sábado, 19 de setembro de 2015

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970

Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A008 – Examinando a obsessão - 4ª parte

Examinando a obsessão – parte 04

O problema da obsessão, sob qualquer aspecto considerado, é também problema do próprio obsidiado.

Atormentada por evocações fixadas nas telas sensíveis do pretérito, a mente encarnada se encontra ligada à desencarnada, sofrendo, a princípio, sutis desequilíbrios que depois se assenhoreiam da organização cerebral, gerando deplorável estágio de vampirização, no qual vítima e verdugo se completam em conjugação dolorosa e prolongada.

A etiologia das obsessões é complexa e profunda, pois que se origina nos processos morais lamentáveis, em que ambos os comparsas da aflição dementante se deixaram consumir pelas vibrações degenerescentes da criminalidade que passou, invariavelmente, ignorada da coletividade onde viveram como protagonistas do drama ou da tragicomédia em que se consumiram.

Reencontrando-se, porém, sob o impositivo da Lei inexorável da Divina Justiça, que estabelece esteja o verdugo jugulado à vítima, pouco importando o tempo e a indumentária que os distancia ou caracteriza, tem Início o comércio mental, às vezes aos primeiros dias da concepção fetal, para crescer em comunhão acérrima no dia-a-dia da caminhada carnal, quando não precede à própria concepção...

Simples, de fascinação e de subjugação, consoante a classificação do Codificador do Espiritismo, é sempre de difícil extirpação, porquanto o obsidiado, em si mesmo, é um enfermo do espírito.

Vivendo a inquietação íntima que, lenta e seguramente, o desarvora, procede, de início, na vida em comum, como se se encontrasse equilibrado, para, nos instantes de soledade, deixar-se arrastar a estados anômalos sob as fortes tenazes do perseguidor desencarnado.

Ouvindo a mensagem em caráter telepático transmitida pela mente livre, começa por aceder ao apelo que lhe chega, transformando-se, por fim, em diálogos nos quais se deixa vencer pela pertinácia do tenaz vingador.

Justapondo-se sutilmente cérebro a cérebro, mente a mente, vontade dominante sobre vontade que se deixa dominar, órgão a órgão, através do perispírito pelo qual se identifica com o encarnado, a cada cessão feita pelo hospedeiro, mais coercitiva se faz a presença do hóspede, que se transforma em parasita insidioso, estabelecendo, depois, e muitas vezes em definitivo enquanto na luta carnal, a simbiose esdrúxula, em que o poder da fixação da vontade dominadora consegue extinguir a lucidez do dominado, que se deixa apagar...

Em toda obsessão, mesmo nos casos mais simples, o encarnado conduz em si mesmo os fatores predisponentes e preponderantes — os débitos morais a resgatar — que facultam a alienação.

Descuidado quase sempre dos valores morais e espirituais — defesas respeitáveis que constroem na alma um baluarte de difícil transposição —, o candidato ao processo obsessivo é irritável, quando não nostálgico, ensejando pelo caráter impressionável o intercâmbio, que também pode começar nos instantes de parcial desprendimento pelo sono, quando, então, encontrando o desafeto ou a sua vítima dantanho, sente o espicaçar do remorso ou o remorder da cólera, abrindo as comportas do pensamento aos comunicados que logo advirão, sem que se possa prever quando terminará a obsessão, que pode alongar-se até mesmo depois da morte...

Estabelecido o contacto mental em que o encarnado registra a interferência do pensamento invasor, soa o sinal alarmante da obsessão em pleno desenvolvimento...

Nesse particular, o Espiritismo, e somente ele, por tratar do estudo da (natureza dos Espíritos», possui os anticorpos e sucedâneos eficazes para operar a libertação do enfermo, libertação que, no entanto, muito depende do próprio paciente, como em todos os processos patológicos atendidos pelas diversas terapêuticas médicas.

Sendo o obsidiado um calceta, um devedor, é imprescindível que se disponha ao labor operoso pelo resgate perante a Consciência Universal, agindo de modo positivo, para atender às sagradas imposições da harmonia estabelecida pelo Excelso legislador.

Muito embora os desejos de refazimento moral por parte do paciente espiritual, é imperioso que a renovação íntima com sincero devotamento ao bem lhe confira os títulos do amor e do trabalho, de forma a atestar a sua real modificação em relação à conduta passada, ensejando ao acompanhante desencarnado, igualmente, a própria iluminação.

Nesse sentido, a interferência do auxílio fraterno, por outros corações afervorados à prática da caridade, é muito valiosa, favorecendo ao desencarnado a oportunidade de adquirir conhecimentos através da psicofonia atormentada, na qual pode haurir força e alento novo para aprender, meditar, perdoar, esquecer...

No entanto, tal empreendimento, nos moldes em que se fazem necessários, não é fácil.

Somente poucos Núcleos, dentre os que se dedicam a tal mister — o da desobsessão —, se encontram aparelhados, tendo-se em vista a tarefa que lhes cabe nos seus quadros complexos...

Na desobsessão, a cirurgia espiritual se faz necessária, senão imprescindível, muitas vezes, para que os resultados a colimar sejam conseguidos. Além desses, trabalhos especiais requisitam abnegação e sacrifício dos cooperadores encarnados, com natural doação em larga escala de esforço moral valioso, para a manipulação das condições mínimas psicoterápicas, no recinto do socorro, em favor dos desvairados a atender...

Nesse particular, a prece, igualmente, conforme preconiza Allan Kardec, «é o mais poderoso meio de que se dispõe para demover de seus propósitos maléficos o obsessor».

Por isso, em qualquer operação socorrista a que você seja chamado, observe a disposição moral do seu próprio espírito e ore, alçando-se a Jesus, a Ele pedindo torná-lo alvo dos Espíritos Puros, por meio dos quais, e somente assim, você poderá oferecer algo em favor de uns e outros: obsessores e obsidiados.

Examine, desse modo, e sonde o mundo íntimo constantemente para que se não surpreenda de um momento para outro com a mente em desalinho, atendendo aos apelos dos desencarnados que o seguem desde ontem, perturbados e infelizes, procurando, enlouquecidos, «com as próprias mãos fazer justiça», transformados em verdugos da sua serenidade.

Opere no bem com esforço e perseverança para que o seu exemplo e a sua luta solvam-sarando a dívida-enfermidade que o assinala, libertando-o da áspera prova antes de você caminhar, aflito, pela senda dolorosa... e purificadora.

Em qualquer circunstância, ao exercício nobre da mediunidade com Jesus, tanto quanto ao sublime labor desenvolvido pelas sessões sérias de desobsessão, compete o indeclinável ministério de socorro aos padecentes da obsessão no sentido de modificarem as expressões de dor e angústia que vigem na Terra sofrida dos nossos dias.

*

a) Obsessões especiais

Ninguém se equivoque! Obsessores há desencarnados, exercendo maléfica ínfluenciação sobre os homens, e encarnados, de mente vigorosa, exercendo pressão deprimente sobre os deambulantes da Erraticidade.

O comércio existente entre os Espíritos e as criaturas da Terra, em regime de perseguição, é paralelo ao vigente entre os homens e os que perderam a indumentária física.

Obsessões especiais também identificamos, que são produzidas por encarnados sobre encarnados.

O pensamento é sempre o dínamo vigoroso que emite ondas e que registra vibrações, em intercâmbio ininterrupto nas diversas faixas que circulam a Terra.

Mentes viciadas e em tormento, não poucas vezes escravas da monoidéia obsessiva, sincronizam com outras mentes desprevenidas e ociosas, gerando pressão devastadora.

Aguilhões frequentes perturbam o comportamento de muitas criaturas que se sentem vinculadas ou dirigidas por fortes constrições nos painéis mentais, inquietantes e afligentes... Muitos processos graves de alienação mental têm início quando os seres constrangidos por essa força possuidora, ao invés de a repelirem, acalentam-lhe os miasmas pertinazes que terminam por as-senhorear-se do campo em que se espalham.

Em casos dessa natureza, o agente opressor influencia de tal forma o paciente perturbado que não é raro originar-se o grave problema do vampirismo espiritual por processo de absorção do plasma mental. Quando em parcial desprendimento pelo sono, o espírito parasita busca a sua vítima, irresponsável ou coagida, prosseguindo no nefando consórcio nessas horas que são reservadas para edificação espiritual e renovação da paisagem orgânica. Produzida a sintonia deletéria mui dificilmente aqueles que alojam os pensamentos infelizes conseguem libertar-se.

Nos diversos problemas obsessivos, há que examiná-los para selecionar os que procedem do continente da alma encarnada e os que se vinculam aos quadros aflitivos do mundo espiritual.

O ódio tanto quanto o amor desvairado constituem elementos matrizes dessas obsessões especiais. O ódio, pela fixação demorada acerca da vindita, cria um condicionamento psíquico que emite ondas em direção segura, envolvendo o ser almejado que, se não se encontra devidamente amparado nos princípios superiores da vida, capazes de destruírem as ondas invasoras, termina por se deixar algemar.

E o amor tresloucado que se converte em paixão acerba, devido ao tormento que se impõe quanto à posse física do objeto requestado, conduz o espírito que está atormentado à visitação, a princípio de alma nos períodos do sono reparador, até criar a intercomunicação que degenera em aflitivo quadro de desgaste orgânico e psíquico, não somente do vampirizado, como também mediante a alucinação do vampirizador.

Em qualquer hipótese, no entanto, as diretivas clarificantes da mensagem de Jesus são rotas e veículos de luz libertadora para ensejar a uns e outros, obsidiados e obsessores, os meios de superação.

Nesse sentido, a exortação de Allan Kardec em torno do trabalho é de uma eficácia incomum, porque o trabalho edificante é mecanismo de oração transcendental e a mente que trabalha situa-se na defensiva. A solidariedade é como uma usina que produz a força positiva do amor, e, como o amor é a causa motriz do Universo, aquele que se afervora à mecânica da solidariedade sintoniza com os Instrutores da ordem, que dirigem o Orbe. E a tolerância, que é a manifestação desse mesmo amor em forma de piedade edificante, transforma-se em couraça de luz, vigorosa e maleável, capaz de destruir os petardos do ódio ultriz ou os projéteis do desejo desordenado, porqüanto, na tolerância fraternal, se anulam as vibrações negativas desta ou daquela procedência.

Assim sendo, a tríade recomendada pelo Egrégio Codificador reflete a ação, a oração e a vigilância preconizadas por Jesus — processos edificantes de saúde espiritual e ponte que alça o viandante sofredor da Terra ao planalto redentor das Esferas Espirituais, livre de toda a constrição e angústia.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – Nos primeiros parágrafos do texto, Manoel Philomeno apresenta uma rápida dinâmica do processo obsessivo. Comente-o

2 – O Espiritismo possui terapêutica indispensável para operar a libertação obsediado/obsessor, por diversas razões. Apesar disso, o autor afirma que “somente poucos Núcleos (…) se encontram aparelhados” para tal tarefa. Por quê?

3 – De que modo o sono pode atuar como elemento que consolida o processo obsessivo?

4 – Qual é a tríade recomendada pelo Codificador para o sucesso do tratamento de desobsessão?

Bons estudos!

Sala Manoel Philomeno/CVDEE

Nenhum comentário:

Postar um comentário