terça-feira, 8 de agosto de 2017

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A038 – Cap. 15 – Enfermidade salvadora – Segunda Parte

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
 Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A038 – Cap. 15 – Enfermidade salvadora – Segunda Parte

15
Enfermidade salvadora

Por alvitre do próprio Saturnino diretamente a Petitinga, feito anteriormente, e vencendo inúmeras dificuldades, procedemos a uma visita ao Lazareto, no bairro das Quintas, para tentar alguma assistência a Ana Maria, a antiga noiva atormentada e inditosa do irmão Teofrastus.
Solicitamente atendidos por um enfermeiro de plantão, e com o documento de autorização do serviço de Saúde Pública, percorremos várias dependências da Casa, até localizarmos a jovem, cuja presença nos fez evocar, como em sonho bom e agradável, a recordação da visita anterior que fizéramos àquele reduto de sofrimento, em espírito, sob a segura condução do Irmão Glaucus. A moça, singularmente desfeita, com alguns sinais de arroxeamento na face e nos hélices e lóbulos das orelhas, comoveu-nos pela tristeza que refletia nos olhos angustiados e no rosto melancólico.
Petitinga, portador de nobre persuasão, conseguiu manter ligeira palestra com ela, emoldurando-a no halo da sua cordial simpatia envolvente. Poeta sensível, falou- lhe ligeiramente do Cristo Jesus e das Suas curas... Motivou-a à saúde, à esperança, bem assim às duas companheiras que lhe dividiam a acanhada cela, quase uma masmorra nauseante e infecta, prometendo retornar sempre que se nos permitissem os compromissos.
Naquele tempo, as medidas sanitárias impeditivas de contacto com os portadores do «mal» de Hansen eram muito rigorosas, conquanto aqueles pacientes vivessem entregues ao quase total abandono, cuidados com medicamentos tais Alofam (um preparado de caroteno), o Chaulmoosan (feito com os ésteres etílicos do óleo de chalmugra), a termoterapia, as sulfas... As experiências em todo o mundo em que havia Leprosários ainda não ultrapassaram essa terapêutica, com algumas ligeiras variações sem grande significado. As tentativas para a cura se sucediam inócuas e de resultados desesperadores. Os pacientes, porém, eram muitas vezes caçados como animais e, em alguns países, conduziam-nos aos Lazaretos, acorrentados, com armas coladas à nuca... Em lugares mais atrasados, viviam como nos tempos bíblicos, mendigando, com a face semicoberta, considerados selvagens e malditos, esfarrapados, dormindo nas matas ou nas rochas próximas dos caminhos onde esmolavam...
Assim, era muito difícil conseguir-se permissão para visitas regulares a pacientes internados. O fantasma da enfermidade era tão poderosamente inculcado em todas as mentes e o «perigo» do contágio tão fortemente difundido, que nós mesmos sentíamos o constrangimento decorrente da ignorância.
Petitinga, no entanto, conseguiu, utilizando-se de amizades múltiplas, atingir o desiderato e passou a visitar Ana Maria uma que outra vez, oferecendo-lhe, ao primeiro ensejo, um exemplar de «O Evangelho segundo o EspIritismo», dizendo lhe que ali, naquela fonte de luz e água Viva», ela encontraria paz e reconforto.
Ocorria, também, um admirável fenômeno: quando das nossas visitas e enquanto conversávamos, Saturnino, em espírito, utilizando-se das nossas forças ectoplásmicas, aplicava recursos salutares na paciente e nas suas companheiras, continuando a assistência, espiritualmente, nos dias subsequentes.
Seu antigo obsessor fora deslocado desde a primeira visita que fizemos com o irmão Teofrastus, recolhido logo após pelos irmãos Glaucus e Ambrósio a Hospital especializado da Esfera Espiritual, para posterior tratamento. Dessa forma, a tristeza e a melancolia foram desaparecendo paulatinamente da enferma e as manchas da intoxicação fluídica igualmente foram esmaecendo até o total desaparecimento.
Por insistência, ainda, de Petitinga, seis meses depois da nossa primeira visita, a enferma foi submetida a rigoroso exame e considerada curada. Ora, sabíamos que a sua doença era uma enfermidade simulacro, provocada pelos fluídos maléficos do seu obsessor, que conseguira levá-la àquele Lazareto para culminar com a sugestão de suicídio nefando, que a enrodilharia em teias fortes de desgraça, caindo-lhe nas garras odientas para o longo processo de vampirização espiritual, de demorado curso, nas regiões dolorosas das esferas infelizes...
Graças, também, à interferência de Petitinga, este conseguiu localizar a afilhhada em casa de família espírita que, conquanto soubesse do local donde a mesma procedia, não recusou a mão caridosa dirigida à sua recuperação total. A família informada do drama da obsessão de que padecera a jovem, o que motivara o seu ingresso naquele expurgadouro material, e cientificada do não perigo de contágio por inexistência da enfermidade, recebeu a moça que passou a experimentar vida nova, comprometida, no entanto, a apresentar-se regularmente cada seis meses, no Lazareto, para exames de verificação médica necessária.
Enquanto isto ocorria, Marta, recém-libertada dos velhos conceitos vazados na mais chã superstição, buscava manter a resolução firme de perseverar nas gãs idéias do Espiritismo.
Graças, porém, ao longo convívio psíquico com Entidades muito grosseiras, o que originara uma certa interdependência entre a sensitiva incauta e os seus comensais, começou a experimentar desequilíbrios perfeitamente compreensíveis.
Vidente com boas possibilidades de registro e percepção, que, conquanto ultrajada pelo uso, captava as mensagens dos desencarnados, passou a sofrer-lhes o cerco nefando, a que fazia jus, pela própria leviandade.
A simples mudança de clima impõe ao organismo adaptação necessária. Assim, a alteração da “psicosfera” se faz, também, acompanhar de esforço muito grande, para elaboração de outras condições íntimas e conveniente sintonia.
Embora o esforço para vincular-se aos ideais renovadores, via as entidades antigas, ameaçadoras, escarnecendo dos seus propósitos e provocando injustificáveis temores, o que gera, normalmente, a crença de que as pessoas que abandonam tais compromissos sofrem até à desencarnação o assédio dos antigos comparsas. Perfeitamente compreensível que tais vínculos, muito profundos, não podem ser desfeitos pura e simplesmente com uma atitude. Há que edificar, novos laços e organizar resistências convenientes.
Possuidora, no entanto, de muita força de vontade, passou a estudar o Espiritismo com interesse, instruindo-se nas suas lições preciosas, através do que armazenava argumentação para uso próprio, Confiança ilimitada no auxílio divino.
Submeteu-se a carinhoso tratamento de passes magnéticos, aplicados por médiuns adestrados e educados, fazendo-se membro atuante dos trabalhos doutrinários, nos quais as lições confortadoras da fé renovada lhe penetravam, sendo, por fim, convidada a atuar nas experiências mediúnicas, e se tornando, vagarosamente, um instrumento disciplinado, por cuja mediunidade diversos dos membros das suas anteriores crenças receberam a luz esclarecedora da razão, desertando dos propósitos acalentados e iniciando nova trajetória, como que renascendo para a verdadeira vida (*).
(*) Chamamos a atenção do leitor para o que esclarece Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, Parte 2ª, Capítulo 9 (29ª edição da FEB):
“551. Pode um homem mau, com o auxílio de um mau Espírito que seja dedicado, fazer mal ao seu próximo?
“Não; DEUS NÃO o permitiria.”
552. Que se deve pensar da crença no poder, que certas pessoas teriam, de enfeitiçar?
“Algumas pessoas dispõem de grande força magnética, de que podem fazer mau uso, se maus forem seus próprios Espíritos, caso em que possível se torna serem secundados por outros Espíritos maus. Não creias, porém, num pretenso poder mágico, que só existe na imaginação de criaturas superticiosas, Ignorantes das verdadeiras leis da Natureza. Os fatos que citam, com prova da existência desse poder, são fatos naturais, mal observados e sobretudo mal compreendidos.”
555. Que sentido se deve dar ao qualificativo de feiticeiro?
“Aqueles a quem chamais feiticeiros são pessoas que, quando de boa-fé, gozam de certas faculdades, como sejam a força magnética ou a dupla vista. Então, como fazem coisas geralmente incompreensíveis, são tidas por dotadas de um poder sobrenatural. Os vossos sábIos não têm passado muitas vezes por feiticeiros aos olhos dos. “ignorantes?”
O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a Ignorância teceu um sem número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor preservativo contra as idéias superticiosas, porque revela o que é possível e o que é Impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de ridícula crendice.” — Nota do Autor espiritual.
As demais filhas da família Soares, sem problemas de relevo, ante exemplos comoventes que tais, passaram a cooperar efetivamente no lar, que se transformava em escola de fé viva sob as luzes exuberantes do Espiritismo consolador.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – O que é uma enfermidade simulacro? Qual a raiz da doença de Ana Maria e como ela se libertou da enfermidade?

2 – Como estava acontecendo a transformação de Marta, a filha de D. Rosa antes envolvida nos trabalhos espirituais inferiores?

3 – É o possível, segundo o Espiritismo, que um homem mau, secundado por um espírito também mau, praticar o mal ao seu próximo? Justifique.

Bom estudo a todos!!  

Equipe Manoel Philomeno

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