quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Belga morre por eutanásia após cirurgia de mudança de sexo

Nathan Verhelst, de 44 anos, nasceu mulher e fez vários procedimentos. Médico disse que ele sofria transtornos físicos e psicológicos 'insuportáveis'.
 
Da France Presse
 
Um belga de 44 anos morreu por eutanásia nesta segunda-feira (30) após alegar transtornos físicos e psicológicos "insuportáveis" depois de realizar um procedimento cirúrgico para mudança de sexo. Nathan Verhelst morreu em um hospital de Bruxelas, na presença de vários amigos, depois de uma longa batalha para conseguir a aprovação do procedimento.
Wim Distlemans, médico do hospital universitário VUB que acompanhou o procedimento, disse que Nathan morreu tranquilamente. De acordo a imprensa da Bélgica, ele afirmou que as condições para a realização da eutanásia existiam, já que "havia claramente sofrimento físico e psicológico insuportáveis", explicou ao jornal "Het Laaste Nieuws".
Nathan nasceu menina, em uma família com três meninos, e se chamava Nancy. Ele foi rejeitado por seus pais, que desejavam mais um menino, segundo o jornal que o entrevistou antes de sua morte.
A publicação afirma que o belga sonhava desde a adolescência poder se tornar homem, e realizou três cirurgias (tratamento hormonal, remoção dos seios e mudança de sexo) entre 2009 e junho de 2012, mas sem que se sentisse satisfeito: seus seios continuavam grandes e o pênis que foi criado "fracassou", explicou.
"Eu havia preparado uma festa para comemorar o meu novo nascimento, mas na primeira vez que me vi no espelho, tive aversão pelo meu novo corpo", contou Nathan. "Tive momentos felizes, mas, no geral, sofri", resumiu, considerando que "44 anos é muito tempo na terra".

Avaliação
"Para recorrer à eutanásia, a pessoa deve apresentar um problema grave e incurável que lhe cause sofrimento" pode ser "psíquico ou físico", explica Jacqueline Herremans, membro da Comissão Nacional sobre a eutanásia.
"Um primeiro médico avalia o caráter grave e incurável do problema (...) Outro médico, um psiquiatra, especialista na patologia em questão, analisa o pedido para determinar se é, por exemplo, uma depressão passageira", acrescentou à RTL.
Desde 2002 a Bélgica autoriza mortes por eutanásia, mas o debate sobre a prática não terminou, já que o Parlamento belga deve considerar a sua extensão para os menores "capazes de discernimento" e adultos com doenças incapacitantes com o Alzheimer.
A grande maioria dos belgas aprova essas mudanças, de acordo com uma pesquisa publicada quarta-feira no jornal "La Libre Belgique".
Notícia publicada no Portal G1, em 1º de outubro de 2013.

Breno Henrique de Sousa* comenta
Transgeneridade e Eutanásia
Diante dessa chocante notícia nos deparamos com duas grandes polêmicas: a questão da transgeneridade e da eutanásia.
A transgeneridade ocorre quando o indivíduo possui uma identidade sexual psicológica diferente do seu gênero biológico, ou seja, ele se sente como um homem em um corpo feminino ou vice-versa.
Lendo o site Associação Brasileira de Transgêneros, apresenta-se ali uma definição mais abrangente, classificando diversos tipos de transgêneros. Lê-se ali: “(...) é, portanto, um termo “guarda-chuva”, que abriga pessoas cuja identidade de gênero e/ou expressão de gênero estão em desacordo com os padrões de conduta socialmente aceitos para o seu sexo de nascimento.” (1)
A sexualidade humana é um tema muito vasto e complexo e é impossível abordá-lo brevemente sem cometer omissões graves ou sem correr o risco de ser mal interpretado, por isso, atentemos ao caso específico da personagem Nancy/Nathan. Ela (ou ele) passou desde cedo por uma rejeição dos pais por não ter nascido menino. É certo que não podemos simplificar as coisas e dizer que a causa da transgeneridade está em algum trauma ou rejeição dos pais, porém, neste caso específico, não se pode ignorar essa experiência traumática que talvez tenha sido um dos fatores mais relevantes. A sexualidade humana não está desvinculada de suas experiências emocionais, assim, não se pode dizer que o histórico de experiências de uma pessoa não pode interferir sobre sua sexualidade criando conflitos, seja qual for a orientação sexual da pessoa.
Porém, sem aprofundar-nos na problemática sexual, o caso toca uma problemática mais ampla, a da não aceitação de uma determinada situação, ao ponto de querer retirar a própria vida. Nesse sentido, podemos falar claramente de um distúrbio psicológico, não pela opção sexual de Nathan, mas pelo fato de mutilar-se e chegar ao suicídio pela inconformidade diante de sua situação. Para o Espiritismo, nossa existência terrestre não acontece de improviso, ela está dentro de um planejamento maior e o fato de alguém apresentar uma disparidade entre sua identidade sexual psicológica e seu corpo, pode representar uma provação muito dura. As pessoas nessa situação podem passar por grande sofrimento e de fato necessitam de muito apoio e respeito, mas, sabemos que as dificuldades por que passamos nessa existência são sempre provas ou expiações decorrentes de nossas escolhas passadas e somos confrontados com elas para o nosso crescimento e aprendizado, não para a fuga desesperada do suicídio.
Uma escolha dessa natureza reflete uma perspectiva imediatista e materialista da vida. Isso porque só recorre ao suicídio quem põe todas as expectativas nesta existência física e acredita que a morte representa o fim dos seus problemas. O Espiritismo apresenta uma perspectiva radicalmente oposta: A vida não começa no berço e nem termina no túmulo. O suicídio através da eutanásia não é solução para problema de ninguém, antes pelo contrário, amplia os sofrimentos que se desdobram no mundo espiritual. Somos todos espíritos imortais e ao longo de nossas encarnações vivenciamos diversas experiências necessárias para o nosso aprendizado. Podemos nascer homens ou mulheres, ricos ou pobres, brancos, amarelos, negros ou vermelhos, de qualquer nacionalidade ou classe social. Todas essas experiências são oportunidades sagradas e necessárias de crescimento e aprendizado e devem ser recebidas com a alegria e resignação, o que não significa que caso o sujeito, por exemplo, nasça pobre, não possa buscar melhorar a sua vida. O importante é que qualquer que seja a situação com que nos deparemos na vida, ela deve ser encarada como uma oportunidade para uma construção positiva e de superação e não para submergir no desespero e na inconformação, sobretudo naquelas situações que não podemos mudar nesta existência.
Se alguém nasce numa situação irremediável, o que lhe resta senão conformar-se e retirar disso um significado positivo. Não é melhor do que sucumbir na dor? Não se trata aqui de dizer o que é certo ou errado, mas convido o leitor para considerar as coisas desde um ponto de vista mais amplo. Se Deus permite algo é para nosso crescimento ou por crueldade? Queremos acreditar que Deus é justo e bom, de outra maneira, a existência não teria sentido. Mais ainda, se somos todos espíritos imortais e como espíritos não temos sexo biológico, que problema há em nascermos homem ou mulher? E sabendo que vivemos muitas vidas, ora como homem, ora como mulher, para quê esse desespero de querer mudar de sexo forçadamente agredindo e mutilando o próprio corpo? Para quê pôr tanta importância no sexo biológico a ponto disso ser o único sentido para a vida de alguém? A vida é apenas sexo?
Em uma sociedade hedonista, vazia de valores espirituais, a vida se resume ao prazer que a matéria pode nos proporcionar. O sexo se torna um valor absoluto e aqueles que não conseguem usufruí-lo conforme os seus desejos e fantasias, caem em desespero. Estamos aqui para muito mais coisas para além do sexo, de maneira que não raras pessoas conseguem até mesmo não ter vida sexual e serem felizes. Esse é apenas um departamento da vida que deve ser preenchida com outras coisas. Quando tornamos um problema o ponto central de nossas vidas, quando transformamos nossos problemas em monstros terríveis e quando não conseguimos enxergar nada além do problema, tudo se torna maior do que podemos suportar. O orgulho que nos impede de mudar a nossa perspectiva de vida mesmo quando estamos diante de uma situação sem saída, isso nos faz parecer com aquela pessoa que está no caminho errado e se recusa a admitir que esteja perdida. Nathan determinou-se a ser feliz apenas se conseguisse a mudança de sexo, não aceitava outra possibilidade que não fosse essa. Mas essa não era a possibilidade que lhe ofereceu a vida. A vida pode nos oferecer muitas possibilidades de felicidade mas, se insistirmos teimosamente em um único caminho como uma criança teimosa, não nos resta nada além do sofrimento.
A eutanásia enquanto opção própria será sempre uma forma de suicídio ou de assassinato quando se decide aplicá-la em alguém. É uma escolha baseada em hipóteses materialistas, na perspectiva de aliviar o sofrimento de um moribundo no caso daqueles que se encontram com doenças terminais. É ainda mais absurda quando se trata de uma política pública como na Bélgica que pretende estendê-la a crianças e pessoas com Alzheimer. Para o Espiritismo a vida é um valor sagrado e não deve ser abreviada deliberadamente, pois incorre-se em grave crime diante das leis divinas.
Sobre esse assunto, concluímos este comentário destacando uma passagem de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”(2) que trata sobre a eutanásia:
“28. Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim?
Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até à borda do fosso, para dai o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar ideias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões?
Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.
O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro. - S. Luís. (Paris, 1860.)”

Referências:
(1) Associação Brasileira de Transgênicos. Disponível em: http://www.abrat.org/?page_id=642;
(2) O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. V – Bem Aventurados os Aflitos. Allan Kardec.
 
* Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor

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