sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A021 – Cap. 7 – Apontamentos Novos – Segunda Parte

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970

Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A021 – Cap. 7 – Apontamentos Novos – Segunda Parte


Apontamentos novos

— E terá ela probabilidade de se refazer? — indaguei, interessado.
Sempre muito sereno, o interlocutor fitou-me com os seus olhos muito claros e brilhantes, e disse:
— Como você sabe, Miranda, a Lei é de Amor, sem dúvida; no entanto, também é de Justiça e de Misericórdia. Muito dependerá da menina Mariana. Falou-nos Dona Rosa que o esculápio diagnosticara tratar-se o seu problema de uma «crise histérica», deixando maliciosamente a suspeição de ser o problema de ordem sexual, que não tenho autoridade técnica do assunto para contestar. Acreditam os discípulos de Freud, que no sexo se encontram as explicações para quase todos os problemas que afligem o homem, na Terra. A comunhão afetiva, inegàvelmente, vazada na excelência do amor, consegue sublime intercâmbio de forças e energias de variada espécie que restauram, às vezes, as organizações físicas e psíquicas em desalinho, especialmente quando de tal intercâmbio resulta a bênção de filhos, pois que os inimigos espirituais quase sempre tomam a roupagem filial e renascem nos braços dos seus antigos adversários, libertando-os temporàriamente das perturbações que antes experimentavam — o que dá aos materialistas a falsa impressão de que o problema foi resolvido pela comunhão sexual calmante, por ignorarem, os que assim pensam, as leis das reencarnações, que são santificadoras portas de paz! — para surgirem outras implicações, mais tarde, que somente o amor, a abnegação, o perdão puro e a humildade, amparados na oração, podem eqüacionar. Confiemos que Mariana se liberte quanto antes da atual conjuntura e se possa preparar para o amanhã vitorioso. Há também um argumento que contraria a tese materialista que atribui ao sexo proezaz quase ilimitadas.
Não poucas vezes casais perfeitamente harmonizados e sexualmente tranquilos, descambam para lamentáveis desequilíbrios, os quais não se enquadram na apressada solução do uso do sexo, como moderador para o campo emocional.
Chegáramos ao local do transporte. Tomamos as conduções e rumamos em direção diversa.
Desde então, diariamente visitávamos a paciente que, lenta, porém seguramente, dava mostras de recomposição íntima. Dias houve mais graves, consequência natural dos encontros mantidos espiritualmente nas tarefas em desdobramento e de que ela não se dava conta ao retomar a lucidez orgânica.
Instruída cada dia nas lições ministradas por Petitinga, logo depois começou a andar e pôde, então, frequentar as sessões de estudos e passes dirigidas pelo amoroso seareiro de Jesus.
De quando em quando, acordava agitada, revendo-se em terras distantes, experimentando tormentosas agonias compreensíveis...
Petitinga, inteirado do processo de obsessão, conforme prosseguiam os serviços espirituais nas diversas reuniões especialmente convocadas por Saturnino para tal mister, quanto estávamos nós próprio, auxiliava a enferma, esclarecia, ministrava passes, orava, conclamava, otimista, aos serviços da esperança e do amor. Concitou-a vezes várias à aproximação afetiva com o Sr. Mateus que, sempre reservado, apresentava já alguns sintomas característicos da «psicose senil», ele que também estava menos azorragado pelas tenazes de Guilherme, ora em tratamento.
Graças às palestras edificantes do generoso expositor, o lar dos Soares se foi transformando, não totalmente, produzindo uma atmosfera de entendimento relativo, que resultava em bem geral.
O caminho a percorrer, no entanto, era ainda muito longo. Passaram-se apenas quatro semanas desde o choque entre filha e pai, quando tivera começo o serviço da desobsessão.
Na noite imediata ao encontro malogrado, Adalberto, refeito do problema gastrintestinal de que fora vítima, procurou informações sobre Mariana, vindo a saber por pessoa amiga de que esta se encontrava enferma. Solicitou, então, logo depois, permissão a Dona Rosa para visitar-lhe a filha, no que foi atendido pela generosa matrona, embora sem atinar com a razão que o levava a este impulso.
Sem compreender o que ocorrera, Adalberto não pôde ocultar a singular surpresa que o acolheu quando visitou Mariana. Desfeita, sem vitalidade, a jovem causou-lhe imediata compaixão. Fitando-a, em silêncio, repassou pela mente pouco afeita a cogitações mais elevadas os planos que animara até quase às vésperas, deixando-se arrastar por abençoado arrependimento. Vendo a sua quase vítima, indefesa, quase desfalecida, um sentimento novo de afeição começou a brotar no seu espírito, compreendendo a necessidade de imprimir diferente rumo às suas atitudes. A vida física, junto ao leito da namorada, lhe parecia tão rápida e enganosa! Agradecia a Deus, sem palavras, a enfermidade que o impossibilitara de ter ido ao encontro com a jovem, sem entender de como tudo fora estabelecido pelos Emissários do Bem.
A partir daquela noite, passou a visitá-la com regularidade, sob a aquiescência materna, e, depois, por curiosidade e para ser gentil acompanhou-a às dissertações espíritas, revelando-se um admirador entusiasta do Espiritismo, e de Petitinga que lhe conquistara imediatamente a amizade.
Quando se encerravam as exposições doutrinárias, invariàvelmente Adalberto se acercava do venerando evangelizador e lhe apresentava, em forma de perguntas inteligentes, problemas que o afligiam intimamente, ou relacionava os informes espíritas com os fatos e angústias humanas, os dramas sociais, as enfermidades irreversíveis, nas quais milhões de seres se debatem e se desesperam, e para os quais a Ciência Médica na grande maioria dos casos se apresenta impotente.
As respostas serenas, lúcidas e lógicas, oferecidas por Petitinga, dealbavam para o moço horizontes de esperança, dantes jamais sonhados.
Mariana, conquanto muitas vezes permanecesse de semblante turbado por funda melancolia, invadida por macilenta palidez da face, registrava as lições novas nos refolhos dalma, com viva emoção. Vezes outras, enquanto recebia o recurso do passe, deixava-se dominar por choro convulsivo e desesperador, tomando um “facies” de desespero como se visões pavorosas lhe assomassem à mente, após o que caía em prostração.
Petitinga sempre interessado em ajudar-nos com esclarecimentos, diante da jovem adormecida, explicava:
— Essas crises procedem de visões por parte de Mariana dos seus perseguidores espirituais, pois que estes, amparados, não a inquietam no momento.
Ocorre que o próprio espírito, jugulado ao remorso por muitos anos antes de reencarnar, fixou vigorosamente na sede da memória perispiritual, que mais tarde se imprimiriam no cérebro, as cenas dolorosas que vivera no Hospício do Haarlen, conforme narrara ela mesma quando desdobrada pelo sono, no reencontro com Guilherme. O corpo é sempre para o espírito devedor — devedores que reconhecemos ser todos nós — sublime refúgio, portador da bênção do olvido momentâneo aos males que praticamos e cuja evocação, se nos viesse à Consciência de inopino, nos aniquilaria a esperança da redenção. Quando viciado por indisciplina da nossa vontade, ele envia aos recônditos do espírito os condicionamentos que se transformam em flagício, passando de uma reencarnação a outra, até que se depure, libertando os centros da vida das impressões vigorosas que os sulcaram. Na mesma ordem, os erros e os gravames praticados pelo espírito em processo evolutivo são transmitidos ao corpo que os integra na forma, assinalando nas células os impositivos da própria reparação, a se apresentarem como limitação, frustração, recalque, complexos da personalidade como outros problemas e enfermidades que são as mãos da Lei Divina reajustando o infrator à ordem. A semelhança de uma esponja, o corpo absorve as impressões que partem do espírito ou as elimina, como também se carrega da psicosfera ambiente e a envia ao íntimo, passando a viver-lhe as emanações. Abençoar, portanto, esse «doce jumentinho», como o chamava meigamente Francisco, o Santo de Assis, com disciplina e educação, é dever que a todos nos devemos impor a benefício próprio e que não podemos postergar.
Diante das ínformações doutrinárias oferecidas pelo preclaro Benfeitor Petitinga, quedávamo-nos comovidos, buscando pesar, cada vez mais, as responsabilidades que nos competem na condução da organização física, lamentàvelmente tão pouco aproveitada pela imensa maioria das criaturas humanas.
Enquanto se desenvolviam os labores socorristas a Guilherme e simultaneamente a Mariana, os implicados mais diretamente nas malhas do sofrimento redentor, ela apresentava sinais de reequilíbrio, enquanto registrávamos os benefícios que a todos nós alcançavam, graças à aplicação da caridade fraternal.


QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – O instrutor Petitinga afirma que, apesar dos avanços da Medicina, ela ainda é incapaz de solucionar uma série de enfermidades psíquicas. O que lhe falta? E quais recursos o Espiritismo dispõem para auxiliar no progresso do tratamento das doenças psíquicas?


2 – Quais atividades foram desenvolvidas pela equipe de desobsessão, especialmente, Petitinga, para o tratamento de Mariana?


3 – Como Adalberto colaborou para a recuperação de Mariana e para o próprio despertamento?


Bom estudo a todos!!


Equipe Manoel Philomeno

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