terça-feira, 10 de outubro de 2017

Notícia comentada: Sentir raiva e ódio pode nos deixar felizes, aponta estudo

Katie Silver
Repórter de Saúde da BBC News


As pessoas são mais felizes quando são capazes de se expressar emocionalmente, mesmo que sejam sentimentos desagradáveis, como raiva e ódio, aponta um novo estudo.
A pesquisa foi realizada com 2,3 mil estudantes universitários de Brasil, Estados Unidos, China, Alemanha, Gana, Polônia, Israel e Cingapura.
Os cientistas questionaram os participantes sobre quais emoções eles almejavam sentir e o que de fato sentiam. Depois, compararam isso com a forma como avaliavam seus níveis de felicidade e satisfação com a vida.
Os resultados indicam que a felicidade "é mais do que simplesmente sentir prazer ou evitar dor".
Os pesquisadores descobriram que, quanto mais as pessoas têm os sentimentos que esperam, maior é sua satisfação, "mesmo que sejam emoções negativas", esclarece a líder do estudo, Maya Tamir, da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel.

Felicidade em xeque

Surpreendentemente, a pesquisa aponta que 11% dos estudantes querem sentir menos emoções positivas, como amor e empatia, enquanto 10% desejam ter sentimentos negativos, como ódio e raiva.
"Se uma pessoa não sente raiva quanto lê sobre um caso de abuso infantil, ela pensa que deveria estar sentindo isso naquele momento e deseja experimentar essa emoção em ocasiões assim", explica Tamir.
A cientista também dá como exemplo uma mulher que quer deixar um parceiro abusivo e não se sente capaz de fazer isso. Ela pode considerar que seria mais feliz se o amasse menos.
Anna Alexandrova, do Instituto de Bem-estar da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, diz que a pesquisa coloca em xeque nosso conceito tradicional de felicidade como um equilíbrio entre emoções positivas e negativas.

Limitação

Mas a pesquisa tem a limitação de só incluir ódio e raiva entre os sentimentos ruins, destaca a pesquisadora.
"Ódio e raiva podem ser compatíveis com a felicidade, mas não há indícios de que outras emoções desagradáveis, como medo, culpa, tristeza e ansiedade, são", diz Alexandrova.
Tamir afirma que os resultados do estudo não se aplicam a quem tem um diagnóstico de depressão: "Pessoas assim querem se sentir mais tristes e menos felizes do que as outras".
Ela explica que a pesquisa lança uma luz sobre os aspectos negativos de se ter uma constante expectativa de ser feliz.
"Pessoas querem ser felizes o tempo todo nas culturas ocidentais. Mesmo que elas se sintam bem quase sempre, elas podem pensar que deveriam se sentir ainda melhor, o que pode torná-las menos felizes."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 15 de agosto de 2017.

Sergio Rodrigues* comenta

A conclusão do estudo a que se refere a presente matéria pode ser considerada surpreendente. É difícil imaginar que sentimentos tão inferiores como a raiva e o ódio possam proporcionar felicidade a alguém. Somente com o auxílio que o Espiritismo nos traz acerca da imortalidade do espírito e da sua evolução constante podemos encontrar alguma explicação, ainda que sem a pretensão de justificar essa circunstância.
Ensina-nos a Doutrina que os espíritos não são iguais em qualidades morais nem intelectuais, embora o sejam na sua origem, pois Deus os cria em igualdade de condições. Através do tempo e das escolhas que fazem vão moldando sua personalidade. Enquanto não atingem a condição de espíritos plenamente depurados, são de diferentes categorias, conforme o grau de aperfeiçoamento que tenham alcançado, desde os mais atrasados até os mais adiantados em evolução. Enquanto a caminho da perfeição a que estão destinados, povoam mundos de diferentes condições, conforme seu grau de adiantamento.
A Terra é um planeta destinado a provas e expiações dos espíritos que a habitam, que trazem vícios e mostram grande imperfeição moral. São espíritos que ainda não se despojaram desses vícios e imperfeições que vêm acumulando ao longo da sua trajetória evolutiva, com paixões inferiores a nortearem suas escolhas. Ainda têm imenso progresso a realizar, pois, embora não mais primitivos, estão distantes da perfeição moral para a qual foram criados. Têm propensão para o mal e são dominados por paixões e sentimentos inferiores, com os quais se identificam.
Todas essas características levam a uma dificuldade sempre presente em suas existências, que são os dois sentimentos inferiores apontados no estudo: a raiva e o ódio. O orgulho, também fortemente presente na personalidade desses espíritos, os induz a se julgarem acima dos demais, sempre certos e, em consequência, com dificuldades em conviverem com a contrariedade. Assim, quando algo os contraria, dirigem aos que não concordam com suas ideias a raiva e o ódio, assemelhando-se aos brutos. Como são ainda muito inferiores, nutrem esses sentimentos por algum tempo e, com isso, sentem-se “aliviados” ou, como diz o estudo, “felizes”.
Essa é uma explicação que, como dissemos, não justifica que se alimente aqueles sentimentos, mas é bastante coerente, se considerarmos o processo de evolução ensinado pelo Espiritismo. Mas o importante é que também ensina a Doutrina que esta é uma circunstância temporária, passageira, que será vencida com o progresso inexorável a que estamos todos destinados.
*Sergio Rodrigues é espírita e colaborador do Espiritismo.Net.

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