quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Revista Espírita: Casas de jogo

Gontran, Vencedor das Corridas de Chantilly

O fato seguinte, bem como o da romança de Henrique III, que acabamos de relatar, é igualmente tirado do Grand Journal, de 4 de junho de 1865, no qual não forma, com o precedente,senão um só e mesmo artigo, assinado por Albéric Second.

“Os que nos dão a honra de nos ler sabem, não há dúvida, que professamos um cepticismo radical a respeito do Espiritismo, dos espíritas e dos médiuns. – Mostrai-nos os fatos,dizíamos aos que se esforçavam por nos converter às suas teorias e às suas doutrinas. E considerando que não nos davam nenhuma prova concludente, persistimos na negação e na zombaria.

“Antes de mais, quem assina estas crônicas é um escritor de boa-fé; assim, julga-se obrigado a não pôr a luz sob o alqueire. Que tirem do seu relato as ilações que quiserem, não é problema seu. Semelhante a um presidente de tribunal, vai limitar-se a reproduzir os fatos num rápido resumo, imparcial, deixando aos leitores o trabalho de pronunciar um veredicto à vontade.”

Depois deste preâmbulo, que é o de um homem leal,como seria de desejar que fossem todos os nossos antagonistas, narra o autor, na forma espirituosa que lhe é familiar, que um de seus amigos, achando-se em casa de um médium, perguntou se um Espírito poderia designar qual seria o vencedor das próximas corridas de Chantilly. O médium que é, ao que se diz, uma camponesa recentemente vinda das montanhas do Jura, o que vale dizer pouco letrada e pouco afeita aos hábitos do esporte, tendo evocado o Espírito de um dos nossos mais célebres desportistas,obteve pelas batidas a designação das letras, formando o nome de Gontran.

“Existe, pois, perguntou o Sr. Albéric Second, um cavalo com este nome entre os concorrentes inscritos? – A bem da verdade, nada sei, respondeu seu amigo; mas se o houver, podeis contar que é nele que apostarei.

“Ora, domingo último era 28 de maio. O Derby de Chantilly foi corrido nesse dia e o vencedor foi Gontran, da coudelaria do major Fridolin (pseudônimo hípico dos Srs. Charles Laffitte e Nivière).

“Os fatos que acabo de relatar são conhecidos de grande número de pessoas no mundo da Bolsa. O Sr. Émile T. foi amplamente recompensado pelo resultado de sua confiança absoluta nas predições da camponesa do Jura, e os seus amigos que partilharam sua fé igualmente tiveram bom lucro. – E dizer que vosso servo perdeu uma tão rara ocasião de ganhar, com toda certeza e sem esforço, 1000 ou 1500 luízes, que teriam sido bemvindos! Não é muita estupidez?”

Fatos desta natureza não são os que melhor servem à causa do Espiritismo; primeiro, porque são muito raros e, em segundo lugar, porque falseariam o seu espírito, fazendo crer que a mediunidade é um meio de adivinhação. Se tal idéia fosse plausível, ver-se-ia uma multidão de indivíduos consultando os Espíritos,como se consultam as cartas, e os médiuns seriam transformados em ledores de buena-dicha. É então que se teria razão de invocar contra eles a lei de Moisés, que fere de anátema “os adivinhos, os encantadores e os que têm o espírito de Píton.” É para evitar esse grave inconveniente, que seria muito prejudicial à doutrina, que sempre nos levantamos contra a mediunidade exploradora.

Não repetiremos o que foi dito cem vezes e largamente desenvolvido, sobre a perturbação que acarretaria o conhecimento do futuro, oculto ao homem pela sabedoria divina; o Espiritismo não está destinado a fazê-lo conhecer; os Espíritos vêm para nos tornar melhores e não para no-lo revelar ou nos indicar os meios de ganhar dinheiro com toda certeza e sem esforço, como diz o herói da aventura, ou ocupar-se dos nossos interesses materiais,colocados pela Providência sob a salvaguarda de nossa inteligência, de nossa prudência, de nossa razão e de nossa atividade. Assim,todos os que, de desígnio premeditado, julgarem encontrar no Espiritismo um novo elemento de especulação, a qualquer título,equivocam-se; as mistificações ridículas e, por vezes, a ruína em vez da fortuna, têm sido o fruto de seu engano. Eis o que todos os espíritas sérios devem esforçar-se em propagar, se querem servir utilmente à causa. Temos dito sempre aos que sonharam com fortunas colossais pelo concurso dos Espíritos, sob o especioso pretexto de que a sensação que tal acontecimento produziria,tornaria todo mundo crente; que, se tivessem êxito, desfeririam um golpe funesto na doutrina, excitando a cupidez em vez do amor ao bem. É por isto que as tentativas desse gênero, encorajadas por Espíritos mistificadores, sempre foram seguidas de decepções.

Há alguns anos, alguém nos escrevia de Hamburgo,porque, tendo perdido no jogo e se achando sem recursos para partir, teve a idéia de dirigir-se a um Espírito, que lhe indicou um número, no qual pôs o seu último florim, ganhou e saiu da dificuldade. A pessoa nos convidava a publicar o fato na Revista,como prova da intervenção dos Espíritos. Supondo a ação de um Espírito em tal circunstância, ela não via a severa lição que lhe era dada, pelo próprio fato de que lhe forneciam os meios de ir-se embora e que a tirara de um mau passo. Na verdade era conhecernos muito pouco, ou nos supor bastante leviano para nos julgar capaz de preconizar semelhante fato como meio de propaganda,pois esta teria sido feita em nome das casas de jogo, e não do Espiritismo. Teria sido realmente curioso ver-nos fazer a apologia dos Espíritos que favorecem os jogadores e, particularmente, o roubo, porque, ganhar com toda certeza, seja com cartas marcadas,seja por uma indicação qualquer é uma verdadeira fraude.

Um indivíduo que não era espírita – apressemo-nos em dizê-lo – mas que absolutamente não negava a intervenção dos Espíritos, um dia veio fazer-nos uma proposta singular. Disse ele:

“As casas de jogo são profundamente imorais; o meio de as suprimir é provar que se pode lutar seguramente contra elas. Encontrei uma nova combinação, um meio infalível de fazê-las explodir todas. Quando se virem arruinadas e impossibilitadas de resistir, serão forçadas a fechar e o mundo estará livre dessa chaga,que é o roubo organizado. Mas para isto é preciso certo capital que, oh! estou longe de possuir. Não poderíeis indicar, por meio dos Espíritos, alguém a quem me possa dirigir com segurança? Imaginai o efeito que isto produzirá, quando se souber que é pelos Espíritos que tão grande resultado é obtido! Quem está livre de crer nisto?
Os mais incrédulos, os mais obstinados deverão render-se à evidência. Como vedes, meu objetivo é muito moral e eu não me aborreceria se na ocasião tivesse o conselho dos Espíritos sobre a minha combinação.”

– Sem consultar os Espíritos, posso facilmente vos dar a opinião deles. Eis o que eles vos responderiam: “Achais que o ganho nas bancas de jogo é ilícito e que é um roubo organizado. Para remediar o mal quereis, por um meio infalível, apoderar-vos desse dinheiro mal-adquirido; em outros termos, quereis roubar o ladrão, o que não é mais moral. Temos outro meio de chegar ao resultado que propondes: em vez de fazer ganharem os jogadores, arruiná-los o mais possível, a fim de os desencorajar. Os desastres causados por esta paixão fizeram fechar mais casas de jogo do que poderiam fazê-lo os jogadores mais felizes. É o excesso do mal que faz abrir os olhos e conduz a reformas salutares, nisto como em todas as coisas. Quanto a propagar a crença no Espiritismo, temos igualmente meios mais eficazes e, sobretudo, mais morais: é o bem que ele faz, as consolações que proporciona e a coragem que dá nas aflições. Assim, diríamos a todos os que tomam a peito o progresso da doutrina: Quereis servir utilmente à causa? fazer uma propaganda realmente proveitosa? Mostrai que o Espiritismo vos tornou melhores; fazei que em vos vendo transformados, cada um possa dizer: Eis os milagres desta crença; é, pois, uma boa coisa. Mas, se ao lado de uma profissão de fé de crentes, vos virem sempre viciosos, ambiciosos, odientos, cúpidos, invejosos ou debochados, dareis razão aos que perguntam para que serve o Espiritismo. A verdadeira propaganda de uma doutrina essencialmente moral se faz tocando o coração, e não visando a bolsa. Eis por que favorecemos a uns e frustramos os cálculos de outros.”

Voltemos a Gontran. Os casos de previsão desse gênero, embora tendo exemplos, são, todavia, muito raros e podem ser encarados como excepcionais; aliás são sempre fortuitos e jamais o resultado de um cálculo premeditado. Quando ocorrem, devem ser aceitos como fatos isolados; mas bem louco e imprudente seria quem se fiasse em sua realização.

Não se deve confundir estas espécies de revelações com as previsões que por vezes dão os Espíritos dos grandes acontecimentos futuros, sobre cuja realização podem nos fazer pressentir no interesse geral. Isto tem sua utilidade para nos manter alerta e nos exortar a marchar no bom caminho. Mas as predições em dia certo, ou com excessivo caráter de precisão, devem ser tidas sempre por suspeitas.

No caso em tela, o pequeno fato tinha a sua utilidade; era o meio, talvez o único, de chamar a atenção de certas pessoas para a idéia dos Espíritos e sua intervenção no mundo, muito mais que para um fato sério; isto é preciso para todos os caracteres. Nesse número, alguns simplesmente terão dito: “É singular!” mas outros terão querido aprofundar a coisa e a terão encarado pelo lado sério e verdadeiramente útil. Ainda que houvesse apenas um em dez, seriam outros tantos elementos de ganho e de propaganda à causa. Quanto aos demais, a idéia semeada em seu espírito germinará mais tarde.

Relatando o fato, já que mereceu grande publicidade,quisemos ressaltar as suas conseqüências; mas não o teríamos feito sem comentários e a título de simples anedota. O Espiritismo é uma mina inesgotável de assuntos de observação e de estudo por suas inumeráveis aplicações.

Diz o autor do artigo no preâmbulo: “Mostrai-nos fatos.” Por certo ele imagina que os Espíritos obedecem a ordens e que os fenômenos são obtidos à vontade, como as experiências num laboratório ou como os truques de escamoteação. Ora, não é assim que acontece. Aquele que quer fenômenos não deve pedir que lhos tragam, mas procurá-los, observá-los e aceitar os que se apresentam. Esses fenômenos são de duas naturezas: os que são produto dos médiuns propriamente ditos e que, até certo ponto, podem ser provocados, e os fenômenos espontâneos. Estes últimos têm, para os incrédulos, a vantagem de não serem suspeitos de preparação; são numerosos e se apresentam sob uma variedade infinita de aspectos, tais como: aparições, visões, pressentimentos, dupla vista, ruídos insólitos, algazarra, perturbações, obsessões, etc. O caso do Sr. Bach pertence a esta categoria e o de Gontran à primeira. Para quantos queiram convencer-se seriamente, os fatos não faltam e aquele que os pede talvez os tenha testemunhado mais de uma vez sem o suspeitar; erra, porém, a maioria por querer fatos à sua maneira, a hora marcada, e não se contentar com os que a Providência põe sob os nossos olhos. A incerteza da obtenção desses fenômenos e a impossibilidade de os provocar à vontade são provas de sua realidade, porque se fossem produto do charlatanismo ou de meios fraudulentos, jamais faltariam. O que falta a certas pessoas não são fatos, mas paciência e vontade de buscar e estudar os que se apresentam.
 

R.E. , julho de 1865, p. 275  

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Aceitação

Aceite o que vida traz para você. Talvez não entenda, de imediato, as situações nas quais se vê envolvido, mas, a vida soberana sabe o porque de todas as coisas. Não caia no erro de achar-se vítima disto ou daquilo, nem pensar que está sendo punido por uma justiça divina que você crê conhecer.
No atual estágio evolutivo, o homem é como um cego que tem a ilusão de ver. Portanto, conhecer a verdade dos fatos, ser capaz de avaliar e medir, chamando para si o papel de juiz, não é sua tarefa.  Eu lhe digo que há muito, muito mais a conhecer e que cada um tem o seu destino a cumprir.

A sua principal missão deve ser a de cuidar de si e descobrir quem é. Aceite o que a vida traz para você, pois tudo é como tem que ser, não só para o seu próprio bem e crescimento, mas, também, pelo bem maior, já que sua existência real só é possível na Unidade.

Autora: Dóris Viégas Beling

Livro: Joias da Sabedoria Divina – Página: 40 – Ano de Edição: 2007

domingo, 30 de agosto de 2015

O Jovem Espírita na Sociedade

Definitivamente, ser jovem nos dias de hoje não é nada fácil. Ser jovem espírita, então, é mais difícil ainda. Afinal, a sociedade atravessa um momento de transição, onde todos os valores tradicionais são colocados na berlinda, contestados, mas sem que ainda se tenha um novo paradigma ou novas propostas para substituir o modelo anterior. No caso do jovem espírita, ele ainda precisa falar lidar com os preconceitos da própria Doutrina, que se confronta em diversos pontos com os apelos da instantaneidade, sensualidade e consumismo que tanto seduzem a todos nós na atualidade.

São inúmeros os desafios a serem enfrentados pelo jovem espírita hoje. As propostas e modelos sociais estão em xeque. O conceito de “globalização” impõe, praticamente sem resistência, o domínio do capital transnacional, sem pátria, sem bandeira e sem escrúpulos. Por sua vez, a falta de critérios justos na movimentação das riquezas oriundas desse capital sem pátria coloca hoje toda da economia mundial em profunda crise.

No campo do comportamento, também a sociedade se encontra num momento de indefinição, de incertezas. Na sexualidade, o rumo foi perdido. Transita-se desde o conservadorismo e puritanismo hipócrita e exacerbado até a libertinagem indiscriminada. Na questão de usos e costumes, enfrentamos uma padronização baseada no “marketing”, na “marca”, na “etiqueta”. O indivíduo é convencido que tem que possuir e consumir a “marca” porque esta existe, e não mais por suas reais necessidades.

Também somos convencidos a adotar comportamentos sociais padronizados, estereotipados, que nos são vendidos pelos meios de comunicação como sendo normais, da vida real, do dia-a-dia. Na busca da interação social, difícil em casa pelas dificuldades do mundo moderno, o jovem busca a “proteção” da “turma”, da “gangue”, o que o leva a muitas vezes à uniformização, à estandardização, à mediocridade da média padronizada. A “turma” cobra o preço da “proteção”, que é a aceitação e repetição do comportamento da “tribo”, a aceitação de que aquilo é correto, que os errados são os que daquela forma não procedem. Na “turma”, o senso crítico é abafado.

Mas adiante de todo esse cenário problemático, o que o jovem espírita deve fazer? Acima de tudo, seguir a lei de justiça, amor e caridade, como cabe a um verdadeiro Homem de Bem. Ele deve interrogar a sua consciência sobre seus próprios atos, e a si mesmo perguntar se suas atitudes não violentarão as leis naturais, fazendo aos outros tudo o que desejaria que lhe fizessem. Por ser jovem, ele tem tudo a construir, e construindo, pode mudar o mundo.

A sociedade atual exige que o jovem espírita informe-se, desenvolva seu espírito crítico, instrua-se. Ele deve viver intensamente a vida, sempre com o cuidado de não “trombar” com as Leis Naturais. Deve exercitar a paz, a paciência, a não violência, a dialética como sinalizadora do trânsito entre diferentes opiniões e tendências. Deve exercitar a mudança e a evolução constante, pela participação efetiva na sociedade, na escola, em casa e na casa espírita. Não pode calar-se com as injustiças, nem omitir-se na participação societária. Não deve ter vergonha da exemplificação correta, nem do abandono da mediocridade. Deve usar a experiência dos mais velhos para facilitar a elaboração do seu projeto de vida, e ao mesmo tempo a ousadia da juventude para se propor num projeto mais ousado. Deve ter a consciência e assumir a responsabilidade de que a mudança só é possível quando existe flexibilidade, quando a razão e a emoção se encontram numa mentalidade que ainda pode ser mudada, e que se dispõe a estar mudando, e que isto é uma característica do jovem.

Resumindo: sem sombra de dúvida, o mundo só mudará para melhor, num caminho pacífico e controlado, se os jovens decidirem que irão mudá-lo dessa maneira, numa construção individual, que na evolução das gerações, levará à evolução e construção coletiva. Para tanto, a famosa frase de Kardec é sempre atual: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações”.

Autor: Marcos Leite
Revista Cultura Espírita
Ano IV – Nº 37 – Página: 17 – Abril de 2012
ICEB – Instituto de Cultura Espírita do Brasil – Rio de Janeiro

sábado, 29 de agosto de 2015

Estudo dirigido: O Evangelho segundo o Espiritismo

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EESE – Cap. XII – Itens 5 a 8
Tema:   Os inimigos desencarnados
            Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe
            também a outra
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A - Texto de Apoio:

Os inimigos desencarnados

5. Ainda outros motivos tem o espírita para ser indulgente com os seus inimigos. Sabe ele, primeiramente, que a maldade não é um estado permanente dos homens; que ela decorre de uma imperfeição temporária e que, assim como a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se tornará bom.

Sabe também que a morte apenas o livra da presença material do seu inimigo, pois que este o pode perseguir com o seu ódio, mesmo depois de haver deixado a Terra; que, assim, a vingança, que tome, falha ao seu objetivo, visto que, ao contrário, tem por efeito produzir maior irritação, capaz de passar de uma existência a outra. Cabia ao Espiritismo demonstrar, por meio da experiência e da lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, que a expressão: extinguir o ódio com o sangue é radicalmente falsa, que a verdade é que o sangue alimenta o ódio, mesmo no além-túmulo. Cabia-lhe, portanto, apresentar uma razão de ser positiva e uma utilidade prática ao perdão e ao preceito do Cristo: Amai os vossos inimigos. Não há coração tão perverso que, mesmo a seu mau grado, não se mostre sensível ao bom proceder. Mediante o bom procedimento, tira-se, pelo menos, todo pretexto às represálias, podendo-se até fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de sua morte. Com um mau proceder, o homem irrita o seu inimigo, que então se constitui instrumento de que a justiça de Deus se serve para punir aquele que não perdoou.

6. Pode-se, portanto, contar inimigos assim entre os encarnados, como entre os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua malevolência pelas obsessões e subjugações com que tanta gente se vê a braços e que representam um gênero de provações, as quais, como as outras, concorrem para o adiantamento do ser, que, por isso; as deve receber com resignação e como consequência da natureza inferior do globo terrestre. Se não houvesse homens maus na Terra, não haveria Espíritos maus ao seu derredor. Se, conseguintemente, se deve usar de benevolência com os inimigos encarnados, do mesmo modo se deve proceder com relação aos que se acham desencarnados.

Outrora, sacrificavam-se vítimas sangrentas para aplacar os deuses infernais, que não eram senão os maus Espíritos. Aos deuses infernais sucederam os demônios, que são a mesma coisa. O Espiritismo demonstra que esses demônios mais não são do que as almas dos homens perversos, que ainda se não despojaram dos instintos materiais; que ninguém logra aplacá-los, senão mediante o sacrifício do ódio existente, isto é, pela caridade; que esta não tem por efeito, unicamente, impedi-los de praticar o mal e, sim, também o de os reconduzir ao caminho do bem e de contribuir para a salvação deles. E assim que o mandamento: Amai os vossos inimigos não se circunscreve ao âmbito acanhado da Terra e da vida presente; antes, faz parte da grande lei da solidariedade e da fraternidade universais.

Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra

7. Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. - Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; - e que se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhes entregueis o manto; - e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil. - Dai àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar emprestado. (S. MATEUS, cap. V, vv. 38 a 42.)

8. Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar "ponto de honra" produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões terrenas. Por isso é que a lei moisaica prescrevia: olho por olho, dente por dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse: Retribui o mal com o bem. E disse ainda: "Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra." Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele não compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente.

Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas consequências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio as agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança. Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. E, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.

B - Questões para estudo e diálogo virtual:

1 – Cite motivos pelos quais tem o espírita o dever de ser para ser indulgente com os seus inimigos.

2 – Como podemos compreender a máxima: “Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra”?

3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB–1970 – CONCLUSÃO A007 – Examinando a obsessão - 3ª parte

 

Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A007 – Examinando a obsessão - 3ª parte

Examinando a obsessão – parte 03

CONCLUSÃO

QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – Que tipo de recomendações Manoel Philomeno traz para identificarmos uma possível obsessão e impedi-la em nós mesmos?

Em todas as citações cotidianas, Manoel Philomeno deixa claro qual é o sintoma da obsessão: um pensamento negativo que procura se impor, seja através do vício, da desconfiança sem motivo, da irritabilidade, etc. A obsessão, conforme temos estudado a definição kardequiana, é a ação persistente de um espírito sempre atrasado sobre um encarnado; este espírito, chamado obsessor, tentará agir através dos canais psíquicos, isto é, da sugestão telepática procurando impor sua vontade, a despeito da vontade do reencarnado.

2 – Que tipo de recursos possuímos, caso identifiquemos a influência de um espírito nos inspirando ideias fixas e ruins?

Se a linha de ação do obsessor será a sugestão psíquica negativa, transmitida telepaticamente, é certo que deverá ser estabelecida uma sintonia mínima entre obsessor/obsidiado para que, através dela, os pensamentos impositivos emitidos sejam recepcionados pela mente do reencarnado. A sintonia entre ambos tem por base a afinidade de aptidões, de imperfeições e paixões; do contrário, a onda psíquica emitida não encontra receptividade no encarnado. Portanto, que devemos fazer? Quebrar esta receptividade em nós mesmos através da procura da conduta cristã, alicerçada em virtudes eternas. Logo, devemos buscar a tríade: estudo, prece e trabalho fraterno; pouco a pouco, transformaremos nosso padrão de vibração espiritual, tornando-nos surdos aos apelos inferiores. É interessante a citação de Tiago, 1, 14: "cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência."

3 – Qual a influência dos vícios no processo obsessivo? Por que isso acontece?

Os vícios apresentam importante papel no processo obsessivo, pois são grandes fatores de sintonia entre obsessor/obsidiado. Ora, com o tabagismo, a alcoofilia, a sexualidade perturbada, o consumo de drogas, etc apenas podemos esperar atrair espírito de baixa condição espiritual, porque presos às paixões terrenas; evidentemente, tais convivências cultivadas anos a fio estreitam os laços de sintonia para a obsessão, e, mais tarde, poderão ser portas escancaradas para a sugestão doentia. Não por acaso, os piores crimes são planejados e executados sob o bafejo dos vícios variados...

4 – Você tem dúvidas sobre o tema desta semana? Qual?