domingo, 8 de novembro de 2015

Revista Espirita – maio 1862 – Conversas familiares de além túmulo

Revista Espírita

Quinto Ano – 1862

Maio

Conversas familiares de além túmulo

Revista Espírita, maio de 1862

O capitão Nivrac

(Morto em 11 de fevereiro de 1862; evocado a pedido de seu amigo, o capitão Blou, membro da Sociedade. - Médium, Sr. Leymarie.)

O Sr. Nivrac era um homem rico de muitos estudos e de uma inteligência notável. O Sr. Blou falara-lhe inutilmente do Espiritismo, e ofereceu todas as obras que tratam da matéria; ele olhava todas essas coisas como utopias, e aqueles que lhe adicionavam fé como sonhadores. Em 1o de fevereiro passeava com um de seus camaradas, gracejando sobre esse assunto, como de hábito, quando, passando diante da loja de uma livraria, viram exposta a brochura: O Espiritismo em sua mais simples expressão. Uma boa inspiração, disse o Sr. Blou, fê-lo comprar, o que provavelmente não teria feito se eu não me encontrasse ali. Depois desse dia, o Sr. capitão Nivrac leu O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, e alguns números da Revista; seu Espírito e seu coração estavam tocados; longe de zombar, vinha me questionar, e se fez, junto dos oficiais, um zeloso propagador do Espiritismo, a tal ponto que, durante oito dias, a nova doutrina era o assunto de todas as conversas. Desejava muito assistir a uma sessão, quando a morte veio surpreendê-lo sem nenhuma causa aparente de doença. Na terça-feira, 11 de fevereiro, estando no banho, expirou em 4 horas nos braços do médico. Não está aí, acrescentou o Sr. Blou, o dedo de Deus, que permitiu que meu amigo abrisse os olhos à luz antes de sua morte?

1. Evocação. R. Compreendo porque desejais me falar, estou feliz com esta evocação, e venho a vós com alegria, porque é um amigo que me pede, e nada me poderia ser mais agradável.

Nota. O Espírito antecipa a pergunta que lhe iria ser proposta e que era esta: Embora não tenhamos a vantagem de vos conhecer, vos pedimos para vir da parte de vosso amigo, o Sr. capitão Blou, nosso colega, e estaremos encantados em conversar convosco se o quiserdes.

2. Sois feliz... (o Espírito não deixa terminar a pergunta que termina assim: por ter conhecido o Espiritismo antes de morrer?) - R. Sou feliz, porque acreditei antes de morrer.

Lembro-me das discussões que tive contigo, meu amigo, porque eu repelia todas as doutrinas novas. Dizendo em verdade, eu estava abalado: dizia à minha mulher, à minha família, que era loucura escutar semelhantes futilidades, e te acreditava amalucado, eu o pensava; mas felizmente pude crer e esperar, e minha posição é mais feliz, porque Deus me promete um adiantamento muito desejado.

3. Como uma pequena brochura, de algumas páginas, teve mais poder sobre vós do que as palavras de vosso amigo, em que devíeis ter confiança? - R. Eu estava abalado, porque a ideia de uma vida melhor está no fundo de todas as encarnações. Acreditava instintivamente, mas as ideias do soldado tinham modificado meus pensamentos; eis tudo.

Quando li a brochura, me senti emocionado; encontrei esse enunciado de uma doutrina tão clara, tão precisa, que Deus me apareceu em sua bondade; o futuro me pareceu menos sombrio. Acreditei, porque devia crer, e a brochura estava segundo meu coração.

4. De que morrestes? - R. Morri de uma comoção cerebral. Deu-se várias razões; era um derrame no cérebro. O tempo estava marcado e me era preciso partir.

5. Poderíeis nos descrever vossas sensações no momento de vossa morte e depois de vosso despertar? - R. A passagem da vida para a morte é uma sensação dolorosa, mas rápida; pressente-se tudo o que pode chegar; toda a vida se apresenta espontaneamente, como uma miragem, e se gostaria de recobrar todo o seu passado para purificar os maus dias, e este pensamento vos segue na transição espontânea da vida à morte, que não é senão outra vida. Fica-se como aturdido pela luz nova, e fiquei numa confusão de ideias bastante singular. Não era um Espírito perfeito; contudo, pude me dar conta, e agradeço a Deus de me ter esclarecido antes de morrer.

Nota. Esse quadro da passagem da vida à morte tem uma analogia marcante com a que dele deu o Sr. Sanson. Fazemos observar que não foi o mesmo médium.

6. Vossa situação atual seria diferente se tivésseis conhecido e aceitado as ideias espíritas?

- R. Sem dúvida; mas era um homem de natureza franca, e, embora não seja extremamente avançado, não é menos verdadeiro que Deus recompensa toda boa decisão, quando mesmo seja a última.

7. É inútil vos perguntar se... (o Espírito não deixou terminar a pergunta, assim concebida: ides ver vossa mulher e vossa filha, mas não podeis fazê-las ouvirem; quereis que lhes transmitamos alguma coisa de vossa parte? - R. Sem dúvida, estou sempre perto dela; eu a

encorajo à paciência e lhe digo: Coragem, amiga, secai vossas lágrimas e sorri a Deus, que vos fortificará. Pensai que minha existência é um adiantamento, uma purificação, e que tenho necessidade de vossas preces para me ajudar. Desejo, com todas as minhas forças, uma nova encarnação, e, embora a separação terrestre seja cruel, lembrai-vos, vós que amo, que estais só e tendes necessidade de toda vossa saúde, de toda vossa resignação para vos sustentar; mas eu estarei perto de vós para vos encorajar, vos bendizer e vos amar.

8. Estamos certos de que os vossos camaradas do regimento estariam muito felizes de ter algumas palavras vossas. A esta questão acrescento uma outra que, talvez, achará lugar em vossa alocução. Até aqui o Espiritismo quase não se propagou no exército, senão entre os oficiais. Pensais que seria útil que assim fosse entre os soldados, e qual seria o resultado disso? - R. É preciso muito que a cabeça se torne séria para que o corpo a siga, e compreendo que os oficiais hajam aceitado primeiro essas soluções filosóficas e sensatas

que O Livro dos Espíritos dá. Por essas leituras, o oficial compreende melhor o seu dever; torna-se mais sério, menos sujeito a zombar da tranquilidade das famílias; ele se habitua à ordem em seu interior, e a bebida e a comida não são mais os primeiros móveis da vida. Por eles, os sub-oficiais aprenderão e propagarão; saberão poder se o querem. Eu lhes digo: adiante! E um novo campo de batalha da Humanidade; somente as feridas, nada de metralha, mas por toda a parte há harmonia, o amor e o dever. E o soldado será um homem tornado liberal segundo a boa expressão; terá a coragem e a boa vontade que fazem de um operário um bom cidadão, um homem conforme Deus.

Segui, pois, a nova direção; sede apóstolos segundo Deus, e dirigi-vos ao infatigável propagador da Doutrina, o autor do pequeno livro que me esclareceu.

Nota. A respeito da influência do Espiritismo sobre o soldado, a comunicação seguinte foi ditada numa outra ocasião:

O soldado tornado Espírita será mais fácil para governar, mais submisso, mais disciplinado, porque a submissão será para ele um dever sancionado pela razão, ao passo que ela não é, o mais frequentemente, senão o resultado do constrangimento; não se embrutecerá mais nos excessos que, muito frequentemente, engendram as sedições e levam a desconhecer a autoridade. Ocorre o mesmo com todos os subordinados, a qualquer classe que pertençam: operários, empregados e outros; se eles quitarão mais conscienciosamente com sua tarefa quando se darão conta da causa que os colocou nessa posição sobre a Terra, e da recompensa que espera os humildes na outra vida. Infelizmente, bem poucos creem na outra vida, e é o que faz que dêm tudo à vida presente. Se a incredulidade é uma praga social, é sobretudo nas classes inferiores da sociedade, onde não há o contrapeso da educação e o temor da opinião. Quando aqueles que são chamados a exercer uma autoridade, a qualquer título que isso seja, compreenderem o que ganhariam em ver subordinados imbuídos das ideias espíritas, farão todos os seus esforços para compeli-los nesse caminho. Mas paciência! Isso virá.

LESPINASSE.

Enviado por: Joel Silva

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