sábado, 5 de fevereiro de 2011

Notícia: "Ser inteligente saiu de moda."

Na Inglaterra, os estudantes mais dotados se sentem "nerds, cê-dê-efes e chatos". A tendência fatalmente chegará ao Brasil. Se é que ainda não chegou. - Por: Luis Pellegrini


"Nada mais brega do que bancar o inteligente", afirmam, sem nenhuma vergonha na cara, muitos estudantes ingleses a seus boquiabertos professores. Diante do fato, alguns dos mais brilhantes catedráticos decidiram se reunir na tentativa de explicar o fenômeno. (...)"

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Comentário:

A inteligência estará mesmo fora de moda entre os jovens?

Na Grécia antiga, os ídolos das crianças eram os heróis lendários como Ulisses, Aquiles ou Hércules. Os guerreiros poderosos, glorificados pelas suas façanhas destruidoras contra exércitos inimigos, eram fascinantes para as mentes juvenis, ávidas pelo dia em que igualassem esses feitos. A sede de protagonismo não se esgotou em 25 séculos: Os heróis modernos são os desportistas, atores, modelos e músicos, personagens reais de vidas aparentes onde a facilidade se confunde com felicidade. Os grandes pensadores, intelectuais, os instigadores à transcendência e renovação da humanidade, são normalmente empurrados para um canto pouco acessível dos meios mediáticos onde sejam incapazes de ofuscar a ilusão coletiva em que vivemos.... 

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A personalidade de um jovem é estruturada em muitas outras personalidades que o seu Espírito experimentou em outras vidas, mas também é influenciada fortemente pela herança genética recebida e pelo ambiente social e cultural em que está inserido. Por esta última razão, o comportamento das crianças e dos jovens é muitas vezes o espelho dos adultos que os rodeiam. Pior, é o espelho de toda a sociedade. A reação hostil diante de um colega que se destaca pela sua inteligência provém da mesma fonte que alimenta a inveja dos pais em relação aos colegas do emprego. Os comportamentos violentos com que os jovens reagem às contrariedades, o desprezo pela cultura, a aversão aos talentos intelectuais são decalcados do que acontece à sua volta. O mundo social revela quais são os principais requisitos para ser integrado e usufruir de uma boa reputação. Assim, e como os adolescentes possuem uma grande necessidade de serem aceites e valorizados pela sociedade, tendem a ajustar os seus comportamentos às expetativas sociais através de atitudes e hábitos estereotipados, desprezando o carácter autêntico e singular do seu Espírito.

Os sintomas que muitas crianças e jovens apresentam e que estão referidos nesta notícia são consequência de uma grave doença social: A violência. Ainda vivemos numa sociedade profundamente marcada pela violência. Apesar da quantidade e qualidade de informação disponível, de todos os avanços morais, científicos e tecnológicos, de todos avisos e propaganda, a sociedade do século XXI continua a revelar expressões de violência e agressividade que nos deveria preocupar. Existe uma banalização da violência. Desde a mais tenra idade as crianças vibram com lutas de Wrestling, desenhos animados violentos, cenas de pancadaria, agressões físicas e assassínios brutais; A juventude é bombardeada diariamente com agressivas campanhas de incentivo ao consumo; Programas importados de outros países mostram jovens que são capazes de fazer qualquer coisa para alcançarem a fama; Quando possuem hábitos de leitura, a maioria das crianças e jovens escolhem literatura medíocre que banaliza as agressões físicas, as obscenidades e a futilidade; Os campeões de vendas dos videojogos são sangrentas aventuras onde se faz a apologia do ódio e da destruição, colocando muitas vezes o jogador como bandido ou carrasco das populações civis.

Qual é a mensagem que a sociedade de consumo está enviando para as nossas crianças e jovens? Simplesmente está afirmando com todas as letras que não existe maior felicidade do que comprar, maior prémio que a fama, maior instrumento que o poder. Está difundindo a ideia que quem nunca apareceu na televisão é como se não existisse, que o sucesso intelectual e a dedicação aos estudos está fora de moda. A sabedoria, caminho doloroso e de difícil construção, vai se esgotando moribunda num mundo prático, imediato e consumista. Como sociedade estamos falhando na promoção da vida, do prazer de viver, da criatividade, do diálogo cara a cara, da compreensão do outro, no desenvolvimento da inteligência que procura a verdade, da coerência com a singularidade de cada Espírito, da liberdade de consciência. Estamos a criar uma geração de jovens iludidos pelo brilho do ouro e da fama, incapazes de lutarem contra as dificuldades, frustrações e adversidades futuras. Para fazerem frente aos obstáculos só lhes ensinamos uma forma: a violência.

Nesta época de contradições, o papel dos educadores é fundamental para que as crianças e os jovens cresçam saudáveis e preparados para superar os desafios da vida. Precisamos de melhores educadores, de educadores mais conscientes e melhor preparados. Os jovens de hoje serão os educadores de amanhã. É necessário orientá-los desde a mais tenra idade sobre aquilo que vêm na televisão, sobre os livros que lêem, sobre os princípios morais que devem servir de base às suas vidas. Incutir neles a admiração pela Natureza, pela arte e pela cultura, pela prática de uma espiritualidade renovadora e transcendente, o respeito pelas ideias alheias por mais divergentes que sejam em relação às suas, educá-los para que aprendam a debater ideias e filosofar sobre a vida e os seus mistérios, para que interiorizem a beleza e preciosidade que é a sua vida.

Para conseguirmos fazer isto, é necessário muito mais do que palavras. “As palavras estão gastas” escreveu o poeta Eugénio de Andrade. As palavras estão realmente gastas e se não forem coerentes com atitudes serão inócuas. Para a elevação de uma criança e jovem, o instrumento mais eficaz é o exemplo de educadores comprometidos através do amor porque o exemplo é a forma mais sublime de educação.

Comentário por:  Carlos Miguel Pereira. Trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.

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