidade, caso se queira obter o concurso habitual dos Espíritos bons. É preciso não esquecer que se esses mesmos Espíritos aí se tivessem apresentado quando vivos, teriam tido por eles considerações às quais têm ainda mais direito depois da morte.

Em vão alegam a utilidade de certas experiências curiosas, frívolas e divertidas, para converter os incrédulos: o resultado é completamente oposto ao que se espera. O incrédulo,já disposto a zombar das mais sagradas crenças, não pode ver uma coisa séria naquilo de que fazem uma brincadeira; não pode ser levado a respeitar aquilo que não lhe é apresentado de modo respeitável. Assim, reuniões fúteis e levianas, dessas onde não há ordem, nem seriedade, nem recolhimento, ele sempre leva uma impressão má. O que, sobretudo, o pode convencer, é a prova da presença de seres cuja memória lhe é cara; é diante de suas palavras graves e solenes, de revelações íntimas que o vemos empalidecer e comover-se. Mas, justamente porque deve haver mais respeito, veneração, afeição à pessoa cuja alma se lhe apresenta, ele fica chocado, escandalizado de vê-la comparecer a uma assembléia irreverente, entre mesas que dançam e gracejos de Espíritos levianos. Por mais incrédulo que seja, sua consciência repele essa aliança entre o sério e o frívolo, o religioso e o profano, razão por que tacha tudo de hipocrisia, saindo, muitas vezes, menos convencido do que quando havia entrado.

As reuniões dessa natureza sempre fazem mais mal do que bem, porque afastam da doutrina mais pessoas do que atraem, sem contar que se expõem à crítica dos detratores, que aí acham fundados motivos para a zombaria.

22 – É erro fazer das manifestações físicas uma diversão. Se elas não têm a importância do ensino filosófico, têm sua utilidade, do ponto de vista dos fenômenos, porque são o á-bê-cê da ciência, do qual deram a chave. Embora hoje menos necessárias, ainda ajudam a convicção de certas pessoas. Mas não excluem, absolutamente, a ordem e o comedimento nas reuniões onde se fazem experiências. Se fossem sempre praticadas de maneira conveniente, convenceriam mais facilmente e produziriam, sob todos os aspectos, resultados muito melhores.

23 – Sem dúvida estas explicações são muito incompletas e, necessariamente, podem provocar numerosas perguntas. Mas não se deve perder de vista que isto não é um curso de Espiritismo. Tais quais são, bastam para mostrar a base sobre a qual ele repousa, o caráter das manifestações e o grau de confiança que podem inspirar, conforme as circunstâncias. Quanto à utilidade das manifestações, ela é imensa, por suas conseqüências. Mas, ainda que só tivessem como resultado dar a conhecer uma nova lei da Natureza, demonstrar materialmente a existência da alma e a sua imortalidade, já seria muito, porque abriria uma larga via à filosofia.