quarta-feira, 29 de março de 2017

Revista Espírita - Dezembro 1863 - O dever

REVISTA ESPIRITA
JORNAL
DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
DEZEMBRO 1863
O dever.
(Sociedade Espírita de Paris, 20 de novembro de 1863. Médium, Sr. Costel.)
O dever é a obrigação moral, diante de si mesmo primeiro, e dos outros em seguida; o dever é a lei da vida, e se encontra nos mais ínfimos detalhes, tanto quanto nos atos elevados. Não vou falar aqui senão do dever moral, e não daquele que as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é o mais difícil de cumprir, porque ele se encontra em antagonismo com as seduções do instinto e do coração; suas vitórias não têm testemunhas, e suas faltas não têm repressão. O dever íntimo do homem está entregue ao seu livre arbítrio; o aguilhão da consciência, esse guardião da probidade interior, o adverte e o sustenta; mas, freqüentemente, permanece impotente diante dos sofismas e da paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem; mas esse dever, como precisa-lo? Onde começa? Onde se detém? Começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou o repouso de vosso próximo; termina no limite que não quereríeis fosse ultrapassado com relação a vós mesmos.
Deus criou todos os homens iguais para a dor; pequenos ou grandes, ignorantes ou esclarecidos, sofrem pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue judiciosamente o mal que pode fazer. O mesmo critério não existe para o bem, infinitamente mais variado em suas expressões. A igualdade diante da dor é uma sublime previdência de Deus, que quer que seus filhos, instruídos pela experiência comum não cometam o mal argumentando com a ignorância de seus efeitos.
O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que afronta às angústias da luta; é austero e simples; pronto a dobrar-se as diversas complicações, e permanece inflexível diante de suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais que as criaturas, a as criaturas mais do que a si mesmo; é, ao mesmo tempo, juiz e escravo em sua própria causa. O dever é o mais belo laurel da razão', depende dela, como o filho depende de sua mãe. O homem deve amar o dever, não porque o preserva dos males da vida aos quais a Humanidade não pode se subtrair, mas porque dá, à alma, o vigor necessário ao seu desenvolvimento. O homem não pode afastar o cálice de suas provas; o dever é penoso em seus sacrifícios; o mal é amargo em seus resultados; mas essas dores, quase iguais, têm conclusões muito diferentes: uma é salutar como os venenos que restituem a saúde, a outra é nociva como os festins que arruinam o corpo. O dever cresce e irradia sob uma forma mais elevada em cada uma das etapas superiores da Humanidade. A obrigação moral não cessa jamais da criatura para com Deus; ela deve refletir as virtudes do Eterno, que não aceita um esboço imperfeito, porque quer que a beleza de sua obra resplandeça diante dele.
LÁZARO.

 Enviado por: "Joel Silva" 

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