terça-feira, 23 de maio de 2017

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão - A033 – Cap. 13 – Solução inesperada – Primeira Parte


Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

 

A033 – Cap. 13 – Solução inesperada – Primeira Parte

13 -  Solução inesperada

 

Após quinze dias de internamento no Hospital do Pronto Socorro, o Sr. Mateus foi trasladado para o lar com expressivos sinais de breve recuperação orgânica.
Visitando-o na primeira oportunidade com Petitinga, ouvimos a narrativa dos antecedentes do grave delito de que se fizera vítima, impressionando-nos observar a carga de ódio acumulada na mente que destilava, prestes a explodir com revolta e desassossego.
O Sr. Mateus era um homem de quase sessenta anos, sanguíneo, voluntarioso. Perturbado em si mesmo, atravessava a existência carnal saltando de leviandade em leviandade, muitas vezes esquecido dos deveres de esposo e pai, fascinado pelo pano verde, em que se aventurava, atirando fora os parcos recursos que, se aplicados no lar, seriam de alta valia para o bem da família constituída de seis filhas.
Em compensação, Dona Rosa se desdobrava nos deveres domésticos e na costura, até altas horas da noite, para suprir, com o esforço de algumas das filhas, as necessidades domésticas. Irreligioso por temperamento rebelde, sempre descurara dos deveres espirituais para consigo mesmo. Em tempos idos fora excelente artista, recebendo agora uma parca pensão do Montepio a que se vinculara antes, por ter sido considerado inapto a prosseguir na profissão.
À medida que a decrepitude das forças se avizinhava e temeroso da desencarnação, fazia-se mais azedo, quase insuportável...
Por ocasião do retorno de Mariana ao lar e impressionado com as informações e esclarecimentos de Petitinga sobre a obsessão e os cuidados que todos nos devemos impor para evitar-lhe as tramas infelizes, pareceu modificar o comportamento, por alguns dias... Depois, como se ficasse alucinado, entregou-se a desmandos, e não poucas vezes, açulado pelos desencarnados afins, ameaçava expulsar do lar, quando necessitava de dinheiro para as aventuras, a esposa abnegada e as filhas. O ambiente doméstico, com a sua presença, se fazia pestilencial pelas emanações fluídicas abundantes, que ali campeavam desordenadas.
Petitinga, ameno e cortês, após escutar as promessas de desforço do infortunado agredido, relatou-lhe a experiência de Jesus-Cristo e as Suas lições, sem lograr, de imediato, qualquer resultado. De mente viciada por longos anos de desequilíbrios contínuos, o esposo de Dona Rosa sintonizava na faixa do despautério moral e se permitia o conúbio com os seus antigos comparsas, apresentando- se irredutível nos pontos de vista, na conduta, nas atitudes.
Dizia aceitar o concurso do Espiritismo, conquanto fosse apenas para libertá-lo mais facilmente do leito, de modo a facultar-lhe de pronto o retorno aos sítios da sua humilhação, retomando a pureza da sua honra...
Solícito, utilizando-se do ensejo, o zeloso amigo convidou-nos a orar e, em sentida peroração, exorou os recursos divinos para aquela família, mas principalmente para o genitor enfermo, rogando a interferência do Médico Divino que nunca falta, de modo a que o lar dos Soares não fosse arrastado a drama mais grave e a consequências imprevisíveis. As palavras ungidas de emoção vibravam doces no quarto singelo qual música delicada, envolvendo-nos em consoladora esperança. A sintonia natural, espontânea, com as Altas Esferas se fez imediata, e Saturnino, o abnegado Mentor, tomando o comando mental da Verdade, proferiu expressiva quão valiosa dissertação sobre os deveres do perdão, como normativa de comportamento para a própria felicidade.
— “Felizes são os que perdoam — enunciou, consciente —, porqüanto conferem paz a si mesmos e por sua vez liberam da dívida os que os ofenderam, entregando-os, desse modo, às Soberanas Leis encarregadas da evolução dos homens. Os que perdoam e ajudam conseguem ainda maior galardão, porque amparam os maus e os vencem com a luz da misericórdia. No entanto, aqueles que conservam as mágoas intoxicam-se, envenenam-se, dando causa a graves enfermidades que se desatrelam rigorosas, transformando-se em suplícios demorados, cujos responsáveis, no entanto, são os que cultivam os pensamentos inditosos e se comprazem na semeação da ira e do ódio, absorvendo as próprias emanaçoes tóxicas da mente desalinhada. E os que revidam mal por mal, agressão por agressão, estes já se encontram descambando na direção do abismo, em posição quase irreversível..
«O amor é pólen que fecunda a vida, enquanto o ódio é gás que a interrompe...»
A advertência vazada em termos suaves fazia-se severa, não dando margem a controvérsias ou mal-entendimentos de natureza alguma. Conclamou-nos, ainda, o Sábio Instrutor ao cultivo das boas idéias, à vivência da paz íntima, mediante a elaboração de pensamentos enobrecedores, estimulando-nos à correção mental, de cuja fonte — o pensamento — procedem os elos da escravidão ou as asas da liberdade que fixamos às nossas vidas.
Antes de afastar-se aplicou, generoso, demorado passe longitudinal no paciente, exortando-o:
— Mude a idéia do mal em você, meu amigo, antes que a raiva o vença; e esqueça a vingança antes que a vingança o esqueça em situação dolorosa e lamentável... Jesus nos ensinou que: «quando estivéssemos orando e mantivéssemos alguma coisa contra alguém, perdoássemos» (*). Ore e perdoe para ter saúde e paz.
Dona Rosa, Mariana e Amália, de pé ao nosso lado, orando muito comovidas, deixavam-se arrastar pelas ondas da Espiritualidade momentânea no ambiente, banhadas por discreto pranto, qual ocorria com nós mesmos.
Terminado o intercâmbio inesperado e benéfico, Petitinga sem delongas encerrou o trabalho de socorro e, após as despedidas, saímos na direção dos nossos lares.
— Pressinto que — informou-me o amigo — o nosso Mateus experimentará, em benefício dele mesmo, inestimável lição que o convidará a demorada reflexão sobre o destino e a vida que lhe tem transcorrido sem maiores consequências. Todos esses que se dizem «indiferentes» com referência ao problema da fé, acobardam-se dolorosamente ante as realidades da desencarnação. Acomodados à irresponsabilidade como vivem, quando neles irrompem os clarões prenunciadores do novo dia, ou chegam as primeiras sombras da travessia pelo vale da morte, debatem-se aflitos, esbravejam, fazem promessas, negociam...
— Como suporta Dona Rosa — indaguei — tão pesada carga em ombros frágeis quais os seus?
— Pelo que estou informado — explicou prestimoso — pelos nossos Benfeitores Espirituais, ela foi-lhe mãe descuidada em vida próxima, no pretérito. Acompanhando-o da Espiritualidade, de queda em queda, acumpliciado com os pesados débitos da última existência, após a fuga para a Bélgica, que redundou em homicídio nefando, do qual deve ter sido vítima aquele que ora lhe ergueu a mão fratricida e em cuja reencarnação escapou à justiça por se ter evadido do país, ela, apiedada, rogou a oportunidade de ser-lhe esposa, recebendo nos braços como filhos os inimigos de ambos, para, então, pelo exemplo da paciência, da humildade e da submissão, ressarcir o crime da irresponsabilidade junto a ele, e chamá-lo à observância dos deveres de que se descura acintosamente. Como podemos observar, o caráter exaltado de que dá mostras, o mau-humor contínuo de que se reveste, atestam o fogoso espírito encarcerado, sem possibilidades de revelar-se em toda a pujança do seu primitivismo. Ela, no entanto, avança vitoriosa, e creio mesmo que o seu sacrifício e a sua fidelidade aos postulados que abraça no Espiritismo terminarão por vencer galhardamente o opositor, conduzindo-o à retidão de princípios. Vale considerar que a sua folha de méritos é igualmente apreciável. O martírio maternal que tem experimentado na atual conjuntura consagra-a nesta vida, reabilitando-a da negligência de equivalente compromisso no pretérito.
«Carinhosamente amparada pelos seus afeiçoados no Plano Espiritual, ela adquire forças para compensar os desgastes na luta ferrenha do lar atormentado, invadido por infelizes visitadores espirituais, que ali teimam por fazer morada, graças aos demais familiares residentes. De certo modo isolada, tanto quanto as meninas Mariana e Amália, dos miasmas fluídicos do ninho doméstico, criaram já sua própria «psicosfera pessoal», que as isenta das agressões dos desencarnados menos afortunados. Como você observa, Mariana tem-se revelado dedicada cooperadora da nossa Casa e, logo mais, estará devotada ao exercício da mediunidade socorrista, conforme esperamos, adquirindo valiosos recursos para a manutenção da saúde e da paz. Amália, cumpridora dos seus deveres de filha e irmã, é excelente servidora, ganhando fora do lar em trabalho modesto e honrado o pão, mediante cuja cooperação ajuda a manutenção das demais irmãs. A Contabilidade Divina dispõe, também, dos métodos de correção benéfica dos depósitos a favor dos titulados nos seus Livros. »
Reflexionando, verifiquei a legitimidade e o acerto dos conceitos emitidos, ao nos despedirmos.
Os dias transcorriam absorvendo-nos nas atividades múltiplas a que nos filiáramos, quando Petitinga voltou a convidar-nos a retomar ao lar da família Soares, atendendo à aflita apelação de Dona Rosa.
Quando lá chegamos, a veneranda Senhora recebeu-nos macerada de sofrimento. O esposo encontrava-se quase agonizante. O médico saíra havia pouco do lar, informando que o prognóstico era desalentador. Ficara hemiplégico, apresentando o doloroso aspecto do desastre orgânico. Todo um lado estava paralisado e os estertores agônicos de que dava mostras, semidesfalecido, confrangiam a alma. O próprio médico se dizia sem esperanças. Muito mais entristecedor era o quadro aflitivo do lar... A sofrida matrona, com a imensa carga das noites indormidas e os esforços sobre-humanos para manter a família, definhava sob a aspereza das rudes provações...
Petitinga ouviu-a demoradamente, com paciência, enquanto, na sala de refeição, a esposa e mãe narrava a quase tragédia que resultara no não menos danoso problema que agora defrontávamos.
Conquanto a sua humildade e carinho, fora constrangida a admoestar a filha Marta, que continuava nas arriscadas aventuras de feticismo.
Às vésperas, quando chegara, noite avançada, a genitora lhe reprochara o comportamento, advertindo-a quanto à cooperação que deveria oferecer para a paz do lar e a recuperação do pai enfermo, que vencia o primeiro mês da agressão com ótimos resultados, quase recuperado. Rogou-lhe a ajuda espiritual, através da prece e da mudança de atitude em relação à fé, a fim de que os Mensageiros Invisíveis pudessem renovar a atmosfera da vida familiar, modificando o carreiro das provações que todos experimentavam como consequência funesta dos erros passados. Suplicava-lhe não se adentrasse mais no emaranhado labirinto de trevas por onde seguia...
Fora o bastante. A filha, possessa, desrespeitosa, agrediu-a moralmente com palavras fortes e azedas, transformando em altercação violenta o que não passava de sereno convite materno à reflexão, à dignidade, ao equilíbrio. Furiosa, tentou agredir físicamente a mãe que lhe estava em frente, não conseguindo o intento, graças à interferência providencial de Amália e Mariana, que lhe correram em auxílio .
As forças negativas de que se fazia habitualmente instrumento irromperam intempestivas e o Sr. Mateus, acordado sübitamente, ouvindo o clamor e a balbúrdia, levantou-se do leito precipitadamente, marchando revoltado, colérico, armado com uma acha ameaçadora. A poucos passos, cambaleou e tombou ao solo...
Fora indescritível a cena. A ferida cirúrgica, ainda não cicatrizada de todo, voltou a sangrar e, tomadas providências de imediato, retornou ao Pronto Socorro. Lá, foram aplicados os recursos compatíveis ao caso e, no momento, se encontrava na «tenda de oxigênio», lutando pela sobrevivência do corpo, com diagnóstico de embolia cerebral.

 

QUESTÕES PARA ESTUDO

 

1 – Observamos que o Sr. Mateus, incentivado por perseguidores espirituais, ainda desejava vingar-se da agressão sofrida. Porém, Petitinga, aplicando-lhe o passe sob sentida prece, afirma “Felizes são os que perdoam...” Por quê?

2 – De que modo D. Rosa se ligava ao Sr. Mateus? E qual era sua missão perante ele nesta reencarnação?

3 – Na casa de D. Rosa havia um clima de intensa perturbação, devido aos espíritos que para ali eram atraídos por alguns dos familiares. Não obstante, a mãe e suas filhas Amália e Mariana não recebiam diretamente as irradiações dolorosas. Por quê? Que seria a “psicosfera pessoal” que Petitinga cita?

 

Bom estudo a todos!!
Equipe Manoel Philomeno

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