quarta-feira, 1 de abril de 2015

Revista Espírita: Instruções dos Espíritos

PROGRESSÃO DO GLOBO TERRESTRE8

(Ditado espontâneo, integrando uma série de instruções sobre a teoria dos fluidos)

(Paris, 11 de novembro de 1863)

A progressão de todas as coisas leva necessariamente à transubstanciação, e a mediunidade espiritual é uma das forças da Natureza que lá fará chegar mais rapidamente o nosso planeta,porque, como todos os mundos, deve sofrer a lei da transformação e do progresso. Não só o seu pessoal humano, mas todas as suas produções minerais, vegetais e animais, seus gases e seus fluidos imponderáveis, também devem aperfeiçoar-se e se transformar em substâncias mais depuradas. A Ciência, que já trabalhou esta questão tão interessante da formação deste mundo, reconheceu que ele não foi criado de uma palavra, como diz o Gênesis, numa sublime alegoria, mas que sofreu, numa longa sucessão de séculos,transformações que produziram camadas minerais de diversas naturezas. Seguindo a gradação dessas camadas, aparecem sucessivamente e se multiplicam as produções vegetais; mais tarde encontram-se traços dos animais, o que indica que somente nessa época os corpos organizados haviam encontrado a possibilidade de viver.

Estudando a progressão dos seres animados, como se fez com os minerais e os vegetais, reconhece-se que esses seres, a princípio moluscos, elevaram-se gradualmente na escala animal e que sua progressão acompanhou a das produções e a da depuração do solo; nota-se, ao mesmo tempo, o desaparecimento de certas espécies, desde que as condições físicas necessárias à sua vida não mais existem. Foi assim, por exemplo, que os grandes sáurios,monstros anfíbios, e os mamíferos gigantes, dos quais hoje só se encontram os fósseis, desapareceram completamente da Terra,com as condições de existência que as inundações lhes haviam 8 Nota da Editora: Ver “Nota Explicativa”, p. 537. criado. Sendo os dilúvios um dos meios de transformação da Terra,foram quase gerais, isto é, durante um certo período, causaram forte comoção no globo e assim determinaram produções vegetais e fluidos atmosféricos diferentes. Assim como todos os seres orgânicos, o homem apareceu na Terra quando nela pôde encontrar as condições necessárias à sua existência.

Aí pára a criação material que depende apenas das forças da Natureza; aí começa o papel do Espírito encarnado no homem para o trabalho, pois deve concorrer para a obra comum; trabalhando para si mesmo, o homem trabalha para a melhora geral. Assim, desde as primeiras raças, vemo-lo a cultivar a terra, fazê-la produzir para suas necessidades corporais e, desse modo, provocar transformações em seu solo, em seus produtos, em seus gases e em seus fluidos. Quanto mais se povoa a Terra, tanto mais os homens a trabalham, a cultivam, a saneiam, tanto mais abundantes e variados são os seus produtos; a depuração de seus fluidos pouco a pouco leva ao desaparecimento das espécies vegetais e animais venenosas e nocivas ao homem, que já não podem subsistir num ar muito depurado e muito sutil para a sua organização, e não mais lhes fornece os elementos necessários à sua manutenção. O estado sanitário do globo melhorou sensivelmente desde a sua origem; mas como ainda deixa muito a desejar, é indício de que melhorará ainda pelo trabalho e pela indústria do homem. Não é sem propósito que este é impelido a estabelecer-se nas regiões mais ingratas e mais insalubres; já tornou habitáveis regiões infestadas por animais imundos e miasmas deletérios; pouco a pouco as transformações que faz sofrer o solo levarão à depuração completa.

Pelo trabalho o homem aprende a conhecer e dirigir as forças da Natureza. Pode-se acompanhar na História o fio das descobertas e das conquistas do espírito humano e a aplicação delas feitas para as suas necessidades e satisfações. Mas seguindo essa fieira, deve-se notar também que o homem se delineou,desmaterializou-se; e se se quiser fazer um paralelo do homem de hoje com os primeiros habitantes do globo, julgar-se-á do progresso já realizado; ver-se-á que quanto mais o homem progride, mais é estimulado a progredir, e que a progressão está na razão do progresso realizado. Hoje o progresso marcha em grande velocidade, arrastando forçosamente os retardatários.

Acabamos de falar do progresso físico, material,inteligente. Mas vejamos o progresso moral e a influência que deve ter sobre o primeiro.

O progresso moral despertou ao mesmo tempo que o desenvolvimento material, mas foi mais lento, porque, achando-se o homem em meio a uma criação exclusivamente material, tinha necessidades e aspirações em harmonia com o que o cercava. Avançando, sentiu o espiritual desenvolver-se e crescer em si, e,ajudado pelas influências celestes, começou a compreender a necessidade da direção inteligente do Espírito sobre a matéria; o progresso moral continuou o seu desenvolvimento e, em diferentes épocas, Espíritos adiantados vieram guiar a Humanidade e dar um maior impulso à sua marcha ascendente; tais são Moisés, os profetas, Confúcio, os sábios da antiguidade e o Cristo, o maior de todos, embora o mais humilde na Terra. O Cristo deu ao homem uma idéia maior de seu próprio valor, de sua independência e de sua personalidade espiritual. Mas sendo os seus sucessores muito inferiores a ele, não compreenderam a idéia grandiosa, que brilha em todos os seus ensinos; materializaram o que era espiritual; daí a espécie de statu quo moral, no qual a Humanidade se deteve. O progresso científico e inteligente continua a sua marcha; o progresso moral se arrasta lentamente. Não é certo que, desde o Cristo, se todos os que professaram sua doutrina a tivessem praticado, os homens se teriam poupado de muitos males e hoje estariam moralmente mais adiantados?

O Espiritismo vem acelerar o progresso, desvendando à Humanidade os seus destinos; e já vemos a sua força pelo número de adeptos e a facilidade com que é compreendido. Vai provocar uma transformação moral ativa e, pela multiplicidade das comunicações mediúnicas, o coração e o Espírito de todos os encarnados serão trabalhados pelos Espíritos amigos e instrutores. Dessa instrução vai surgir um novo impulso científico, porquanto novas vias serão abertas à Ciência, que dirigirá suas pesquisas para as novas forças da Natureza, que se revelam; as faculdades humanas que já se desenvolvem, desenvolver-se-ão ainda mais pelo trabalho mediúnico.

Acolhido inicialmente pelas almas ternas e inconsoláveis pela perda de parentes e amigos, o Espiritismo o foi em seguida pelos infelizes deste mundo, cujo número é grande, e que têm sido encorajados e sustentados em suas provações por sua doutrina, ao mesmo tempo tão suave e confortadora; propagou-se,assim, rapidamente, e muitos incrédulos admirados, que a princípio o estudaram como curiosos, foram convencidos quando, por si mesmos, nele encontraram esperanças e consolações.

Hoje os sábios começam a inquietar-se e alguns deles o estudam seriamente e o admitem como força natural até agora desconhecida; aplicando a ele sua inteligência e seus conhecimentos já adquiridos, farão a Humanidade dar um imenso passo científico.

Mas os Espíritos não se limitam à instrução científica; seu dever é duplo e eles devem, sobretudo, cultivar a vossa moral. Ao lado dos estudos da Ciência, eles vos farão, e já fazem desde agora, trabalhar o vosso próprio eu. Os encarnados inteligentes e desejosos de progredir compreenderão que sua desmaterialização é a melhor condição para o estudo progressivo, e que sua felicidade presente e futura a isto está ligada.

Observação – É assim que o mundo, depois de haver alcançado um certo grau de elevação no progresso intelectual, vai entrar no período do progresso moral, cuja rota o Espiritismo lhe abre. Esse progresso realizar-se-á pela força das coisas e levará naturalmente à transformação da Humanidade, pelo alargamento do círculo das idéias no seu sentido espiritual, e pela prática inteligente e raciocinada das leis morais, ensinadas pelo Cristo. A rapidez com que as idéias espíritas se propagam no próprio meio do materialismo, que domina a nossa época, é indício certo de uma pronta mudança na ordem das coisas. Basta para isto a extinção de uma geração, pois a que se ergue já se anuncia sob auspícios completamente diferentes.

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