sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Revista Espírita - ABRIL DE 1863 - Resultado da Leitura das Obras Espíritas


Jornal de Estudos Psicológicos
ANO VI
ABRIL  DE 1863

Resultado da Leitura das Obras Espíritas

Eu estava nessa situação quando o Espiritismo veio tirar-me do lamaçal de provas e de incertezas, onde me afundava cada vez mais, malgrado os esforços que fazia para sair.
Durante dois anos ouvi falar do Espiritismo sem lhe prestar uma atenção séria. Como diziam seus adversários, eu julgava que um novo charlatanismo se havia infiltrado entre os outros. Mas, enfim, cansado de ouvir falar de uma coisa, da qual realmente não conhecia senão o nome, resolvi instruir-me. Então adquiri O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Li, ou melhor, devorei essas duas obras com tal avidez e satisfação que é impossível definir. Qual não foi minha surpresa, lançando os olhos sobre as primeiras páginas, ao ver que se tratava de filosofia moral e religiosa, quando eu esperava ler um tratado de magia, acompanhado de histórias maravilhosas! Logo a surpresa deu lugar à convicção e ao reconhecimento. Quando terminei a leitura, percebi com felicidade que era espírita há muito tempo. Agradeci a Deus, que concedia este insigne favor. Doravante poderei orar sem temer que minhas preces se percam no espaço e suportarei com alegria as tribulações desta breve existência, sabendo que a minha miséria atual não passa de justa conseqüência de um passado culposo ou um período de prova para alcançar um futuro melhor.
Não mais a dúvida! A justiça e a lógica nos desvendam a verdade; e nós aclamamos com felicidade esta benfeitora da Humanidade.
É quase inútil dizer-vos, meu caro mestre, quão grande era o meu desejo de ser médium; assim, estudei com grande perseverança. Depois de alguns dias de observação, reconheci que era médium intuitivo; meu desejo só se realizara parcialmente, pois desejava vivamente ser médium mecânico.
A mediunidade intuitiva deixa por muito tempo a dúvida no espírito de quem a possui. Para dissipar todos os meus escrúpulos a respeito, tive de assistir a algumas sessões de Espiritismo, a fim de poder fazer uma comparação entre a minha mediunidade e a dos outros médiuns. Foi então que compreendi o acerto de vossa recomendação, que prescreve ler antes de ver, se se quiser ficar convencido; porque, posso dizer-vos francamente, nada vi de convincente para um incrédulo. Eu daria tudo para ter sido admitido no número daqueles que a Providência colocou sob a direção imediata de nosso bem-amado chefe, porque pensava que as provas deviam ser mais palpáveis, mais freqüentes na Sociedade que presidis. Apesar disso, não fiquei nisso; convidei alguns médiuns escreventes, videntes e desenhistas a se reunirem comigo para o trabalho comum. Foi então que tive a alegria de testemunhar fatos surpreendentes e obter as provas mais evidentes da excelência e da sinceridade do Espiritismo. Pela segunda vez eu estava convencido!
Junto a esta carta, já bem longa, algumas das minhas comunicações. Ficaria contente, meu caro mestre, se vos fosse possível dar-lhes uma olhadela e julgar de seu valor. Do ponto de vista moral eu as considero irrepreensíveis; mas do pondo de vista literário... Como não estou apto a julgá-las, abstenho-me de qualquer apreciação. Se, contra minha expectativa, encontrardes alguns fragmentos que mereçam ser entregues à publicidade, peço que vos sirvais deles à vontade; para mim seria uma grande felicidade poder levar o meu tijolo à construção do grande edifício.
Daria grande valor a uma resposta pessoal, caro mestre, mas não ouso solicitá-la, por saber da impossibilidade material em que vos achais de responder a todas as cartas que vos são enviadas.
Termino, enfim, rogando que me perdoeis esta extrema liberdade, esperando possais acreditar na sinceridade daquele que tem a honra de se dizer um dos vossos mais fervorosos admiradores e vosso muito humilde servidor.
Michel,
Rua Bouteille, 25, Lyon

_Enviado por: "Joel Silva"

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