segunda-feira, 10 de abril de 2017

'Sofri cinco abortos após ser agredida por meu marido enquanto ele dormia'

A britânica Lindsey Roberts e o Ministério da Defesa do Reino Unido estão em lados opostos de uma disputa judicial. Ela diz ter sofrido cinco abortos após ser agredida por seu marido, o militar Andrew Roberts, enquanto ele dormia.
Andrew entrou para o Exército aos 17 anos. Depois de integrar nove missões internacionais, duas delas no Iraque e três no Afeganistão, desenvolveu estresse pós-traumático, um distúrbio de ansiedade, e tentou se matar.
Quem sofre desse tipo de problema costuma se sentir isolado, irritado e culpado, ter recordações vívidas dos eventos que causaram o mal, como acidentes de carro, abusos sexuais, situações de combate e desastres naturais, e revivê-los em sonhos.
"Andrew teve seu primeiro pesadelo violento quando eu estava grávida de cinco semanas. Perdi o bebê", contou Lindsey em entrevista ao programa Victoria Derbyshire, da BBC.
Ela conta que os abortos decorrentes das agressões involuntárias ocorreram ao longo dos anos.
"Os episódio de pânico noturno não ocorriam a toda hora, então continuamos a dormir na mesma cama. Mas eu não conseguia prever quando aconteceriam."
Lindsey explica que perdeu os bebês "dias, semanas" após ser agredida. Ela ficava com hematomas por todo o corpo e mentia sobre como surgiram. "Não queria me meter em problemas. Dizia que havia caído na escada."
Em 2009, quando Andrew voltou de sua segunda missão no Afeganistão, Lindsey diz que passou a ser agredida três vezes por semana pelo marido em seus episódios de pânico noturno.
O militar morreu em um ataque do Talebã em maio de 2012, durante sua terceira missão no Afeganistão. "Ele era o cara mais gentil do mundo. Fazia de tudo por qualquer pessoa. Era carinhoso. Era o melhor amigo de todo mundo."

'O Exército sabia'

Lindsey engravidou oito vezes enquanto esteve casada com Andrew. Tiveram "três filhos lindos", hoje com 8, 10 e 11 anos. "Eles eram pequenos quando tudo aconteceu. Hoje, sabem o que se passou com seu pai e se lembram de alguns episódios."
Estima-se que uma a cada três pessoas que têm experiências traumáticas desenvolvem um distúrbio de ansiedade. Não se sabe por que algumas não são afetadas dessa forma.
A situação de Andrew piorou em 2009. O casal se separou, mas permaneceu casado. Lindsey diz que o Exército estava ciente dos problemas mentais nos dois últimos anos de vida do marido.
"Ele estava muito instável. Teve de ser socorrido após algumas tentativas de suicídio. Com certeza eles sabiam", diz ela, para quem Andrew ainda estaria vivo se tivesse recebido o tratamento adequado.
"No ano anterior à última missão, ele estava com sérios problemas mentais. Ele tentou se matar. Há sinal mais óbvio do que isso? Deveria ter sido dispensado por razões médicas em vez de ter sido enviado para uma missão."
O Ministério da Defesa disse "não comentar um processo legal específico" e que "a saúde mental de todos que servem ao país é de máxima importância". Por isso, "encoraja a todos que precisem a buscar a ajuda que merecem antes, durante e após missões".

'Viúvas são vítimas também'

Mesmo separado, o casal continuou em contato. Andrew costumava encontrar os filhos e ligar para eles enquanto estava em sua última missão no Afeganistão.
Lindsey se recorda do momento em que soube de sua morte, dois meses após ele ter viajado.
"Estava na academia, e meu vizinho me ligou para contar que um policial havia tocado minha campainha cinco vezes ao longo de uma hora. Dirigi como louca para casa. Estava muito nervosa. Tinha certeza que ele estava morto", conta.
Ela acusa o Ministério da Defesa de não ter cumprido seu dever de cuidar de seu marido ao permitir que ele fosse uma vez mais ao Afeganistão em 2012. Também quer ser indenizada pelos prejuízos causados pelo distúrbio de Andrew.
"Espero que o Ministério perceba que as mulheres de militares também são vítimas", diz.
"Ninguém reconhece isso hoje. Ninguém fala sobre as mulheres em todo o país que são agredidas ou estão em situações ruins - ou, pior, perdem seus filhos - porque seus maridos estão (involuntariamente) violentos por conta de um estresse pós-traumático."
Lindsey criou uma organização sem fins lucrativos, a Roberts Project, para conscientizar as pessoas sobre a questão. Ela diz que seus filhos tiveram garra no período difícil.
"Somos uma família feliz. Meus filhos estão bem. São crianças fortes, passaram por muita coisa."
Ela afirma que seu marido ficaria "muito orgulhoso" da forma como ela e os filhos estão lidando com tudo pelo que passaram.
"Se ele estivesse aqui agora, estaria me apoiando."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 7 de março de 2017.

Jorge Hessen* comenta

A obsessão é a trágica pandemia dos dias atuais. A perturbação espiritual  dos soldados oriundos dos campos de batalha não é um problema inglês, pois nos EUA, na França, na Itália é comum existirem homens (ex-soldados) obsidiados, portadores de demência e distúrbios de ansiedade, contraídos nos campos de
guerra, lembrando aqui que tais países fomentam,  convivem e mantém a guerra no planeta.
O fato é que a ciência desses países e do mundo não alcança elucidar suficientemente as razoáveis causas dos distúrbios espirituais, psicológicos e mentais de ex-combatentes. O psiquiatra se mantém aprisionado aos limites do cérebro, fonte que, como nós espíritas sabemos, não é a raiz essencial das patologias, sejam espirituais e/ou mentais, mas tão somente a exteriorização do efeito da enfermidade.
A ideia da existência de um "ente" extra-físico (Espírito) pode elucidar a origem de muitos enigmas patológicos da psiquê. Em todas as épocas da história das
civilizações, existiram psicopatas que sofriam influências nefastas desses "entes" extra-físicos (obsessores e inimigos de guerra), e, em alguns casos, envolvendo personagens que se celebrizaram por seus atos.
Nabucodonosor II, rei dos Caldeus, sofreu uma licantropia e pastava no jardim do palácio, como um animal. Tibério, envolvido por muitos espíritos cobradores, cometeu muitos deslizes, com muita malignidade. Calígula e Gengis-Khan marcaram presença, em função de suas aberrações psicóticas. Domício Nero, em função de grandes desequilíbrios psíquicos, entre tantos equívocos, mandou assassinar a mãe e sua esposa, e, depois, as reencontrava em desdobramentos.
Até mesmo no campo das artes encontramos obsedados por "entes" extra-físicos. Dostoiévski sofria de ataques "epilépticos". Nietzsche perambulou pelos asilos de "alienados". Van Gogh cortou as orelhas num momento de "insanidade" e as enviou de presente para sua musa inspiradora, findando, posteriormente, a vida, com um tiro. Schumann, notável compositor, atirou-se ao Reno, sendo salvo pelos amigos e internado num hospício, onde ele encerrou a carreira. Edgar Allan Poe sucumbiu arrasado pelo álcool e tendo visões infernais.
Naturalmente há tratamento para tais problemas. A terapêutica para as tragédias psicopatológicas (obsessivas ou não) é essencialmente preventiva. O Espiritismo sugere a resignação ante as vicissitudes da vida que poderiam causar o acirramento ou a atenuação da doença. Para que haja mais sucesso no tratamento do processo obsessivo, o primeiro passo é que se faça um bom diagnóstico do conjunto dos sintomas.
Apesar de todos os esforços, às vezes, é difícil fazer um diagnóstico diferencial específico, considerando que os sinais e sintomas são idênticos, tanto na loucura, propriamente dita, com lesões cerebrais, quanto nos processos obsessivos, onde há grande perturbaçãoo na transmissão do pensamento.
Para tratamentos das obsessões é fundamental que se considere a existência do psicossoma, contextura sutil que envolve o corpo físico. "É por seu intermédio que o Espírito encarnado se acha em relação contínua com os desencarnados. O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos."(1)
O êxito do tratamento ou até mesmo "a cura se opera mediante a substituição de uma molécula [perispiritual] malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas depende, também, da energia, da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido."(2)
Urge, mais uma vez, deixar bem claro que o tratamento espiritual, oferecido na Casa Espírita, não dispensa tratamento médico. O prognóstico, de modo geral, poderá ser bom ou ruim, considerando todos os fatores envolvidos, especialmente, o interesse do obsidiado em profundas transformações íntimas e a boa vontade da família em dar-lhe toda a assistência possível sob todos os aspectos.
"A Doutrina Espírita, aliada às Ciências Médicas, poderá se entender não se contradizendo, mas de mãos dadas, caminhando juntas, buscando todos os recursos disponíveis no sentido de abrandar o sofrimento do doente [obsedado]"(3). Caso contrário, "a ciência nadará em um oceano de incertezas, enquanto acreditar
que a loucura depende, exclusivamente, do cérebro. A ciência precisa distinguir as causas físicas das causas morais, para poder aplicar às moléstias os meios correlativos".(4)

Referências bibliográficas:

(1) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. Feb, 29a. edição, 1986, cap. XIV;
(2) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. Feb, 29a. edição, 1986, cap. XIV;
(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 117a. edição, 1990, Instituto de Difusão Espírita - IDE, cap. I, item 8;
(4) Menezes, Adolfo Bezerra de. A Loucura sob um Novo Prisma, 2a. edição, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1987.
* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados

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