quarta-feira, 15 de julho de 2009

Notícia: SONHO DE LIBERDADE - Uma esperança para jovens infratores.

Edileine Ferreira Guimarães.
Notícia publicada na edição de 22/02/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, napágina 2 do caderno D - o conteúdo da edição impressa na internet éatualizado diariamente após as 12h.

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Esqueça aquele 'depósito' de adolescentes que a antiga Febem nos mostrava
diariamente, em motins e rebeliões transmitidos pela TV. Esqueça as
instalações que lembravam presídios, onde a violência imperava e as chances
de recuperação eram remotas. Também apague da memória a 'escola de crimes'
que a antiga Febem passou a ser considerada por muitas pessoas.

A unidade 'Dom Luciano Mendes de Almeida' da Fundação Casa - Centro de
Atendimento Socioeducativo ao Adolescente, que funciona em Sorocaba, é uma
realidade muito diferente da descrição acima. Os 56 meninos que estão
internados ali, além de matriculados no ensino regular, praticam esporte,
participam de cursos profissionalizantes e outras atividades variadas, além
de sessões semanais de terapia individual e em grupo. O objetivo é a
ressocialização com qualificação educacional e profissional para que tenham
chances reais de recuperação total.

Dirigida em gestão compartilhada entre o Estado e a Pastoral do Menor, a
unidade Dom Luciano é considerada modelo para todo o Brasil. O motivo está
justamente no trabalho educativo desenvolvido com os meninos e o
envolvimento da família no processo de crescimento e recuperação dos
adolescentes. De acordo com Agda de Jesus, diretora da unidade, o trabalho
visa resgatar a cidadania e a identidade desses meninos. Para isso, eles
passam por etapas que, uma vez vencidas, são recompensadas com benefícios.
Por exemplo, ao chegarem na unidade, são obrigados a vestir o uniforme, mas
à medida que vão passando pelas fases, demonstrando disciplina e empenho,
conquistam o direito de vestir suas próprias roupas. Outros 'prêmios' são
conquistados ao longo da internação, até chegarem a um grau de confiança que
permite inclusive passar um final de semana em casa, junto da família, ou
participar de atividades externas como cursos e trabalhos fora da unidade
(todas com autorização da Justiça e devidamente monitorada por agentes).

Esse é o modelo pedagógico chamado Contextualizado - criado na Colômbia e
trazido à unidade pela Pastoral do Menor -, que coloca o jovem como
protagonista de um novo comportamento, convidando-o a refletir sobre as
mudanças necessárias em sua vida para interação e integração com o mundo.
Conforme explicou a diretora, o progresso é alcançado de acordo com o
desenvolvimento emocional e educacional de cada um. "Por conta da história
de vida de cada um dos meninos, essa progressão de vida pode ser mais lenta
ou mais rápida. Depende muito deles", explica a diretora. Conta também que o
contrário é verdadeiro, uma vez que a falta de disciplina ou qualquer outro
fato que demonstre a regressão de comportamento, são punidos com a perda das
regalias adquiridas. "Cada um é responsável pelos seus atos e todo ato tem
consequências".

Ressocialização em fases

A unidade mantém alguns padrões que propiciam o sucesso do modelo. Por
exemplo, a Unidade II da Casa Dom Luciano Mandes de Almeida recebe meninos
que cometeram atos infracionais graves, mas não abriga reincidentes. "Todos
os nossos internos são infratores médio e grave, mas são primários", explica
Agda.

Quando são encaminhados pelo poder judiciário para a Fundação Casa, os
meninos vão, primeiramente, para uma unidade de atendimento inicial, onde
passam pela triagem e cumprem o período de internação provisória que é de
(no máximo) 45 dias. Durante esse tempo, seus atos são julgados e se a
Justiça achar necessário, o jovem é encaminhado para a unidade de internação
(I se for reincidente, e II se for primário) onde será inserido no Projeto
Pedagógico Contextualizado.

A partir daí, os meninos passam por 5 fases que visam levar à recuperação. A
primeira delas é a Motivação, quando a unidade busca contato com a família
para um fazer um histórico do menino. Também é nessa fase que o interno
passa por consultas médicas e psicológicas e conhece as regras de conduta
dentro da entidade. A segunda fase (chamada Reconhecimento e considerada uma
das mais difícieis) - o jovem passa a vivenciar a internação. De acordo com
a diretora alguns rejeitam e resistem à nova vida que terão de enfrentar. Em
seguida, na terceira fase (chamada Aprofundamento) já começa a haver
questionamento e conscientização sobre o ato infracional cometido. Também é
nessa fase que os meninos começam a participar das oficinas e orientações
vocacionais.

Projetos de Vida é o nome da quarta fase dentro da unidade e é o momento
onde começam interagir com a sociedade (visitam a família participam de
cursos externos, etc), uma vez que aprenderam outros modos de vida e já
iniciaram o processo de ressocialização. "Nessa fase eles questionam a
maneira como viviam antes e alguns passam a estimular as mudanças dentro de
casa", conta a diretora. Ela diz que nessa fase eles passam a ser
organizados e quando estão visitando os familiares ajudam nos afazeres
domésticos porque querem manter um padrão de vida. Também é nessa fase do
processo que são incentivados a procurar emprego e programas de estágio. Se
o ensino médio estiver concluído, eles são encaminhados a cursinhos
pré-vestibulares.

O quinto e último estágio do processo de reeducação dos internos é chamado
República e permite que o adolescente infrator trabalhe e estude e retorne à
unidade apenas à noite para dormir. Durante todas as fases, os meninos
continuam devidamente matriculados no ensino regular e formal e ainda
praticam esportes e participam de oficinas dentro da própria unidade.

Além do trabalho com o menino infrator, o modelo pedagógico adotado pela
fundação em Sorocaba também se volta para as famílias dos internos que são
envolvidas no projeto, para que haja comprometimento na recuperação dos
jovens. "Realizamos cerimônias repletas de simbolismos para que os
familiares entendam que o trabalho de recuperação e ressocialização dos
meninos também depende deles", conta Wanderlei da Silva Leite, gerente da
Pastoral do Menor em Sorocaba.

Modelo Nacional

Como foi explicado no começo desta reportagem, o projeto colocado em prática
na Dom Luciano Mendes, nada tem do modelo antigo que colocava os meninos em
grandes abrigos geralmente na Capital, longe da família e igualando a todos
sem se importar com sua história de vida. O novo sistema, conforme
Wanderlei, tem se mostrado eficiente e possível. "Essa descentralização que
traz para perto da realidade de cada um, levando em conta não apenas o jovem
infrator, mas toda sua vida e a mapa social do município que vive, tem muito
mais chances de dar certo", explica.

O apoio que a entidade e a fundação receberam da Universidade de Sorocaba
(Uniso), Universidade do Trabalhador (Unit), Sebrae, Prefeitura e outras
empresas e entidades públicas e privadas foi fundamental para o sucesso do
projeto, de acordo com o gerente da pastoral.

Tanto é verdade que a unidade está sendo considerada modelo no País, tendo
em vista a ressocialização de jovens infratores. Sorocaba foi a primeira
cidade a aplicar o sistema e, a partir daí, outras adotaram o mesmo método,
como Franca, Jundiaí, Osasco, Jacareí, Guarulhos, Taubaté. Além disso, a
unidade recebe quase semanalmente visitas de representantes de vários
estados e até de outros países para conhecer o projeto e sua aplicação.

Os números confirmam o sucesso da gestão, já que desde que foi criada não
houve nenhum registro de rebeliões ou incidentes. Nesses dois anos de
funcionamento, passaram pelas unidades 201 adolescentes, que atualmente
estão em medida socioeducativa de liberdade assistida ou semiliberdade.
Destes, 82 já estão no mercado de trabalho formal e informal. Mais ainda:
desde que foi criada, em novembro de 2006, dos jovens atendidos pelas
unidades em Sorocaba, apenas 9 reincindiram em atos infracionais. Isso
significa que o índice de reincidência nessas unidades é de 4,4%, enquanto a
média estadual é de 17% (no antigo sistema, antes da descentralização,
chegava a 30%).

O exemplo da Casa Dom Luciano Mendes de Almeida, de Sorocaba, é a
comprovação de que a solução para o problema do jovem infrator existe, basta
ter as ferramentas certas e aplicá-las de modo eficiente.

Fonte: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=86&id=162852

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COMENTÁRIO

Ao ler este trecho em particular:

"Conforme explicou a diretora, o progresso é alcançado de acordo com o
desenvolvimento emocional e educacional de cada um. "Por conta da história
de vida de cada um dos meninos, essa progressão de vida pode ser mais lenta
ou mais rápida. Depende muito deles", explica a diretora. Conta também que o
contrário é verdadeiro, uma vez que a falta de disciplina ou qualquer outro
fato que demonstre a regressão de comportamento, são punidos com a perda das
regalias adquiridas. "Cada um é responsável pelos seus atos e todo ato tem
consequências"."

Pensei comigo: Não há coisa mais espírita do que isto!

Isto é educação. É ensinar àquele jovem que todos os seus atos possuem uma consequência, mas valorizar mais os benefícios.
Ninguém lá, aparentemente, espera que ao entrar em contato com este trabalho o jovem mude de uma hora para outra e este é um ponto muito importante. Esclarecê-lo de que é um processo , com seu tempo e sequência, e deixar claro como ele pode realizar o caminho.

E não é assim que nos ensina a Doutrina Espírita, somos espíritos internados temporariamente na Terra para aprender a nos ressocializar. Temos sempre o livre arbítrio para aceitar as regras ou não, e quando somos rebeldes e teimosos, não avançamos, podemos perder alguns benefícios e geralmente reclamamos.

"117. Depende dos Espíritos apressar o seu avanço para a perfeição?
- Certamente. Eles chegam mais ou menos rapidamente, segundo o seu desejo e a sua submissão à vontade de Deus. Uma criança dócil não se instrui mais depressa que um rebelde?" O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.

Outra coisa que também possui similaridade, é o fato de que esta unidade de internação não atende a reincidentes.

"184. O Espírito pode escolher o novo mundo em que vai habitar?
- Nem sempre; mas pode pedir e obter o que deseja, se o merecer. Porque os mundos só são acessíveis aos Espíritos de acordo com o grau de evolução.

184-a. Se o Espírito nada pede, o que determina o mundo onde irá reencarnar-se?
- O seu grau de elevação." O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.

Isto deixa claro ao jovem que ele realmente irá arcar com a responsabilidade de seus atos e que se reincidir no erro, ele perde a possibilidade de estar ali. Mas não pense que é uma regressão, da mesma forma que se um mundo de provas e expiação evolui para mundo de regeneração, pela evolução da maioria de seus habitantes, aqueles que continuam rebeldes à mudança, passarão a reencarnar em outro mundo de provas e expiações, não porque ele tenha regredido, mas por não avançar ele permanece no mesmo estágio.

Infelizmente pelo curto período de tempo da adolescência, a rebeldia propicia a perda definitiva, nesta encarnação, de um grande benefício e que este seja reproduzido não só aos jovens do restante do país, mas também aos adultos.

(Comentário por: Claudia Cardamone, psicóloga e espírita. É membro da Equipe Espiritismo.net, atuando nas áreas de atendimento fraterno e notícias.)

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