terça-feira, 4 de julho de 2017

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A035 – Cap. 14 – O Cristo consolador – Primeira Parte

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A035 – Cap. 14 – O Cristo consolador – Primeira Parte


14
O Cristo consolador

Ante a impossibilidade de o Sr. Mateus continuar no Hospital do Pronto Socorro e a família não o poder manter num Nosocômio particular, após transcorridos vinte dias do acidente que o prostrara, foi recambiado ao lar. Embora o quadro se apresentasse pouco animador, ele conseguia falar com muita dificuldade, denotando perfeita lucidez.
Dona Rosa, fatigada pelas tarefas costumeiras, agora adicionaria ao labor normal o encargo de enfermagem difícil, junto ao companheiro prostrado pela embolia cerebral, que exigia imenso repouso, ambiente de calma e refazimento, assistência contínua e devotada.
Simultaneamente, porém, o socorro divino não tardou.
O refazimento psíquico de Mariana fê-la reconsiderar as atitudes íntimas de animosidade mantidas contra o genitor, e, à medida que o conhecimento espírita lhe penetrava a mente e o coração, renovava-se-lhe a paisagem interior; o contato com as lições sublimes do Cristo fazia-a modificar-se inteiramente. Desde as primeiras horas da chegada do Sr. Mateus ao lar, tornou-se voluntariamente a companhia generosa, ajudando-o na higiene, mantendo os horários dos medicamentos, substituindo a mãe ao lado dele, enquanto esta cuidava do ministério do lar. Adalberto, por sua vez, que já frequentava a casa, desde os dias mais difíceis da enfermidade da namorada, interessado cada vez mais pela Doutrina dos Espíritos, foi-se transformando em filho do hemiplégico que, ante o carinho perseverante dos que lhe cercavam o leito, começou a apresentar sinais comovedores de renovação espiritual. Amália, fiel aos deveres do lar e dentro deste, era as mãos que traziam as moedas para as aquisições imediatas, enquanto Marta, que passara a uma atitude de maior reflexão, depois da entrevista com Petitinga se pôs a ajudar a genitora nas costuras, no lar e na arte do bordado, aumentando a receita doméstica de forma expressiva.
Na próxima visita que fizemos à família Soares, o ambiente se encontrava significativamente modificado. Dona Rosa nos confessou a sua alegria, embora a soma de preocupações que a martirizavam ante a enfermidade do esposo e os problemas naturais, disso decorrentes.
Desde os primeiros momentos mais aflitivos, porém, as mãos da caridade, através de Petitinga, começaram a doar o socorro material, em nome do círculo dos irmãos da fé, de forma a diminuir a crueza das provações naquela casa.
Na oportunidade da nossa visita, o amoroso amigo dos sofredores interrogou Marta, quanto à reaproximação com o genitor. Esta, muito constrangida, respondeu:
— Sinto-me nervosa, agitada interiormente... —falou, encabulada. — Receio um novo atrito, no momento de fazer as pazes, caso papai não me receba como de direito... Encontro-me conflitada em relação à prática infeliz a que me vinculei por largos anos. Tudo me parece, agora, um despertar de cruel pesadelo, no qual eu jornadeasse atada a cordas grossas que me conduziam, inexoravelmente cega, trôpega, de mente açulada por alucinações indescritíveis... (*)
A ex-quimbandista começou a chorar, O corpo foi tomado por contrações constrangedoras, e, mesmo refreando a aflição, sentia-se-lhe a dor selvagem que a despedaçava interiormente.
Petitinga envolveu-a em ondas de carinho e ternura, acercando-se dela e buscando acalmá-la com palavras de esperança.
— Marta, minha filha, o Evangelho — afirmou convicto — é porta de luz para os que gemem na escuridão. Caminho redentor que se abre em oportunidades múltiplas para todos nós, os trânsfugas dos deveres sublimes, oferecendo-nos recomeço em qualquer situação e em todo tempo. Para quem realmente deseja elevação, não há tempo perdido, nem oportunidade malbaratada que não traga preciosos ensinos, que podemos aproveitar de futuro. Reanime-se, minha filha! O momento de renovação ocorre como instante de dor: o ar que penetra no pulmão do recém-nascido, ensejando-lhe a vida extra-uterina, provoca-lhe, também, a sensação da dor... Assim também, o ar balsâmico do Cristo, em lhe penetrando a alma, rompe a couraça de sombra que a envolvia e a claridade rutilante da vida nova lhe produz, compreensivelmente, angústia passageira e passageira apreensão.
— Tenho medo — conseguiu extravasar. — Receio o revide daqueles com os quais me demorava comprometida. Eles são terríveis!... Há muito tempo desejava fugir-lhes ao cerco implacável; mas não tinha forças; não sabia como fazer. Tenho lhes sido escrava obediente... Vejo-os, dizendo-se meus amigos, porém, cruéis para com muitos. Por Deus, eu os temo! Não sei se suportarei manter esta decisão e se conseguirei a liberdade. Como anseio por ser livre para tentar vida nova, novas aspirações que acalento e não tenho podido fruir!...
— «Deus é Nosso Pai» — referiu-se, Petitinga, de face ruborizada, iluminada por transcendente fulguração —, disse Jesus. Assim, Ele é o Pai de todos. Examine essa confortadora informação: Nosso Pai! Ele cuida, portanto, dos filhos mais fracos que Lhe entregam a vida, como dos mais rebeldes que tramam dificultar a vida dos seus irmãos. Diga como Jesus em agonia, e tranquilize-se: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!», e deixe-se arrastar pelas correntes invisíveis e poderosas do Seu amor.
Depois de uma pausa muito expressiva, concluiu:
— Inicie desde hoje a fase nova, aproximando-se do seu pai, rogando-lhe perdão. Uma atitude honesta faz-se acompanhar de fluídos convincentes, que envolvem, poderosos, aqueles a quem nos dirigimos. Humilhe-se ante aquele que lhe concedeu, em nome do Pai de todos, a indumentária física, e faça-o sentir-se honrado na condição de chefe da prole. Ajude-o no transe abençoado que ele vive e a força dos seus sentimentos falará mais alto do que as palavras mais brilhantes que lhe escapem dos lábios. Passe, logo depois, a frequentar nossa Casa; estude as Obras do insigne mestre Kardec, bebendo nas fontes augustas da informação espírita a água lustral, lenificadora e nutriente do conhecimento que liberta, e, de alma tocada pela suave brisa do Evangelho, distribua esperança... Quem sabe? Em breve as suas possibilidades medianímicas, colocadas a serviço do Cristo, depois de necessàriamente disciplinadas, poderão amparar e socorrer esses mesmos irmãos que a jugularam na ignorância por tantos anos, transformando-os em amigos e companheiros de jornada... Não há força que tenha mais força do que a força do amor...

(*) O desconhecimento do Espiritismo por parte de alguns adeptos, na atualidade, que lhe não penetraram as lições preciosas, ou que se ligaram às lides espiritistas para atendimento de Interesses imediatos, materiais — confirmando desse modo a ausência do estudo e da meditação das bases da Doutrina —vem gerando inomináveis confusões. Expõem, por exemplo, alguns desses adeptos, que diante de Entidades muito infelizes, perseguidores violentos, obsessores vigorosos, são necessárias providências fora dos arraiais da Doutrina, em cujos sítios são submetidos tais Espíritos a processos de terror, de força, e a práticas estranhas, que os atemorizam, e por meio das quais os prendem longe das suas vítimas... Arrematada loucura! A severidade das Leis de Causa e Efeito são elucidação imediata a essa informação descabida. Em toda obsessão há cobrador, porque há devedor.
Libertar este e prejudicar aquele seria puni-lo outra vez, a ele que foi vítima anteriormente; seria investir contra o Estatuto da Divina Justiça: punir o ignorante ao invés de instrui-lo, libertar um mediante o aprisionamento de Outro, defender alguém prejudicando outrem. A soberana Lei de Amor é a força capaz de modificar a estrutura da vida e penetrar na furna odienta do “eu” atormentado para felicitá-lo. Em qualquer obsessão, portanto, em que o amor e o esclarecimento não realizem os seus misteres, as medidas humanas da temeridade e da violência somente poderão agravar o mal, adiando-o para ocasião em que as reservas do paciente sejam menores e, pois, consequentemente, menos favoráveis à cura, à libertação.
O preclaro Codificador Allan Kardec elucida que se “chama obsessão à ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um Individuo.” E adverte: “Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma Imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral preciso é se contraponha uma força moral.” Considera, todavia, veemente: “Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluído pernicioso, que neutraliza a ação dos fluídos salutares e os repele. É daquele fluído que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluído mau não pode ser eliminado por outro igualmente mau. Por meio de ação idêntica à do médium curador, nos casos de enfermidade, PRECISO SE FAZ EXPELIR UM FLUÍDO MAU COM O AUXÍLIO DE UM FLUÍDO MELHOR.
“Nem sempre, porém, basta esta ação mecânica. Cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser inteligente, ao qual é preciso se possua o direito de falar com autoridade, que, entretanto, falece a quem não tenha superioridade moral. Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela.”
E, por fim, observa: “Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso meio de que se dispõe para demover de seus propósitos maléficos o obsessor.
Tais são as anotações constantes de “A Gênese”, de Allan Kardec, Capítulo 14, “Obsessões e possessões”, 14ª edição da FEB, dos quais extraimos estes tópicos que merecem, como os demais do oportuno estudo, acuradas meditações.
Outros, militantes apressados, também Informam que, para um bom processo de desenvolvimento ou educação mediúnica, se faz concorde a aplicação de determinadas e esquisitas práticas, a fim de que a faculdade irrompa de uma vez, com resultados benéficos, como se a mediunidade fõsse algo elástico que atendesse à travão da força, dilatando-se de imediato. Como qualquer outra faculdade psicológica ou função fisiológica, a mediunidade requer cuidados especiais, atendimento a requisitos próprios e condições específicas que lhe facultem a educação e o desdobramento de recursos, para atender às finalidades a que se destina. Nesse sentido “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, é, ainda, o melhor roteiro para médiuns e pessoas que desejem conhecer as faculdades medianímicas do homem, como conduzi-las e com elas operar, os perigos da má prática mediúnica, etc...
O que ocorre normalmente nesses chamados desenvolvimentos instantâneos, em grupos, mecânicos, pertence aos capítulos da Sugestão, do Animismo, dos Condicionamentos psicológicos e até mesmo aos estados de nevrose.
Resguardem-se, no cuidadoso estudo e na carinhosa observação vigilante, os que desejam reais e proveitosos resultados da mediunidade e da sua prática, sem precipitação, sem exigências, melhorando-se moral e espiritualmente, os médiuns e os experimentadores honestos, a fim de se credenciarem à assistência dos Bons Espíritos. — Nota do Autor espiritual.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – A nota de rodapé aborda uma importante perspectiva da obsessão: o obsessor não é tão somente o perseguidor, é vítima também. Diante disso, como deve ser o tratamento dispensado às entidades obsessoras nos tratamentos de desobsessão?

2 – Que fala o narrador espiritual acerca de alguns médiuns que, para “apressarem o desenvolvimento de sua faculdade”, recorrem a doutrinas espiritualistas outras, cujas práticas são esquisitas, isto é, se utilizam de rituais e elementos supersticiosos?

3 – A filha Marta, ao chamado de Petitinga, deixava as antigas práticas espirituais inferiores para se agarrar ao espiritismo, exemplo máximo da mediunidade com Jesus. Porém, receava o revide dos espíritos infelizes com os quais se consorciara... Por que o receio? Seria real tal dúvida?

Bom estudo a todos!!
 Equipe Manoel Philomeno


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