Livro em estudo: Grilhões Partidos – Editora LEAL - 1974
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia
de Divaldo Pereira Franco
B014 – Capítulo 10 – Na Casa de Saúde
Capítulo 10
Na Casa de Saúde
Pergunta: 264. “Que é o que dirige o
Espírito na escolha das provas que queira sofrer?”
Resposta: “Ele escolhe, de acordo com
a natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais
depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações,
objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações
da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que
podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outro desenvolvem; muitos,
finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de
sustentar em contato com o vício.” “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” — Parte 2ª —
Capítulo 6º.
Após a reunião de assistência aos
obsidiados, quando as operações de socorro aos perseguidores atendidos chegavam
a termo, graças à remoção de alguns a Hospitais especializados, em Colônias do
nosso plano, enfermeiros e assistentes prestimosos prosseguiram dispensando
necessária cooperação no templo Espírita onde ficariam em regime de hospedagem
diversos outros sofredores carecentes de diretriz e medicação próprias.
O venerável Bezerra de Menezes
convocou-nos, então, destacando os irmaos Ângelo e Melquiades, abnegados
trabalhadores desencarnados, a fim de visitarmos Ester, como passo inicial para
o labor que se desenvolveria de imediato, objetivando seu oportuno
restabelecimento.
Chegando ao pavilhão em que a jovem
se encontrava, não pude sopitar o choque e a curiosidade, face à multidão que
se agitava naquele Frenocômio.
Desencarnados às centenas, com os
fácieis mui variados, aglutinavam-se em magotes de doentes, totalmente
desequilibrados, em manifesta ignorância do estado espiritual em que se
demoravam; obsessores de carantonha cruel demonstravam no rosto conturbado os
ódios que os desequilibravam; perturbadores zombeteiros, assinalados pelos
vícios em que se locupletavam, com máscara de cinismo indescritível; grupos de
vampirizadores misturavam se a dementes encarnados, parcialmente liberados pelo
sono, em lastimável estado; verdugos impiedosos, conhecedores das técnicas
obsessivas, arrastavam suas vítimas em incríveis padecimentos, que desfaleciam
de pavor, logo despertando para defrontar os adversários frios; entidades
hebetadas, simiescas umas, deformadas outras, em promiscuidade deplorável...
Desencarnados ociosos, indiferentes,
enchiam os pátios, os corredores como freqüentadores de espetáculos circenses,
totalmente desconhecedores do estado em que se movimentavam, produzindo
ambiente miasmático, que aspiravam, intoxicando-se cada vez mais e envenenando
a psicosfera terrível já reinante.
Um pandemônio ensurdecedor e
aparvalhante sucedia-se em cenas que variavam da bestialidade mais vil à
impiedade mais selvagemente elaborada, em cujos cenários muitos encarnados
sofriam indefiníveis vilipêndios e atentados.
Dava-nos a impressão de que nenhuma
compaixão ou sentimento de humanidade ali encontrava guarida. Os espetáculos da
hediondez espiritual superavam tudo que a imaginação humana pode conceber.
Aliás, ali se encontravam alguns dos campeões da insensatez e da perversidade,
dos ases da mentira e da traição, dos hábeis dissimuladores que, não obstante a
ausência das roupagens orgânicas, experimentavam as paixões mais açuladas que
os governavam em desmandos inimagináveis.
Recebêramos antes recomendações
adequadas quanto aos impositivos da oração e do equilíbrio, a fim de
transitarmos em faixa de diferente vibração, passando despercebidos da imensa
mole de atormentados e atormentadores.
Percebi, então, que outros grupos de
socorro freqüentavam aquele dédalo da sordidez, movimentando-se, distintos, com
semblantes circunspectos e atenciosos. Saudavam-se, fraternalmente,
discretamente, considerando-se as circunstâncias e finalidades dos misteres a
que se entregavam. Constituíam a Providência Divina respondendo aos apelos de
muitas orações, socorrendo necessidades justas, amparando os que ansiavam pela
terapêutica do amor, já que não faltam nunca as disponibilidades do Senhor,
sempre colocadas ao alcance dos que O buscam.
O quarto em que Ester se alojava,
verdadeira cela presidiária, produziu-me incontinente mal-estar. Empestada por
vibrações perniciosas, densas, escuras, pareciam fluído condensado, oleoso, que
causava insuportável indisposição psíquica, generalizando-se em sensação de
náuseas contínuas.
O dirigente da equipe, profundo
conhecedor daqueles sítios, sugeriu-nos mais intenso controle da emotividade e
imperiosa disposição para a caridade, com que superaríamos as incômodas
impressões, sintonizando em faixa mais sutil, de que nos alimentaríamos
seguramente.
A jovem subjugada em espírito jazia ao
lado do corpo, em quase total inconsciência, sob os efeitos de sedativo
pernicioso e forte. Junto a ela, em processo de imantação perispiritual,
vigiava o algoz desencarnado.
Nos três outros catres infectos que
infestavam o exíguo A parlamento, a tresandar odores insuportáveis, se
encontravam duas jovens e uma senhora de meia-idade, estigmatizadas por
diversas alienações que as diferenciavam entre si.
Quase todas se encontravam
parcialmente fora do corpo, inconscientes, exceção feita à dama perturbada, que
altercava com um perseguidor imaginário, fruto de longo processo ideoplástico.
Outras Entidades desequilibradas se
imiscuíam nas sombras e na imundície do quarto abafado, algumas das quais,
entorpecidas, pareciam hibernadas em longo processo sonoterápico, mantendo-se
alimentadas pelas emanações mefíticas abundantes dos pacientes, suas presas
inermes.
Com a autoridade e sabedoria que lhe
são peculiares, o “Apóstolo da caridade” exorou a proteção divina em comovedora
oração, quando do seu tórax, a pouco e pouco iluminado que se transformou num
sol engastado no peito, surgiram fulgurações carregadas de superior energia
incidindo sobre os Espíritos levianos, produzindo-lhes choques, que os
despertavam, expulsando os quase todos e fazendo, por fim, que se modificasse a
paisagem fluídica reinante.
Ao terminar, recomendou que os Irmãos
Ângelo e Melquíades socorressem as duas jovens e apontou-nos a senhora
atribulada para assistência de minha parte, recomendando condensasse as forças
fluídicas até lograr ser por ela percebido.
Vendo-me, repentinamente, a dama
exclamou, emocionada:
— Mensageiro Divino, salvai-me deste
cruel perseguidor! Sou criminosa, reconheço, todavia, venho pagando a longo
prazo o compromisso infeliz da leviandade. Socorrei-me, por Deus!
As lágrimas abundantes, a face dorida
e a voz amargurada infundiam compaixão.
Teleguiado pela poderosa mente do
Diretor Espiritual, acerquei-me e roguei-lhe descansasse em sono reparador de
que tinha imediata necessidade.
Aplicando-lhe conveniente recurso
fluídico, sem maior resistência descontraíram-se as forças psíquicas
concentradas pelo pavor e ela adormeceu.
Auscultando as exteriorizações
mentais da Senhora atormentada, em espírito, ora ressonando, o abnegado
Instrutor esclareceu:
— Esta nossa irmã está catalogada como
esquizofrênica irreversível, demorando-se na fase da hebefrenia de largo porte,
em diagnose apropriada.
Fixadas as matrizes da distonia
mental, nas sedes perispirituais, o mecanismo cerebral correspondente à área da
razão e da personalidade, apresenta sombras características que preexistem
desde a vida anterior, quando supunha poder burlar as Leis, entregando-se aos
desvarios e alucinações complexos.
Em verdade, manteve-se inatacável no
conceito do mundo, entretanto, não conseguiu fugir a si mesma, às lembranças da
consciência em despertamento, lesando os centros correspondentes da lucidez e
do equilíbrio, que produziram nas sedes sutis plasmadoras do “campo da forma”
os desajustes que ora a lancinam.
Fazendo significativa pausa, na qual
aplicou passes cuidadosos, longitudinais, a iniciar-se do centro coronário,
qual se o desatrelasse de forças densas, em baixo teor magnético, percebemos, a
pouco e pouco, que o complexo núcleo se clarificava, irrigando com opalina
tonalidade o centro cerebral, igualmente envolto em sombrias cargas fluídicas,
onde imagens vigorosas e fixas nas telas da memória se diluíam, sem que,
contudo, se desfizessem totalmente.
A energia vitalizadora que era
infundida na enferma passou a percorrer-lhe os vários centros de fixação
físico-espiritual. E como recebendo ignota carga magnética, revigorante e
anestésica simultaneamente, esta proporcionava à organização física melhor
funcionamento com mais eficaz intercâmbio metabólico, de que se beneficiava o
cérebro todo transformado, agora, em um corpo multicolorido, no qual miríades
de grânulos infinitesimais ou fascículos luminosos se movimentavam, penetrando
neurônios e os ligando, quais impulsos de eletricidade especial enviando ordens
restauradoras e mantenedoras da harmonia vibratória indispensável ao tônus do
reequilíbrio.
Percebemos que a respiração da doente
se fez mais tranqüila, os músculos tensos por todo o corpo relaxaram, com
admiráveis resultados no aparelho digestivo, particularmente desgovernado.
Concluída a operação complexa e
tecnicamente realizada, o irmão Bezerra de Menezes elucidou-nos:
- Toda enfermidade, resguardada em
qualquer nomenclatura, sempre resulta das conquistas negativas do passado
espiritual de cada um. Estando o “campo estruturador”, conforme nominam os
modernos pesquisadores parapsicológicos ao perispírito, sob o bombardeio de
energias deletérias, é óbvio que as idéias, plasmando as futuras formas para o
Espírito, criam as condições para que se manifestem as doenças...
“Tomemos por exemplo nossa irmã
Eudóxia, no momento, sob nossa observação.”
“Amanhã apresentará sinais de
significativa melhora na saúde, embora as causas preponderantes da sua
alienação nela mesma se encontrem. Numa forma de autocídio indireto, através do
qual pretende eximir-se à responsabilidade, auto-suplicia-se, mergulhando no
desconcerto da loucura.”
Observando-a mais detidamente,
continuou:
— Na metade do século passado,
encontramo-la senhora de terras, em próspera cidade do Império, no solo
fluminense... Consorciada com homem probo, de sentimentos elevados,
caracterizava-se pelo temperamento irascível, insuportável. Cansado da esposa
rebelde e malsinante, o companheiro propôs lhe separação honrosa...
Acreditando-se, porém, substituída — e de imediato transferiu para humilde
serva a suposta preferência do marido — silenciou, planejando, então, hediondo
homicídio que culminou calma, calculadamente, com segurança. Envenenou o esposo
indefeso nas suas mãos, que de nada suspeitava e, passado algum tempo, repetiu
a façanha com a servidora que tudo ignorava...
“Dama altiva e destacada, seus dois
crimes não foram sequer suspeitados, ninguém tomou deles conhecimento. Ela,
porém, os sabia... A punição maior para o culpado é a presença da culpa,
insculpida na consciência. A princípio, quando as forças orgânicas estão em
plenitude, ela dorme. À medida que se afrouxam os liames das potências da vida
vegetativa, ressumam as evocações e se transformam em complexo culposo,
monoideísmo infeliz que mais grava o delito e agrava a responsabilidade...
“Surpreendida pela desencarnação,
transferiu para o Além os dramas ocultos. Embora perdoada pelo esposo-vítima,
que se encontrava em melhor condição espiritual do que ela, tornou-se
perseguida pela serva, que a seviciou demoradamente em região de compacta
sombra espiritual.
“Trazida à reencarnação, os fortes
açoites do remorso, as impressões vigorosas da expiação junto à vítima, a
intranqüilidade lesaram os centros da consciência, do que resultou a
enfermidade que ora padece...
Depois de breve silêncio, concluiu:
— Os núcleos desarticulados no
perispírito produziram as condições físicas do encéfalo, que se desconectaram
quando completou trinta anos, idade em que se deixara assediar pela fúria do
desequilíbrio, embora as distonias graves que a perturbavam desde a
adolescência.
“Apesar de a maior incidência de
hebefrenia ocorrer na puberdade, conforme foi analisada e descrita em 1871,
sendo posterior-mente incluída por Kraepelin como uma das “demências precoces”,
esta surge como se agrava em qualquer idade... (*)
“A enfermidade que afeta a área da
personalidade, produzindo deteriorização, gera estados antípodas de
comportamento em calma e fúria, modificação do humor, jocosidade, com
tendências, às vezes, para o crime, é o resultado natural do abuso e
desrespeito ao amor, à vida, ao próximo.
“Purgará, ainda um pouco, até que a
desencarnação lhe tome de volta as vestes, a fim de recomeçar noutra condição o
que espontânea e levianamente adiou...
Estávamos edificados e surpresos.
Constatávamos ali a procedência da
Divina Justiça e poderíamos distinguir que, na etiologia das enfermidades
mentais, muitos fatores estudados pela moderna Psiquiatria são legítimos,
faltando a essa nobre Ciência um maior contato com as “questões do Espírito”, do
que hauriria suficiente luz para incluir a obsessão como uma das causas das
alienações mentais, penetrando nas realidades da Alma encarnada e melhor
desintrincando os variados processos que sempre se originam no ser espiritual,
ao longo da sua jornada evolutiva.
(*) Quem primeiro definiu a
Hebelrenia foi Kahlbaum (KarI Ludwig), em 1863, como sendo uma alienação mental
que surge precocemente na puberdade e se caracteriza por uma cessação das
aquisições intelectuais, conduzindo o paciente para a demência total,
incurável. - Nota do Autor espiritual.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1 – Após o término das atividades de desobsessão, Manoel
Philomeno, em desdobramento pelo sono físico, visita junto com outros
desencarnados a clínica psiquiátrica na qual estava Ester. Como era a atmosfera
espiritual neste lugar? De que modo o espírita pode se comportar nas
oportunidades em que visitar estes locais?
2 – Como se encontrava Eudóxia, a senhora que dividia o
apartamento de Ester? Quais a causas espirituais do seu atual quadro psíquico.
3 – De que modo o perispírito, o corpo estruturador,
interfere na organização física da pessoa?
Bom estudo a todos!!
Equipe Manoel Philomeno
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