segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Curtir, ficar, estar, ser

Curtir, ficar, estar, ser





Os jovens algumas vezes têm entrado nessa vida dos relacionamentos a dois de qualquer jeito, sem muita perspectiva, sem orientação. Frequentemente, muito cedo, mas continuam se atrapalhando mesmo depois de alguns anos.

E não creio ser possível que tenham suficiente clareza do que querem, nem de como conseguir o que querem. Também entendo que possa faltar alguma perspectiva diante de cada solicitação ligada à vivência do impulso sexual. Isso torna difícil praticar o sentido das palavras atribuídas a Bob Marley: “nunca troque o que mais quer na vida, pelo que mais quer no momento”. Porque o que “realmente se quer” ainda não está definido ou se mistura a um redemoinho de estímulos espalhados pela mídia, sociedade e cultura.Então, pode parecer que a quantidade vai levar à qualidade, o que é um ledo engano.

Embora muitas vezes, as pessoas amiúde se entreguem a esses “jogos de paquera” e conquista na esperança chegar ao parceiro ou parceira ideal, com quem se quer realmente compartilhar pensamentos, vivências, histórias pela vida afora, isso só ocorre em poucos casos.

A conexão profunda entre um casal é muito maior que gostar das mesmas baladas e se dar bem na cama. Ela inclui aquilo que com prazer fazem juntos durante boa parte do tempo, as conversas que geram satisfação e aprendizado, o nível de compreensão recíproca, o respeito e o afeto. Ela inclui compartilhar certos valores e objetivos, o que só se conhece com a convivência. Porque se abrimos mão daquilo que somos em função de “ficar com alguém”, ou haverá sofrimento íntimo na permanência, ou a relação estará destinada ao rompimento.

O filme “Paris à meia noite” (2011), de Woody Allen, nos apresenta um casal que está planejando casar-se, mas sem demonstrar entre si um nível minimamente razoável de entendimento mútuo, conexão mental e emocional. Olhando “de fora”, parece não haver nada de errado: são belos, têm projetos, têm dinheiro. Estão em Paris! Mas observando melhor a convivência, percebe-se que não há praticamente nada em comum, seus ideais, objetivos e valores são distintos, ocasionando naturais desentendimentos e desencontros.

Hoje em dia parece meio “careta” falar-se em ideais e valores. A experiência imediata prevalece, o impulso prevalece, no culto ao imediatismo que nossa civilização fabricou. Mas a conexão mais profunda, aquela que realmente perdura e se aprimora com o tempo, necessita desse tipo mais forte de afinidade, de encontro entre pensamentos, anseios, objetivos, valores e ideais. E é nessa dimensão que geralmente se situa o que se quer para a vida.

Então, conhecer-se e estar em paz com as suas escolhas, antes de sair em busca desenfreada por companhia e relacionamento, tende a funcionar melhor para quem procura um nível de conexão mais forte, uma convivência mais prazerosa, em lugar de momentos fugazes.

A vida certamente envolve ‘curtir’ a companhia de alguém e também ‘ficar’ com quem curtimos. Mas se não há sintonia em grau mais efetivo, será difícil manter viva a alegria de continuar juntos.

Somos seres que mudam. Pode existir certa distância entre o jeito como se está no presente e aquilo que de fato se é ou quer ser. Então, antes de partir para uma intimidade física baseada em atração instantânea e posterior esvaziamento, é preferível colocar na balança seus objetivos, ideais e valores, que estão relacionados àquilo que você é e aspira ser, para não trocar o que é importante na vida pelo que apenas parece importante naquele momento.


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