quinta-feira, 25 de maio de 2017

REVISTA ESPIRITA - Fevereiro 1864 - O ESPIRITISMO NAS PRISÕES.

REVISTA ESPIRITA JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
7 a ANO Nº 2 FEVEREIRO 1864

O ESPIRITISMO NAS PRISÕES.
Na Revista de novembro de 1863, página 350, publicamos uma carta de um condenado detido numa casa central, como prova da influência moralizadora do Espiritismo. A carta seguinte, de um condenado numa outra prisão, é um exemplo a mais dessa poderosa influência. Ela é de 27 de dezembro de 1863; nós a transcrevemos textualmente quanto ao estilo; dela não corrigimos senão as faltas de ortografia.
"Senhor,
"Há poucos dias, quando se me falou pela primeira vez do Espiritismo e da revelação de além-túmulo, eu ri, e disse que isso não era possível; falava como um ignorante que sou. Alguns dias depois, teve-se a bondade de me confiar, na minha terrível posição onde me encontro agora, vosso bom e excelente O Livro dos Espíritos; de início li algumas páginas com incredulidade, não querendo, ou antes não crendo nessa ciência; enfim, pouco a pouco e sem disso me aperceber, tomei gosto por ele; depois tomei a coisa a sério; depois reli pela segunda vez vosso livro, mas então com um outro espírito, quer dizer, com calma, e com toda a pouca inteligência que Deus me deu. Senti, então, despertar essa velha fé que minha mãe havia me posto no coração e que dormia há muito tempo; senti o desejo de me esclarecer sobre o Espiritismo. A partir desse momento, tive um pensamento muito firme, o de me dar conta, de aprender, de ver, e depois de julgar.
Coloquei-me à obra com toda a crença que se pode ter e que é preciso crer em Deus e seu poder; desejava ver a verdade, pedia com fervor, e recomecei as experiências; as primeiras foram nulas, sem nenhum resultado.
"Não me desencorajei, perseverei em minhas experiências e em minha fé, redobrei minhas preces, que talvez não eram bastante fervorosas, e me entreguei ao trabalho com toda a convicção de uma alma crente e que espera. Ao cabo de algumas noites, porque não posso fazer minhas experiências senão à noite, senti, em torno de dez minutos, estremecimento na ponta dos dedos e uma pequena sensação sobre o braço como se tivesse sentido correr um pequeno riacho de água tépida, que parava no punho. Estava então todo recolhido, todo atenção, e cheio de fé. Meu lápis traçou algumas linhas perfeitamente legíveis, mas não bastante corretas para não crer que estavam sob o peso de uma alucinação. Esperei, pois, com paciência a noite seguinte para recomeçar minhas experiências, e esta vez agradeci a Deus de todo o coração, tinha obtido mais do que não ousava esperar.
"Depois, todas as duas noites, me entretenho com os Espíritos que são bastante
bons para responderem ao meu chamado, e, em menos de dez minutos, me respondem sempre com caridade; escrevo meias-páginas, páginas inteiras que minha inteligência não poderia fazer sozinha, porque, frequentemente, são tratados filosófico-religiosos, que jamais sonhei e com mais forte razão coloquei em prática; porque eu me dizia, nos primeiros resultados: Não serias o joguete de uma alucinação ou de tua vontade? E a reflexão e o exame me provavam que estava muito longe dessa inteligência que havia traçado essas linhas. Abaixei a cabeça, acreditei, não podia ir contra a evidência, a menos estar inteiramente louco.
"Remeti duas ou três entrevistas à pessoa que tivera a caridade de me confiar vosso bom livro para que elas sancionasse se estou na verdade. Venho vos pedir, senhor, vós que sois a alma do Espiritismo, consentir me permitir vos enviar o que obtiver de sério em minhas conversas com o além-túmulo, se, no entanto, achares bom. Se isto vos pode ser agradável, enviarei as comunicações de Verger, que feriu o arcebispo de Paris; para bem me assegurar se era bem ele que se manifestava, evoquei São Luís, que me respondeu afirmativamente, assim como um outro Espírito em quem tenho muita confiança, etc........."
As consequências morais deste fato se deduzem por si mesmas; eis um homem que havia abjurado toda crença, que, atingido pela lei, se encontra confundido com refugo da sociedade, e esse homem, no meio dessa lama moral, retornou à fé; vê o abismo em que caiu, se arrepende, pede e, dizemo-lo, ai! ele pede com mais fervor do que muitas pessoas que ostentam a devoção. Bastou para isso a leitura de um livro onde encontrou os elementos de fé que sua razão pôde admitir, que reanimou as suas esperanças, e fê-lo compreender o futuro. O que há, além disso, a anotar, é que primeiro leu com prevenção, e que a sua incredulidade não foi vencida senão pelo ascendente da lógica. Se tais resultados foram produzidos por uma simples leitura feita, por assim dizer, às escondidas, que seria se se pudesse juntar a isso a influência das exortações verbais! é bem certo que, na disposição de espírito em que estão hoje esses dois homens (ver o fato narrado no número de novembro último), não só não darão, durante sua detenção, nenhum motivo de lamento, mas que reentrarão no mundo com a resolução de nele viver honestamente.
Uma vez que esses dois culpados puderam ser levados ao bem pela fé que hauriram no Espiritismo, é evidente que, se tivessem tido preliminarmente essa fé, não teriam cometido o mal. A sociedade, pois, está interessada na propagação de uma doutrina de uma tão grande força moralizadora. É o que se começa a compreender.
Uma outra consequência a tirar do fato que acabamos de narrar é que os Espíritos não estão presos pelos ferrolhos e que vão até o fundo dos calabouços levar suas consolações. Não está, pois, no poder de ninguém impedi-los de se manifestarem de uma ou de outra maneira; se não for pela escrita, será pela audição; eles desafiam todas as proibições, se riem de todas as interdições, ultrapassam todos os cordões sanitários. Que barreiras, pois, podem lhes opor os inimigos do Espiritismo?
 Enviado por: "Joel Silva"


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