quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Richard Simonetti artigo: Um Natal de Verdade

 
Um Natal de Verdade

A presença do rico automóvel diante da residência humilde, acontecimento inusitado naquela vila paupérrima e distante, despertou intensa curiosidade. Rostos surgiram nas janelas. Muita gente olhando de longe.
Desceram Gumercindo e Maria do Carmo, casal de meia-idade.
Sofrida mulher os atendeu, rodeada por três crianças tímidas grudadas em sua saia. No colo materno chorava um bebê, lamento ardido de fome… logo apareceu o marido, figura lastimável, barba por fazer, olhar assustado. O visitante quebrou o gelo:
– Estamos aqui em tarefa de amizade. Temos recebido incontáveis bênçãos de Deus, negócios prósperos, filhos saudáveis, casa ampla e confortável, muita fartura. No entanto, eu e minha esposa não nos sentimos em paz. O que nos sobra, falta em muitos lares. Isso vem pesando em nosso coração. Decidimos, por isso, ir ao encontro de nossos irmãos…
– Pois é – completou Maria do Carmo – gostaríamos de saber como vivem, suas dificuldades e problemas. Como poderemos ajudá-los. Iniciaremos nosso entendimento neste Natal, oferecendo-lhes brinquedos, roupas e alimentos, em nome de Jesus.
– Tenho certo de que foi Ele quem os inspirou – interrompeu, emocionado, o dono da casa. – Nossa situação é desesperadora. Estou desempregado há seis meses… já não temos recursos nem para a comida. A luz foi desligada por falta de pagamento… minha esposa está doente. As crianças cobram-me o presente. Querem saber por que Papai Noel não visita gente pobre. Eu decidira que a situação iria mudar, por bem ou por mal. Planejara assaltar abastada mansão. Enfrentaria a polícia, mataria se preciso, mas não regressaria ao lar de mãos vazias… No entanto, não sou criminoso. Tenho uma existência toda de trabalho honesto, cultivando respeito às leis… Os senhores salvaram-me de um pesadelo.
Sufocado pela emoção, derramando-se em lágrimas, o operário ajoelhou-se e beijou as mãos de seus benfeitores, sem que estes pudessem evitar o gesto extremo de humildade e reconhecimento.
Após alguns minutos de entendimento fraterno, Gumercindo e Maria do Carmo entregaram os presentes e partiram, levando a certeza de que aquela família teria um Natal feliz. Felicidade maior ia em seus corações. Haviam descoberto a insuperável alegria que o exercício da solidariedade proporciona.
***
A violência e o crime são desvios lamentáveis que se oferecem àqueles que transitam pelos caminhos da miséria e do infortúnio. A própria sociedade contribui para tão desastrosas opções ao ignorar a existência desses infelizes.
Quando nos dispusermos a superar as barreiras da indiferença, do comodismo, do apego aos bens transitórios, oferecendo amparo e orientação aos irmãos em dificuldade, a mensagem do Natal começará a ser observada, favorecendo a erradicação do mal.

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