domingo, 27 de agosto de 2017

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A040 – Cap. 16 – Compromissos redentores – Segunda Parte

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A040 – Cap. 16 – Compromissos redentores – Segunda Parte

16
Compromissos redentores

Todos nos despedimos jubilosos, e meditativos, quanto às nossas responsabilidades espiríticas em relação a nós mesmos, ao próximo e ao porvir. Os nossos atos fazem escola e a nossa escola pode transformar-se, por incúria nossa, num mau Educandário.
Naquela noite, viemos a saber pelo Mentor Saturnino, durante o repouso físico, em desdobramento, que fomos reunidos na sede da União Espírita Baiana para um encontro provocado pelos Instrutores.
Ali nos encontramos Petitinga, nós, o médium Morais, os Soares: Dona Rosa, Sr. Mateus, Marta, e Mariana, Adalberto, Ana Maria, e os Benfeitores Espirituais.
Alguns dos encarnados se apresentavam mais lúcidos; outros, menos acostumados às incursões no Mundo Espiritual para tal finalidade, pareciam sonâmbulos em inquietação. Após a recepção de passes, todos se mostravam tranquilos.
A reunião foi presidida pelo Irmão Glaucus, o nobre Mentor que comandara os socorros e estudos desde o Anfiteatro, incorporado aos labores de desobsessão da família Soares por determinação superior. Depois de formosa oração e de alocução muito elevada, explicou as finalidades e objetivos do encontro.
Terminava o seu prazo de estada entre nós, para aquele mister. Os serviços transcorriam com o êxito esperado. Fazia-se necessário, porém, definir roteiros para o futuro. Ultimavam-se os preparativos socorristas para os diversos desencarnados envolvidos nos dramas das personagens ali presentes. Alguns já haviam recebido o conveniente tratamento e encontravam-se amparados em círculos fraternos do Mundo Espiritual, onde conseguiam o auxílio e o esclarecimento de que se ressentiam. Havia, no entanto, algo mais a fazer.
Terminada a explicação, foram trazidos de outro recinto da Casa o irmão Teofrastus e Guilherme, por enfermeiros gentis, que os acomodaram em assentos reservados para ambos.
Adalberto, ao lado de Mariana, automàticamente lhe deu a mão, como a evitar qualquer sofrimento desnecessário à noiva. Ana Maria, reconhecendo o antigo amor, fez-se lívida. O Sr. Mateus, ante a inesperada presença de Guilherme, contanto não estivesse no uso da plena lucidez, pareceu inquieto...
O Irmão Glaucus retomou a palavra, esclarecendo:
— Aqui estamos vários desafetos de há pouco, amores do passado, irmãos do futuro e de sempre, no caminho da evolução. Ódios e paixões, anseios e ternuras são etapas a vencer na rota do grande amor que um dia nos unirá a todos como irmãos verdadeiros. Não nos importem as sombras, considerando a luz soberana que brilha sobre nós, concitando-nos ao avanço. Esqueçamos as mágoas que são nuvens perturbadoras, abramos o coração e a mente à esperança que é semente de vida germinando no solo dos nossos espíritos a benefício nosso, O verdadeiro amor não se enclausura em determinadas expressões do sentimento, que desenvolvem o egoísmo e a posse anestesiante; antes se dilata em múltiplas manifestações encarregadas de ampliar os recursos entesourados da afeição, jornadeando nas manifestações do sangue, através da família, em posições diversas: filhos, pais, irmãos, parentes, ou, fora dela, na condição de amores que se abraçam em novas comunhões e efusões, experimentando, aprendendo, valorizando oportunidades. As circunstâncias e os locais são bancos e lições da Grande Escola da Evolução. Todos nascemos e renascemos para sublimar até à libertação. Não nos aflijamos, pois. Valorizemos o ensejo e aceitemos o impositivo evolutivo como diretriz abençoada para nós mesmos. Jesus é a nossa porta: atravessemo-la, seguindo-Lhe as pegadas...
Todos nos mantínhamos expectantes, comovidos. A vida ata e desata, escrevendo nas páginas do livro de cada um de nós os próprios atos que nos esperam depois, inapelavelmente.
Convidando Mariana e Adalberto, que se levantaram seguidos por Ambrósio, o Assistente amoroso, o Irmão Glaucus apresentou Guilherme ao moço, solicitando lhe a receptividade fraterna, pois que aquele deveria renascer no seu lar, por necessidade imperiosa da sua evolução. Vítima que fora da leviandade de si mesmo e de Mariana, algoz que se fizera da moça e de si próprio, renasceria nos seus braços na condição de filho sofredor, necessitado de imenso carinho e proteção afetuosa...
Visivelmente atormentado, Guilherme baixou os olhos e, trémulo, não conseguiu dominar as lágrimas abundantes.
Mariana avançou e o envolveu em abraço de pura ternura.
Sübitamente adornada de tênue luz que se lhe originava do plexo solar, com coloração opalina, emoldurou o antigo esposo suicida e falou, igualmente comovida:
— Aproveitemos a lição, meu amigo. Unamos nossas dores numa só dor e reorganizemos nosso passado num futuro promissor. Brilha-me hoje diferente luz no espírito; conduz-me nova ética de vida; animam-me outros propósitos no coração; aquece-me a esperança um sol diverso... Se o nosso hoje foi marcado por abundantes lágrimas, o nosso futuro nos espera com sorrisos... Incapaz de ser-te esposa vigilante, tentarei ser-te mãe cuidadosa. Ajuda-me com o teu perdão e favorece-me com esta oportunidade. O nosso Adalberto, conforme pressinto, não aparece em nosso destino como um estranho, um aventureiro que nos roube as melhores ensanchas da vida. É velho amigo que tem com o nosso o seu destino entrelaçado.
Desejavas nascer nas minhas carnes, recordo-me, como resultado da ilicitude para atormentar, vingar, e atormentar-te... Jesus nos permite a realização do teu desejo, não como gostarias, mas como de dever. Serás nosso filho num matrimônio honrado e voltarás aos braços de papai, como o neto que o amará e dele receberá muito amor. Também ele mudou. Tu também mudaste. Todos nós mudamos. Agora tudo é diferente, muito diferente...
Guilherme deixou-se conduzir por aquela voz de terna bondade e se rendeu ante a força do amor verdadeiro.
Ambrósio foi tomar Dona Rosa e o Sr. Mateus e os trouxe ao grupo em confabulação.
A veneranda senhora fitou o Irmão Glaucus, que lhe compreendeu o desejo íntimo, assentindo, com um leve sorriso.
A matrona tocou o futuro neto com mãos delicadas e disse:
— Serás, meu filho, a alegria da nossa velhice, como foste a preocupação dos nossos dias já passados. Eu terei em ti o sorriso do meu coração fatigado e Mateus encontrará na tua irrequietude juvenil os motivos de júbilos que por muitos anos o seu coração dorido não experimentou. Também ele tem sofrido muito e espera que as tuas mãos, quando pequeninas no corpo, lhe enxuguem os suores e as muitas lágrimas que verterá. Ver-te-á como alguém que irrompe de um passado longínquo, sedento de amor e amoroso também...
O Sr. Mateus, sem palavras, meio acanhado, canhestramente tocou o antigo adversário e permaneceu mudo.
O Irmão Glaucus interveio:
— Todos se reencontrarão mais tarde, como chegados de um sonho impreciso, de contornos confusos; no entanto, com lembranças queridas desta madrugada ainda imersa em trevas, em que confabulamos e delineamos nosso porvir redentor.
Guilherme será conduzido a necessário tratamento em Organização especializada, do lado de cá, e receberá preparação para o tentame próximo. Foram separados, retornando aos seus lugares.
O Irmão Glaucus tomou o antigo Mago de Ruão, que se apresentava desfeito, contraído, com indizível sofrimento estampado na face, e o aproximou de Ana Maria. Tocando a jovem, falou-lhe:
— Devolvo-te o amor não fruido. Tê-lo-ás no seio materno e nos braços da ternura. Amamentá-lo-ás e lhe fornecerás a forma orgânica. Ele, porém, terá incontáveis limitações de muita natureza, exigindo-te sacrifícios e vigílias. Talvez não consiga firmar-se na primeira tentativa de renascimento. Os seus fluídos possivelmente intoxicarão venenosamente a forma débil do feto... Mas voltará, sim, aos teus anelos, às tuas ansiedades. Antes dormirá demorado sono em nossa Esfera de ação, para esquecer e recomeçar sem o peso das lembranças causticantes... Teu amor ajudá-lo-á a carregar o fardo das próprias dores. Não seguirás a sós: teus Amigos Espirituais te ajudarão, todos oraremos por ti e por ele.
Ana Maria tocou a face do inditoso afeto. Misturou as suas nas lágrimas dele, que fluiam silenciosas e doloridas.
— Ajuda-me, amado Teo — disse lenta, lacônicamente. — Ajuda-me com o teu vigor, o teu entusiasmo e a tua sabedoria, tu que sempre foste mais eloquente do que eu. Socorre-me com a tua presença e não me deixes mais sozinha... pois eu não suportaria, agora que te reencontrei.
— Pede-o a Deus — respondeu, lamentoso e débil —, não a mim. Eu sou um infeliz, já que tu não caíste tanto, não te comprometeste tanto quanto eu... Sou agora muito fraco, vencido por mim mesmo. Roga-Lhe, tu, que serás mãe e a mãe é sempre abençoada. Roga, por nós dois.
Ana Maria recebia o influxo mental do Irmão Glaucus, que a inspirava poderosamente. Comovida, a ex-leprosa retrucou:
— Se somos fracos em forças, nosso amor é forte em esperança. Nossa fraqueza será nossa resistência, porque nos dependeremos e, assim, nos ajudaremos.
Seu rosto se descontraiu e ela quase sorriu. Afagou a fronte suada do seu amor e concluiu:
— Tudo quanto não tivemos, até agora, o amanhã nos ajudará a possuir. Estaremos mais entrelaçados do que em qualquer ocasião. Por ti, receberei também, nos braços, a Jean...
— Jean? — interrogou, surpreso, o Espírito.
— Sim, Jean Villemain, recordas? Comprometi-me a ajudá-lo, também, e assim nossa felicidade não terá manchas. Ajudando-o, ajudar-nos-emos. Ele foi mau porque deixou que o seu amor por mim o enlouquecesse. Guardadas as proporções não foi, também, de loucura, o nosso amor? Desse modo nos refaremos e marcharemos juntos.
Fortemente impressionada pela inspiração do Emissário da Luz, arrematou:
— Aprendi, quando estudava o Evangelho, em criança, em Ruão, este conceito que nunca esqueci: «Quando eu buscava Deus fora de mim, não O achava; quando o procurava dentro de mim, tinha-O perdido; resolvi amar e ajudar o meu próximo e deparei-me comigo, com Deus e com o meu irmão. Buscando Jean e o ajudando, achar-nos-emos os três na felicidade...
O irmão Teofrastus assentiu, cansado, com a cabeça caída sobre o ombro da noiva antes infortunada.
O Benfeitor Glaucus, carinhoso, elucidou:
— Jean não poderia participar desta reunião, pois que se encontra em tratamento... Os nossos compromissos redentores nos desenham, também, aflições e resgates. Não serão incursões românticas ao jardim das delícias ou aos oásis do repouso. Serão tarefas e responsabilidades que assumimos perante nós mesmos. Poderemos lograr êxito, poderemos falhar, dependendo exclusivamente de como refaçamos a senda. O amor nos ajudará, sem dúvida. Convém recordar, também, que não temos sabido valorizar devidamente as concessões do amor verdadeiro e, assim, o nosso sonho de amor será, também, ministério de sacrifício e renunciação, pesados tributos de dor redentora. Tenhamos em mente a necessidade da oração e do trabalho como meios de sustentação da fé, nos momentos ásperos que surgirão indubitàvelmente. Repontarão à nossa frente outros amores e outros desafetos. O nosso pretérito não está aqui todo representado, definido... Fortaleçamo-nos no bem, pois que só o bem nos fortalecerá devidamente para os embates porvindouros.
«Roguemos ao Pai que abençoe os nossos propósitos de luz e respeitemos no porvir a glória da nossa felicidade.
Concentrando-se, demoradamente, o Benfeitor começou a refletir luz prateada que lhe fluía do cérebro, vestindo-o totalmente. A sala humilde fez-se brilhante e tínhamos a impressão de que sutil aroma perfumava o ar. Transfigurado, o Mensageiro orou:
Senhor Jesus, Amigo Excelente:
Chegamos cansados dos caminhos percorridos,
Trazendo poeira transformada em lama nos pés da alma,
Sedentos e feridos, de mãos vazias e dilaceradas;
Tombada, a nossa fronte não se levamta para olhar o amanhã;
Os ombros arriados não suportam o fardo das próprias dissipações.
Socorre-nos, Celeste Benfeitor!
Não é a primeira vez que te esquecemos, envolvendo-nos no crime.
Não é a primeira tentativa que fazemos com insucesso.
Não é a primeira oportunidade que perdemos, acoimados pela loucura do «eu».
Apiada-te ainda mais de nós!
Fitamos o céu e nossos olhos não vêem as estrelas, olhamos o dia e o sol nos enceguece, seguimos a rota e tropeçamos sem a visão do solo...
Pensamos em ti e brilha em nosso espírito a Tua luz.
Ampara-nos, Construtor da Vida! Amanhece o dia do novo ensejo e logo mais mergulharemos no caudaloso rio da reencarnação.
Reencontraremos as dívidas chamando por nós e as dores reclamando nos;
Defrontaremos o ódio ultrajando nossas aquisições de amor e o sofrimento dificultando nosso avanço.
Dá-nos a Tua mão protetora!
Somos o que fomos, ajuda-nos a ser o que devemos!
A Ti entregamos nossas vidas:
Salva-nos, Jesus, através do trabalho redentor!
Quando o Mensageiro silenciou, nossos olhos estavam deslumbrados.
Recebêramos a visita dos Céus para termos força de prosseguir nos deveres da Terra.
Chegou o momento das despedidas.
De coração túmido abraçamos o nobre Irmão Glaucus.
Ele sorria gentil e confiante para todos nós.
O grupo foi sendo reconduzido aos seus lares.
Os irmãos que se reencarnariam foram atendidos por Assistentes Espirituais diversos que participaram das inúmeras tarefas e transferidos para o Mundo Maior.
Saturnino e Ambrósio conduziram-nos ao lar, assim como os demais membros do labor desobsessivo.
O manto da noite estava sendo erguido pelo ouro do sol e as nuvens brincavam de sombra e claridade na festa do Dia.
O perene amanhã com Jesus esperava por nós.

Fim

 QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – Reunidos todos os protagonistas desta história, o que ficou programado para o ex-obsessor Guilherme? De certo modo, seu antigo plano se concretizava, porém sob nova perspectiva. De que modo?

2 – E quanto a Dr. Teofratus e Jean Villemain?

3 – Por que, segundo o benfeitor Glaucus, a primeira tentativa de Dr. Teofratus de reencarnação poderia não ter sucesso? E como possivelmente seria sua nova reencarnação?

Bom estudo a todos!!

Equipe Manoel Philomeno

Nenhum comentário:

Postar um comentário