Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão –
Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda,
psicografia de Divaldo Pereira Franco
A022
– Cap. 8 – Processos Obsessivos – Primeira Parte
À medida que os serviços de socorro a Mariana prosseguiam,
fazia-se indispensável remover as raízes profundas da obsessão que, através das
vinculações de Guilherme a Teofrastus, se tornaram mais complexas.
Estando o lar do Sr. Mateus sob o assédio de entidades
viciosas outras, pertencentes ao clã Teofrastus, que mantinham estreito
comércio com Marta, a filha mais velha, o movimento de desencarnados era muito
expressivo, em atividade contínua e de resultados nefastos.
Portadora de mediunidade com amplas possibilidades,
Marta reencarnara ligada a comensais do erro em que derrapara espontaneamente
em existência pregressa. Aquinhoada com os recursos psíquicos do intercâmbio
espiritual, deveria aplicar as forças de ordem paranormal ao serviço do bem e
da caridade, de modo a auto-iluminar-se, iluminando por sua vez os que se lhe
vinculavam pelos fortes liames das dívidas. Conquanto houvesse conhecido o
serviço da mediunidade sublimada sob as bênçãos de Jesus, na União Espírita
Baiana, preferira o círculo das baixas vibrações em que se demorava, atendendo
a vigorosa hipnose de entidades infelizes e impiedosas que lhe dominavam o
campo mental, amplamente afetado. Dizendo-se ligada aos graves conúbios com
antigos escravos do Brasil, ainda dirigidos por ódios demorados, fascinava-a as
incursões no terreno do «candomblé», inexperiente e insensata, em cujos segredos procurava aprofundar-se,
penetrando lamentavelmente em grosseiras burlas, que a conduziam a dolorosos
processos de possessão paulatina e segura.
Dirigida por mentes tenazes, irreversivelmente portadoras
de alta dose de rancor, fazia-se dócil instrumento para as consultas da
irresponsabilidade, aliciando outros cômpares para o vampirismo que grassa em
larga escala nos diversos departamentos da crosta terrestre, entre os seres
invigilantes e pretensiosos.
Não poucas vezes, dirigida pelos famanazes espirituais da
rebeldia, adentrava-se, noite alta, pelas necrópoles da cidade em busca de
despojos humanos para os infelizes serviços
a que se entregava, conduzindo de volta ao lar verdadeiras legiões de
sofredores revoltados que se lhe vinculavam em longo processo perturbador de
que no momento não se apercebia, fascinada como se encontrava pela própria
sandice.
As orações de Dona Rosa e Amália eram o único lume aceso
no labirinto em que se debatiam as forças desencontradas ali operando em guerra
de longo curso. O poder da oração e a vida de elevação santificante, no
entanto, são capazes, embora a aparente fraqueza de que se revestem, de anular
toda a treva, blindando de segurança qualquer circunstância. Embora ignorando
que fosse o seu ninho de sonhos doridos um reduto de espíritos desditosos, Dona
Rosa sentia a exsudação psíquica que empestava o ambiente, reservando-se maior
dose de confiança no Pai, que a amparava benigno, defendendo-a e aos outros
membros da família dos miasmas dominantes na atmosfera do lar. Entidades
afeiçoadas igualmente, serventuárias do amor, visitavam com freqüência a
família Soares, dispensando a todos socorro e assistência contínua, de modo a
impedir que os sequazes da criminalidade ali dominassem em toda a extensão.
Não eram apenas os Espíritos perturbados da esfera dos desencarnados.
Muitos perdulários buscavam os serviços de Marta tentando, através de
conciliábulos com as mentes nefandas, resultados para mil aventuras a que se
afeiçoavam no jogo ilusório das paixões terrenas. Eram pessoas que perderam
objetos de estimação e esperavam encontrar, nos Espíritos, interessados
caçadores de precisão; mulheres amadurecidas que não lobrigaram consorciar-se e
que desejavam transformar os Espíritos em instrumentos dos seus desejos; esposas
infelizes que sofriam a falência do matrimônio, recorrendo ao concurso de
entidades mentirosas que lhes modificassem a paisagem doméstica; criaturas
desempregadas que contavam com solução para a aquisição de trabalho de
remuneração expressiva; escravos do ódio que se acreditavam vitimados por este
ou aquele adversário, solicitando revide e desforço imediato; mentes
desvairadas, ancilosadas pelo vício, rogando solução para problemas
complexos... Atendidos no «consultório» reservado de Marta, que mantinha
pequeno casebre para o seu infeliz comércio, muitas vezes, conquanto a
severidade de Dona Rosa, eram recebidos clientes no próprio lar, em cuja
oportunidade apresentava receitas e exigia materiais
para os trabalhos por meio dos quais informava resolver qualquer situação
penosa, liberando de problemas os seus consulentes.
Portadora de psicofonia sonambúlica atormentada, vidência
e audiência dirigidas por cruéis verdugos desencarnados, a obsidiada vivia
relacionada com Espíritos ociosos que lhe prestavam informes seguros sobre os
seus visitadores, informações essas que surpreendiam agradàvelmente quantos a
buscavam, interesseiros e levianos.
Sempre ávidos de novidades, sem o interesse de conhecer
a realidade da vida espiritual após a sepultura, as pessoas ainda hoje preferem
da realidade espírita conhecer somente o que consideram fantástico e sobrenatural,
teimando voluntariamente em permanecer no erro.
Assim se quedavam fascinadas quando a sensitiva lhes
explicava os diversos problemas, pormenorizando detalhes e apresentando
soluções fáceis quanto mágicas para eles. É certo que os Espíritos, conquanto
perturbados em si mesmos, podem fazer incursões no terreno material e
informar-se sobre muitas coisas do plano físico em que se demoram os homens,
pois que a morte não lhes arrebatou a inteligência nem lhes anulou o
raciocínio. São capazes, obviamente, de acompanhar as criaturas, dar-lhes
assistência e inteirar-se das ocorrências do caminho humano, apresentando
circunstanciados relatórios, como se houvessem podido, por sortilégios
estranhos, possuir o «dom» do conhecimento. Conseguindo êxito no primeiro
tentame, o da informação, produziam os demais planos verdadeira consagração
nos invigilantes que se comprazem na «lei do menor esforço» e que ainda se
reservam o direito de manter o cativeiro, que, embora desaparecido da Terra,
continua em outros círculos do mundo espiritual em lastimáveis processos. Ainda
hoje é muito comum escutarem-se aqueles que dizem ter «um espírito às suas
ordens», que os ajuda, atendendo-os com «fidelidade de cão». Invariavelmente se
ligam a antigos escravos que a desencarnação não libertou e que prosseguem, na
sua ignorância quanto às realidades da vida, no vicioso intercâmbio com as
consciências da Terra, dominados ou dominadores — o que também ocorre, modificando-se
então o tipo de escravidão que é o predomínio do desencarnado sobre o
encarnado —, quase sempre em profunda perturbação. Vaidosos, os homens não
atentam ao dever da solidariedade nem da caridade, considerando-se credores de
socorros e ajudas que estão muito distantes de merecer. Asfixiados pelo «eu,
dominador, supõem que a vida deve servi-los e que o barro orgânico é edifício
para o seu supremo prazer... Nesses homens e mulheres desprevenidos da
realidade do além-túmulo, consciências livres e ironizantes estabelecem jugos
de dominação que degeneram em enfermidades de etiologia difícil para a
medicina humana, e que não acabam sequer com o advento da desencarnação...
Aí estão, todavia, claras e puras as lições do Cristianismo,
ora revividas na Doutrina Espírita, clamando quanto às responsabilidades de
cada um em relação a si mesmo e ao próximo; vibram os pensamentos de Jesus,
arrancados do silêncio dos séculos, convidando ao amor, à santificação da vida;
sublimes vozes da Imortalidade proclamam a Era da Luz combatente contra a
treva; venerandos desencarnados retornam e revivem os conceitos imortalistas da
verdade, cantando a excelência dos Mandamentos; ilações excelentes quanto às
causas e aos efeitos dos sofrimentos e das ações são apresentadas por antigas
celebrações que dignificariam a existência entre os homens; mortos queridos ressuscitam do sepulcro
vazio para consolarem e animarem, levantando o moral e estimulando ao dever;
guias e condutores da Humanidade reassumem a direção do pensamento da Terra,
pregando esperanças, dirimindo dúvidas, plasmando diretrizes de paz; obreiros
da compaixão retornam e tomam das mãos dos homens, com mãos intangíveis, para
os conduzirem a retas atitudes, e uma sinfonia de bênçãos em forma de melodia
de justiça, amor e caridade, envolve a Humanidade como se os anjos da noite
santa do Natal voltassem a repetir: «Glória a Deus nas alturas e paz na Terra
entre os homens de boa vontade»! Os ouvidos das criaturas, porém, ante as
atroadas dos desesperos, os olhos queimados pelo incêndio das paixões, os
sentimentos crestados pelo vazio da volúpia e os cérebros abrasados pela
sofreguidão do poder parecem não registrar tão sublime sementeira de luz, não
sentir tão grandiosa epopeia de vida!...
O triunfo do Consolador prometido por Jesus, ora entre
nós, ainda não atingiu o climax. Ele, porém, repetindo as «vozes dos Céus»,
prosseguirá no desiderato da verdade, semeando bênçãos, embora as pequenas colheitas
de amor, e ficará até o «fim dos tempos».
A missão do Espiritismo é a mesma do Cristianismo das
primeiras e refulgentes horas do caminho e das arenas: levantar o homem do
abismo do «eu» e alçá-lo às culminâncias da fraternidade, após galgado o monte
da sublimação evangélica redentora.
Transitório o período das trevas, prepara ele as
consciências para o despertamento da verdade.
Saturado das vibrações ultrajantes, o espírito humano
buscará, invadido por incomparável sede de renovação, as fontes inefáveis do
bem, mergulhando demoradamente nas suas águas refrescantes...
Assim considerando e diante das esperanças e consolações
que nos aguardam, os nefandos labores da atormentada quimbandista nos inspiravam funda compaixão, compaixão que também
nos merecem aqueles que buscam os desvios da leviandade para enganarem a consciência,
tentando a fuga espetacular às linhas do dever. Não poderão alegar
desconhecimento da verdade, nem se justificarão como ignorantes do
auxílio dos recursos divinos; lamentarão sem poderem fruir o consolo
reservado aos que se esforçaram em perseverar na augusta direção do bem;
chorarão sem lenitivo, por desprezo àimpostergável mensagem do «fazer ao
próximo o que deseja lhe faça ele»; sofrerão demoradamente longe do recurso da
prece, de que se utilizaram mecanicamente, sem qualquer respeito, fazendo-a
instrumento de capricho infantil antes que veículo de comunhão com o Senhor...
São os que se encarceram nos presídios sem paredes da mente desalinhada e
tormentosa, O tempo, porém, que de tudo se encarrega, cuidará dos sandeus com a
mesma mestria que liberta os humildes, os pacificadores, os simples de
coração... herdeiros da Terra!
QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL
1) O que fazia Marta para sofrer o assédio dos
Espíritos viciosos?
2) Marta estava consciente do processo obsessivo
que vivenciava? Por quê?
3) Os obsessores de Marta conseguem prejudicar o
lar e influenciar outros familiares?
4) O que pode ser feito para auxiliar Marta?
Um abraço a todos!
Equipe Manoel Philomeno
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