quinta-feira, 16 de março de 2017

Revista Espírita - Dezembro 1863 - Período da Luta

REVISTA ESPIRITA
JORNAL
DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
DEZEMBRO 1863

PERÍODO DA LUTA.

O primeiro período do Espiritismo, caracterizado pelas mesas girantes, foi o da curiosidade. O segundo foi o período filosófico, marcado pela aparição de O Livro dos Espíritos. Desde esse momento o Espiritismo tomou um caráter diferente; foram entrevistos o objetivo e a importância, nele se hauriu a fé e a consolação, e a rapidez de seus progressos foi tal que nenhuma outra doutrina, filosófica ou religiosa, ofereceu igual exemplo.
Mas, como todas as idéias novas, teve adversários tanto mais obstinados quanto a idéia era maior, porque toda grande idéia não pode se estabelecer sem ferir interesses; é necessário que ela tome lugar, e as pessoas deslocadas não podem vê-la com bom olhar; depois, ao lado das pessoas interessadas estão aqueles que, por sistema, sem motivos precisos, são os adversários natos de tudo o que é novo.
Nos primeiros anos, muitos duvidaram de sua vitalidade, foi porque lhe deram pouca atenção; mas quando o viram crescer apesar de tudo, se propagar em todas as classes da sociedade e em todas as partes do mundo, tomar seu lugar entre as crenças e tornar-se uma potência pelo número de seus adeptos, os interesses na conservação das idéias antigas se alarmaram seriamente. Foi então que uma verdadeira cruzada foi dirigida contra ele, e que começou operíodo da luta, do qual o          auto-de-fé de Barcelona, de 9 de outubro de 1860, de alguma sorte, foi o sinal. Até ali, tinha sido alvo dos sarcasmos da incredulidade que ri de tudo, sobretudo do que não compreende, mesmo das coisas mais santas, e às quais nenhuma idéia nova pode escapar: foi o seu batismo do trópico; mas os outros não riem mais: se olham coléricos, sinal evidente e característico da importância do Espiritismo. Desde esse momento os ataques tomaram um caráter de violência estranha; a palavra de ordem foi dada; sermões coléricos, pastorais, anátemas, excomunhões, perseguições individuais, livros, brochuras, artigos de jornais, nada foi poupado, nem mesmo a calúnia.
Estamos, pois, em pleno período da luta, mas ele não acabou. Vendo a inutilidade do ataque a céu aberto, vai se tentar a guerra subterrânea, que já se organiza e começa; uma calma aparente vai se fazer sentir, mas é a calma precursora da tempestade; mas também, à tempestade, sucede um tempo sereno. Espíritas, sede-o, pois, sem inquietação, porque o resultado não é duvidoso; a luta é necessária, e o seu triunfo não será senão mais brilhante. Eu disse, e o repito: vejo o objetivo, sei quando e como será alcançado. Se vos falo com esta segurança, é que tenho para isso razões sobre as quais a prudência quer que me cale, mas as conhecereis um dia. Tudo o que posso vos dizer é que poderosos auxiliares virão, que fecharão a boca a mais de um detrator. No entanto, a luta será viva, e se, no conflito, houver algumas vítimas de sua fé, que elas disso se alegrem, como o fizeram os primeiros mártires cristãos, dos quais vários estão entre vós para vos encorajar e vos dar o exemplo; que elas se lembrem destas palavras do Cristo:
"Bem aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Sereis felizes quando os homens vos carregarem de maldições, e que vos perseguirem, e que disserem falsamente toda espécie de mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos, então, e estremecei de alegria, porque uma grande recompensa vos está reservada nos céus; porque foi assim que perseguiram os profetas que vieram antes de vós." (São Mateus, cap. VI, v. 10, 11, 12.)
Estas palavras não parecem ter sido ditas para Espíritas de hoje como para apóstolos de então? é que as palavras do Cristo têm isto de particular, que são de todos os tempos, porque sua missão era para o futuro, como para o presente.
A luta determinará uma nova fase do Espiritismo e conduzirá ao quarto período, que será operíodo religioso; depois virá o quinto, período intermediário, conseqüência natural do precedente, que receberá mais tarde sua denominação característica. O sexto e último período será o da renovação social, que abrirá a era do século vinte. Nessa época, todos os obstáculos à nova ordem de coisas queridas por Deus, para transformação da Terra, terão desaparecido; a geração que se levanta, imbuída de idéias novas, será toda a sua força, e preparará o caminho daquela que inaugurará o triunfo definitivo da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença pela prática da lei evangélica. Assim serão verificadas as palavras do Cristo, que todas devem receber seu cumprimento, e das quais várias se cumprem nesta hora, porque os tempos preditos são chegados. Mas é em vão que, tomando a figura pela realidade, procureis os sinais no céu: estes sinais estão ao vosso lado e surgem de toda parte.
É notável que as comunicações dos Espíritos tiveram um caráter em cada período: no primeiro eram frívolas e levianas; no segundo eram sérias e instrutivas; no terceiro pressentiram a luta e suas diferentes peripécias. A maioria daquelas que se obtêm hoje, nos diferentes centros, têm por objeto premunir os adeptos contra as astúcias de seus adversários. Por toda a parte, pois, as instruções são dadas sobre este assunto, como por toda parte um resultado idêntico é anunciado. Esta coincidência, sobre este ponto como sobre outros, não é um dos fatos menos significativos. A situação se acha completamente resumida nas duas comunicações seguintes, das quais mais de um Espírita já pôde reconhecer a verdade.
  
Enviado por: "Joel Silva" 


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