REVISTA ESPIRITA
JORNAL
DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
JULHO 1863
AS APARIÇÕES SIMULADAS NO TEATRO.
Uma vez que estamos no capítulo das imperícias, eis uma como já dela houve tanto; lamentamos fazê-la figurar ao lado da do casal Robin e Girroodd, mas é a analogia do resultado que a isso nos força. De resto, uma vez que os dignatários da Igreja não acreditaram abaixo deles patrocinar um prestidigitador contra o Espiritismo, não poderão se escandalizar de encontrar um sermão neste capítulo.
Um de nossos correspondentes nos escreveu de Bordeaux:
"Caro mestre, acabo de receber uma carta de minha irmã, que habita a pequena cidade de B...; ela se desespera por não encontrar ninguém com quem possa conversar sobre o Espiritismo, quando os adversários de nossa cara Doutrina vieram tirá-la do embaraço. Algumas pessoas, tendo ouvido falar dele vagamente, acreditaram dever se dirigir aos Carmelitas para se informarem do que era; estes, não contentes de desviá-los dele, pregaram quatro sermões sobre o assunto, dos quais eis as principais conclusões:
"Os médiuns são possuídos do demônio; não agem senão com o objetivo de interesse, e não se servem de seu poder senão para fazer encontrar os tesouros escondidos ou os objetos preciosos que são perdidos, mas, ao contato de uma santa relíquia, vede-os se enrijecerem e se torcerem em horríveis convulsões.
"Os tempos preditos pelos evangelhos estão chegados; os médiuns não são outros senão os falsos profetas anunciados pelo Cristo; logo terão por chefe o Anticristo. Farão milagres e prodígios espantosos; por esse meio ganharão para a sua causa os três quartos da população do globo, o que será o sinal do fim dos tempos, porque Jesus descerá sobre uma nuvem celeste e, de um só sopro, precipitar-los-á nas chamas eternas."
"Disso resultou que toda a cidade ficou emocionada; por toda parte se fala do Espiritismo; não se contenta com a explicação do padre, quer se saber mais, e minha irmã, que não via ninguém, tem dias em que recebe mais de trinta visitas; ela envia sempre a O Livro dos Espíritos, que dentro em pouco, estará em todas as mãos, e muitos daqueles que o têm já se dizem que isso não se parece de todo com o quadro que dele fez o pregador, que dele disse mesmo tudo ao contrário; também contamos agora com vários adeptos sérios, graças a esses sermões, sem os quais o Espiritismo não teria penetrado, há muito tempo, nessas regiões recuadas."
Não tínhamos razão de dizer que é ainda uma imperícia e teremos razão de querer que os adversários trabalhem tão bem por nós? Mas não é a última; esperamos a maior de todas, que coroará a obra. Há um ano cometendo, uma delas muito grave, que nos guardamos de revelar, porque é preciso que vá até o fim, mas da qual se verão um dia as conseqüências. Há mais ou menos dois anos, perguntávamos a um de nossos guias espirituais por que meio o Espiritismo poderia penetrar nos campos. Responderam-nos: "Pelos curas. - Perg. Será isso voluntariamente ou involuntariamente de sua parte? - R. Invo-luntariamente no início; voluntariamente mais tarde. Dentro em pouco farão uma propaganda da qual não podeis prever a importância. Não vos inquieteis nada e deixai fazer: os Espíritos velam e sabem o que é preciso."
A primeira parte da predição, como se vê, cumpriu-se não se pode melhor. De resto, todas as fases por onde passa o Espiritismo nos foram anunciadas, e todas as que devem percorrer ainda, até seu estabelecimento definitivo, no-lo são igualmente, e cada dia se verifica o acontecimento.
É em vão que procuram dissuadir do Espiritismo apresentando-o sob cores assustadoras. O efeito, como se vê, é todo outro do que aquele que se espera; para dez pessoas desviadas, há cem delas reunidas. Isso prova que ele tem, por si mesmo, um irresistível atrativo, sem falar daquele do fruto proibido. Isso nos traz à memória a pequena historieta seguinte:
Um proprietário, um dia, fez vir à sua casa um tonel de excelente vinho; mas, como temia a infidelidade de seus servidores, colocou esta etiqueta em grandes caracteres:Horrível vinagre. Ora, o tonel deixando escapar algumas gotas, um deles teve a curiosidade de degustá-lo na ponta do dedo, e achou que o vinagre era bom. Foi dito de um para o outro, se bem que, cada um vindo ali haurir, ao cabo de algum tempo o tonel se encontrava vazio. Como o proprietário dava às suas pessoas vinho ordinário para beber, diziam entre si: "Isto não vale o horrível vinagre."
Será bom dizer que o Espiritismo é do vinagre, não se fará senão àqueles que o degustaram não o achando doce; ora, aqueles que dele terão gostado o dirão aos outros, e todos quererão dele beber.
Enviado por: "Joel Silva"
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