terça-feira, 9 de maio de 2017

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A031 – Cap. 12 – Desobsessão e responsabilidade – Parte 1


Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A031 – Cap. 12 – Desobsessão e responsabilidade – Parte 1

 
       As lutas prosseguiram contínuas e intensas. Am­parados, todavia, pela Misericórdia Divina, empenháva­mo-nos, igualmente, em corresponder à confiança da Es­piritualidade Superior. Certo é que o carvalho enrija fibras sob as agressões da tempestade... Também, nós outros, fortificávamo-nos na fé e no entusiasmo à medi­da que se multiplicavam os convites à árdua batalha da fidelidade ao dever espontaneamente assumido. Aqui era o irromper das paixões demoradamente subordinadas à vontade tentando desequilíbrio; ali eram as investidas da violência, através de pessoas irresponsáveis que se faziam dóceis instrumentos dos Espíritos infelizes: pa­rentes invigilantes e perturbados atiçando rebeldia; al­mas afeiçoadas pelos estreitos laços do matrimônio, inconsequentes, ensejando redobrada aflição, feridos pelas farpas do ciúme, da ira e da insensatez, transforman­do-se em algozes brutais...
      Resistindo quanto nos fa­cultavam as forças, inspirados e socorridos como está­vamos, sentíamos, simultaneamente, a rara felicidade de nos encontrarmos nos campos da fé redentora. Evocá­vamos os mártires dos primeiros tempos do Cristianis­mo e exultávamos. Se agora a arena desaparecera dos sítios em que tinha sua construção, estendera limites, porém, partindo do mundo interior de cada um até às longes partes do pensamento... Ontem, o holocausto e o martírio público eram estímulo ao prosseguimento, e o sangue derramado se convertia em adubo nas raízes da fé nascente. Agora, não. Os testemunhos deveriam ser silenciosos, na cruz da abnegação e da renúncia, fora dos grandes espetáculos...
Transcorriam os dias sem outras alterações, quan­do, no trabalho habitual de intercâmbio mediúnico, Sa­turnino elucidou que o irmão Glaucus viria à incorpo­ração pelo médium Morais, para instruções valiosas.
Saudando-nos em nome do Senhor, o nobre Instru­tor, de imediato, considerou:
Conforme estão informados os caros amigos, o nosso irmão Teofrastus tem sido hóspede querido desta Casa. Desde as entrevistas que mantivemos, ora no An­fiteatro, ora no Lazareto em que se encontra Henriette­-Marie e aqui mesmo, recolheu-se o antigo mago de Ruão a meditações muito profundas e a arrependimento perfeitamente compreensível. Despertar para a verdade é, também, nascer para a responsabilidade. Conhecer o bem significa renunciar ao erro. O cego que se de­mora sem o contágio da visão por longos anos, ao des­pertar em manhã de formoso dia, sente a ardência da luz e experimenta o sofrimento que a claridade lhe pro­duz; refaz o caminho pela noite tormentosa e padece, embora embriagado de luminosidade. Identificar-se com a vida abundante pode parecer embate fácil; perseve­rar, no entanto, na comunhão com a Vida Maior repre­senta esforço sacrificial e continuado contra a aclima­tação em que se vivia. Nesse sentido, o Mestre sem­pre fora incisivo e conciso: «Não voltes a pecar para que te não aconteça algo pior» — enunciava Ele aos recém-curados.
Um intervalo natural na exposição do Amigo Es­piritual se fez espontâneo. E prosseguindo, clarificou:
Marcado pela revolta que o consumia, lentamente, nesse largo período de tempo, desde a arbitrá­ria punição pela fogueira, de que foi vítima, nosso ami­go acalentou na mente a chama da vingança, buscando, implacável, aqueles que foram os responsáveis pelo seu sofrimento. Como, porém, o ódio enceguece e oblitera as fontes da razão, não conseguiu identificar exatamente aquele que tramou a infame tragédia, vindo a encon­trá-lo só agora, em situação ainda mais inditosa do que a sua. Conservou, no entanto, do Cristianismo, a concepção infeliz que lhe deram os seus atormentadores; dos que se locupletam à sombra da fé para usufruírem benefícios pessoais; dos que têm nos lábios mel e no coração ácido terrível; dos pastores que devoram as ove­lhas, e das ovelhas que são, em última análise, “lobos disfarçados de ovelhas”. A doçura do amor de Jesus foi-lhe apresentada entre labaredas que lhe lamberam as carnes e em fumo que o asfixiou até a morte... Ante a adulteração dos ensinos do Mestre, conforme lhe che­garam nos dias da ignorância medieva, conserva até hoje aversão pelo nome do Cristo e pela Doutrina que Ele nos legou. Invigilante, tornou-se calceta de si mes­mo e, atormentado pela ausência de lume no velador da paz, sem combustível de esperança, fez-se todo sus­peita, arrogância, inquietação, conquanto o cansaço do mal empreendido por largo espaço e o receio de que já lhe esgotavam as forças para prosseguir...
«Colhido nas malhas dos atos reprocháveis, acredi­ta-se novamente vítima das circunstâncias. Ignorando que os nossos atos nos elegem vítimas ou algozes de nós mesmos, e que, por mais cruel seja a nossa atua­ção, não fugimos ao nosso destino de felicidade, mais hoje ou mais tarde. Soou para ele o momento da re­denção necessária e difícil, que já começa, porém. Imen­so trajeto o espera, longo mergulho na carne sofredora o aguarda a benefício dele mesmo.
Depois de breves instantes de expressivo silêncio, prosseguiu:
—  Enquanto se dispõe em definitivo à renovação espiritual — já que nos não cabe constrangê-lo sob qual­quer pretexto ou circunstância, a fim de ser recambiado para recinto próprio em nossa Esfera, onde se deverá preparar para as lutas da sublimação futura, observa as tarefas que aqui se desdobram, a atuação dos cris­tãos novos, a conduta real que se deriva da fé racio­cinada, o nível de amor inspirado no amor do Cristo... Acompanha as operações socorristas dirigidas aos sofredores de ambos os planos da vida, que aqui vêm tra­zidos, e, sobretudo, com a nossa assistência afetuosa, segue os lidadores da fé, servidores da semeação evan­gélica e os médiuns trabalhadores para sentir se os en­sinamentos nesta Casa ministrados são aplicados na con­duta diária pelos que os administram... Verifica a for­ma pela qual se comportam os espíritas sob a constri­ção do testemunho e da prova, da perturbação e da dor, confirmando pelos atos a sua identificação com o Cristo. Temos-lhe ensejado o conhecimento do ministério da fraternidade desenvolvido pelo nosso Templo, de modo a facultar-lhe o conhecimento do vero Cristianismo, em face das idéias que cultivou e nutriu em torno da Religião de que foi vítima no passado. Embora conhe­cedor dos objetivos do Espiritismo, habituado como se encontrava às restrições que mantinha quanto à digni­dade humana, conhecedor das fraquezas do caráter das criaturas, deixou-se arrastar pelos próprios conceitos, enveredando nos meandros das suspeitas e das descon­siderações às mais nobres florações da fé sob qualquer designação. Apesar disso, a débil chama da fé natural, da necessidade de uma sua religação com a Verdade, realizava o seu mister, deixando-o, não poucas vezes, re­ceoso quanto ao futuro, ansioso sobre o porvir... Vi­vendo a esfera imortal, de cujas realidades não podia duvidar nem fugir, acompanhando processos diários de reencarnação e desencarnação, temia ser colhido pelas teias da Lei Superior, desarmado para a consciência de si mesmo, emaranhado quanto se encontrava na trama do desgoverno íntimo pelo ódio.
Novamente o Amigo Espiritual, desejoso de resumir um destino numa narração breve, deixando traduzir à comiseração de que se via possuído, ante o inditoso es­pírito, aduziu:
—  Teofrastus, nosso irmão, necessitado de nosso  auxílio , auxílio que nos vem do Alto é, também, lição viva para todos. Nenhum de nós está isento de ser vítima de circunstâncias que tais, derrapando nos abismos do desespero e da alucinação, através de cuja queda poderemos retardar em demasia o nosso progresso, a nossa dita. Muito justo que vejamos nele o nosso passado ou o que poderia ser o nosso presente, caso não tivés­semos, aquinhoados como fomos, sabido receber e acei­tar o convite de Jesus, nosso Amigo e Mestre. Desse modo, a nossa, particularmente a vossa responsabilidade é muito grande, em face da conduta que devemos viver, de forma a que a nossa mensagem lhe fale ao espírito atormentado com a excelente linguagem do amor do Cristo aplicado aos nossos atos. Testemunha da nossa vivên­cia evangélica, incorporará as lições ouvidas e vistas ao patrimônio íntimo, consoante lhas ofereçamos, adquirin­do forças ou não para doar-se Àquele que nos levanta e ampara, podendo, pelo amor, levantá-lo e ampará-lo, também. Não é inútil que o Apóstolo dos Gentios nos adverte, através da epístola aos Hebreus, no capítulo 12, versículos 1 e 2: «Portanto, também nós, visto que te­mos ao redor de nós tão grande número de testemunhas, pondo de lado todo o impedimento, e o pecado que se nos apega, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da fé, o qual pelo gozo que lhe foi pro­posto suportou a cruz, desprezando a ignominia...». Indubitavelmente «temos testemunhas ao redor de nós» e são muitas, em número superior ao que se pensa, estas, que são os homens, e aquelas que, do Mundo Espiritual, acompanham o que pensamos, dizemos e fazemos...
 

QUESTÕES PARA ESTUDO

 
1)     Que diferenças existem entre as lutas travadas pelos cristãos na época em que Jesus esteve encarnado e os cristãos dos dias atuais?
2)     Como podemos entender esta expressão do texto: “O cego que se de­mora sem o contágio da visão por longos anos, ao des­pertar em manhã de formoso dia, sente a ardência da luz e experimenta o sofrimento que a claridade lhe pro­duz?”
3)     Existem vítimas de acordo com a doutrina espírita? Justifique.
4)     De que forma Teofastrus pode ser uma “lição viva” para todos nós?

 
Bom estudo a todos!!
Equipe Manoel Philomeno

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