segunda-feira, 15 de abril de 2013

Revista Espírita: Procedimentos para afastar os maus Espíritos


A intromissão dos Espíritos enganadores nas comunicações escritas é uma das maiores dificuldades do Espiritismo; sabe-se, por experiência, que eles não têm nenhum escrúpulo em tomarem nomes supostos, e mesmo nomes respeitáveis; há meios de afastá-los? Aí está a questão. Certas pessoas empregam, para esse fim, o que se poderia chamar de procedimentos, quer dizer, sejam fórmulas particulares de evocação, sejam espécies de exorcismos, como fazê-los jurarem em nome de Deus de que dizem a verdade, fazê-los escrever certas coisas, etc. Conhecemos alguém que, a cada frase, intimava o Espírito para assinar seu nome; se fosse a verdade, ele escreveria o nome sem dificuldade; se fosse o falso, ele se deteria logo, ou no meio, sem poder terminá-lo; vimos essa pessoa receber as comunicações mais ridículas de parte dos Espíritos que assinavam o nome de empréstimo com uma firmeza perfeita. Outras pessoas pensam que o meio eficaz é fazer confessar Jesus em carne, ou outras verdades da religião. Pois bem! Declaramos nós que se alguns Espíritos, um pouco mais escrupulosos, detém-se pela idéia de um perjúrio ou de uma profanação, há os que juram tudo o que se quer, que assinam todos os nomes, que se riem de tudo, e afrontam a presença dos mais veneráveis sinais, de onde concluímos que, entre o que se pode chamar de procedimentos, não há nenhuma fórmula, nenhum expediente material que possa servir de preservativo eficaz.
Nesse caso, dir-se-á, não há senão uma coisa a fazer, que a de parar de escrever. Este meio não seria melhor; longe disso, seria pior em muitos casos. Dissemos, e não poderíamos repeti-lo muito, que a ação dos Espíritos sobre nós é incessante, e não é menos real porque é oculta. Se ela deve ser má, será mais perniciosa ainda pelo fato de que o inimigo estará oculto; pelas comunicações escritas, ele se revela, se desmascara, sabe-se com quem se tem relação, e pode-se combatê-lo. - Mas se não há nenhum meio de afastá-lo, que fazer então? Não dissemos que não haja nenhum meio, mas somente que a maioria daqueles que se empregam são impotentes; aí está o assunto que nos propomos desenvolver.
Não se pode perder de vista que os Espíritos constituem todo um mundo, toda uma população que preenche o espaço, que circula aos nossos lados, e que se mistura a tudo aquilo que fazemos. Se o véu que no-los oculta viesse a ser levantado, ve-los-íamos, ao redor de nós, irem, virem, serguir-nos ou evitar-nos segundo o grau de sua simpatia; uns indiferentes, verdadeiros vadios do mundo oculto, os outros muito ocupados, seja consigo mesmos, seja com homens aos quais se agarram, com um objetivo mais ou menos louvável, segundo as qualidades que os distinguem. Veríamos, em uma palavra, o duble do gênero humano com as suas boas e suas más qualidades, suas virtudes e seus vícios. Essa companhia, da qual não podemos escapar, porque não há lugar tão oculto que seja inacessível aos Espíritos, exerce sobre nós e com o nosso desconhecimento uma influência permanente; uns nos conduzem ao bem, os outros ao mal, e nossas determinações, muito freqüentemente, são o resultado de suas sugestões; felizes somos quando temos bastante julgamento para discernir a boa ou a má senda à qual procuram nos arrastar. Uma vez que os Espíritos não são outra coisa senão os próprios homens despojados de seu envoltório grosseiro, senão as almas que sobrevivem ao corpo, disso resulta que há Espíritos desde que haja seres humanos no Universo; é uma das forças da Natureza, e não esperam que haja médiuns escreventes para agirem, e a prova disso é que, em todos os tempos, os homens cometeram inconseqüências; eis porque dizemos que sua influência é independente da faculdade de escrever; essa faculdade é um meio de conhecer essa influência, de saber quem são aqueles que vagueiam ao nosso redor, que se agarram a nós. Crer que se pode subtrair deles abstendo-se de escrever, é fazer como as crianças que crêem escaparem de um perigo tapando os olhos. A escrita, revelando-nos aqueles que temos por acólitos, por amigos ou por inimigos, nos dá, por isso mesmo, uma arma para combater esses últimos, e devemos agradecer a Deus por isso; na falta da visão para conhecer os Espíritos, temos as comunicações escritas; por elas eles revelam o que são: é para nós um sentido que nos permite julgá-los; repeli-lo é comprazer-se em permanecer cego, e querer continuar exposto à mentira sem controle.
A intromissão dos. maus Espíritos nas comunicações escritas não é, pois, um perigo do Espiritismo, uma vez que, se houver perigo, o perigo existe sem isso, porque é permanente; eis do que não se poderia muito persuadir-se: é simplesmente uma dificuldade, mas da qual é fácil triunfar tomando-a convenientemente.




Pode-se primeiro colocar como princípio que os maus Espíritos não vão senão lá onde alguma coisa os atraia; portanto, quando se misturam às comunicações, é porque encontram simpatias no meio onde se apresentam, ou pelo menos lados fracos dos quais esperam se aproveitar; em todo o processo, é que não encontram uma força moral suficiente para repeli-los. Entre as causas que os atraem, é necessário colocar em primeira linha as imperfeições morais de toda natureza, porque o mal simpatiza sempre com o mal; em segundo lugar, a muito grande confiança com a qual se acolhe suas palavras. Quando uma comunicação acusa origem má, seria ilógico disso inferir uma paridade necessária entre o Espírito e os evocadores; freqüentemente, se vêem as pessoas mais honradas expostas aos embustes dos Espíritos enganadores, como acontece no mundo, pessoas honestas enganadas por velhacos; mas quando se está atento, os velhacos não têm o que fazer; é o que acontece também com os Espíritos. Quando uma pessoa honesta é enganada por eles, isso pode prender-se a duas causas: a primeira é uma confiança muito absoluta que a dissuade de todo exame; a segunda, que as melhores qualidades não excluem certos lados fracos que dão presa aos maus Espíritos, ansiosos em agarrar os menores defeitos da couraça. Não falamos do orgulho e da ambição, que são mais do que defeito, mas de uma certa fraqueza de caráter, e sobretudo de preconceitos que esses Espíritos sabem explorar habilmente lisonjeando-os, e, a esse respeito, tomam todas as máscaras para inspirar mais confiança.
As comunicações francamente grosseiras são as menos perigosas, porque não podem enganar a ninguém; as que mais enganam, são aquelas que não têm senão uma falsa aparência de sabedoria ou de seriedade, em uma palavra, a dos Espíritos hipócritas e dos pseudo-sábios; uns podem se enganar de boa fé, por ignorância ou por fatuidade, os outros não agem senão por astúcia. Vejamos, pois, o meio para desembaraçar-se deles.
A primeira coisa é de início não os atrair, e evitar tudo o que possa lhes dar acesso.
As disposições morais são, como vimos, uma causa preponderante; mas, abstração feita dessa causa, o modo empregado não é sem influência. Há pessoas que têm por princípio nunca fazerem evocações e esperarem a primeira comunicação espontânea que se apresente sob o lápis do médium; ora, querendo-se lembrar do que dissemos sobre a multidão muito misturada dos Espíritos que nos cercam, conceber-se-á, sem dificuldade, que é colocar-se segundo a opinião do primeiro que venha, bom ou mau; e como nessa multidão há mais maus do que bons, há maior chance de haver os maus, absolutamente como se abrísseis vossa porta a todos os que passam pela rua; ao passo que, pela evocação, fazeis vossa escolha, e vos cercando de bons Espíritos, impondes silêncio aos maus, que poderão muito bem, apesar disso, procurar algumas vezes se introduzirem habilmente, - os bons mesmo o permitirão para exercer a vossa sagacidade em reconhecê-los, - mas eles não terão influência. As comunicações espontâneas têm uma grande utilidade quando se está certo da qualidade de sua companhia, então, freqüentemente, deve-se felicitar pela iniciativa deixada aos Espíritos; o inconveniente não está senão no sistema absoluto que consiste em se abster do apelo direto e das perguntas.
Entre as causas que influem poderosamente na qualidade dos Espíritos que freqüentam os círculos espíritas, não se pode omitir a natureza das coisas das quais se ocupam. Aqueles que se propõem um objetivo sério e útil atraem, por isso mesmo, os Espíritos sérios; aqueles que não têm em vista senão satisfazerem uma vã curiosidade ou seus interesses pessoais, se expõem pelo menos às mistificações, se não tiverem piores. Em resumo, podem-se tirar das comunicações espíritas os mais sublimes ensinamentos, os mais úteis, quando se sabe dirigi-las; a questão toda está em não se deixar prender pela astúcia dos Espíritos zombeteiros ou malevolentes; ora, para isso, o essencial é saber com quem se lida. Escutemos, primeiro, a esse respeito, os conselhos que o Espírito de São Luís deu, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, por intermédio do senhor R..., um de seus bons médiuns. Esta é uma comunicação espontânea, que recebeu um dia em sua casa, com a missão de transmiti-la.
"Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, é uma recomendação que não poderíamos muito repetir, e que deveríeis sempre ter presente no pensamento quando vos entregais aos estudos: é de pesar e amadurecer, é submeter ao controle da razão mais severa todas as comunicações que recebeis; de não negligenciar, desde que uma resposta vos pareça duvidosa ou obscura, em pedir os esclarecimentos necessários para vos fixar.
"Sabeis que a revelação existiu desde os tempos mais remotos, mas foi sempre apropriada ao grau de adiantamento daqueles que a recebiam. Hoje, não é caso mais de vos falar por figuras e por parábolas: deveis receber os nossos ensinamentos de um modo claro, preciso e sem ambigüidade. Mas seria muito cômodo não ter senão que perguntar para ser esclarecido; isso seria, aliás, sair das leis progressivas que presidem ao adiantamento universal. Não estejais, pois, admirados se, para vos deixar o mérito da escolha e do trabalho, e lambem para vos punir por infrações que podeis cometer contra os nossos conselhos, algumas vezes é permitido a certos Espíritos, ignorantes mais do que mal intencionados, de responderem em qualquer caso às vossas perguntas. Isso, em lugar de ser para vós uma causa de desencorajamento, deve ser um poderoso estímulo para procurar a verdade com ardor. Sede, pois, bem convencidos que, seguindo essa rota, não podeis deixar de chegar a resultados felizes. Sede unidos de coração e de intenção; trabalhai todos', procurai, procurai sempre, e encontrareis."
Luís
A linguagem dos Espíritos sérios e bons tem um cunho do qual é impossível se equivocar, por pouco que se tenha de tato, de julgamento e do hábito da observação. Os maus Espíritos, por qualquer véu hipócrita que eles cobrem suas torpezas, não podem jamais sustentar seu papel indefinidamente; eles mostram sempre seus verdadeiros projetos por alguma cunha, de outro modo, se sua linguagem fosse sem mácula eles seriam bons Espíritos. A linguagem dos Espíritos é, portanto, o verdadeiro critério pelo qual podemos julgá-los; sendo a linguagem a expressão do pensamento, tem sempre um reflexo das qualidades boas ou más do indivíduo. Não é sempre pela linguagem que nós julgamos os homens que não conhecemos? Se recebeis vinte cartas de vinte pessoas que jamais vistes, é lendo-as que estareis impressionados diversamente? É que, pela qualidade do estilo, pela escolha das expressões, pela natureza dos pensamentos, por certos detalhes mesmos de forma, não reconheceis, naquilo que vos escreveu, um homem bem elevado de um homem grosseiro, um sábio de um ignorante, um orgulhoso de um homem modesto? Ocorre absolutamente o mesmo com os Espíritos. Suponde que sejam homens que vos escrevem, e julgai-os do mesmo modo; julgai-os severamente, os bons Espíritos não se ofendem de modo algum com essa investigação escrupulosa, uma vez que são eles mesmos que no-la recomendam como meio de controle. Sabemos que podemos ser enganados, portanto, nosso primeiro sentimento deve ser o de desconfiança; só os maus Espíritos que procuram nos induzir ao erro podem temer o exame, porque estes, longe de provocá-lo, querem ser acreditados sob palavra.
Desse princípio decorre, muito natural e muito logicamente, o meio mais eficaz de afastar os maus Espíritos, e de se premunir contra as suas velhacarias. O homem que não é escutado pára de falar; o velhaco que sabe que se está a par do que ele é, não faz tentativas inúteis. Do mesmo modo os Espíritos enganadores abandonam a parte onde vêem que nada têm a fazer, e onde não encontram senão pessoas atentas que rejeitam tudo o que lhes pareça suspeito.
Resta-nos, para terminar, passar em revistas os principais caracteres que nos revelam a origem das comunicações espíritas.
1. Os Espíritos superiores têm, como dissemos em muitas circunstâncias, uma linguagem sempre digna, nobre, elevada, sem mistura com qualquer trivialidade; eles dizem tudo com simplicidade e modéstia, não se vangloriam nunca, não exibem jamais seu saber nem sua posição entre os outros. A dos Espíritos inferiores ou vulgares tem sempre algum reflexo das paixões humanas; toda a expressão que exala a baixeza, a suficiência, a arrogância, a fanfarrice, a acrimônia, é um indício característico de inferioridade, ou de fraude se o Espírito se apresenta sob um nome respeitável e venerado.
2. Os bons Espíritos não dizem senão o que sabem; eles se calam ou confessam sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importarem com a verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choca com a razão e o bom senso, mostra a fraude se o Espírito se dá por um Espírito esclarecido.
3. A linguagem dos Espíritos elevados é sempre idêntica, senão pela forma, ao menos pelo fundo. Os pensamentos são os mesmos, quaisquer que sejam o tempo e o lugar; eles podem ser mais ou menos desenvolvidos segundo as circunstâncias, as necessidades e as facilidades de comunicar, mas não serão contraditórios. Se duas comunicações levando o mesmo nome estão em oposição uma com a outra, uma das duas, evidentemente, é apócrifa, e a verdadeira será aquela onde NADA desminta o caráter conhecido do personagem. Uma comunicação que tenha em todos os pontos o caráter da sublimidade e da elevação, sem nenhuma mácula, é que ela emana de um Espírito elevado, qualquer que seja o seu nome; encerre ela uma mistura de bom e de mau, será de um Espírito comum, se ele se der por aquilo que é; de um patife se enfeitar-se com um nome que não saiba justificar.
4. Os bons Espíritos nunca mandam; não se impõem: eles aconselham, e, se não são escutados, se retiram. Os maus são imperiosos: dão ordem, e querem ser obedecidos. Todo Espírito que se impõe trai sua origem.
5. Os bons Espíritos não lisonjeiam; eles aprovam quando se faz bem, mas sempre com reserva; os maus dão elogios exagerados, estimulam o orgulho e vaidade pregando a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles que querem captar.
6. Os Espíritos superiores estão acima das puerilidades das formas, em todas as coisas; para eles o pensamento é tudo, a forma nada é. Só os Espíritos vulgares podem ligar importância a certos detalhes incompatíveis com idéias verdadeiramente elevadas. Toda prescrição meticulosa é um sinal de inferioridade e fraude da parte de um Espírito que toma o nome imponente.
7. É necessário desconfiar de nomes bizarros e ridículos que tomam certos Espíritos que querem se impor à credulidade; seria soberanamente absurdo tomar esses nomes a sério.
8. É necessário igualmente desconfiar daqueles que se apresentam, muito facilmente, sob nomes extremamente venerados, e não aceitar suas palavras senão com a maior reserva; é aí sobretudo que um controle severo é indispensável, porque, freqüentemente, trata-se de uma máscara que tomam para fazer crer em pretensas relações íntimas com os Espíritos fora de linha. Por esse meio eles agradam a vaidade, e dele se aproveitam para induzir, freqüentemente, a diligências lamentáveis ou ridículas.
9. Os bons Espíritos são muitos escrupulosos sobre os meios que possam aconselhar; eles não têm jamais, em todos os casos, senão um objetivo sério e eminentemente útil. Deve-se, pois, olhar com suspeitas todos aqueles que não tenham esse caráter e maduramente refletir antes de executá-los.
10. Os bons Espíritos não prescrevem senão o bem. Toda máxima, todo conselho que não esteja estritamente conforme a pura caridade evangélica não pode ser a obra de bons Espíritos; ocorre o mesmo com toda insinuação malévola tendente a excitar ou entreter sentimentos de ódio, de ciúme ou de egoísmo.
11. Os bons Espíritos não aconselham jamais senão coisas perfeitamente racionais; toda recomendação que se afastasse da direita linha do bom senso e das leis imutáveis da Natureza acusa um Espírito limitado e ainda sob a influência de preconceitos terrestres, e, por conseguinte, pouco digno de confiança.
12. Os Espíritos maus, ou simplesmente imperfeitos, se trairiam ainda por sinais materiais com os quais não poderia equivocar-se. Sua ação sobre o médium, algumas vezes, é violenta, e provoca em sua escrita movimentos bruscos e irregulares, uma agitação febril e convulsiva, que contrasta com a calma e a doçura dos bons Espíritos.
13. Um outro sinal de sua presença é a obsessão. Os bons Espíritos não obsidiam jamais; os maus se impõem em todos os instantes; é por isso que todo médium deve desconfiar da necessidade irresistível de escrever que se apodera dele nos momentos mais inoportunos. Esse não é nunca o fato de um bom Espírito, e não deve a isso ceder.
14. Entre os Espíritos imperfeitos que se misturam às comunicações, há os que se insinuam, por assim dizer, furtivamente, como para fazer uma travessura, mas que se retiram tão facilmente quanto vieram, e isso à primeira intimação; outros, ao contrário, são tenazes, se obstinam junto de um indivíduo, e não cedem senão com o constrangimento e a persistência; apoderam-se dele, subjugam-no, fascinam-no a ponto de fazê-lo tomar os mais grosseiros absurdos por coisas admiráveis, felizes quando pessoas de sangue frio conseguem abrir-lhes os olhos, o que não é sempre fácil, porque esses Espíritos têm a arte de inspirar a desconfiança e o distanciamento para quem possa desmascará-los; de onde se segue que se deve ter por suspeito de inferioridade ou má intenção todo Espírito que prescreva o isolamento, o distanciamento de quem possa dar bons conselhos. O amor próprio vem em sua ajuda, porque lhe custa, freqüentemente, confessar que foi vítima de mistificação, e reconhecer um velhaco naquele sob cujo patrocínio se glorificava por se colocar. Essa ação do Espírito é independente da faculdade de escrever; na falta da escrita, o Espírito malévolo tem cem meios de agir e de enganar; a escrita é para ele um meio de persuasão, e não uma causa; para o médium, é um meio de se esclarecer.
Passando todas as comunicações espíritas pelo controle das considerações precedentes, se lhes reconhecerá facilmente a origem, e poder-se-á frustrar a malícia dos Espíritos enganadores que não se dirigem senão àqueles que se deixam benevolentemente enganar; se vêem que se ajoelha diante de suas palavras, disso aproveitam, como fariam simples mortais; está, pois, em nós provar-lhes que perdem seu tempo. Acrescentamos que, para isso, a prece é um poderoso recurso, por ela chama-se a si a assistência de Deus e dos bons Espíritos, aumenta-se a própria força; mas conhece-se o preceito: Ajuda-te e o céu te ajudará; Deus quer muito nos assistir, mas com a condição de que façamos, de nossa parte, o que é necessário.
Ao preceito acrescentamos um exemplo. Um senhor, que eu não conhecia, veio um dia me ver, e me disse que era médium; que recebia comunicações de um Espírito muito elevado que o encarregara de vir junto a mim fazer-me uma revelação a respeito de uma trama que, segundo ele, se urdia contra mim, da parte de inimigos secretos que ele designou. "Quereis, acrescentou, que eu escreva em vossa presença? De bom grado, respondi; mas devo dizer-vos, desde logo, que esses inimigos devem ser menos temidos do que credes. Eu sei que os tenho; quem não os tem? E os mais obstinados, freqüentemente, são aqueles a quem se fez mais bem. Tenho para mim a consciência de não ter feito, voluntariamente, mal a ninguém; os que me fizerem não poderão dizer-o mesmo, e Deus será o juiz entre nós. Vejamos, todavia, o aviso que vosso Espírito quer me dar." Sobre isso esse senhor escreveu o que se segue:
"Eu ordenei a C... (o nome do senhor) que é o facho da luz dos bons Espíritos, e que recebeu deles a missão de difundi-la entre seus irmãos, de ir à casa de Allan Kardec, que deverá crer cegamente no que lhe direi, porque estou em nome dos eleitos nomeados por Deus para velar pela salvação dos homens, e que venho anunciar a verdade....." Eis o bastante, disse-lhe, não tomeis o trabalho de prosseguir. Essa exortação basta para me mostrar com qual Espírito estais relacionado; não acrescentarei senão uma palavra, é que para um Espírito que se quer fazer de espertalhão, ele é bem inábil.
Esse senhor pareceu bastante escandalizado com o pouco caso que fiz de seu Espírito, que ele tivera a bondade de tomar por algum arcanjo, ou pelo menos por algum santo da primeira ordem, vindo propositadamente para ele.
"Mas, disse-lhe, esse Espírito mostra suas intenções por algumas palavras que acaba de escrever, e é preciso convir que ele sabe bem pouco esconder seu jogo. De início, vos ordena: portanto, ele quer vos ter sob sua dependência, o que é próprio de Espíritos obsessores; ele vos chama o facho da luz dos bons Espíritos, linguagem passavelmente enfática e ambígua, bem longe da simplicidade que caracteriza a dos bons Espíritos, e por aí lisonjeia o vosso orgulho, e exalta a vossa importância, o que basta para torná-lo suspeito. Ele se coloca, sem cerimônia, em nome dos eleitos nomeados por Deus: jactância indigna de um Espírito verdadeiramente superior. Enfim, ele me disse que devo crer-lhe cegamente; isso coroa a obra. Está bem aí o estilo desses Espíritos mentirosos que querem que sejam acreditados sob palavra, porque sabem que têm tudo a perder em um exame sério. Com um pouco mais de perspicácia, ele saberia que não me paga com belas palavras, e que se dirigiria mal prescrevendo-lhe uma confiança cega.
De onde concluo que sois o joguete de um Espírito que vos mistifica e abusa de vossa boa-fé. Eu vos convido a prestar séria atenção nisso, porque se vós não vos guardais, ele poderá vos pregar uma peça a seu modo."
Não sei se esse senhor aproveitou a advertência, porque jamais o revi, assim como o seu Espírito. Eu não terminaria se contasse todas as comunicações desse gênero que me submetem, algumas vezes seriamente, como emanando dos maiores santos, da Virgem Maria, e mesmo do Cristo, e era verdadeiramente curioso ver as torpezas que se debitavam a esses nomes venerados; é preciso ser cego para se equivocar com sua origem, então que, freqüentemente, uma única palavra equívoca, um único pensamento contraditório, bastam para fazer descobrir a fraude a quem quer que se dê ao trabalho de refletir. Como exemplos notáveis de apoio, convidamos os nossos leitores a terem a bondade de se reportarem aos artigos publicados nos números da Revista Espírita dos meses de julho e outubro de 1858.

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