sexta-feira, 14 de abril de 2017

Reflexões Sobre a Paixão

Reflexões Sobre a Paixão

Cláudio Fajardo

Nestes dias atuais em que o cristianismo organizado comemora a semana santa, e mais especificamente a sexta feira da paixão, faz-se necessário à luz da nova interpretação que o espiritismo propõe do Evangelho fazermos algumas reflexões sobre o significado desta data.

Desde sempre aprendemos que estes eram dias de grande tristeza, pois lembrávamos do sacrifício de Nosso Senhor em favor de toda humanidade. Era comum particularmente na sexta feira não podermos praticamente nada fazer. Não podíamos escutar música, trabalhar, divertir, nem mesmo viajar.

Lembro-me que em certa ocasião uma família amiga foi fazer uma viagem neste dia, e na viagem ocorreu um acidente com vítimas. Não foram poucos os que comentaram ter havido um castigo dos céus, “veja se isto é data para viajar a passeio?” eram os comentários naturais.

Hoje não compreendo o porquê de tal comportamento. Mesmo dentro da ótica do cristianismo oficial não dá para compreender.

Se Jesus veio ao mundo para nos salvar, e a crucificação foi o ponto sublime desta salvação, como dizem, e que com este ato ele libertou toda humanidade do pecado, então, por que tristeza nestas comemorações? Não seria um ato digno de alegria de nossa parte? Foi com a morte que ele salvou segundo dizem, e não com a ressurreição. A ressurreição é apenas a confirmação desta realidade.

Porém, façamos uma nova interpretação.

Mesmo nos meios espíritas a paixão é tida como uma vitória das trevas sobre a luz, porém se analisarmos melhor vamos perceber que é justamente o oposto.
A treva foi iludida como sempre, e onde viu uma vitória sofreu uma enorme derrota.

É que os adversários do Bem têm no interesse pessoal, na vaidade, no orgulho, entre outros, instrumentos de escravidão dos Espíritos invigilantes.
Jesus veio até nós com o objetivo de educar-nos para a vida verdadeira, não foi por outro motivo que o título de Mestre ele aceitou.

Para mostrar-nos que o exemplo é o melhor instrumento de didática, veio ele mesmo para o testemunho, poderia mandar outros entre aqueles que também estivessem bem adiantados em evolução, todavia veio ele mesmo para ratificar o que dissemos sobre a importância do exemplo, do testemunho pessoal.

Como tratava de uma missão sublime, de um trabalho a ser elaborado pelo homem espiritual em detrimento do homem biológico este não a compreendeu, e não compreenderá enquanto não mudar o paradigma de sua compreensão.

Assim fez-se comum chorar pelo Cristo, quando ele mesmo alertou-nos:
…não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos.[1]

Talvez o nosso choro seja o da consciência culpada, não pelo ato de há dois mil anos, mas por continuar crucificando-o nestes dois milênios posteriores mesmo após nos considerarmos cristãos.

A lição da paixão é uma só, a da necessidade do testemunho pessoal, Ele mesmo já havia antecipado:

Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.[2]

O que deve ser crucificado em nossa “sexta feira da paixão” é o homem velho, o interesse pessoal, nossos valores que só dizem respeito ao homem biológico.

E tendo a consciência que hoje temos após o Advento do Espírito de Verdade, não será este dia um motivo de grande alegria, não será isto o que devemos celebrar?

Faz-se neste ponto necessário aprofundarmos um pouco mais a análise.

É muito bonito e cheio de espiritualidade falarmos em sacrifício dos interesses pessoais, em alijar de nossa onda mental os resquícios do homem velho, todavia, raríssimos entre nós têm realmente atitudes de assim fazer.

Isto se dá porque não há outra forma de realizarmos tal empreitada senão através do testemunho vivo e pessoal conforme já dissemos, e isto é duro e difícil de fazer, pois significa entre outras dificuldades, momentos de muita solidão pela incompreensão de todos, principalmente daqueles que mais amamos.

Outras vezes até empreendemos esforços, mas tudo envolto em muito sofrimento e até achando que somos heróis incompreendidos e vítimas de um processo indescritível.

Parafraseando Jesus podemos dizer, quando assim se der, ainda não é o fim[3]. Pois o nosso tem de ser um testemunho de alegria, este deve ser o sentimento da paixão, será esta senha de validação do término do processo.
Perguntado certa vez sobre qual seria o novo nome de Jesus se ele em carne voltasse a nós, nosso querido e sábio Chico Xavier deu uma simples resposta:

“- Alegria, se Jesus renascesse entre nós seu nome seria Alegria.”

Claudio Fajardo de Castro
[1] Lucas, 23: 28
[2] Mateus, 16: 24
[3] Mateus, 24: 6

Claudio Fajardo de Castro (Juiz de Fora/MG) é bancário, escritor desde 1997, dedica-se ao estudo do Novo Testamento à luz da Doutrina. Coordenou curso de Espiritismo no Centro Espírita Amor e Caridade em Goiânia – GO, denominado de Curso de Espiritismo e Evangelho. A partir daí surgiram seus livros: O Sermão do Monte, Jesus Terapeuta I e II, O Sermão Profético e O Sermão do Cenáculo, todos publicados pela Editora Itapuã.


Fonte: Rede Amigo Espírita

Nenhum comentário:

Postar um comentário