segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Felicidade & Ciência

João Eduardo Ornelas



A ciência médica busca meios de medir o nível de felicidade nas pessoas, uma vez que tal índice interfere no estado de saúde. Estudos mostram que pessoas felizes adoecem menos, trabalham melhor, vivem mais e têm relacionamentos mais sólidos e saudáveis. Por tudo isso, um maior conhecimento sobre o tema permitirá o direcionamento de medidas mais eficientes que possam, inclusive, refletir no nível da saúde pública das populações.

Em alguns países, a felicidade é assunto de governo, como no Butão, pequeno país da Ásia, onde se analisa o índice de felicidade interna bruta (FIB), em vez do índice do Produto Interno Bruto (PIB).

Uma das formas de mensurar o índice de felicidade no ser humano é verificar o nível do cortisol no organismo. O cortisol é um hormônio da família dos esteroides, produzido pela glândula suprarrenal, envolvido na resposta ao estresse. Pessoas consideradas felizes tendem a ter menos 35% de cortisol no organismo, que, por outro lado, são encontrados em abundância em pessoas estressadas. Ora, estresse exagerado causa infelicidade e doenças. Ter alto índice de cortisol no organismo mostra que a pessoa não está sabendo lidar com as emoções e está vivendo sob pressão. O hormônio não encontra desaguadouro e fica acumulado no organismo, causando infelicidade e enfermidades. Aquele que tem baixo nível de cortisol no corpo demonstra que sabe lidar com situações estressantes de forma construtiva.

Outro processo que ajuda a mensurar o grau de felicidade do indivíduo é o mapeamento do funcionamento no cérebro através de exames de neuroimagens. Descobriu-se que as pessoas felizes têm maior atividade na parte conhecida como lobo temporal esquerdo, ou córtex pré-frontal, a mesma área responsável pelo aprendizado. A maior atividade nesta área do cérebro produz mais serenidade e cria uma maior capacidade de superar emoções negativas, ou seja, uma possibilidade maior de felicidade.

Estudos com crianças recém-nascidas mostraram que aquelas que utilizam mais o lobo frontal esquerdo choram bem menos quando afastadas de suas mães. Dessa forma, os estudiosos concluíram que a felicidade tem um componente genético, quer dizer, algumas pessoas seriam naturalmente propensas à felicidade, uma vez que as crianças estudadas, por serem recém-nascidas, não tiveram como treinar o uso do cérebro nem analisar situações; logo, nasceram assim.

Em 1998 um estudo na Universidade de Minnesota concluiu que 50% da felicidade é determinada pela genética, o que levou, a princípio, a se pensar que seria inútil alguém tentar ser mais feliz. (Época, 2006)

Mas, analisemos: Deus seria justo e bom se criasse seres propensos à felicidade desde o nascimento e outros condenados a serem infelizes?  Não estaria Ele sendo parcial e, portanto, jogando por terra Seu senso de justiça e bondade? O que a Doutrina Espírita pode esclarecer a respeito?

O esclarecimento repousa na tese da reencarnação. O ser, ao reencarnar, atua diretamente na formação do corpo que lhe servirá de veículo, imprimindo nele suas tendências, suas características e necessidades…

O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e, sim, as faculdades que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos. (O livro dos Espíritos, Allan Kardec, q. 205).

Portanto, se alguém nasce com a tipologia da felicidade mostrada pelo mapeamento cerebral, quer dizer que foi o Espírito quem forjou aquele cérebro condizente com sua condição evolutiva ou suas características comportamentais. O Espírito feliz produzirá um organismo condizente com essa condição e, assim, o novo corpo, desde o nascimento, mostrará essa tendência, e, possivelmente, apresentará maior atividade no lobo frontal esquerdo, características de pessoas felizes. Por outro lado, o Espírito triste e deprimido tenderá a, desde cedo, apresentar no corpo a condição própria a esses quadros, ou seja, ser possivelmente portador de depressão endógena. Pode-se dizer que são depressivos de nascença, ou felizes de nascença, conforme o caso, mas tal se dá pela atuação do Espírito imprimindo suas tendências no novo organismo.

A cada um segundo suas obras, foi o que disse o Mestre Jesus. Todas as condições favoráveis ou desfavoráveis do Espírito são fruto de seu adiantamento maior ou menor, determinado pelo seu esforço e trabalho pessoal. São conquistas inalienáveis do ser. Deus não dá de graça as virtudes para alguns e as recusa a outros. É preciso fazer por merecer!

Mas seria possível àqueles que nasceram sem propensão à felicidade conquistarem essa condição? Ao realizar o estudo, na Universidade de Minnesota, o pesquisador David Lykken concluiu inicialmente que querer tornar-se mais feliz seria tão inútil quanto querer tornar-se mais alto, justamente pelo componente genético identificado nos estudos. Contudo, algum tempo depois, após novas experiências, ele voltou atrás nessa conclusão.

Há alguns anos admitia-se que o cérebro não tinha capacidade regenerativa, que ele era definido geneticamente, ou seja, possuía um programa genético fixo. No entanto, verificava-se que pacientes com lesões severas, obtinham, com técnicas de terapias, a recuperação da função cerebral. No século XIX os médicos perceberam que pessoas que sofriam lesões no lado direito do cérebro tomavam-se mais felizes depois de algum tempo. Perceberam também que, quando a lesão era do lado esquerdo, as pessoas tendiam a se tomarem mais irascíveis, ranzinzas…

Esses fatos podem ser explicados pela neuroplasticidade que é a capacidade que o cérebro tem de criar estas rotas alternativas, de adaptar-se. E isso ocorre com todas as pessoas, e por toda a vida, não importando a idade que têm.

Deus não nos criaria com uma formatação cerebral definitiva com a qual deveríamos viver uma existência de sessenta, setenta anos ou mais. Como o motivo da reencarnação é a evolução do ser, pode-se, com esforço e dedicação, mudar uma tendência, por mais forte que ela seja. É possível aprender, em qualquer época da vida, uma vez que não somos robôs; somos sim, seres em evolução, dotados de livre-arbítrio.


(Fonte: Jornal Mundo Espírita)

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