terça-feira, 28 de julho de 2015

Revista Espírita: O COLISEU



(Enviada pelo Conde X..., de Roma. Traduzida do italiano)

Que sentimento faz nascer em vós a visão do Coliseu? O produzido pelo aspecto de toda ruína: tristeza. Suas vastas e belas proporções lembram todo um mundo de grandeza; mas sua decrepitude invariavelmente leva o pensamento para a fragilidade das coisas humanas. Tudo passa; e os monumentos, que pareciam desafiar o tempo, se desmoronam, como para provar que só as obras de Deus são duráveis. E quando os escombros, semeados por toda parte, protestam contra a eternidade das obras do homem,ousais chamar eterna uma cidade juncada de ruínas do passado!

Onde estás, Babilônia? Onde estás, Nínive? Onde vossos imensos e esplêndidos palácios? Viajante, em vão os procura sob as areias do deserto; não vês que Deus os apagou da face da Terra? Roma! Esperas, pois, afrontar as leis da Natureza? Sou cristã, dizes, e Babilônia era pagã. Sim; mas, como ela, és de pedra, e um sopro de Deus pode dispersar essas pedras
amontoadas. O solo que treme à tua volta não está a te advertir que teu berço, que se acha sob teus pés, pode tornar-se o teu túmulo? Sou cristã, dizes, e Deus me protege! Mas ousas comparar-te a esses primeiros cristãos, que morriam pela fé, e cujos pensamentos já
eram deste mundo, tu que vives de prazeres, luxo e indolência? Lança os olhos sobre estas arenas, diante das quais passas com tanta indiferença; interroga estas pedras, ainda de pé, e elas te falarão, e a sombra dos mártires te aparecerá para dizer: Que fizeste da simplicidade, de que nosso divino mestre fez uma lei, de humildade e de caridade, cujo exemplo nos deu? Tinham palácios? Vestiam-se de ouro e seda esses primeiros propagadores do Evangelho? Suas mesas esbanjavam o supérfluo? Tinham coortes de servos inúteis para lhes adular o orgulho? Que há de comum entre ti e eles? Eles não buscavam senão os tesouros do Céu, e tu buscas os tesouros da Terra! Ó homens que vos dizeis cristãos,vendo o vosso apego aos bens perecíveis deste mundo, dir-se-ia realmente que não contais com os da eternidade. Roma! que te dizes imortal, possam os séculos futuros não buscar o teu lugar, como hoje é procurado o da Babilônia!

Dante

Observação – Por singular coincidência, estas duas últimas comunicações nos chegaram no mesmo dia. Embora tratando do mesmo assunto, vê-se que os Espíritos o encaram cada um do seu ponto de vista pessoal. O primeiro vê a Roma religiosa e, em sua opinião, eterna, porque será sempre a capital do mundo cristão; o segundo vê a Roma material e diz que nada do que os homens edificam é eterno. Aliás, sabe-se que os Espíritos têm suas opiniões e que podem divergir entre si na maneira de ver, quando ainda imbuídos das idéias terrestres; só os Espíritos mais puros estão isentos de preconceitos. Mas, pondo de lado a opinião, que pode ser controversa, não se poderá recusar a estas duas comunicações uma grande elevação de estilo e de pensamento e cremos que não seriam desabonadas pelos autores que levam seus nomes.

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