terça-feira, 8 de agosto de 2017

Revista Espírita - março 1864 - Manifestações de Poitiers.

REVISTA ESPIRITA
JORNAL
DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
7 a ANO NO. 3 MARÇO 1864

Se essa senhora tivesse conseguido, teria ela aceito ou recusado? Nós o ignoramos, porque dez mil francos são bem sedutores, sobretudo em certas posições. Em todos os casos, a tentação foi grande; e quem sabe se uma recusa não foi seguida de um lamento que lhe atenuou o mérito? Notemos que, na prece, ela pede a Deus de retirar sua faculdade antes de permitir que seja tentada de desviá-la de seu fim providencial; pois bem! sua prece foi atendida; sua mediunidade lhe foi retirada para esse fato especial, a fim de poupar-lhe o perigo da tentação, e todas as conseqüências deploráveis que isso teria em conseqüência, para ela mesma primeiro, e também pelos maus efeitos que isso teria produzido.
Mas não é somente contra a cupidez que os médiuns devem se colocar em guarda; como os há em todas as classes da sociedade, a maioria está acima dessa tentação; mas há um perigo bem de outro modo grande, porque todos a ele estão expostos, que é o orgulho, que nisso perde um tão grande número; é contra este escolho que as mais belas faculdades, muito freqüentemente, vêm se quebrar. O desinteresse material é sem proveito se não for acompanhado do desinteresse moral mais completo. Humildade, devotamento, desinteresse e abnegação são as qualidades do médium amado pelos bons Espíritos.

Manifestações de Poitiers.

Os fatos dos quais demos conta em nosso último número, e sobre os quais havíamos suspendido nosso julgamento, parecem ser definitivamente obtidos pelos fenômenos espíritas. Um exame atento das circunstâncias de detalhe não permite confundi-los com os atos da malevolência ou da travessura. Parece-nos difícil que os mal intencionados possam escapar à atividade da vigilância exercida pela autoridade, e possam sobretudo agir no próprio momento em que são espiados, sob os olhos daqueles que os procuram, e que certamente não faltam de boa vontade para descobri-los.
Os exorcismos tinham sido feitos, mas depois de alguns dias de suspensão, os ruídos começaram com outro caráter. Eis o que disto disse o Journal de Ia Vienne em seus números de 17 e 18 de fevereiro:
"Lembra-se que no mês de janeiro último os Espíritos batedores, fazendo a sua solene aparição em Poitiers, vieram sitiar, rua Saint-Paul, a casa situada perto da antiga igreja designada por este vocábulo; mas sua permanência entre nós não foi senão de curta duração, e estava-se no direito de crer que tudo tinha acabado, quando, anteontem, os ruídos que tinham tão fortemente agitado a população se reproduziram com uma nova intensidade.
"Os diabos negros, pois, retornaram à casa da senhorita d'O...; somente que não são mais Espíritos batedores, mas Espíritos atiradores, procedendo por meio de detonações formidáveis. Celebraremos, sua festa no dia de Santa Bárbara, patrona dos artilheiros. É sempre quando a isso se dão de coração alegres, que as procissões de curiosos recomeçam, e que a polícia interroga todos os ecos para se guiar através do nevoeiro do outro mundo.
"É preciso esperar, no entanto, que desta vez descubram-se os autores dessas mistificações de mau gosto, e que a justiça saberá muito provar aos exploradores da credulidade humana que os melhores Espíritos não são aqueles que fazem mais barulho mas aqueles que sabem se calar ou não falam senão a propósito.
A.  PIOGEARD."
"Retornamos sempre à rua Saint-Paul, sem podermos penetrar o mistério infernal.
"Quando interrogamos uma pessoa que passeia com ar preocupado diante da casa da senhorita d'O..., ela nos responde invariavelmente: "De minha parte, nada ouvi, mas um tal me disse que as detonações eram muito fortes." O que não deixa de ser embaraçante para a solução do problema.
"É certo, no entanto, que os Espíritos possuem algumas peças de artilharia, e mesmo de um calibre bastante grande, porque os ruídos que delas resultam têm uma certa violência, e se assemelham, diz-se, àqueles que produzem pequenas bombas.
Mas de onde vêm eles? Impossível, até este dia, determinar a sua direção. Não provêm do subsolo, tendo em vista que os tiros de pistola dados nas adegas não se ouvem no primeiro andar.
"É pois nas regiões superiores que é preciso se esforçar por agarrá-los, e, no entanto, todos os procedimentos indicados pela ciência, ou pela experiência, para atingir esse resultado permaneceram impotentes.
"Seria preciso, então, disso concluir que os Espíritos podem impunemente atirar sua pólvora nos pardais e perturbar o repouso dos cidadãos sem que seja possível atingi-los?
Esta solução seria muito rigorosa; pode-se, com efeito, para certos procedimentos, ou em virtude de alguns acidentes do terreno, produzir efeitos que surpreendem à primeira vista, mas dos quais se espanta mais tarde não ter compreendido o mecanismo elementar. São sempre as coisas mais simples que escapam à apreciação do homem.
Há muito a crer, pois, que, se os atiradores do outro mundo têm neste momento os galhofeiros de seu lado, estão longe de ser incompreensíveis. Os mistificadores podem disto estarem persuadidos; os mistificadores terão a sua vez.
A. PIOGEARD."

Enviado por: "Jose Joel da Silva Junior

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