sábado, 4 de março de 2017

Entrevista concedida por Divaldo Pereira Franco - Este será o século do amor

Este será o século do amor

janeiro/2017 
Fonte: Jornal Mundo Espírita FEP
       
Vivemos uma época de grandes transformações sociais, um conturbado momento político e um novo modelo de interação social, em que barreiras geográficas e temporais são vencidas por alguns diques. Nesse contexto, muitos não conseguem equilibrar de maneira saudável o uso dos recursos tecnológicos e a convivência interpessoal, sentindo-se sozinhos ainda que envoltos a inúmeras possibilidades.
Nesta entrevista, o médium e palestrante espírita Divaldo Pereira Franco traz elucidações coerentes a esses temas, afirmando que o progresso da ética e do amor, bem como a consolidação da cidadania, devem ser os objetivos deste século, e como as religiões, atuando em conjunto com a ciência, podem de fato contribuir para o equilíbrio do homem enquanto ser integral.
 
Divaldo, a tecnologia teve forte avanço no século 20. Seria o século 21 o do impulso para o progresso da ética?
Sem dúvida, o século passado pode ser considerado o mais notável dos últimos tempos, em razão das conquistas ímpares da ciência e da tecnologia. Ampliaram-se os horizontes do Universo, penetrou-se nas micropartículas, decifraram-se vários enigmas que aturdiam o indivíduo, as comodidades multiplicaram-se, a longevidade humana tornou-se possível e o homem assim como a mulher pareceram haver triunfado sobre a ignorância e os limites do conhecimento. Nada obstante, os conflitos emocionais multiplicaram-se, os sentimentos desceram a níveis dantes não alcançados, as dores tornaram-se mais severas e a paz interna cedeu lugar às inquietações e angústias…
Afirmam os Benfeitores espirituais que o atual será o século do amor, da ética, do retorno aos valores morais ora desprezados, que a cultura e a civilização aplicaram milênios para os estabelecer, sem que houvessem prevalecido.
O ser humano anela pela paz e teme amar, considerando-se descartável pela moderna cultura superficial e de rápido olvido.
Nesse sentido, o Espiritismo oferece uma contribuição valiosa, com as suas seguras diretrizes a respeito da imortalidade da alma, das comunicações espirituais, da reencarnação e da necessidade de viver-se com elevação a existência, que é bênção de Deus para o processo da evolução, da plenitude.
 
A todo momento vivemos conectados e não conseguimos nos desligar do mundo virtual. O ser humano está à beira de uma saturação tecnológica? Ela prejudica nossa espiritualização?
“O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.”, acentuou o filósofo Protágoras, quase 500 anos a. C.
Desse modo, ele cria os condicionamentos e os desfaz à medida que evoluciona, crescendo na horizontal da inteligência, nem sempre com a correspondência do sentimento que é a grande vertical da verdade.
É o que vemos na atualidade. Após haver criado com alta tecnologia as máquinas e até mesmo o cérebro artificial, vem-se tornando escravo das suas exigências. Estamos no auge da comunicação virtual e uma grande parte da sociedade encontra-se “conectada” nesse mundo, perdendo as excelentes oportunidades da convivência pessoal.
É, sem dúvida, um momento embaraçoso e grave, porque o individualismo toma-lhe conta e o exaure com o excesso de informações rápidas e sem grande sentido. Logo, como já vem ocorrendo, surge a “saturação tecnológica”, a falta de objetivo psicológico na existência, provocando a solidão avassaladora que culmina nos transtornos de várias denominações, inclusive, a depressão.
Nos relacionamentos humanos são valiosos os contatos físicos, as emoções que produzem hormônios especiais na convivência, o abraço, a carícia … que ainda não podem ser virtuais.
Como consequência, dificulta a espiritualização do ser. Nada obstante, conforme o uso que se pode fazer dessa valiosa contribuição, torna-se veículo de divulgação do bem, invitando os seus aficionados à reflexão, ao conhecimento de valores humanos que jazem adormecidos ou já se encontram esquecidos.
Tudo, portanto, depende do uso que se dê.
 
Qual a importância dos valores espirituais para a elevação do nível de cidadania de um povo?
É de fundamental importância uma ética baseada nos valores espirituais.
Afirmou Jung que o “ser humano é um animal religioso” e a religiosidade é essencial para uma vida harmônica, em conquista da plenitude. A ausência de uma fé clara e lógica, impõe ao indivíduo angústias e desencantos quando a existência perde o sentido imediatista, passando a sentir o vazio interior.
 
À vista de um escândalo ou outro, clamam-se por mudanças legislativas. O problema de fato está na lei?
Penso que o problema fundamental para o construção de uma sociedade digna e consequentemente feliz é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto “a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos” como afirma Allan Kardec em resposta à questão 685, a) em O Livro dos Espíritos. Mediante a educação moral pode-se respeitar os leis, algumas de excelente qualidade, mas que não são consideradas pelos indivíduos rebeldes, de caráter mal formado.
Não são, desse modo, as leis que necessitam de correção, mas os seres humanos que se fazem rebeldes, indisciplinados, soberbos, ignorantes dos deveres, para poderem fruir de direitos…
 
E como evitar que a desilusão e o descrédito geral em torno dos governantes e das instituições públicas tomem conta da sociedade? As religiões podem contribuir?
Quando se trata de religiões centradas na lógica e no razão, que andam ao lado da ciência e lhe aceitam as conquistas, a sua contribuição na estruturação da criatura equilibrada e feliz refletirá, naturalmente, no seu comportamento político, porque é de natureza moral, tornando respeitáveis as Instituições públicas e todas as demais. Como consequência da conduta irresponsável e insensata de alguns governantes perversos e instituições indignas surge o descrédito, o desrespeito às leis, o cinismo… o pessimismo. Apesar disso, cabe-nos agir com retidão, como sendo a nossa maneira de contribuir em favor de um mundo melhor, tornando-nos exemplos de dignidade, assim demonstrando que são os indivíduos e não as funções que os tornam nobres ou indignos.
 
A partir dos anos 2000 surgiram as primeiras Associações Jurídico-Espíritas (AJEs). Hoje temos 12 AJEs estaduais e, em março deste ano [2016], a AJE-Brasil completou três anos. Qual a importância dessas instituições para a sociedade em geral?
Considero as AJEs como organizações necessárias à formação de profissionais da sua área portadores de elevados sentimentos que se fundamentam nas bases filosóficas e morais do Espiritismo. Poderão ser esses cidadãos os futuros governantes capacitados para a verdadeira e nobre Política, nos moldes daquela desenhada por Aristóteles, que estabelece o respeito aos direitos dos seres e se fundamenta na ética-moral que dignifica a sociedade.
 
E para o movimento espírita?
Para o Movimento Espírita as AJEs podem oferecer valiosas contribuições da sua área no cumprimento das leis, trabalhando em favor de projetos políticos e sociais compatíveis com o  pensamento de Jesus.
Quando reflexiono no Código penal da vida futura, que se encontra no capítulo VII do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, antevejo uma futura diretriz nobre para a sociedade contemporânea, servindo de base para leis justas, conforme o são as de natureza divina.
Neste momento grave que atravessamos, necessitamos, mais do que nunca, experienciar a ética-moral do Evangelho de Jesus, conforme Ele a estabeleceu e viveu-a com os Seus discípulos.
As grandes crises que se alastram pela Terra têm origem nas desordens emocionais e espirituais da criatura humana. É necessário que resolvamos nossos problemas íntimos a fim de contribuirmos com segurança para a solução daqueles mais graves, porque coletivos.
Quando o indivíduo se levanta, erguendo-se para os cimos da verdade e do amor, a humanidade cresce e se transforma para melhor.
O Espiritismo tem por meta auxiliar o ser humano a ascender, a libertar-se das “más inclinações”, da “sombra”, alcançando o estado numinoso, a plenitude ou o reino dos Céus, conforme seja a aceitação de cada um de nós.
Entrevista concedida por Divaldo Pereira Franco
à revista Direito e Espiritualidade,
Ano 1, edição 1, julho/dezembro de 2016.

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