Livro em
estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito
Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco
A021 – Cap. 7 –
Apontamentos Novos – Segunda Parte
Apontamentos
novos
—
E terá ela probabilidade de se refazer? — indaguei, interessado.
Sempre
muito sereno, o interlocutor fitou-me com os seus olhos muito claros e
brilhantes, e disse:
—
Como você sabe, Miranda, a Lei é de Amor, sem dúvida; no entanto, também é de
Justiça e de Misericórdia. Muito dependerá da menina Mariana. Falou-nos Dona
Rosa que o esculápio diagnosticara tratar-se o seu problema de uma «crise
histérica», deixando maliciosamente a suspeição de ser o problema de ordem
sexual, que não tenho autoridade técnica do assunto para contestar. Acreditam
os discípulos de Freud, que no sexo se encontram as explicações para quase
todos os problemas que afligem o homem, na Terra. A comunhão afetiva,
inegàvelmente, vazada na excelência do amor, consegue sublime intercâmbio de
forças e energias de variada espécie que restauram, às vezes, as organizações
físicas e psíquicas em desalinho, especialmente quando de tal intercâmbio
resulta a bênção de filhos, pois que os inimigos espirituais quase sempre tomam
a roupagem filial e renascem nos braços dos seus antigos adversários,
libertando-os temporàriamente das perturbações que antes experimentavam — o que
dá aos materialistas a falsa impressão de que o problema foi resolvido pela
comunhão sexual calmante, por ignorarem, os que assim pensam, as leis das
reencarnações, que são santificadoras portas de paz! — para surgirem outras
implicações, mais tarde, que somente o amor, a abnegação, o perdão puro e a
humildade, amparados na oração, podem eqüacionar. Confiemos que Mariana se
liberte quanto antes da atual conjuntura e se possa preparar para o amanhã
vitorioso. Há também um argumento que contraria a tese materialista que atribui
ao sexo proezaz quase ilimitadas.
Não
poucas vezes casais perfeitamente harmonizados e sexualmente tranquilos,
descambam para lamentáveis desequilíbrios, os quais não se enquadram na
apressada solução do uso do sexo, como moderador para o campo emocional.
Chegáramos
ao local do transporte. Tomamos as conduções e rumamos em direção diversa.
Desde
então, diariamente visitávamos a paciente que, lenta, porém seguramente, dava
mostras de recomposição íntima. Dias houve mais graves, consequência natural
dos encontros mantidos espiritualmente nas tarefas em desdobramento e de que
ela não se dava conta ao retomar a lucidez orgânica.
Instruída
cada dia nas lições ministradas por Petitinga, logo depois começou a andar e
pôde, então, frequentar as sessões de estudos e passes dirigidas pelo amoroso
seareiro de Jesus.
De
quando em quando, acordava agitada, revendo-se em terras distantes,
experimentando tormentosas agonias compreensíveis...
Petitinga,
inteirado do processo de obsessão, conforme prosseguiam os serviços espirituais
nas diversas reuniões especialmente convocadas por Saturnino para tal mister,
quanto estávamos nós próprio, auxiliava a enferma, esclarecia, ministrava
passes, orava, conclamava, otimista, aos serviços da esperança e do amor.
Concitou-a vezes várias à aproximação afetiva com o Sr. Mateus que, sempre
reservado, apresentava já alguns sintomas característicos da «psicose senil»,
ele que também estava menos azorragado pelas tenazes de Guilherme, ora em
tratamento.
Graças
às palestras edificantes do generoso expositor, o lar dos Soares se foi
transformando, não totalmente, produzindo uma atmosfera de entendimento
relativo, que resultava em bem geral.
O
caminho a percorrer, no entanto, era ainda muito longo. Passaram-se apenas
quatro semanas desde o choque entre filha e pai, quando tivera começo o serviço
da desobsessão.
Na
noite imediata ao encontro malogrado, Adalberto, refeito do problema
gastrintestinal de que fora vítima, procurou informações sobre Mariana, vindo a
saber por pessoa amiga de que esta se encontrava enferma. Solicitou, então,
logo depois, permissão a Dona Rosa para visitar-lhe a filha, no que foi
atendido pela generosa matrona, embora sem atinar com a razão que o levava a
este impulso.
Sem
compreender o que ocorrera, Adalberto não pôde ocultar a singular surpresa que
o acolheu quando visitou Mariana. Desfeita, sem vitalidade, a jovem causou-lhe
imediata compaixão. Fitando-a, em silêncio, repassou pela mente pouco afeita a
cogitações mais elevadas os planos que animara até quase às vésperas,
deixando-se arrastar por abençoado arrependimento. Vendo a sua quase vítima,
indefesa, quase desfalecida, um sentimento novo de afeição começou a brotar no
seu espírito, compreendendo a necessidade de imprimir diferente rumo às suas
atitudes. A vida física, junto ao leito da namorada, lhe parecia tão rápida e
enganosa! Agradecia a Deus, sem palavras, a enfermidade que o
impossibilitara de ter ido ao encontro com a jovem, sem entender de como tudo
fora estabelecido pelos Emissários do Bem.
A
partir daquela noite, passou a visitá-la com regularidade, sob a aquiescência
materna, e, depois, por curiosidade e para ser gentil acompanhou-a às
dissertações espíritas, revelando-se um admirador entusiasta do Espiritismo, e
de Petitinga que lhe conquistara imediatamente a amizade.
Quando
se encerravam as exposições doutrinárias, invariàvelmente Adalberto se acercava
do venerando evangelizador e lhe apresentava, em forma de perguntas
inteligentes, problemas que o afligiam intimamente, ou relacionava os informes
espíritas com os fatos e angústias humanas, os dramas sociais, as enfermidades
irreversíveis, nas quais milhões de seres se debatem e se desesperam, e para os
quais a Ciência Médica na grande maioria dos casos se apresenta impotente.
As
respostas serenas, lúcidas e lógicas, oferecidas por Petitinga, dealbavam para
o moço horizontes de esperança, dantes jamais sonhados.
Mariana,
conquanto muitas vezes permanecesse de semblante turbado por funda melancolia,
invadida por macilenta palidez da face, registrava as lições novas nos refolhos
dalma, com viva emoção. Vezes outras, enquanto recebia o recurso do passe,
deixava-se dominar por choro convulsivo e desesperador, tomando um “facies” de
desespero como se visões pavorosas lhe assomassem à mente, após o que caía em
prostração.
Petitinga
sempre interessado em ajudar-nos com esclarecimentos, diante da jovem
adormecida, explicava:
—
Essas crises procedem de visões por parte de Mariana dos seus perseguidores
espirituais, pois que estes, amparados, não a inquietam no momento.
Ocorre
que o próprio espírito, jugulado ao remorso por muitos anos antes de
reencarnar, fixou vigorosamente na sede da memória perispiritual, que mais
tarde se imprimiriam no cérebro, as cenas dolorosas que vivera no Hospício do
Haarlen, conforme narrara ela mesma quando desdobrada pelo sono, no reencontro
com Guilherme. O corpo é sempre para o espírito devedor — devedores que
reconhecemos ser todos nós — sublime refúgio, portador da bênção do olvido
momentâneo aos males que praticamos e cuja evocação, se nos viesse à
Consciência de inopino, nos aniquilaria a esperança da redenção. Quando viciado
por indisciplina da nossa vontade, ele envia aos recônditos do espírito os
condicionamentos que se transformam em flagício, passando de uma reencarnação a
outra, até que se depure, libertando os centros da vida das impressões
vigorosas que os sulcaram. Na mesma ordem, os erros e os gravames praticados
pelo espírito em processo evolutivo são transmitidos ao corpo que os integra na
forma, assinalando nas células os impositivos da própria reparação, a se
apresentarem como limitação, frustração, recalque, complexos da personalidade
como outros problemas e enfermidades que são as mãos da Lei Divina
reajustando o infrator à ordem. A semelhança de uma esponja, o corpo absorve as
impressões que partem do espírito ou as elimina, como também se carrega da
psicosfera ambiente e a envia ao íntimo, passando a viver-lhe as emanações.
Abençoar, portanto, esse «doce jumentinho», como o chamava meigamente
Francisco, o Santo de Assis, com disciplina e educação, é dever que a todos nos
devemos impor a benefício próprio e que não podemos postergar.
Diante
das ínformações doutrinárias oferecidas pelo preclaro Benfeitor Petitinga,
quedávamo-nos comovidos, buscando pesar, cada vez mais, as responsabilidades
que nos competem na condução da organização física, lamentàvelmente tão pouco
aproveitada pela imensa maioria das criaturas humanas.
Enquanto
se desenvolviam os labores socorristas a Guilherme e simultaneamente a Mariana,
os implicados mais diretamente nas malhas do sofrimento redentor, ela
apresentava sinais de reequilíbrio, enquanto registrávamos os benefícios que a
todos nós alcançavam, graças à aplicação da caridade fraternal.
QUESTÕES
PARA ESTUDO
1
– O instrutor Petitinga afirma que, apesar dos avanços da Medicina, ela ainda é
incapaz de solucionar uma série de enfermidades psíquicas. O que lhe falta? E
quais recursos o Espiritismo dispõem para auxiliar no progresso do tratamento
das doenças psíquicas?
2
– Quais atividades foram desenvolvidas pela equipe de desobsessão,
especialmente, Petitinga, para o tratamento de Mariana?
3
– Como Adalberto colaborou para a recuperação de Mariana e para o próprio
despertamento?
Bom
estudo a todos!!
Equipe
Manoel Philomeno
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