quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Americano congelado na neve é ressuscitado com técnica que esquenta sangue

Americano congelado na neve é ressuscitado com técnica que esquenta sangue


Como um homem que congelou até a morte voltou à vida?

Justin Smith foi encontrado desacordado na neve em Tresckow, no Estado da Pensilvânia (EUA), na manhã de 21 de fevereiro de 2015, aparentemente morto.

"Todos os sinais nos levam a acreditar que ele esteja morto há bastante tempo", disse um paramédico em contato com a polícia.

O drama do estudante de psicologia de 26 anos começara na noite anterior, por volta das 21h30, quando ele voltava a pé de um centro social onde costumava beber com amigos. Era um caminho de 3 km que ele costumava fazer para evitar beber e dirigir.

Ele não se lembra de ter escorregado e batido a cabeça, mas é o que os médicos acreditam que tenha ocorrido.

Justin caiu de costas em um monte de neve, sem casaco, de olhos abertos e olhando para cima.

Foi como o pai do jovem, o professor Don Smith, o encontrou na manhã seguinte, às 7h30, após alerta de uma amiga do filho que estava preocupada. A temperatura naquela noite chegara a -4ºC.


Congelado como concreto

"Ele estava congelado, como um bloco de concreto. Comecei a chacoalhá-lo e dizer: você não vai me deixar", diz o pai.

Médicos descreveram o caso de Justin como um "milagre médico", como talvez a única pessoa que tenha sobrevivido a uma hipotermia tão grave.

No setor de emergência do hospital de Lehigh Valley, o jovem foi atendido por uma equipe de 15 pessoas, e passou por duas horas de ressuscitação cardiopulmonar, enquanto seu corpo era reaquecido lentamente.

Em seguida, ele foi levado de helicóptero até um hospital em um voo de 18 minutos, em que paramédicos fizeram 100 compressões cardíacas por minuto, com oxigenações, para manter o fluxo de sangue para o cérebro.

No hospital, Justin foi ressuscitado por meio de um procedimento chamado oxigenação por membrana extracorpórea, em que o sangue é removido, oxigenado e aquecido antes de ser bombeado de volta ao corpo.

A técnica é normalmente usada como último recurso para salvar pacientes com pulmões ou corações comprometidos por infarto ou casos graves de gripe.

O cirurgião cardiotorácico James Wu, que atendeu Justin, disse que a família deveria se preparar para o pior, pois as chances de sobrevivência do paciente eram de 50%. Contudo, 90 minutos depois, o corpo de Justin estava se aquecendo, e logo o coração já batia sozinho.

Mas o estudante ainda estava em coma, e era mantido vivo com ajuda de aparelhos. Dias depois, a surpresa: testes mostravam que o cérebro de Justin estava normal. "Estávamos eufóricos. Acreditamos que era um milagre acontecendo em nossa frente", disse o neurologista John Castaldo.


Recuperação lenta

O médico, no entanto, suspeitava que Justin pudesse sobreviver em estado vegetativo. Um mês depois, os olhos de Justin começaram a seguir o rosto de Castaldo - era um sinal de recuperação do cérebro.

Justin passou cerca de três meses internado - seus rins e pulmões não funcionavam, e ele teve os dedões do pé e os dedos mínimos das mãos amputados por decorrência de gangrena.

Aos poucos, sua personalidade, memória e atenção foram voltando. Justin teve que reaprender a usar as mãos e a andar. Após meses de recuperação, já estava jogando golfe e planejando o retorno à universidade.

Nesta semana, Justin voltou ao hospital para agradecer à equipe que salvou sua vida.

"Eu sou apenas muito grato. Sou a prova do que pode acontecer quando grandes pessoas trabalham em conjunto", disse Justin, ou "homem de gelo", como foi apelidado pelos amigos.

Notícia publicada na BBC Brasil, em 21 de janeiro de 2016.


Breno Henrique de Sousa* comenta

O limite entre a vida e a morte

Casos como o de Justin nos faz refletir sobre o quão pouco sabemos sobre os limites entre a vida e morte e como esses limites podem ser mudados com o avanço da tecnologia. O caso foi classificado como um milagre médico, porém, as coisas que eram consideradas milagres no passado tornaram-se comuns no dia a dia.

Todos os dias surgem notícias de curas improváveis ou pessoas que escaparam de uma situação desastrosa ou perigosa como um grave acidente, contrariando todas as possibilidades e muitas vezes escapando ilesas. Quem pode ter certeza de que alguém morrerá ou escapará mesmo quando as possibilidades dizem o contrário? Por isso o Espiritismo é contrário a eutanásia, mesmo naquelas situações onde alguém sofre de uma doença terminal.

Acontece também que, do ponto de vista espiritual, a vida humana tem outro significado diferente daquele atribuído pelo ponto de vista materialista. Cada segundo da existência humana pode significar grande diferença sobre a forma que o espírito se encontrará na vida espiritual. O valor da resignação perante a dor pode ter resultado transformador na índole do indivíduo, essa transformação faz toda diferença seja em quem continua encarnado e ainda mais em quem desencarna.

As dores atrozes na vida de alguém representam uma senda dolorosa que deve conduzir ao resgate dos nossos débitos passados pela atitude laboriosa no bem. A dor em si é apenas um elemento transformador que permite dar novo significado às nossas experiências e redimensionar o valor da vida. Abreviar a dor por uma interrupção deliberada da vida parece ser uma forma de oferecer dignidade e alívio a um convalescente, mas, na verdade, a eutanásia representa uma interrupção prematura da vida e traz como consequência o prolongamento do sofrimento no mundo espiritual.

A passagem da vida física para a espiritual não é algo muito simples. Mesmo em condições naturais, dependendo do estado do desencarnado, ele passa por um período mais ou menos longo de perturbação e adaptação. Porém, quando essa passagem se dá pela ruptura abruta dos laços que predem o espírito ao corpo, o estado de perturbação e sofrimento é imensamente maior e mais difícil é a transição. A eutanásia será sempre um crime contra as leis divinas, trazendo consequências dolorosas e grande responsabilidade sobre quem decide realizá-la, sejam os familiares, ou o próprio convalescente que, tendo consciência de sua escolha, torna-se, por isso, um suicida.

Isso não significa que não se deve aliviar a dor do convalescente com os devidos cuidados paliativos, o que é muito diferente de uma ação deliberada e arbitrária de interromper a vida. Resignar-se no sofrimento não significa ser masoquista, isso seria outro grande equívoco, pois Deus nos faculta os meios de aliviar o sofrimento do nosso próximo e normalmente nos utiliza uns aos outros para sermos instrumento de alívio, exercitando a compaixão e a misericórdia.

Encerremos com essa reflexão encontrada em O Evangelho Segundo o Espiritismo que no Capítulo V (Bem Aventurados os Aflitos, item 28) nos brinda com essa excelente reflexão:

Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim?

Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até à borda do fosso, para daí o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar ideias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões?

Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.

O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro. - S. Luís. (Paris, 1860.)

* Breno Henrique de Sousa é paraibano, professor da Universidade Federal da Paraíba nas áreas de Ciências Agrárias e Meio Ambiente. Está no movimento Espírita desde 1994, sendo articulista e expositor. Atualmente faz parte da Federação Espírita Paraibana e atua em diversas instituições na sua região.

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