segunda-feira, 4 de junho de 2018

Ele perdeu a mulher no parto e conta como retomou sua vida após a tragédia

Bárbara Therrie
Colaboração com o UOL


Uma complicação no parto levou à morte a mulher do administrador Gledson Fonseca, 43. Keila morreu aos 34 anos e os gêmeos Samuel e Maria Luiza ficaram com sequelas e nasceram com paralisia cerebral. "Fiquei sem chão". A seguir, Gledson relata como foi encarar a tragédia e ainda cuidar dos filhos. Ele conta como reconstruiu sua vida com a morte de um dos bebês um mês depois dele se casar pela segunda vez, com Sueli, 46.
"Após quatro anos tentando engravidar, eu e a Keila ficamos muito felizes de saber que teríamos gêmeos. A gestação foi ótima. Tanto ela quanto os bebês estavam bem de saúde. Quatro dias antes dela completar 37 semanas e fazer a cesárea, ela sentiu falta de ar durante a madrugada. Fomos para o hospital, ela tomou inalação, fez alguns exames, mas piorou muito rápido e teve a primeira parada cardiorrespiratória. Ela ficou sem respirar por quase cinco minutos.
Quando os médicos conseguiram reanimá-la, decidiram fazer o parto às pressas. Os bebês passaram rapidamente por mim no corredor numa incubadora, direto para a UTI. Ao ver minha família naquela situação, fiquei sem chão, perdido, com a sensação de que eu estava sozinho. Foi um momento em que todo o sonho se transformou em pesadelo.

Keila queria ser mãe, ela lutou até o fim

O médico me chamou e disse que eles tentaram de tudo, que a Keila lutou por seis horas, mas não resistiu à quinta parada cardíaca. O sentimento que eu tenho é de que ela queria tanto ser mãe que lutou com todas as forças, porque não queria partir. Sofri pensando em como seria viver sem a minha parceira, mas me mantive forte. Não podia fraquejar, tinha dois filhos que dependiam de mim. Seria pai e mãe deles. Após os exames, foi constatado que a Keila pegou um vírus da família do H1N1.

Após enterrar minha mulher, fui conhecer meus filhos

No dia seguinte, depois de enterrar minha mulher, fui para o hospital conhecer o Samuel e a Maria Luiza. Eles tiveram sequelas e nasceram com paralisia cerebral. Procurei me manter calmo, mas, dentro de mim, só eu sabia a dor que eu estava sentindo. Eu me apeguei a Deus e aos meus pais para suportar tudo aquilo.
A situação dos gêmeos era grave e a batalha para mantê-los vivos era diária. Eles ficaram internados por três meses e foram submetidos a uma cirurgia para colocar um tubo na garganta para auxiliar na respiração. Como necessitavam de cuidados especiais, montei uma estrutura home care, numa casa em que aluguei perto dos meus pais. Cuidava deles com a ajuda de duas enfermeiras e da minha mãe.

Conheci a Sueli

Nesse período, recebi muitas mensagens de apoio pelo Facebook. Uma delas foi da Sueli, com quem tive um único contato havia alguns anos em um grupo de estudo bíblico. Ela disse que estava orando por mim e pelas crianças. Começamos a conversar e a nos conhecer melhor. Ela era viúva havia quase 12 anos e compartilhou comigo a experiência do luto.
A gente foi se aproximando e eu percebi que ela era uma mulher madura, que compartilhava os mesmos valores que eu. Precisava de alguém que não gostasse apenas de mim, mas que também amasse meus filhos. Começamos a namorar e dez meses depois de tudo o que havia acontecido, nos casamos, em abril de 2016.

Perdi meu filho com 11 meses

Eu tinha voltado a trabalhar e as coisas pareciam estar se ajustando, quando um mês depois do casamento, o Samuel faleceu após uma complicação respiratória. Ele teve o mesmo problema que a Keila. Foi uma pancada muito forte. Sofremos demais.

Minha segunda mulher abriu mão da carreira para ser tornar mãe da minha filha

Mais uma vez busquei forças em Deus e segui em frente. Passado um tempo, a Sueli decidiu abrir mão da carreira dela e abandonou o emprego de 18 anos para se dedicar integralmente a Maria Luiza, a quem trata como filha e provê todos os cuidados e o amor de uma mãe dedicada.
Como não mexe nenhuma parte do corpo, a comunicação da Mallu com a gente é pelo olhar. Ela suspira e fixa os olhos em nós quando está feliz e quando fazemos carinho, brincamos e conversamos com ela. A saúde dela está estável e isso nos tranquiliza.
Apesar de tudo o que passei, sou grato a Deus por ele ter me dado uma nova família, por ter uma filha maravilhosa e uma esposa que é muito companheira. Somos abençoados. Temos aprendido a celebrar e a dar valor a cada detalhe. A vida é passageira e não podemos desperdiçar momentos com as pessoas que amamos".

Notícia publicada no BOL Notícias, em 23 de fevereiro de 2018.

Marcia Leal Jek* comenta

“Ao ver minha família naquela situação, fiquei sem chão, perdido, com a sensação de que eu estava sozinho. Foi um momento em que todo o sonho se transformou em pesadelo (...). Procurei me manter calmo, mas, dentro de mim, só eu sabia a dor que eu estava sentindo. Eu me apeguei a Deus e aos meus pais para suportar tudo aquilo (...).”
Através desse relato, entendemos os momentos em que precisamos de uma palavra de conforto e ânimo para as nossas adversidades diárias; temos a prece como mecanismo para conversarmos com o nosso Anjo da Guarda e, assim, com a divindade.
Pela prece o homem atrai o concurso de bons espíritos, que vem nos ajudar a termos bons pensamentos.
Existem momentos onde pode parecer que estamos à deriva, mas Deus está sempre no controle. Podemos achar também que estamos sozinhos nestes momentos, mas temos a presença de Deus bem pertinho de nós, só esperando que não nos afastemos.
Não podemos deixar que momentos de tristeza possam vir a envolver em nossas descidas da vida.
A querida benfeitora Joanna de Ângelis, no livro "Alegria de Viver", psicografado por Divaldo Franco, nos ensina sobre a oração: "A mente que ora se revitaliza, fortalecendo o corpo. Portadora de altas cargas de energia positiva, a prece faculta a sintonia com as Fontes Geradoras da Vida, propiciando o intercâmbio com outras mentes que se movimentam nas faixas superiores do Cosmo. Por mais complexas se te apresentem as situações, faze uma pausa e ora. A atitude te oferecerá calma e lucidez. Diminuirá a tensão e o temor, renovando-te o ânimo e propiciando-te uma visão mais lúcida a respeito da questão que defrontas. Talvez não te proporcione a solução que almejas que te parece, no momento, a melhor. Desencadeará, porém, fatores transcendentes que irão contribuir para a equação correta em torno do problema, no instante próprio".
A reencarnação, como bênção de oportunidade, reflete a oportunidade que Deus nos dá de corrigir nossos erros, males e equívocos, ainda que parcialmente, de ajustar e reajustar contas; oportunidade de crescimento, de evolução, de progresso intelectual e moral; oportunidade ímpar de dar nova direção à nossa vida, com o ingresso definitivo na estrada do Bem, praticando-o onde quer que nos encontremos.
Em geral, as reencarnações são planejadas com antecipação e o tempo de preparo será proporcional às necessidades educativas do espírito. Quanto mais evoluído, maior seu tempo de intermissão, consequentemente, mais tempo terá ele para seu planejamento, que exigirá o concurso de muitos espíritos, participando, direta ou indiretamente, das relações futuras do reencarnante. Tais preparativos vão desde a escolha dos pais, ao tipo e detalhes do corpo de que se utilizará o espírito. Escolhe o gênero de provas que atravessará, o tipo de morte que terá, as principais experiências que deverão ocorrer após o nascimento, que reencontros se darão, que doenças terá, qual a época mais propícia para se reencarnar etc.
Tais experiências planejadas se dão no nível de probabilidades, podendo haver alterações, a depender das necessidades do espírito, bem como de seu livre-arbítrio e de terceiros. Fundamental é perceber que, embora planejado, no destino e na existência da pressão interna das experiências anteriores, o livre-arbítrio é soberano, podendo alterar quaisquer dos fatores. As escolhas havidas, que sejam diferentes do planejado, levarão a consequências - positivas ou negativas - para o espírito que, após a reencarnação, poderá alterar seu planejamento. Poderá adquirir novos compromissos, como fugir de outros, ampliar suas realizações previstas, tanto quanto diminuí-las.
São muitos os desafios, mas nenhum que não possamos vencer, nesta ou em encarnações que estão por vir. Nosso dia a dia é cheio de altos e baixos; todos, no entanto, instrumentos de crescimento e de burilamento para o Espírito imortal; nossas forças são ilimitadas, desde que estejamos confiantes no Pai, que nunca nos abandona e não nos dá nenhuma lição que não possamos fazer.
Deus criou as leis naturais, e tudo no Universo age de acordo com estas leis. Estudando-as e entendendo-as podemos compreender nosso papel aqui, bem como nossa vida atual.
Santo Agostinho afirmou em O Livro dos Espíritos, sobre o mundo de expiações e de provas: 13. “Que vos direi, que já não conheçais, dos mundos de expiações, pois que basta considerar a Terra que habitais? A superioridade da inteligência, num grande número de seus habitantes, indica que ela não é um mundo primitivo, destinado a encarnação de Espíritos ainda mal saídos das mãos do Criador. Suas qualidades inatas são a prova de que já viveram e realizaram um certo progresso, mas também os numerosos vícios a que se inclinam são o indício de uma grande imperfeição moral. Eis porque Deus os colocou num mundo ingrato, para expiarem suas faltas através de um trabalho penoso e das misérias da vida, até que se façam merecedores de passar para um mundo mais feliz.”
Nem uma provação a que somos compelidos tem por finalidade a punição ou o castigo. Todas as provações, sejam elas originadas por nossos débitos do passado ou por nossas falhas presentes, têm por finalidade única o nosso aprendizado, forçando nosso aperfeiçoamento como seres em processo contínuo de evolução.
Seguindo o relato do Gledson:
“Apesar de tudo o que passei, sou grato a Deus por ele ter me dado uma nova família, por ter uma filha maravilhosa e uma esposa que é muito companheira. Somos abençoados. Temos aprendido a celebrar e a dar valor a cada detalhe.”
O Espírito Hammed, pela psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto, na obra intitulada ”Renovando Atitudes”, nos diz: “Ter fé em Deus é reconhecer que a Natureza, “Arte Divina”, garante nossa própria evolução. Mesmo quando tudo pareça ruir em nossa volta, é ainda a fé amplamente desenvolvida que nos dará a certeza de que, mesmo assim, estaremos sempre ganhando, ainda que momentaneamente não possamos decifrar o ganho com clareza e nitidez. No Universo nada existe que não tenha sua razão de ser. Tudo aquilo que parece desastroso e negativo em nossa existência, nada mais é que a vida articulando caminhos, para que possamos chegar onde estão nossos reais anseios de progresso, felicidade e prazer. A criatura que aprendeu a ver o encadear dos fatos de sua vida, além de cooperar e fluir com ela, percebe que aquilo que lhe parecia negativo era apenas um “caminho preparatório” para alcançar posteriormente um Bem Maior e definitivo para si mesma. As grandes tragédias não significam castigos e punições, porém maiores possibilidades futuras para a obtenção de uma melhoria de vida íntima e, paralelamente, de plenitude existencial (...).”
Mais adiante, na mesma, mensagem Hammed nos esclarece que “a confiança em que tudo está justo e certo e em que não há nada a fazer, a não ser melhorar o nosso próprio modo de ver e entender as coisas, alicerça-se nas palavras de Jesus: “até os fios de cabelo da nossa cabeça estão todos contados”. (Evangelho de São Lucas, capitulo 12, versículo 7.) É a convicção perfeitamente ajustada a uma compreensão ilimitada dos desígnios infalíveis e corretos da Providência Divina.
Em muitas ocasiões, somente usando os recursos interpretativos da fé, nos grandes choques e tragédias, é que podemos notar o “processo de atualização” que a vida nos oferece, porquanto o significado de um acontecimento é captado em plenitude apenas quando “decifrado”.
É o único caminho que nos permitirá encontrar a verdadeira compreensão e entendimento dos fatos em si.
* Marcia Leal Jek é espírita e colaboradora do Espiritismo.net

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