sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Revista Espírita – Quinto Ano – 1862 – Dissertações espíritas

Revista Espírita

Quinto Ano – 1862

Dissertações espíritas

Revista Espírita, abril de 1862

Os Mártires do Espiritismo

II

O progresso do tempo trocou as torturas físicas pelo martírio da concepção e do parto cerebral das ideias que, filhas do passado, serão mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade do saiote proletário com a toga patrícia, os altares, vermelhos ainda,fumegavam do sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam diante dos caprichos do senhor, e os povos, ignorando a sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Neste estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam ficado impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem gritado pelas suas chagas e tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires; para ser cumprida, a misteriosa lei dos semelhantes exigia que o sangue vertesse para a ideia resgatar o sangue derramado pela brutalidade.

Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas; só seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, ao passo que aspira aos horizontes novos. Quem poderá pintar as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes,suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietantes pressentimentos de mundos superiores, dores ignoradas pela materialidade antiquada, que não sofria senão quando não gozava; dores que são a tortura moderna, e que tornarão mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, creram e não serão acreditados,falarão e serão zombados, caminharão e serão repelidos. Não vos desencorajeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa, tanto mais bela quanto terão semeado mais espinhos sobre o vosso caminho.

LÁZARO (Méd. Sr. Costel.)

III

Em todos os tempos, como dissestes, as crenças tiveram mártires; mas também, é preciso dize-lo, o fanatismo estava, frequentemente, dos dois lados, e então, quase sempre, o sangue corria. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos, ou antes, graças a essa filosofia que começou para os escritores do século dezoito, o fanatismo extinguiu a sua chama, e colocou seu gládio na bainha. Não se imagina mais, em nossa época, a cimitarra de Maomé, o cadafalso e a roda da Idade Média, suas fogueiras e suas torturas de todas as espécies, não mais do que não se imaginam os feiticeiros e os mágicos. Outro tempo, outro costume, diz um provérbio muito sábio. A palavra costume está aqui muito ampla, como o vedes, e significa, segundo a sua etimologia latina: hábitos, maneiras de viver. Ora, no nosso século, nossa maneira de ser não é de revestir um cilício, de ir nas catacumbas, nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. O Espiritismo não verá, pois, o machado se levantar e a chama devorar os seus adeptos. Será batido a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a São Bartolomeu não se renovará. Certamente, poderá haver deles algumas vítimas nas nações grosseiras, mas nos centros civilizados só a ideia será combatida e ridicularizada. Assim, pois, nada de  machados, de feixes, de azeite fervente, mas ficai em guarda com o espírito voltaireano mal entendido: eis o carrasco. E preciso preveni-lo, aquele, mas não temê-lo; ele ri em lugar de ameaçar; lança ao ridículo em lugar da blasfêmia, e seus suplícios são as tortutas do Espírito sucumbindo sob os apertos do sarcasmo moderno. Mas não em ofensa aos pequenos Voltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente as três palavras mágicas: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais a temer, porque são sempre os mesmos, apesar de tudo; aqueles podem fazer o mal algumas vezes, mas são coxos, contrafeitos, velhos e rabugentos; ora, vós que passais na fonte de Juventude, e cuja alma reverdece e rejuvenesce, não os temais, pois, porque seu fanatismo os perderá a si mesmos.

LAMENNAIS (Médium, Sr. A Didier).

Enviado por: Joel Silva

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