O falatório. Os gritos. A briga. Aquilo foi a gota d’água
para mim enquanto eu despejava meus problemas sobre minha mãe. "Como faço para
que sejam amigos como nós quando éramos crianças?", supliquei. A resposta foi
uma gargalhada. "Muito obrigada, mamãe", eu disse. "Lamento", ela abafou o riso,
"mas nem sempre vocês eram amigos". Começou a explicar sobre a "Caixa de
brinquedos malcriados". Toda vez que brigávamos por causa de um brinquedo, ela
calmamente o pegava e o colocava na caixa. Sim, lembro mesmo da caixa. Também
lembro que nem sempre era justo porque uma pessoa podia ter causado a confusão
toda. Mas minha mãe era coerente. Qualquer que fosse o motivo da briga, o
brinquedo desaparecia na caixa por uma semana. Nada de perguntas, nenhuma chance
de liberdade condicional.
Logo aprendemos que compartilhar um brinquedo era melhor
do que perdê-lo. Quase sempre, um resolvia esperar um pouco até que mais ninguém
estivesse com o brinquedo em vez de brigar e perdê-lo. Não era um sistema
perfeito, mas experimentei mesmo assim. A caixa foi um choque para os meus
filhos e ficou lotada em poucos dias. Com o passar das semanas, notei que a
caixa estava cada vez mais vazia e o bate-boca tinha diminuído. Hoje, mal
acreditei no que ouvi quando meu filho disse à irmã: "Tudo bem, pode brincar com
ele".
Qualquer coisa que temos dobra de valor quando temos a
oportunidade de compartilhá-la com o próximo.
(Jean-Nicolas Bouilly - 1763-1842 escritor, político)
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