Depressão na
adolescência
Sexta-feira, 13 de julho de 2001, 19h00min.
O Jornal da Lilian promoveu um chat sobre a depressão na adolescência. Durante o programa, Lee Fu I, médica Supervisora do Serviço de Psiquiatria Infantil e da Adolescência, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo, disse que apesar de os adolescentes terem muita oscilação de humor, a depressão como doença é muito comum. Segundo a médica, não existem estatísticas do número destes casos, mas dos adolescentes que procuram o serviço que ela supervisiona, cerca de 30% ou 40% apresentam esse diagnóstico.
De acordo com a médica, a identificação da
depressão é bastante complicada. Por exemplo, nos adolescentes que são
depressivos desde a infância não há como perceber os sintomas com tanta clareza.
“Muitas vezes, os pais pensam: ele sempre foi assim quietinho”, comentou. Aos
demais, o principal sintoma é a mudança constante de comportamento e opinião.
“Essas mudanças são comuns nesta idade, principalmente quando se tem algum fator
justificante – como término de namoro e separação dos pais – mas é notável uma
melhora gradativa. Quando não há essa melhora e o adolescente não consegue
reagir pode ser um sintoma de depressão”. Ainda segundo a médica, fora isso a
depressão ainda traz alterações no sono, no apetite e na
concentração.
A médica disse que a preocupação, em relação a
depressão da criança ou do adolescente deve ser levada em conta quando os pais
começam a perceber que o filho (a) não quer mais fazer a atividades que davam
prazer. Ela cita, por exemplo, a dança. “Quando a garota, que sempre gostou de
sair para dançar, olha para o armário e diz que está cansada, sem nenhuma
vontade de escolher a roupa que vai sair e acaba ficando em casa pode ser apenas
um cansaço, mas se essa atitude se repete por várias semanas isso é um sinal de
depressão”. E os sintomas também podem ser desencadeados pela perda: de um avô
(que morreu), de um namorado ou de um animal de estimação. A depressão é um
conjunto de sintomas: mau humor, falta de prazer, alterações fisiológicas tanto
no sono como no apetite. Os adolescentes dormem demais. As garotas geralmente
têm muito apetite e engordam e os garotos emagrecem. Há, também, muita falta de
concentração, inquietude, ansiedade e muita tristeza.
Outros tipos de transtornos
A depressão é diferente da ansiedade de separação
– o adolescente não sai de casa, porque tem medo de ficar longe do pai ou da
mãe.
Há ainda o Transtorno de Oposição Desafiante, que
é quando os adolescentes contestam todo tipo de autoridade. Ele não aceita
conselho de ninguém.
E a esquizofrenia que começa com sintomas
depressivos como: ficar quieto, não fazer atividades que fazia normalmente,
ficar isolado. Mas a causa desses sintomas não é a tristeza como acontece quando
a pessoa está depressiva. O esquizofrênico passa a ter problemas no raciocínio
ou de alucinações. Então, enquanto um depressivo não come porque está triste o
esquizofrênico pode achar que a comida está envenenada, por exemplo. A
esquizofrenia é uma doença mais grave que a depressão e requer um outro tipo de
tratamento.
Há também o Transtorno Bipolar, conhecido
antigamente como psicose maníaco depressiva. A pessoa tem um tipo de transtorno
de humor que leva a ter crise de depressão e de euforia alternados.
Um internauta fez a seguinte pergunta ao Lilian
Responde – Meu filho de 22 anos está com depressão: desânimo, sempre diz não a
qualquer convite, deixou a escola e o trabalho (aos poucos), pensa que todos
estão contra ele no trabalho, não pratica esporte, não toma sol etc. Como
levá-lo ao médico se ele acha que nada vai adiantar?
Resposta – Ele perdeu a esperança. E deve estar
muito pessimista. Ela dá um exemplo. É o raciocínio que se faz de um copo
d’água. Ele pode estar muito cheio ou meio vazio, depende do otimismo ou do
pessimismo de quem analisa. O fato dele achar que todos estão contra ele no
trabalho pode fazer concluir que todo mundo está contra ele inclusive fora do
trabalho. Então, o papel da família é fundamental e precisa ser muito incisivo.
Os familiares precisam dizer que só querem ajuda-lo, querem tira-lo dessa
situação e que para isso ele precisa procurar ajuda profissional, aceitar esse
tipo de ajuda. E também devem ficar atentos para que ele não se descuide da
alimentação, ou não tenha explosões que mostrem um comportamento muito diferente
do normal dele. Enfim, a família precisa encontrar uma forma de leva-lo ao
médico. O exercício físico também é importante porque ajuda a sair da
depressão.
Confusão
A dra. Lee contou um caso de uma garoto de 4 anos
e meio que ganhou um irmão. A mãe dele precisou ficar internada durante 10 dias
no hospital. Ele sentiu a separação repentina. Quando ela voltou para casa levou
um bebê, que acabava recebendo mais atenção dos pais do que ele que tinha 4
anos. Esse menino começou a ficar tão deprimido que não falava mais, não
brincava, na escola ficava completamente isolado. Quando ele foi consultado pela
dra. Lee ela chegou até pensar em autismo porque ele só queria ficar no mundo
dele e passou a regredir em vez de progredir. Depois de muita insistência ele
atendeu ao apelo da médica e fez um desenho de um rosto triste. E assim ela
descobriu que se tratava de uma depressão e passou a trata-lo. Hoje ele está com
12 anos e leva uma vida normal completamente curado.
Separação dos pais
A separação dos pais não é uma causa fundamental
para a depressão dos filhos, mas é uma causa precipitante. Quando a separação é
bem resolvida os filhos entendem e dificilmente a criança entra em depressão.
Mas há fatores que tornam o adolescente ou a criança mais vulnerável a
depressão: herança genética; fator ambiental conviver, por exemplo, com pessoas
deprimidas ou os pais são deprimidos; criança com menos de 10 anos de idade que
começa ter quatro ou cinco sintomas depressivos como: pensamentos suicidas,
choram demais, alteração do sono ou do apetite. E se os pais (ou um deles)
estiverem deprimidos precisam de tratamento. A dra. Lee conta “Eu digo para os
pais eu preciso encostar (ancorar) o seu filho em alguém saudável para que ela
possa se recuperar”.
Um internauta perguntou ao Lilian Responde - Tenho
depressão e estou tratando há 12 anos, estou bem melhor, não tenho aquela
depressão, mas tenho que tomar remédio para melhorar, fiz uso de drogas na
juventude e isto estragou minha carreira.
Resposta – Olha, um tratamento há 12 anos e sem
muito efeito é necessário ser avaliado. E também diagnosticar se é depressão ou
distimia (uma mini depressão) que é mau humor, alteração do sono e que pode
durar por dois anos.
Segundo a dra. Lee cerca de 30 a 40% da população
mundial vai ter ou já teve sintomas depressivos. E não se sabe, ainda, se as
pessoas usam drogas por causa de uma depressão ou se ficam deprimidas porque
utilizam drogas. Cerca de 30% dos adolescentes depressivos que procuram ajuda
profissional confessam, depois de um tempo de tratamento, que estavam ou usam
drogas.
Um adolescente quer novas experiências então ele
começa a freqüentar um novo tipo de religião, a praticar asa delta, ou utilizar
droga. E essas experiências causam grandes oscilações de humor e às vezes até
atitudes agressivas com os outros ou com ele mesmo.
Um internauta pergunta ao Lilian Responde – Sou
separado há 2 anos tenho 2 filhos (8 anos e 15 anos), sinto meu filho menor
muito triste quando o entrego para a mãe, ele é muito apegado a mim. Percebo
também um certo desanimo nos afazeres que a mãe pede. Isso é um sintoma
depressivo? Como devo proceder? Poderiam me indicar algum
especialista?
Resposta – Seria aconselhável procurar um
profissional e conversar com os filhos o significado da separação. O que
representa para eles.
Um internauta pergunta ao Lilian Responde - Meu
filho tem 11 anos e está na sexta série. Ele está apresentando problemas de
concentração nas aulas, conforme o relato dos professores. Gostaria de saber se
tem alguma ligação com o fato dele não viver junto comigo. Qual a saída para
tratar a situação? Temos um bom relacionamento, mas eu sinto insegurança por
parte dele. Será que é depressão?
Resposta – Um aviso da escola é importante. Há
sintomas depressivos internalizados como a raiva, a angústia, o ódio e os
externalizados que são comportamentais. Talvez tenha sido por isso que o
professor notou a falta de concentração. É importante verificar quando começou
essa desatenção. Foi quando os pais se separaram? Foi quando os pais começaram a
brigar (se houve briga, discussão)? Vale a pena conversar com a criança e
conferir com ela. Mas seja persistente porque a criança de 11 anos está em uma
faixa etária de difícil diagnóstico. “Precisa tirar com saca rolha”.
Uma internauta pergunta ao Lilian Responde – Estou
separada há 5 meses. Qual o momento certo para apresentar meu novo namorado aos
meus filhos: um menino de 8 anos e duas meninas uma de 5 e outra de 3 anos, sem
que acarrete insegurança ou problemas para eles?
Resposta – Depende da relação que você tem com
seus filhos. Depende, também, de como eles estão vivendo a separação e como é a
relação com o pai deles. É difícil dar uma opinião. Mas não esconda nada de seus
filhos. Deixe claro que você está saindo com outro homem para ter um encontro.
Isso é diferente de apresenta-lo as crianças. Uma coisa é elas saberem que você
está saindo outra bem diferente é eles ficarem cara a cara com ele sem estar
preparados.
Uma internauta que mora em Miami pergunta ao
Lilian Responde – Sofro de depressão e tomava olcadil e limbitrol no Brasil. Mas
agora estou nos USA, e não sei o que fazer. Um médico aqui me passou welbutrim,
mas estou com medo de tomar, não estou totalmente com depressão, mas às vezes
sinto alguns sintomas, você conhece esse remédio?
Resposta – Não temos esse medicamento no Brasil.
Ele é um antidepressivo da nova geração. O olcadil é um ansiolítico. E o
limbritol não vai ser encontrado nos Estados Unidos. O welbutrim tem um bom
conceito, mas eu não conheço. Eu acho que vale a pena tentar conversar com um
médico aí nos Estados Unidos.
Ter depressão de vez em quando significa continuar
em depressão é a chamada depressão prolongada.
Um internauta pergunta ao Lilian Responde – Sofro
de depressão crônica. Um sentimento muito grande de impotência diante da vida.
Procurei e ainda utilizo os serviços de médicos psiquiátricos, mas é totalmente
inútil. Existe algo que possa fazer para levar uma vida sem coisa ruim que se
apoderou de minha vida?
Resposta – Eu não sei como é está sendo o seu
tratamento.Talvez seja o momento de fazer uma nova avaliação. Há estudos que
indicam que de 30 a 40% da população mundial irão ter, pelo menos, uma vez ao
longo da vida depressão. E hoje em dia é fácil tratar. Há linhas
básicas:
a) psicanálise (é a mais demorada leva de 2 a 3
anos)
b) terapia cognitiva
c) terapia comportamental
d) orientação familiar
e) medicação
b) terapia cognitiva
c) terapia comportamental
d) orientação familiar
e) medicação
E uma delas é utilizar terapia (cognitiva ou
comportamental) mais a medicação que poderá ser feita pelo mesmo
profissional.
A dra. Lee recomenda, para quem está com problemas
financeiros, as unidades de psicologia e de psiquiatria dos Hospitais
Universitários, geralmente de faculdades públicas. Ou procurar por entidades,
como a Sociedade Paulista de Psicodrama, que tem tratamento muito acessível de
acordo com as condições financeiras das pessoas. Ela também disse que hoje, no
HC em São Paulo, é possível marcar consulta para o mês de agosto. “E ninguém
precisa chegar às 5 da manhã. Basta chegar às 07h00 e será atendido ou
encaminhado”.
No Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas há grupos que tratam da: depressão em crianças e adolescentes,
hiperatividade, alimentação (bulimia e anorexia), psicose, esquizofrenia,
ansiedade e outros.
Confira a íntegra do bate-papo:
Manuela pergunta: Eu gostaria de saber se crianças
de zero a três anos podem se deprimir e quais os sintomas? Dizem que a excitação
exagerada pode ser um sintoma de depressão. Isso é verdade?
Resposta para Manuela: A excitação exagerada pode
ser um dos indícios da hiperatividade que é uma das patologias relacionadas com
a depressão. Para identificar os sintomas na depressão nessas crianças é muito
difícil. Deve-se verificar se houve uma mudança de comportamento - por exemplo,
chorar muito, brincar menos, atrasar na aquisição da fala, restringir suas
respostas aos estímulos externos. Os sintomas de tais crianças são bastante
semelhantes ao do autismo: eles não olham nos olhos e vivem trancados em seu
mundo.
Any pergunta: Boa tarde. Tenho 16 anos e gostaria
de saber como controlar a famosa TPM, já que mensalmente fico profundamente
deprimida?
Resposta para Any: A TPM (tensão pré-menstrual) é
mais ligada a uma reação fisiológica hormonal do que à depressão. Trata-se de
uma ação hormonal que causa alteração de humor. O organismo de quem tem TPM tem
uma sensibilidade a essas alterações que são consideradas normais. A vitamina
B12 auxilia no tratamento da síndrome. Mas o ideal é que a mulher tenha
conhecimento pleno do que acontece com seu corpo para entender as reações.
Pode-se também procurar um apoio profissional para que receite uma medicação
como o uso de antidepressivos, porque esses interferem no
neurotransmissores.
Pedro pergunta: Estou deprimido porque meu pai e
minha mãe se separaram. O que eu faço?
Resposta para Pedro: Mudanças dentro de casa são
fatores importantes para desencadear uma depressão. É uma perda que leva um
longo processo de adaptação. A resposta que o adolescente deve buscar é: O que
representa os pais juntos ou separados? E essa resposta vai depender de muita
coisa: do relacionamento que ele tinha com cada um, de como foi o processo, de
como estava a situação antes etc. Agora, fora isso, se houver alterações no
sono, apetite ou concentração o melhor mesmo é procurar ajuda profissional.
Conversar com os pais é também recomendado. Muitas dúvidas podem ser
esclarecidas.
Italo pergunta: Prezada dra. Lee! Penso, de um
modo geral e em sentido amplo, que a depressão na adolescência - nos dias de
hoje, está ligada ao desvio e inversão de valores da sociedade; do bombardeio do
jovem ao consumismo desenfreado e à mídia de uma maneira geral, que perturba a
mente juvenil, que biologicamente já vive um conflito transitório.
Resposta para Italo: Isso só é uma parte do
problema. Assim como a deficiência moral também o é. Mas a depressão não surge
apenas motivada pelo meio. Por exemplo, a falta de esperança é um dos grandes
fatores também e muitas vezes nem ligada ao sentido material. Outro exemplo são
aqueles casos onde a família é ótima e bem estruturada e tem uma criança
depressiva.
Erica pergunta: Quando o adolescente percebe que
esta entrando em uma depressão qual é a melhor maneira de procurar
ajuda?
Resposta para Érica: O primeiro passo é tentar
encontrar alguém que te entenda. Não é tão raro achar isso dentro de casa, na
própria figura do pai ou da mãe. Se não encontrar, pode-se buscar um apoio
profissional, como um terapeuta ou psicólogo. Fora isso, podem ser tomadas
outras medidas como fazer o que gosta de fazer, praticar esportes e lembrar
sempre de coisas boas.
Se você desejar mais informações ou quiser tirar
dúvidas escreva para o Lilian Responde e nós encaminharemos a sua pergunta para
a dra. Lee Fu I. Ela se comprometeu a responder uma a uma e nós a enviaremos a
você.
Ou se você se interessar em participar de
pesquisas na área da psiquiatria poderá ligar para o bip (11) 5508-0737 – código
1005830.
(fonte do artigo: Espiritismo.Net)
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