sexta-feira, 10 de julho de 2009

Notícia: "Guerra sem armas"

Daniela Jacinto

Notícia publicada na edição de 15/03/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno B - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

Programa, coordenado por jovens, incentiva a transformação de comunidades usando recursos e talentos locais; Ester Souza de Brito, da ONG Lua Nova, é uma dessas jovens

Começa sempre pelo sonho. A partir dele, união e mãos à obra para conseguir, em curto espaço de tempo, aquilo que se almeja. Pode ser a melhoria de um bairro, a construção de uma casa, o aprendizado de um serviço, enfim, algo que será em benefício da comunidade em que se vive. Entre homens e mulheres empenhados em reverter a situação, estão jovens, muitos deles que pagaram R$ 1.500,00 para fazer um curso e se capacitar para esse tipo de atitude. Estamos falando do Guerreiros Sem Armas, um programa que incentiva o empreendedorismo social. Durante um mês, aproximadamente 70 jovens selecionados, entre 18 e 35 anos de idade, trabalham em uma comunidade, para a qual pensam e executam um projeto - como um centro cultural, uma praça, uma creche - usando recursos e talentos locais, para atender a uma necessidade real dos moradores. Depois de passarem pelo programa, tanto a comunidade quanto os jovens visitantes terão subsídios para propor soluções e desenvolver projetos, buscando responder a graves problemas sociais e ambientais, respeitando a identidade de cada comunidade.

Determinada e engajada com as causas sociais, a jovem Ester Souza de Brito, 20 anos, integrante da ONG Lua Nova, de Sorocaba, conta que acabou de participar do programa Guerreiros Sem Armas e que a vivência no local foi tão forte, que ficará para sempre. “É até meio estranho voltar ao mundo real, você se sente meio perdida”, diz.

Realizado de 5 de janeiro a 5 de fevereiro em Santos, o programa contou com participação de jovens de todo o mundo. “Na verdade começa antes, quando você tem de arrumar recursos financeiros para poder participar. Nessa etapa, o próprio jovem vende aquilo que sabe fazer, pode ser algum tipo de artesanato, por exemplo, e isso conta como uma espécie de currículo”, afirma Ester.

Depois de aprovada, Ester foi para Santos, onde ficou na Vila dos Criadores, local que num passado recente abrigou o lixão da cidade. Apesar de desativado, o costume com o lixo ainda fazia parte da rotina da comunidade, que costumava jogar todas as sobras perto de suas casas. “Quando cheguei, ainda era possível observar barro e lixo na avenida inteira. Então começamos captando os sonhos da comunidade”, explica.

No primeiro dia de trabalho, foi realizada uma vivência para resgate da auto-estima da comunidade, para que todos pudessem encontrar beleza onde não há. “Em um dos locais onde era acumulado o lixo, já estavam plantados pés de frutas como amora, maracujá, e aquele espaço a gente começou a chamar de Montanha Sagrada. A vontade das pessoas era mudar a entrada da comunidade, transformar aquele lugar cheio de barro e lixo. Num mutirão, limpamos a avenida, fizemos uma praça e ainda conseguimos construir um playground para as crianças e criar um belo jardim”, lembra, entusiasmada.

Os jovens participantes do programa ressaltaram as qualidades de cada um cada dos moradores, motivando-os a querer melhorar. “Descobrimos entre eles um inventor, uma senhora que fazia artesanato com o lixo, uma menina que pintava tecido, e foi a partir das potencialidades dessas pessoas que orientamos a multiplicarem seu trabalho. Mostramos a eles que conseguem fazer o que quiserem, e sem recursos, não precisam ter dinheiro”.

Ester ainda esclarece que o apoio de empresários é muito importante, principalmente porque aqueles que desejam participar também “colocam a mão na massa”. Essa atitude incentiva ainda mais a comunidade a querer melhorar. “As pessoas ficam empolgadas porque o empresário não está ali apenas ajudando com o dinheiro, ele está junto, pegando na enxada, ajudando a carpir, e a comunidade pode ensinar como fazer algo que ele não sabe, enfim, só o fato da presença dele ali já motiva”.

O programa Guerreiros sem Armas já deu bagagem para uma das participantes se tornar prefeita em uma cidade. “Alguns organizadores do programa contestaram sua atitude porque geralmente prefeito faz aquilo que quer, sem ouvir a comunidade, que é a base do Guerreiros, mas ela achou um jeito de seguir o que aprendeu no programa”, diz.

É claro que em meio a tantas realizações, também existem os obstáculos, frisa Ester. “Mas isso tem na vida”, ensina. O importante é que os jovens foram até lá com o objetivo de deixar algo concreto na comunidade, e saíram satisfeitos, com a missão cumprida. “A necessidade da comunidade é ser ouvida, então nós não vamos lá para falar e sim ouvir. Foi isso que proporcionou toda a mudança”.

Acompanhou Ester nessa experiência outra jovem integrante da ONG Lua Nova, Ana Lúcia Veiga, de 24 anos. “Nós duas voltamos empolgadas e com vontade de realizar algo em Sorocaba, mas para isso precisamos de apoio de empresários que queiram participar”, completa.

Interessados em colaborar podem entrar em contato com a entidade pelo site http://www.luanova.org.br/ .

História de vida

Ester Souza de Brito é uma das mulheres acolhidas pela ONG Lua Nova, entidade que atende jovens mães e seus filhos em situação de vulnerabilidade social. Ela foi para a entidade ainda menina, aos 16 anos. Grávida e sem ter onde morar, já que sua família não aceitou essa situação, Ester encontrou ali um novo lar. Com uma história de superação e conquistas, ela faz questão de reverter sua experiência de vida em benefício da comunidade.

Nascida em São Paulo, Ester foi adotada por sua tia, já que a mãe não teria condições de criá-la. Na época da adolescência, tentou aproximar-se da mãe, chegou inclusive a morar com ela, mas logo acabou engravidando e começaram as brigas. “Então fugi de casa, fiquei um mês na rua, até que me indicaram a Lua Nova. Eu ainda era uma adolescente rebelde, revoltada, e ficar nove meses dentro de uma chácara, em Araçoiaba, era para mim uma loucura. Fugi de novo e fiquei quatro meses em São Paulo”, conta.

Nesse período em que esteve afastada da entidade, ela quase perdeu a guarda do filho. “O Conselho Tutelar ia dar meu filho para adoção. Foi uma luta para conseguir que isso não acontecesse. Então se hoje tenho a cabeça que tenho, cheguei onde cheguei, foi porque passei por um processo de amadurecimento pessoal”.

Hoje, Ester tem sua casa própria, construída por ela mesma em um condomínio onde moram mulheres atendidas pela Lua Nova. Ela também concede entrevistas sobre a entidade e é sua representante no combate à exploração sexual. “Devo muito à Lua Nova, que me ajudou na vida. O que quero hoje é educar meu filho de forma correta e transmitir minha experiência às pessoas”.

O programa Guerreiros sem Armas foi criado em Santos há dez anos, por um grupo de arquitetos urbanistas do Instituto Elos Brasil, organização não-governamental que incentiva o empreendedorismo social. É baseado numa filosofia indígena de cooperação. Em 1999, no primeiro ano do Guerreiros, moradores do Dique da Vila Gilda, orientados por jovens do projeto, criaram a Associação Centro Comunitário do Dique e construíram a Creche da Tia Nilda. A população passou a contar com curso de alfabetização para adultos e serviço de tratamento dentário. Como conseqüência, houve ainda a criação do projeto sócio-cultural Arte no Dique.

Fonte: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=79&id=168336

=====

Comentário

"559. Os Espíritos inferiores e imperfeitos desempenham também um papel útil no Universo?
-Todos têm deveres a cumprir. O último dos pedreiros não concorre tão bem para a construção do edifício como o arquiteto?" O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.

Todos os espíritos possuem deveres, estejam encarnados ou não. Os espíritos afirmaram "A vida espírita é uma ocupação contínua.", a nós cabe escolher a que ocupação iremos nos dedicar, como explicam a seguir:

"573. Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?
- Instruir os homens, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições por meios diretos e materiais. Mas as missões são mais ou menos gerais e importantes. Aquele que cultiva a terra cumpre uma missão, como aquele que governa ou aquele que instrui. Tudo se encadeia na Natureza; ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, também concorre por essa forma para o cumprimento dos desígnios da Providência. Cada um tem a sua missão neste mundo, porque cada um pode ser útil em algum sentido." do livro supra citado.

O programa Guerreiros sem Armas é um exemplo de que todos nós podemos e devemos ajudar, mas não se preocupe se isto você não pode fazer ou se não tem como fazer na sua comunidade. Escolha outra forma, mas ocupe-se em ajudar o outro. Por mais que realizemos, nossa vida só tem sentido quando ajudamos outra pessoa, seja ela quem for, parente, familiar, amigo, conhecido ou desconhecido, não importa. Apenas faça.

(Comentário por: Claudia Cardamone, psicóloga e espírita. É membro da Equipe Espiritismo.net, atuando nas áreas de atendimento fraterno e notícias.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário