Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB
- 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia
de Divaldo Pereira Franco
A028 – Cap. 11 – As agressões–
Primeira Parte
11- As agressões
Para
o espírita decidido, a tranquilidade de consciência, ante o dever retamente
cumprido, é o melhor prêmio que ele pode oferecer a si mesmo. Esse era o estado
que nos dominava, enquanto estavam em curso as tarefas a que os problemas da
família Soares nos convocaram e que, por mercê de Deus, fôramos honrados pela
oportunidade de servir.
Não
poucas vezes nos surpreendíamos empolgados pelas evocações, que, conquanto não
tivessem toda a clareza que gostaríamos de experimentar, se nos apresentavam em
painéis de recordação agradável. Mesmo quando a memória registrava os fatos com
as tintas sombrias de pesadelos, em que à receio assomava incontrolável,
lembrávamo-nos do Mestre Inconfundível, do que Lhe custara descer aos homens e
experimentar sem queixa a convivência com as paixões humanas, suportando o
fardo pesado das incompreensões dos que O cercavam, acostumados conforme viviam
com as questiúnculas do imediatismo. O estoicismo do amor de Jesus dava-nos
forças e coragem para prosseguir, sentindo a felicidade de viver entre os dois
mundos que se interpenetram e cujas fronteiras mais não são do que uma fimbria
divisória, um claro-escuro de tênues colorações difíceis de definir e
delimitar. Nesse sentido e sob outros vários aspectos o Espiritismo se nos
apresenta como o roteiro de segurança para o equilíbrio do espírito do homem.
Desfazendo
as ilusões da matéria e vencendo as sombras transitórias que vedam as visões do
Mundo Espiritual, apresenta-nos as causas reais de cujos efeitos e somente
neles, até agora, se há detido o pensamento da pesquisa tecnológica; suas
asseverações rigorosamente filosóficas conseguiram avançar além da própria Filosofia
no seu conjunto classicista, porque, em saindo da interrogação pura e simples,
da indagação meramente vazia e das conjunturas das hipóteses, traz das
realidades metafísicas as soluções morais e vitais para o enigma-homem, que se
deixa de quedar perturbado pelas incógnitas diversas, para palmilhar a senda
dos fatos, de cujo contexto extrai a realidade ontológica legítima que o
capacita a avançar intimorato, embora as circunstâncias, condições e climas
morais sob cuja constrição evolute na direção do Infinito. Sim, porque não são
os homens apenas que realizam espontaneamente incursões no além-túmulo, mas, e
principalmente, os vitoriosos da sepultura vencida que retornam, cantando a
ressurreição da vida após a lama e a cinza do corpo, a repetirem incessantemente
a lição imorredoura do Cristo, na manhã gloriosa do domingo, logo após a sua
morte, como Astro fulgurante, atestando desse modo a indestrutibilidade do
espírito e, consequentemente, as sucessivas transformações da vida para atingir
a sublimação. Religião do amor e da esperança, pábulo eucarístico pelo qual o
homem pode comungar com a imortalidade, é o lenitivo para a saudade do
desconforto ante a ausência dos seres amados que o túmulo arrebatou, mas não
lhes conseguiu silenciar a voz; esperança dos padecentes que sofrem as ácidas
angústias de hoje, compreendendo serem elas o resultado da própria insânia do
passado, porém, com os olhos fitos na esplendorosa visão do amanhã, que lhes
está nas mãos apressar e construir; praia de paz, na qual repousam em dinâmica
feliz os nautas aflitos e cansados do trânsito difícil no mar das lutas
carnais; santuário de refazimento através da prece edificante; escola de almas,
que aprendem no estudo das suas informações preciosas e das suas lições
insuperáveis a técnica de viver para fruirem a bênção de morrer nobremente;
hospital de refazimento para os trânsfugas do dever, que nele encontram o
bálsamo para a chaga física, mental ou moral; todavia, recebem a diretriz para
amar e perdoar, a fim de serem perdoados e amados pelos que feriram e
infelicitaram; “colo de mãe” generosa é o amparo da orfandade, preparando-a
para o porvir luminoso, já que ninguém é órfão do amor do Nosso Pai; abrigo da
velhice, portal que logo abrirá de par-em-par a aduana da Imortalidade; oficina
de reeducação onde a miséria desta ou daquela natureza encontra a experiência
do trabalho modelador de caracteres a serviço das fortunas do amor; traço de
união entre a criatura e o Criador, religando-os e reaproximando-os, até que a
plenitude da paz possa cantar em cada criatura, à semelhança do que o Apóstolo
das Gentes afirmava: «Já não sou eu o que vivo, mas é o Cristo que vive em
mim...) (Gálatas, capítulo 2, versículo 20.)
As
altas responsabilidades consequentes do conhecimento do Espiritismo forjam homens
verazes, cristãos legítimos. Neles não há campo para a coexistência pacífica do
erro com a retidão, da mentira com a verdade, da dissimulação com a
honestidade, da lealdade com a hipocrisia, da maledicência com a piedade
fraternal, da ira com o amor... Compreendendo que ser espírita é traçar na
própria conduta o comportamento do Cristo, a exemplo de todos aqueles que O
seguiram, e consoante preceitua o eminente apóstolo Allan Kardec, o aprendiz da
lição espírita é alguém em combate permanente pela própria transformação moral,
elevação espiritual e renovação mental, com vistas à perfeição que a todos nos
acena e espera.
Sem
dúvida, sentíamos a fragilidade das nossas fracas forças e buscávamos na prece
o refúgio, e na meditação o refazimento, haurindo energias e vitalidade para
atravessar bem os dias do trabalho superior no qual nos encontrávamos, e cujo
êxito, em grande parte, dependia da contribuição que pudéssemos oferecer. Com
muita propriedade se assevera que a insegurança de uma muralha está na pedra
que se encontre mal colocada; arrancada esta, mais fácil se faz conseguir-se
deslocar outra, e assim sucessivamente.
Pairando
sempre sobre todos nós o Espírito do Senhor, convinha-nos e nos convém não
desfalecer na luta.
Com
tais pensamentos irrigando-nos a mente, no encontro imediato à excelente
entrevista mantida com o irmão Teofrastus, pela psicofonia cristalina do médium
Morais, o Benfeitor Saturnino elucidou-nos de que as operações espirituais em
andamento, com o consequente deslocamento do diretor do Anfiteatro, em breve se
refletiriam entre os demais componentes dos diversos Grupos de Espíritos
Infelizes ligados ao mal, de maneira negativa, e que, logo se refizessem do
choque, arremeteriam violentos, tentando uma revanche injustificável,
perniciosa e de resultados para eles sempre mais danosos. Convinha que nos
mantivéssemos nos padrões do Cristo para, resguardados, por nossa vez
resguardarmos os resultados superiores da empresa da luz.
Devidamente
esclarecidos e também fortificados, continuamos nas tarefas habituais, da
propaganda espírita, quando, uma semana depois, começamos a experimentar, quase
todos nós, os encarnados participantes do labor abençoado, singular melancolia
e alguns traços de irritabilidade no comportamento...
Não
ignorávamos que algumas das técnicas de que se utilizam os perseguidores de
encarnados atormentados que buscam o concurso do Espiritismo são, em diversos
casos: o aumento da agressão às suas vítimas a fim de lhes darem idéias falsas
de que a frequência às sessões lhes acarretaram maior dose de sofrimento,
inspirando-as a debandarem, após o que, então, cessam de inopino a constrição
obsessiva, fazendo crer que a melhora decorreu do abandono àqueles compromissos
repentinos, para voltarem mais ferozes, mais cruéis, mais implacáveis quando
tais pacientes, invigilantes quase sempre, lhes favorecem o campo fisiológico e
psíquico com recursos adequados à continuação dolorosa da perseguição insana.
De outras vezes agem de maneira bem característica: logo que seus clientes
começam a honesta participação no estudo. e na tarefa espiritista da própria
libertação, seja porque a modificação no campo mental lhes impede o intercâmbio
com a mesma facilidade, seja por tática de estratégia belicosa, afastam se
temporariamente os perseguidores, permanecendo, porém, em contínua vigília; os
incautos, logo experimentam a falsa liberação, reconhecem a desnecessidade do
conhecimento clarificador e se dizem comprometidos com programas sociais e de
outra ordem, transferindo para o futuro os deveres espirituais, e partem,
lépidos, a gozar... Afirmam-se reconhecidos ou consideram a coincidência da
cura, exatamente quando passaram a examinar o problema sob a luz do
Espiritismo, mas lamentam as circunstâncias que os obrigam a um temporário afastamento...
Quando a questão já lhes parece vencida, sem que as dívidas tenham sido
necessariamente resgatadas, desde que nada fizeram por corresponder à confiança
da Vida, eis que os verdugos perseverantes, que os seguem, retornam vigorosos e
mais constringentes se fazem, com altas doses de fereza, sem que os obsidiados
contem com quaisquer recursos a seu favor, considerando que nada providenciaram
para a hora da aflição e do desconforto...
Não
desconhecíamos que em todo processo de desobsessão, se a vigilância, a oração e
o jejum moral são condições essenciais, o otimismo e o bom-humor não podem ser
relegados para trás. Tristeza é nuvem nos olhos da saúde e irritabilidade é
tóxico nos tecidos da paz...
QUESTÕES PARA ESTUDO
1 – O narrador afirma que o Espiritismo
é capaz de promover em alguém um constante combate pela própria transformação
moral, produzindo, assim, cristãos verdadeiros. A que se deve esta capacidade
do Espiritismo? E como construir cristãos verdadeiros?
2 – Por que parte dos integrantes da
equipe de desobsessão da Casa Espírita estava experimentando certa melancolia e
irritabilidade após os trabalhos com Dr. Teofrastus?
3 – Explique as duas técnicas de
obsessão narradas por Manoel Philomeno.
Bom estudo a todos!!
Equipe Manoel Philomeno
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