quinta-feira, 17 de março de 2011

Notícia: "O amor nem sempre é útil!"

Costuma fixar objectivos que dependem da motivação do seu companheiro? Muitas pessoas acreditam que é mais fácil estudar ou fazer exercício físico todos os dias com o apoio do cônjuge. Um estudo publicado no Psychological Science afirma o contrário. Pensar na ajuda que um companheiro pode dar para alcançar objectivos pode diminuir a motivação para trabalhar e até mesmo adiar o início do trabalho.... (....).  

Fonte: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=47495&op=all 

Comentário:

Com o objetivo de publicitar alguns estudos científicos, existe por vezes uma tendência para simplificar as conclusões alcançadas, resultando numa deturpação dos seus resultados. Na redação desta notícia existe uma confusão entre o conceito de amor e de dependência, como se fossem sinónimos ou se um atraísse inevitavelmente o outro. Na realidade, a ideia que para haver amor autêntico é necessário que haja dependência, é algo que ainda está profundamente encrostado no espírito das relações humanas e por vezes torna-se difícil vislumbrar um sem o outro. Será possível amar sem dependermos de quem amamos para vivermos felizes? Será possível amar sem apego? ... (...).

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Ajuda do companheiro pode adiar concretização de objectivos
O amor nem sempre é útil !

Costuma fixar objectivos que dependem da motivação do seu companheiro? Muitas pessoas acreditam que é mais fácil estudar ou fazer exercício físico todos os dias com o apoio do cônjuge. Um estudo publicado no Psychological Science afirma o contrário. Pensar na ajuda que um companheiro pode dar para alcançar objectivos pode diminuir a motivação para trabalhar e até mesmo adiar o início do trabalho.
Segundo os autores do estudo, os psicológos Gráinne M. Fitzsimons, da Duke University, e J. Eli Finkel, da Universidade Northwestern, este fenómeno caracteriza-se pela dependência inconsciente de alguém para atingir metas juntamente com um relaxamento do próprio esforço. Isto também acontece com amigos e família.

De acordo com Fitzsimons, “se olharmos apenas para um objectivo isolado, pode haver um efeito negativo. Mas confiar noutra pessoa também permite espalhar a energia por muitos objectivos, o que pode ser eficaz se o parceiro motivar”.

Para realizar o estudo, os psicólogos conduziram três experiências online. Na primeira, 52 mulheres foram convidadas a concentrarem-se na forma como os parceiros as ajudaram a alcançar metas de saúde e exercício físico; o grupo de controlo imaginou os companheiros a ajudarem nos objectivos de carreira. Depois de uma semana, quando questionado sobre a intenção de trabalhar para ficar em forma e mais saudável, o primeiro grupo planeava colocar menos esforço do que o segundo.

Perante um objectivo académico, as pessoas inconscientemente também procuraram delegar o esforço para parceiros úteis. Na segunda experiência, 74 estudantes do sexo masculino e feminino receberam um quebra-cabeças que deveriam completar antes de atingirem um objectivo académico que iria ajudá-los a melhorar o desempenho na universidade. Aqueles que meditaram na forma como os parceiros os podiam ajudar no objectivo académico adiaram a tarefa de completar o quebra-cabeças, ficando com menos tempo para trabalhar produtivamente no objectivo académico em si.

Segundo Fitzsimons, “a primeira experiência foi sobre intenção. A segunda captou o comportamento”.

No entanto, reconhecer a dependência também inspira devoção e compromisso. “No nosso estudo, as mulheres relataram que os respectivos parceiros foram muito úteis na continuidade dos seus objectivos, dando exemplos como: ‘eu nunca iria para o ginásio, se meu marido não ficasse com as crianças ', ou 'eu não conseguiria manter a dieta sem o apoio dele’”, explicaram. “As 90 participantes do sexo feminino, que mais ajuda pediram aos seus parceiros, afirmaram que estavam dedicadas a fazer com que o relacionamento durasse ao longo do tempo, sugerindo que procurar ajuda pode levar a resultados positivo no relacionamento".

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Comentário: 

Com o objetivo de publicitar alguns estudos científicos, existe por vezes uma tendência para simplificar as conclusões alcançadas, resultando numa deturpação dos seus resultados. Na redação desta notícia existe uma confusão entre o conceito de amor e de dependência, como se fossem sinónimos ou se um atraísse inevitavelmente o outro. Na realidade, a ideia que para haver amor autêntico é necessário que haja dependência, é algo que ainda está profundamente encrostado no espírito das relações humanas e por vezes torna-se difícil vislumbrar um sem o outro. Será possível amar sem dependermos de quem amamos para vivermos felizes? Será possível amar sem apego?
Uma das mais belas lições sobre amor, liberdade e desapego foi oferecido por Jesus. Quando, o informaram que fora da casa onde se encontrava, no meio da multidão, estariam seus irmãos e sua mãe, perguntou aos seus discípulos: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” Entre amor e dependência, ou apego se preferirmos, existe um abismo colossal: A dependência captura, encarcera uma pessoa dentro de outra; O amor é libertador, é transcendente, é transformador, incentiva à autenticidade, a sermos nós próprios em todas as circunstâncias da vida.
O ser humano nasce dependente. Até ao fim da infância, ele depende totalmente do amor dos seus pais para poder sobreviver e ser feliz. Nas fases seguintes, essa dependência deveria ser eliminada gradualmente, ensaiando o indivíduo o exercício da sua autonomia, responsabilidade e liberdade. Mas muitas vezes isso não acontece. Por vezes são os próprios pais que fomentam essa dependência, outras vezes é o próprio indivíduo que não consegue largar o conforto que essa dependência lhe proporciona. Esta situação origina que mais tarde, os hábitos de dependência emocional sejam transferidos para todos aqueles com quem nos relacionarmos, assumindo muitas vezes posturas como a carência, submissão e a subserviência.
Ao contrário do que diz a notícia, o amor é sempre útil. O amor genuíno é a expressão mais pura da alma, o ponto mais sublime que ela poderá alcançar. O amor é a maior força criadora ao serviço do Homem. No entanto, quando esse amor é condicionado pela dependência, vemos quem amamos como alguém que preenche as nossas lacunas, alguém que nos indica o que é certo, que repete o que devemos ou não devemos fazer, alguém que nos motiva para as dificuldades da vida, que nos substitui nas nossas próprias responsabilidades. Isso manter-nos-á terrivelmente dependentes. Dizemos: “Eu amo você”, mas na realidade queríamos dizer: “Eu preciso de você”. E vivemos incapazes de assumir uma decisão séria, imobilizados diante das adversidades da vida, não nos permitindo desenvolver a força necessária para lutarmos pelo que acreditamos nem a independência necessária para colocar em prática as nossas ideias e pensamentos.
De forma diferente ao enunciado no título da notícia, esta investigação traz fortes evidências que demonstram que quando permitimos que a dependência se sobreponha ao amor, ficando dessa forma reféns da vontade e da motivação do nosso parceiro para alcançar o objetivo a que nos propusemos, isso poderá nos impedir de mostrar o nosso verdadeiro valor e atingir o que mais desejamos na vida.

Por: Carlos Miguel Pereira. Trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.

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