quinta-feira, 26 de março de 2009

Aumento da depressão em crianças e jovens leva a suicídio



Terça-Feira, 10 de Março de 2009, 06:30
Da Redação


FLÁVIA SAAD

No filme Milk - A voz da igualdade, que está em cartaz nas salas da Cidade, o protagonista Harvey Milk (interpretado por Sean Penn, que ganhou o Oscar pela atuação) recebe um telefonema crucial na noite em que aguarda o resultado de sua eleição para o cargo de supervisor em São Francisco (Califórnia).

Do outro lado da linha, um jovem do interior dos Estados Unidos ameaça se matar por não conseguir lidar com o preconceito que sofre por ser gay. Sem saber a quem recorrer, liga para Milk, cuja foto viu em um jornal. O político e ativista conversa por alguns momentos com o garoto, mas oferece a ele exatamente o que ele precisa: alguém que o escute.

Na tela, a cena cumpre o propósito de emocionar (e também de incrementar a história). Mas, na vida real, não é tão simples assim. Crianças e adolescentes enxergam no suicídio uma opção para fugir da escuridão em que vivem - e da qual acreditam que não conseguirão sair.

De acordo com Adriana Pereira, psiquiatra infantil e pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), o número de suicídios entre os jovens aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Segundo a médica, mais de 3 milhões de jovens pensam em se matar todos os anos. Entre 1993 e 1998, o índice subiu 40% no Brasil.

Assim como o crescimento dos casos de depressão na infância e na adolescência, as taxas de suicídio também estão ligadas à fragilidade dos laços afetivos e à solidão de um mundo em que crianças e jovens vivem sozinhos na multidão. Adriana chama esse problema de "privação emocional".

O psicólogo Hélio Alves, professor da Universidade Católica de Santos (UniSantos), acredita que esse sentimento também se manifesta com outras agressões. Bulimia, anorexia e o uso de drogas também são formas de acabar com a própria vida - a insegurança e a falta de relacionamentos confiáveis geram a busca pela autodestruição.

A CADA 40 SEGUNDOS

O ato de acabar com a própria vida ainda representa um tabu na sociedade. Mas hoje, o suicídio está mais próximo de nós do que nunca. Em uma busca simples pela palavra na internet, o site Google mostra quase oito milhões de referências a esse termo, com especificações: "como cometer suicídio", "tipos de suicídio" e até mesmo "fotos de suicídio". Em todo o mundo, a cada 40 segundos, uma pessoa se mata.

"Um grande problema dosuicídio infantil e juvenil é a notificação", afirmou Adriana. Isso porque, muitas vezes, os pais, médicos e professores não sabem (ou não querem) reconhecer a tentativa da criança ou adolescente de tirar a própria vida. O aumento no número de intoxicações por ingestão de remédios ou venenos pode ser um indicativo das intenções que se escondem por trás de um "acidente". Muitas crianças e adolescentes exteriorizam sua depressão por meio de dores físicas (de cabeça ou de estômago, por exemplo).

A especialista alerta que o ato de se matar é capaz de afetar de maneira negativa até seis outras pessoas, entre amigos e familiares da vítima. "É um choque muito difícil de se recuperar".

LONGO CAMINHO

Adriana explica que, embora a adolescência seja um período conturbado para a maioria das pessoas, por conta das mudanças orgânicas e emocionais dessa época da vida, alguns jovens são mais propensos a sentimentos depressivos. "Um jovem não decide se matar de uma hora para a outra. Há um longo caminho entre o desejo de morrer e a conclusão".

Segundo Alves, o perigo da depressão ­ e o consequente suicídio ­ pode passar despercebido por pais e professores. "A negação acontece. É mais fácil não olhar e não admitir a própria culpa".

É importante ter um espaço em casa para as discussões entre pais e filhos. "O grupo de amigos nunca vai substituir o diálogo com a família. Mesmo com a nossa vida agitada, o ideal é prevenir esses problemas e não deixar para o dia seguinte", conclui Alves.

Como identificar

Falta de interesse nas atividades habituais
Declínio geral nas notas
Diminuição no esforço/interesse
Má conduta na sala de aula
Faltas não explicadas e/ou repetidas, ficar "matando aula"
Consumo excessivo de cigarros (tabaco) ou de bebida alcoólica, ou abuso de drogas (incluindo maconha)
Incidentes envolvendo a polícia e o estudante violento
Tentativas prévias de suicídio Depressão
Confronto com adultos
Agressões diretas ou indiretas a pais e professores

Fonte: Organização Mundial de Saúde

Iniciativa
Em 2006, o Governo Federal publicou a Portaria 1.876/06, que declara o suicídio como problema de saúde pública. Uma das justificativas foi o aumento do comportamento suicida entre jovens entre 15 e 25 anos, em todas as camadas sociais. Desde então, ficou estabelecido que as três esferas de gestão (federal, estadual e municipal) deveriam atuar juntas na prevenção do problema e garantir o acesso a tratamento, cuidados e recuperação.

Eles e elas
As meninas costumam tentar mais o suicídio, mas são os garotos que são mais bem-sucedidos, porque lançam mão de métodos mais letais, como enforcamento e armas de fogo. Já elas optam pela ingestão de medicamentos.

Procure ajuda
O professor Hélio Alves faz trabalho de psicoterapia breve gratuito em crianças e adolescentes (e seus pais) nas comunidades das igrejas Valongo, São Benedito, Aparecida, Sagrado Coração de Maria e no Centro Comunitário São Judas (em Santos), Nossa Senhora da Lapa (em Cubatão) e Santo Antônio (Praia Grande).

A clínica psicológica da UniSantos atende por uma taxa simbólica na Rua da Constituição, 321, de segunda a sexta, das 7 às 20 horas e aos sábados, das 8 às 15 horas. O telefone é 3221-2307.

http://atribunadigital.globo.com/bn_conteudo.asp?cod=401707&opr=512

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Comentário:

Kardec no O Livro dos Espíritos pergunta:

"Que pensar do suicida que tem por fim escapar às misérias e às decepções deste mundo?

- Pobres Espíritos que não tiveram a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda os que sofrem e não os que não têm forças nem coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados! Infelizes, ao contrário, os que esperam uma saída nisso que, na sua impiedade, chamam de sorte ou acaso! A sorte ou o acaso, para me servir da sua linguagem, pode de fato favorecê-los por um instante, mas somente para lhes fazer sentir mais tarde, e de maneira mais cruel, o vazio de suas palavras."

As pessoas não tem o conhecimento necessário da vida espiritual, podem acreditar não terem forças para vencerem as provas. Muitas vezes elas não desejam morrer, mas querem por fim a um sofrimento que parece ser insuportável. Porém como quem sofre é o espírito, tal sofrimento continua após a morte do corpo, sendo muitas vezes ampliado pela compreensão do ato realizado.

O perigo de considerarmos um assunto um tabu, é que ele deixará de ser debatido e as pessoas deixarão de ser esclarecidas. Muitas vezes quando vemos uma pessoa jovem ou não, demonstrando uma tendência suicida ou falando desta idéia, as pessoas tem receio de falar diretamente sobre o assunto, como se isto fosse provocar o suicídio em si. Porque não dizer: - Você está pensando em cometer um suicídio? Então vamos conversar sobre o que ocorre depois deste ato. Esclarecer, exemplificar para que a pessoa perceba que não existe nenhuma lógica no suicídio.

Numa mesa redonda no Hospital Pinel em 28 de janeiro de 1972, Deolindo Amorim nos fala sobre o assunto:

"Pergunta de uma psicóloga: E como é que o Espiritismo considera a situação do suicida depois da morto?

Resposta: "Existem depoimentos de espíritos, que, tendo sido suicidas, sofreram dolorosamente as consequências desse ato desastroso. A decepção é tremenda! O suicídio é uma fuga inútil. É um "atalho" enganoso. E é justamente o que se ensina, com o maior zelo possível nas sociedades espíritas. ..."

O repórter diz que no filme o político deu o que o rapaz precisava que era alguém que o escutasse. Quantas vezes nós nos colocamos à disposição para ouvir o próximo, não digo aconselhar, ajudar, ensinar, digo apenas ouvir. Simplesmente sentar e conversar, ouvir o que o outro tem a dizer, sem precisar dizer nada. Às vezes as pessoas se sentem sozinhas, isto pode parecer uma tolice, mas como muitos dizem, ninguém tem tempo para ficar ouvindo lamentos. Podem ser tolices, podem ser lamentos, mas são angústias reais, que muitas vezes nós também sentimos, mas corremos, trabalhamos e estudamos sem um minuto de descanso exatamente para não entrarmos em contato com esta angústia latente.

É como foi dito na reportagem, ninguém comete suicídio de uma hora para outra e as pessoas sempre demonstram a intenção, muitas vezes num pedido velado de ajuda, para não fazê-lo. Infelizmente raramente estamos dispostos a ouvir.

(Comentário por: Claudia Cardamone, psicóloga e espírita. É membro da Equipe Espiritismo.net, atuando nas áreas de atendimento fraterno e notícias.)

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